You and I escrita por Allie Próvier


Capítulo 6
6. Eu tentarei consertar você


Notas iniciais do capítulo

YAY! Olha quem veio (MUITO) mais cedo do que antes, hahaha.
O capítulo está um amorzinho, gente! E agora... Tananannn... Surpresinha pra vocês no final!



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POV Edward

– Ai!
– Fica quieto, Edward!
– Vai com calma, Bella... Isso arde, sabia?

Bella revirou os olhos, e Nessie ainda fazia careta pra mim. Careta de "Nossa, a coisa tá feia". E a coisa deve estar feia mesmo.

Antes que me chamem de fraco, perdedor, lerdo ou desconjuntado, eu digo logo: eu apanhei, mas também bati muito. Ok? Ok.

Jacob começou a brigar comigo igual a uma garotinha: começou com uns empurrõezinhos e uns xingamentos do tipo "viadinho", "boiola" e "bicha". Falei que se ele continuasse me chamando daquelas coisas, eu não iria brigar, pois é contra a lei agredir crianças. E aí o toco de árvore se enfureceu e veio igual um pônei valente pra cima de mim. Consegui desviar dele, vários gritos das meninas ao fundo. Dei uns bons socos na cara dele, e o deixei caído no chão. Porém, eu desviei a minha atenção por 3 milésimos de segundo, e o toco de árvore conseguiu puxar minha perna e a mordeu.

Maturidade? Sim, muita. Parecia uma piranha, com todos aqueles dentes agarrados na minha perna. Gritei, gritei muito. Por causa da dor, fiquei mais vulnerável e ele ficou de pé e se vingou. Como eu não tenho o porte dele, acabei ficando mais machucado do que ele, apesar de que eu bati muito mais.

Mas enfim, a briga acabou devido a um carro da polícia que parou bem do nosso lado e dois policiais tiraram o Jacob de cima de mim. Perguntaram o que estava havendo, me viram lá machucado e caído, gemendo de dor e com sangue saindo do supercilho, tão frágil, tão indefeso, tão inocente...

Tadinho de mim.

Juntando ao fato que Jacob estava embriagado, levaram-o para a delegacia e eu estou aqui, sentadinho e tendo meus machucados sendo limpados pela Swan. E com dois seios balançando levemente bem em frente ao meu rosto.

Sorri com os olhos meio abertos. Eu nem sentia mais os machucados ardendo. Bella parou de limpá-los e me olhou com uma sobrancelha arqueada.
– Ué, agora está sendo engraçado? - ela perguntou.
– Não, não. Continue, por favor. - falei, fazendo minha melhor cara de inocente.

Ela crispou os olhos para mim, e eu ouvi Nessie rindo. Bella suspirou e voltou a cuidar de mim.
– Você não tinha que ir pra faculdade? - Nessie perguntou.
– Tanto faz... - murmurei. - Eu nem queria ir mesmo.
– Por que será que seus pais não confiam em você, hein? - Bella debochou.

Segurei seu pulso delicadamente, fazendo-a parar de mexer nos meus machucados, e crispei os olhos para ela.
– Como você sabe que eles não confiam em mim?

Ela revirou os olhos e soltou seu pulso da minha mão, voltando a fazer o curativo.
– Sua mãe já me contou até o que eu não fazia questão de saber, tipo a primeira vez que você fez xixi em pé no vaso sanitário.

Fiz careta. Poxa, mãe.

Bella riu e terminou de fazer o curativo no meu supercilho. De repente, Nessie havia desaparecido. Logo vi que ela estava na cozinha fuçando na geladeira. O estômago dessa garota não tem fim?
– Por que você não está indo às aulas? - ouvi Bella perguntar.

Virei-me pra ela e vi que ela havia sentado na poltrona ao lado do sofá em que eu estava. Ela cruzou as pernas e cruzou os braços, me olhando com curiosidade.

Dei de ombros.
– Eu não sei... Eu gosto de Publicidade, mas não me atrai tanto quanto antes, sabe?
– E o que te atrai? - ela perguntou.

Meu olhar caiu sobre as pernas cruzadas dela e eu brisei. Ouvi Bella me chamar duas vezes e a olhei distraído. Ela arqueou uma sobrancelha pra mim e eu desviei o olhar dela, tentando disfarçar. Eu estou num estado tão crítico assim?
– Eu não sei... Eu sempre fui bem indeciso em relação a essas coisas. - falei.

Ouvi algo caindo no chão, e quando olhei pra trás, vi Nessie de olhos arregalados para mim. Suas mãos suspensas no ar e, em seus pés, o pote de biscoitos que ela carregava. Biscoitos para todo lado.
– O que foi? - perguntei.
– Eddie, você é gay? - ela perguntou, quase berrando.
– Claro que não, por que está perguntando isso?

Ela fez uma expressão confusa.
– Chego aqui e a Bella te pergunta "o que te atrai". Você responde que sempre foi bem indeciso em relação a "essas coisas"...

Bella riu alto e eu suspirei.
– Nessie, pega esses biscoitos e come quietinha. - falei, voltando a me encostar no sofá.

Nessie resmungou um "bando de loucos" e começou a catar os biscoitos do chão.
– Bom, eu acho melhor você tratar de se decidir logo. Pelo o que a sua mãe me contou, se o seu pai descobrir que ela está te ajudando e, - pior - que você não está frequentando as aulas, a coisa vai ficar feia para o seu lado.
– Tá bom, "mamãe". - falei, sorrindo torto.

Bella crispou os olhos pra mim e jogou uma almofada na minha cara. Eu ri, e ela foi para a cozinha preparar o almoço.

Peguei o controle remoto daa TV na mesinha de centro, - sim, parece que a casa já é minha - e liguei a TV. Nessie foi na cozinha, pegou biscoitos novos e se jogou ao meu lado no sofá. Ficou me olhando com aquela cara de lêmure enquanto comia os biscoitos.
– Perdeu o olho aqui, fofa? - perguntei, sem tirar os olhos do filme que passava.
– Adoro quando você usa essas expressões gays, sabia? "Fofa", "querida", "queridinha". - ela disse, rindo em seguida.

Revirei os olhos.
– Fala logo, o que você quer? - falei, olhando para ela desconfiado. - Alguma coisa você quer.
– Rapaz, você já me conhece mesmo. - ela disse, dando um soquinho em meu ombro.

Sorri.
– Olha, é o seguinte... - ela começou a sussurrar. - Quando é que você vai dar um "sacode" na Bella?
– "Sacode"? - sussurrei de volta, confuso.
– É, você sabe... Um "trato".
– "Trato"?
– Um "saculalêlê", Edward...

Olhei para Nessie como se ela fosse uma extraterrestre. O que diabos é "saculalêlê"?!
– Quando é que você vai dar um "tchan" nela, homem? - Nessie disse, já falando com o tom de voz normal.
– Fala na língua de gente, Nessie!
– QUANDO É QUE VOCÊ VAI TRANSAR COM ELA?!

Arregalei os olhos, indo um pouco para trás. Nessie suspirou, jogando os cabelos pra trás e comeu outro biscoito, me olhando como se nada tivesse acontecido. Bella apareceu, nos olhando com os olhos arregalados.
– O que houve? - ela perguntou, assustada.
– Edward não estava entendendo o que eu dizia, e eu resolvi ser curta e grossa. - Nessie falou.
– Eu preferia continuar sem entender... - murmurei.

Bella nos olhou como se fôssemos loucos e voltou pra cozinha. Olhei pra Nessie sentindo vontade de matá-la.
– Você bebeu, garota?! - perguntei baixinho.
– Por que? Eu só respondi o que você perguntou, fofo.

Bufei, passando as mãos no rosto.
– Ok, e eu vou responder o que você perguntou: nunca, jamais, em hipótese alguma. Entendeu?

Nessie me observou por um tempo, com a expressão séria, e aos poucos um sorrisinho malicioso foi surgindo em seu rosto.
– Tanta negação... - ela disse. - É porque está querendo!

Balancei a cabeça negativamente, rindo. Eu? Querendo transar com a Swan? Ela me fazia andar dois quarteirões pra comprar café pra ela, e quando eu voltava com o café, ela bebia um gole, cuspia na planta no canto da sala e dizia que era o café errado. E eu tinha que ir comprar outro.

Que homem sentiria vontade de transar com uma mulher assim?

Só os que gostam de sofrer. E eu não faço esse tipo. Eu é que mando.
– Ela não faz meu tipo. - falei. - Sério, sem chances.
– E você, por um acaso, tem moral pra escolher "um tipo" de mulher? Eu pensei que sendo mulher tava ótimo! - Nessie gargalhou.

Olhei bem pra carinha de comediante falida dela e fiquei de pé, indo para a cozinha e ignorando ela.
– Olha lá o que você vai fazer nessa cozinha, hein! Há uma criança aqui! - ela disse, sem parar de rir.

Cheguei na cozinha querendo me enfiar dentro do forno e nunca mais sair. Me encostei na bancada ao lado do fogão, cruzei os braços e olhei para Bella, que cortava um tomate ao meu lado. Ela parou o que fazia e me olhou.
– O que é? - perguntou.
– Que poço de delicadeza... - sorri.
– E você é um poço de chatice. - ela resmungou, voltando a cortar o tomate em quadradinhos. - Não tem mais casa?
– Tenho, mas aqui tem comida boa e de graça.

Ela bufou, mas pude ver um puxadinho no canto de seus lábios. Essa mulher se faz de durona, mas adora uma gracinha.

De repente, ela abriu um armário, pegou um avental branco e jogou para mim. Eu a olhei, confuso. Ela me ignorou, pegou outra tábua de cortar e colocou na bancada ao lado da dela, com uma cebola em cima. Me deu uma faca e sorriu, aquele sorriso de "Vá, servo, faça o que eu mando."
– Pode começar. Não gosto de gente atrapalhando na minha cozinha.

Revirei os olhos, mas vesti o avental e comecei a cortar a cebola. Entre uma lágrima e outra, e várias fungadas para contar o choro, Bella ria.

Era o momento mais gay da minha vida... Mas foi divertido.
(...)

Já era tarde quando eu decidi ir embora.

Eu havia jantado com as meninas, e graças a um conjunto de roupas extras na minha mochila, eu pude tomar um bom banho. Dona Esme sempre me ensinou que um homem sem precaução, não era um homem de verdade. Isso inclui desde roupas extras à camisinhas.

Eu tirei o cadeado da minha bicicleta e o guardei na mochila. O trajeto até o meu prédio foi rápido, e frio. Eu não havia levado casaco, e São Francisco a noite não perdoava ninguém. Assim que cheguei ao meu prédio, desci da bicicleta, e antes que pudesse chegar à entrada, ouvi passos rápidos atrás de mim. Olhei para trás rapidamente, e a única coisa que vi foi um punho vindo certeiro em meu rosto. Caí para trás, por cima da bicicleta, e senti a dor absurda se espalhando pelas minhas costas, e logo no corpo inteiro. Meu agressor se colocou sobre mim, segurando colarinho da minha blusa.
– É bom, não é? - ele falou.

Jacob. Jacob Black.
– O que aconteceu hoje cedo não vai ficar barato, seu merdinha. - ele rosnou. O olhei com a vista meio turva devido a dor e ao impacto do soco, e tentei tirá-lo de cima de mim sem sucesso. - Agora você vai ficar calado? É fácil se fazer de fortão quando se está por cima, não é?

Ele deu outro soco em meu rosto e me largou bruscamente. Ficou de pé e me olhou de cima. Eu mal podia ver seu rosto. Estava de noite, e a iluminação da rua não colaborava.
– Na próxima vez que nos virmos, você vai se arrepender de ter se colocado no meu caminho, Masen. - ele disse, dando um chute em meu estômago em seguida.

Gemi, abraçando meu próprio corpo. Tentei normalizar minha respiração enquanto assistia ele indo até o outro lado da rua, entrar em seu carro e ir embora.

Filho da mãe...
– Edward! - ouvi Ben, o porteiro do meu prédio, praticamente gritar. - O que fizeram com você?

Ele me ajudou a levantar, com muito custo, e me apoiou nele.
(...)
Eu vou chamar a polícia, sim!
– Mamãe...
Edward, como esse homem tem coragem de fazer isso com você?! E com a Nessie? Céus... Esse marginal já devia ter sido preso há tempos!
– Ele é um filhinho-de-papai, é óbvio que não vai ser preso. - revirei os olhos.
Você também é um filhinho-de-papai e nem por isso eu deixei você sair dando socos e chutes em pessoas inocentes por aí! Eu te eduquei!

Oh, dona Esme. Muito obrigada pelo elogio, hein.
– Você não pode vir aqui e trazer uns remédios? - perguntei.
Oh, meu filho... Eu estou em Los Angeles agora. Estou resolvendo algumas coisas para o dia do desfile...

Suspirei, desolado. Todo o meu corpo ainda doía muito, e o sangue que havia escorrido dos machucados havia secado em minha pele. Eu não possuía nenhum remédio no apartamento, nada. E quando Ben me ajudou a entrar em casa e deitar, eu apaguei. Só acordei com o telefone tocando, - e era minha mãe - e contei toda a história.
– Tudo bem, eu vou à uma farmácia aqui perto. - falei. - Boa sorte com as coisas aí, mãe.
Espera!– Esme falou rapidamente. - Fique em casa, não saia daí. Eu vou dar um jeito, tudo bem?
– Mas você está em Los Angeles.
Eu vou dar um jeito, Edward. Deixe de ser teimoso e não teime comigo, que coisa. Fique quieto aí e não se mexa para nada, entendeu?
– Mas eu preciso ir ao banheiro, mãe... - falei, só pra irritá-la.
ENTÃO VÁ AO BANHEIRO, EDWARD!– ela gritou, e eu ri alto. - Você me deixa desesperada!– ela parou de falar e pude ouví-la respirando fundo. - Céus, eu vou enlouquecer. Não saia do apartamento, entendeu?

Repeti mais uma vez que havia entendido e desligamos. Eu tentei me levantar da cama, e cada movimento era uma fisgada. Aquele animal havia conseguido me pegar mesmo. Demorei quase 5 minutos para conseguir chegar ao banheiro. Fiz o que tinha que fazer, e depois me olhei no espelho. Fiz careta, mas até fazer isso doía. Eu estava acabado mesmo. Meu rosto estava inchado e roxo no olho e bochecha esquerda, meu supercilho arrebentado e com sangue seco e um corte na boca que ainda sangrava um pouco, devido a minha conversa pelo telefone com minha mãe. Tentei jogar uma água no rosto para tirar o sangue, mas meu ombro doía de forma absurda. Gemi de dor e abaixei o braço. Meu rosto ficaria daquele jeito mesmo, até eu ter condições de viver novamente.

Suspirei e me arrastei até a cozinha para beber água. E essa era a minha única opção mesmo. Quando abri a geladeira, só o que tinha era água. Ah, e um pedaço de bacon e um pote de maionese.

Será que eu morreria de vez se fritasse aquele bacon e jogasse maionese por cima?

Provavelmente.

Optei por beber apenas a água e voltei a me arrastar para o quarto. Quando me joguei na cama novamente, todo o meu corpo chorou, e eu senti vontade de abraçá-lo e chorar junto.

Ah, Jacob... Quando você menos esperar...
(...)

Acordei com a campainha sendo tocada insistentemente. Abri os olhos e olhei no relógio da cabeceira. Ia dar 14:00 da tarde.

Levantei da cama e me arrastei até a entrada do apartamento. Olhei pelo olho-mágico da porta e tudo o que pude ver foi o topo de uma cabeça castanha.

Arqueei uma sobrancelha.

Abri a porta já falando:
– Quem incomoda?

Bella me olhou com a expressão séria, e eu senti que iria ser xingado, quando ela focou realmente seus olhos no meu rosto e arregalou aquelas duas bolinhas verdes.
– Meu Deus... - ela murmurou. - O que foi que aquele pilantra fez com você?
– "Pilantra". - repeti, dando uma risadinha fraca para não doer o estômago. - Você parece a minha mãe falando.

Bella engoliu em seco e parecia não saber o que dizer. Suspirei, dando um passo para trás.
– Er... Pode entrar. - falei. - Só não repara na bagunça, eu não tenho tempo de limpar.

Bella entrou e sorriu levemente, olhando ao redor.
– Falta de tempo ou preguiça? - ela perguntou.
– Sinceramente? Eu não sou um bom dono de casa.
– Imaginei...

Só então eu prestei atenção no que ela carregava. Devia ser umas 4 sacolas de mercado e 2 sacolas de farmácia. Mordi o lábio inferior e logo me arrependi. Céus, minha boca ia cair de tão machucada.

– O que é tudo isso? - perguntei, apontando para as sacolas.

Bella sentou no sofá e eu me arrastei até lá, me sentando ao seu lado. Ela deixou todas as sacolas na mesinha de centro.
– A Esme me ligou, desesperada, e pediu para que eu viesse ver você. Ela me contou tudo o que aconteceu. - Bella me olhou meio pensativa. - Eu trouxe remédios para os seus ferimentos, e comida, pois imaginei que não teria nada aqui.
– Imaginou certo. - sorri fracamente.

Ela suspirou, e sua mão veio ao meu rosto, delicadamente.
– Está doendo, não é?
– Bastante.
– Eu vou limpar isso, não se preocupe. Onde é o seu quarto? É melhor você deitar, quase não se aguenta sentado.

Levantei com dificuldade e Bella rapidamente se pôs de pé, me ajudando. Ela me levou até o quarto e eu deitei na cama. Logo ela correu para sala e voltou com as duas sacolas de remédios. Observei atentamente enquanto ela sentava ao meu lado na cama, e retirava tudo o que havia comprado, colocando as caixinhas em cima da cabeceira. Logo, ela começou a tratar dos meus ferimentos. Ela limpou todo o meu rosto, passou remédio nas partes cortadas e fez um curativo no meu supercilho. Eu mostrei como estava a minha barriga para ela, - grandes manchas roxas - e ela engoliu em seco. Vi o momento em que ela pareceu querer chorar, mas respirou fundo e passou uma pomada, massageando levemente.
– Bella... Você está bem? - perguntei, depois de minutos de silêncio.

Ela parecia pensativa e preocupada com algo, e aquilo estava me deixando agoniado. Fora o fato de ela estar aqui, no meu apartamento, cuidando de mim. Isso é surreal.
– Sim, eu estou, é só que... - ela respirou fundo, terminando de passar a pomada e ajeitando a minha blusa. - Isso tudo me lembra de quando ele fez o mesmo com a Nessie. Isso acaba comigo.
– Desculpa.

Ela sorriu fracamente. Senti uma fisgada no peito ao ver seus olhos mais tristes do que nunca.
– Você não devia se desculpar. Não tem culpa de nada. - ela disse, mordendo o lábio inferior e desviando o olhar do meu. - Se sente melhor?
– Sim, só preciso de um banho agora. - falei.

Ela fez carinha de nojo, e eu ri.
– Essa parte é com você, criatura. Eu vou preparar algo para comermos.

Ela ficou de pé e me ajudou a levantar. Me levou até o banheiro, apoiado nela, e antes de sair, eu a chamei.
– Por que a Nessie não veio? - perguntei.
– Ah, ela saiu bem cedo. - falou. - Ela disse que iria comprar algumas coisas que precisava, roupas ou algo assim.
– Ah... Tudo bem.

Bella arqueou uma sobrancelha para mim e revirou os olhos, saindo do banheiro e fechando a porta atrás de si. Virei para o espelho e encarei meu próprio reflexo.

Ah, Nessie... Minha intuição me diz que você não foi comprar nada. A não ser que o nome da loja seja "Jacob Black". E minha intuição nunca falha.
(...)

Já era quase 19:00 da noite e Bella ainda estava em meu apartamento. Ela havia comprado várias coisas, mas optamos pelas duas pizzas semi-prontas e pipoca. Havia alguns filmes que eu havia comprado e nunca tinha visto, e decidimos assistí-los na sala. Foi divertido, até. Bella parecia bem mais a vontade comigo do que até uns dias atrás. E bem preocupada, também. Era algo com o qual eu nunca iria me acostumar.

Já estava no final do filme "O Impossível", que contava a história real de uma família que foi passar as férias na Tailândia, quando um tsunami atingiu o resort em que estavam hospedados. Em meio a tudo, eles acabam se separando e tentando sobreviver, - e se encontrarem - no meio de todo o caos.

E a minha parte feminina e sensível já estava aflorada.
– Porra, isso é muito triste! - eu resmunguei, passando as mãos no rosto para limpar as lágrimas. - Olha tudo isso, cara... Por que essas coisas acontecem? Me diz?

Bella apenas sorriu fracamente, sem tirar os olhos da TV. Por fim, o filme acabou, e os créditos começaram a rolar. Respirei fundo, tentando controlar o coração e não parecer ainda mais gay na frente de Bella. Olhei para ela, estranhando o fato de não ter que amparar o choro de menininha. Eu parecia mais uma menininha do que ela.

Bella estava com a expressão vazia, com os olhos fixos na tela.
– Bella? - a chamei, e ela piscou, olhando para mim em seguida. - Você está bem?
– S-Sim. - ela gaguejou.
– Mentira.

Ela engoliu em seco e desviou o olhar do meu, dando de ombros levemente.


Fix You - Coldplay


– Não é nada, é só que eu não gosto muito dessas coisas.
– Que coisas? Tristeza e tsunamis? Eu acho que ninguém gosta. - sorri.
– Não isso. Quero dizer, tudo isso. Eu não sei como explicar...
– Tenta começar do começo.

Ela engoliu em seco.
– Meu pai abandonou a mim e a minha mãe quando eu tinha sete anos. Minha mãe morreu quando eu fiz vinte anos. E sou filha única.

Arregalei os olhos. Disso tudo eu não sabia... Bella era realmente sozinha?
– Eu não sei o que é ter uma família. - ela sorriu fracamente, sem emoção. - Minha mãe se tornou uma pessoa muito reservada e quieta depois que meu pai nos deixou. Vivia dentro de casa e não se preocupava com a saúde. Eu vivi por mim mesma, praticamente. Tive que aprender a me virar desde cedo. - Bella suspirou, se encostou melhor no sofá, com os olhos fixos no tapete. - Não sei o que é ser cuidada, procurada. Não sei o que é ter pais à minha procura ou qualquer outra coisa assim. Eu fui sozinha durante uma grande parte da minha vida, então... Ver filmes desse tipo... Ao mesmo tempo em que eu sinto um incômodo, eu também não sinto nada. Entende?

Eu a observei por alguns segundos, meio atônito. Bella, diante do meu silêncio, desviou o olhar do chão e os fixou em mim. Eu me arrastei pelo sofá e, para a surpresa dela, - e a minha - eu a abracei apertadamente. Ela ficou estática por um tempo, até que pude ouvi-la respirando fundo e, timidamente, rodeou minha cintura e correspondou o abraço. Ela afundou o rosto em meu pescoço, e não demorou muito até eu sentir seu corpo tremer levemente.

Isabella Swan estava chorando. Em meu ombro. Sorri um pouco. Não por achar graça da história dela, mas sim da situação. Eu nunca imaginei isso. E eu estava surpreso. Tanto por ela ter me contado aquilo, quanto por estar assim comigo agora.

E seu corpo era quente. Macio. E estar abraçado a ela fazia as coisas ruins que eu também sentia irem embora. Isso era estranho e incomum.

Eu não amo a Alice, e nunca amei. Mas, quando nos abraçávamos, eu não sentia o mínimo de conforto. E o contrário acontece com Bella. Eu não a amo, mas...

Eu a apertei um pouquinho mais em meus braços, só para ver se era realmente aquilo, e era. E só crescia. Suspirei. Beijei o topo de sua cabeça e seu choro ficou mais forte.

E de repente, eu me vi pensando no quanto eu queria isso pra sempre.

Pensamentos errados, Edward...
– Isso tudo vai passar. - eu sussurrei próximo ao seu ouvido. - Eu vou tirar isso de você, eu prometo. Vou consertar isso.

Ela chorou por mais alguns minutos, até que foi se acalmando. Eu acariciava carinhosamente as suas costas, e ela ainda me abraçava. Ela limpou as lágrimas do rosto e retirou a cabeça do meu ombro, voltando a se sentar ereta. Fungou feito uma criança chorona e eu sorri diante das suas bochechas e nariz rosados, e a boca num biquinho.
– Agora, você é que parece uma criança. - falei, em um tom leve. Sem provocação.

Ela me olhou e sorriu levemente.
– Idiota. - ela murmurou. - Me desculpa.
– Você não devia se desculpar. - eu repeti as suas palavras de antes. - Quer uma água?
– Não, eu estou bem. - ela falou, olhando em seu relógio de pulso em seguida. - Já está tarde, eu tenho que ir. Nessie até agora não me ligou, isso é estranho...
– Ela geralmente liga nessas ocasiões?
– Sim, principalmente quando ela chega da rua e eu não estou em casa... E é impossível que ela não tenha chegado até agora.

Engoli em seco. Bella pegou seu celular em sua bolsa na poltrona para verificar, e eu suspirei. Com certeza, era o que eu suspeitava.
– Bella... - eu a chamei, e ela me olhou. - Já pensou na hipótese de Nessie...

Eu fui interrompido pelo celular de Bella, que começou a tocar. Ela olhou para ele assustada e logo suspirou aliviada, atendendo rapidamente.
– Nessie! Quase me mata de... - Bella, ao que parecia, foi interrompida por Nessie. - O que? Fala devagar, eu não enten... Nessie... Que barulho é esse? O que está acontecendo?

Bella começou a ficar nitidamente desesperada. Puta merda. Fiquei de pé, ignorando a fisgada no estômago. Eu já me sentia muito melhor graças aos remédios e ao comprimido para dor que Bella havia me dado, mas ainda me sentia incomodado em certas partes.
– Bella, o que aconteceu? - perguntei baixinho, me aproximando dela.
– Nessie, fica calma! - ela disse rapidamente, e vi que suas mãos tremiam. - Quem está aí? Eu não... Jacob?

Senti um arrepio percorrer a minha espinha.
– Nessie, sai daí rápido e vai para a portaria! - Bella dizia, pegando sua bolsa rapidamente e indo para a entrada do apartamento.

Eu peguei minha carteira em cima da mesinha de centro e corri para a entrada também. Bella calçava suas sandálias, ainda com o celular no ouvido, e eu rapidamente enfiei meus pés nos meus tênis que estavam jogados em um canto.
– Nessie, pelo amor de Deus, você... Nessie! NESSIE!

Bella olhou atônita para o celular, os olhos quase maiores que o rosto. Eu a segurei pelos ombros.
– O que aconteceu?
– O J-Jacob estava n-no apartamento e.... A Nessie, ela... - Bella tremia absurdamente.

Eu rapidamente a puxei para fora do apartamento e tranquei a porta. Corremos pelas escadas, já que eu morava no terceiro andar, e nos enfiamos dentro do carro de Bella. Eu peguei as chaves para dirigir, já que ela ainda estava quase paralisada. Eu via o desespero nos olhos dela, e estava tentando me controlar. Meu coração estava a mil.

Eu corri durante todo o trajeto, e sete minutos depois, paramos em frente ao prédio de Bella. Ela pulou do carro quando eu ainda estacionava, e eu berrei por ela.

EU VOU FICAR MALUCO!

Saí do carro e corri para o prédio. Bella já subia pelas escadas. Subi correndo atrás dela, e quando as escadas terminaram, eu tropecei, quase indo ao chão. Tentei colocar ar em meus pulmões e fazer a dor em todo o corpo parar, enquanto via Bella correndo até seu apartamento parando em frente à porta arrombada do mesmo. Ela apertou as mãos em punhos e andou até a entrada do apartamento. E então, sumiu da minha vista. Respirei fundo e fiquei de pé, andando até o apartamento. Não encontrei Bella. Fui até o corredor que levava ao banheiro e aos quartos, bem no momento em que ela saía do quarto de Nessie e corria até o banheiro. Fui atrás dela.

Bella estava parada, olhando para o chão, onde estava o celular de Nessie com a tela quebrada. Bella não piscava. Eu rapidamente a puxei e a abracei.
– Nós vamos achá-la, fica calma. - eu sussurrei. - Sabemos com quem ela está.
– Eu vou matá-lo. - ela sussurrou. - S-Se ele e-encostar na Nessie, e-eu...

Eu a apertei um pouco em meus braços, e ela me abraçou. E chorou. Pela segunda vez no dia.

Engoli em seco.

Eu realmente não sei o que fazer...


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Notas finais do capítulo

AÊEEEE! ESSE DRAMA, ESSE SEQUESTRO, EU AMO ISSO! HAHAHAHHA
O que vocês acharam, hein? Não me matem, por favor!
Mas é que essas emoções são boas pra animar a vida, não são?
Não, Aline, não são.
E esse Jacob? Ô menino bom...
E O EDWARD? Gzuis, eu amo o Edward, e ao que parece, vocês estão amando ele também *-* hahaha. Caramba, eu fico tão feliz, de verdade!
Muuuito obrigada a todas que comentaram no capítulo anterior! Amei cada review!
Mas e agora, o que vocês acham que vai acontecer? E o que QUEREM que aconteça daqui pra frente, hein? Ideias são sempre bem-vindas, e eu tenho precisado! hahaha.
(Sério, eu REALMENTE preciso de ideias, me ajudem!)
Vou tentar trazer o próximo rapidinho como eu trouxe esse!
Beijos!

P.S: Para quem ainda não participa do meu grupo de leitoras no Facebook, corre!!!
https://www.facebook.com/groups/524763704223492/