Um mundo além do mundo escrita por Lobo Alado


Capítulo 43
Um ato de Rebeldia


Notas iniciais do capítulo

Olá, meus amigos...
Antes de tudo, a quem está lendo, minhas desculpas pela demora, e por entregar-lhes algo tão pequeno, mas estive com problemas e não pude postar anteriormente.
Pequeno ou não, demorado ou não, aqui está ele, e essencial para a continuação...
Boa leitura.



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O grosso caldo de carne ainda remexia-se em seu estomago, mesmo horas depois. Roran cobrira a vigília de Baldor, caminhando de um lado para o outro alguns cem metros da muralha de Aroughs durante toda a noite.

A madrugada, em seu ápice, dizia adeus, dando lugar ao sol que surgia como um ovo cozido, achatado por detrás da cidade, encobrindo todo o horizonte. Ainda assim, as centenas de pessoas que encontrara na beirada da estrada de chumbo na noite do dia anterior persistiam com a mesma vitalidade abalada.

    Comerciantes com suas carroças, pessoas mais abastadas em tendas com alguma luz, crianças que conseguiram acompanhar por conta própria, famílias imundas e frágeis. Eram fugitivos da guerra no Império Varden.

Pela estrada, de pés descalços, com passadas desreguladas e persistentes, caminhava uma mulher de cabelos longos, segurando os braços dos dois filhos pequenos enquanto um terceiro agarrava-se em seu vestido sujo. Tão jovem... mas já atravessava o inferno, sem nenhuma garantia de que a estrada teria fim. Ela levou os olhos verdes pálidos a Roran, olhando-o assustada e timidamente. Roran acenou com a cabeça friamente e deixou que a mulher continuasse seu caminho.

Baldor ergueu-se da grama com um sorriso no rosto, depois de dormir por duas horas.

­– Como estamos? – Ele retirou a capa da grama e pôs sobre os ombros.

— Sem maneiras fáceis de descobrir o que acontece dentro das muralhas. – Respondeu o Conde. – Vamos, Baldor.

Abandonaram os cavalos na tarde anterior, seguindo um bom percurso até chegar à cidade. Roran acreditava ser um atrativo poderoso para Tharos. Um atrativo capaz de conseguir com que penetrasse aquela cidade e seguir o incerto e perigoso caminho na presença do homem que poderia matá-lo sem se preocupar com perder seus títulos ou sua cidade.

A estrada alcançou os portões junto com Roran e Baldor. Fechados e mortos como os demais que checaram de madrugada, os portões eram os defensores mais claros.

Na muralha, soldados seguravam lanças como peças de um tabuleiro e arqueiros mantinham flechas preparadas. Eram todas estátuas entediadas.

— Soldado! – Roran gritou com toda a autoridade que conseguiu. – Exijo a presença de Lorde Tharos nesses portões imediatamente.

A menção de seu superior pareceu despertar a difícil atenção do soldado.

— Quem exige? – O arqueiro sem elmo apontou uma flecha para Roran.

— Conde Roran Martelo Forte fala em nome da Rainha dos Varden.

— Achei que Roran Martelo Forte estava morto. – O soldado esticou mais a corda de seu arco. – Onde está seu Martelo?

Roran olhou para a clava Urgal em seu cinto.

— Eu o perdi... Chame Lorde Tharos, ele saberá o que fazer, diferente de você. E rápido, meu povo precisa de abrigo. – Apontou para as pessoas atrás de si. Todos confusos e com alguma esperança renovada.

O soldado permaneceu imóvel algum tempo, então sorriu.

— Se Lorde Martelo Forte está vivo, todos rirão da forma estúpida como morreu. – E soltou a flecha apontada para seu peito. Roran conseguiu apenas cerrar os olhos e desgrudar os lábios antes que a flecha concluísse seu trajeto.

Esperava cair de joelhos sentindo os últimos batimentos cardíacos, ao invés disso, contemplava os estilhaços da flecha ao seu redor, repartida em mil pedaços. Sem perceber, levou a mão em punho ao peito, sentindo uma terrível ardência entre os dedos.

Os fragmentos de madeira e metal eram levados pelo vento. Os migrantes do Império murmuravam e exclamavam enquanto os soldados na muralha entreolhavam-se.

Olhou para a mão com um arquejo de dor. O anel verde brilhava com uma luz alaranjada queimando seus dedos. Depois de alguns segundos a luz foi-se, deixando apenas uma queimadura latejante em seus dedos.

Roran olhou por baixo para o soldado que lhe atirara a flecha, segurando uma mão com a outra.

— Estamos sem tempo, soldado. Quando irá chamar Tharos?

O arqueiro entregou seu arco, não sem alguma surpresa, para o soldado ao lado e sumiu atrás dos tijolos.

Virou-se e escondeu as mãos atrás das costas, tentando ignorar a queimadura do anel mágico. Deuses... a quanto tempo eu deveria estar morto? Ele exclamou enquanto olhava os fragmentos da flecha despedaçada, imaginando o anel verde brilhar e abrir a cela em que estivera aprisionado no recanto de Marbrayes.

— Roran?! – Baldor olhava de olhos arregalados para ele. Atrás do Cavaleiro as pessoas aproximavam-se com cautela e admiração. – O que acabou de acontecer?

— Não agora. Espere eu fazer o que vim aqui para fazer, então lhe explicarei o que quiser. – Virou-se novamente para o portão, impaciente.

O sol enegrecia a muralha enquanto ele observava o anel élfico retirado de seu dedo. Pensava no que o levara até ali, e em como o destino o fazia encontrar alguém que não via há anos e que mal conhecia. E em como aquilo era estranho para sua natureza.

Alguns minutos haviam passado quando os soldados viraram-se para dentro dos muros e uma algazarra iniciou-se. Roran aproximou-se cauteloso. Pessoas gritavam, berravam ofensas, passos de soldados cresciam junto com a confusão. A cidade parecia em desordem.

— Baldor. – Roran chamou-o num grunhido. – Mantenha essas pessoas em segurança e distantes enquanto converso com Tharos.

O portão o surpreendeu ao ser erguido. Escudos voltados para o interior resistiam a golpes e objetos diversos arremessados. Os golpes eram resistidos, mas nada se podia fazer a respeito das palavras direcionadas ao homem que os soldados protegiam.

Baixo e escondido em uma barba bem feita, Tharos olhava para Roran com amargura e indiferença. Seus passos largos eram um último vestígio de compostura em alguém quebrado... Ele podia ler essas coisas.

— Não acredito, é você mesmo... – Tharos ergueu uma mão e os soldados na muralha abaixaram suas armas. – Um último pronunciamento para que o deixe entrar, Martelo Forte. – Seus olhos eram profundos e amadurecidos como não da última vez.

— Venho em paz, Tharos. – Ele balançou a cabeça firmemente. – Venho pedir a sua ajuda...

Tharos sorriu interrompendo.

— Minha ajuda... – Ele virou-se. Parecia não interessar-se na presença de Roran. – Deixarei que entre, Conde. Então perceba o quão provável é que eu não possa ajudá-lo. – Ele levantou uma mão e os soldados que guardavam o portão abriram o círculo com seus escudos virados para a população, impedindo que seus ataques chegassem ao caminho de volta ao palácio.

— Tharos, permita que eles entrem... – Apontou para os imigrantes. – Ao menos o tempo em que permaneço aqui, eu peço.

O lorde ergueu as sobrancelhas, indiferente, e assentiu.

Ao entrar na cidade enevoada de gritos e protestos, Roran foi invadido por nostalgia. Era exatamente igual à dezesseis anos antes. Não só o seu aspecto, como o caos instalado nela.

Uma pedra do tamanho de um punho passou por entre as lanças dos soldados e acertou a têmpora de Roran o fazendo tropeçar.

— O que raios está acontecendo aqui, Tharos... Como chegou a isso? – Ele levou os dedos à cabeça e observou-os banhados de sangue.

— Aprece-se, explicar-lhe-ei. –Ele abaixou-se e continuou o caminho. – Seu povo pode ficar na área de trás do castelo... ela foi esvaziada há um mês.

Roran continuou a andar, observando novamente o sangue em sua mão, e perguntou-se por que o anel não foi capaz de impedir que a pedra o acertasse.

O caminho até a cidadela foi extremamente melhor que na primeira visita de Roran à cidade, mesmo que com tanto barulho. Apenas de não precisar abri o portão com as próprias mãos...

O palácio lhe trouxe lembranças duras da morte do Lorde de Aroughs e de sua filha... Ele olhou para Tharos um momento antes de prosseguir...

*

— A única alternativa?! – Roran pousou as mãos na mesa da sala de Tharos. – Trancar a cidade por conta própria por meses? Isto acaba aqui, hoje, eu lhe digo.

— Estamos nos saindo melhor que as outras cidades surdanas... Quantas você acha que estão invadidas por rebeldes?

Roran suspirou...

— Diga isto para os cidadãos de Aroughs... por Deus, Tharos, eles estão passando fome enquanto você bebe aqui dentro. Quanto tempo acha que durará?

— Não me importo com o tempo...

Roran endireitou-se na cadeira.

— Bem, repito... Isto acaba hoje. Você irá me ajudar a recuperar Surda por um todo, de dentro para fora... eu tenho um plano.

— Bem, Roran... faça isso sozinho, eu estou lhe dando o comando de Aroughs. – Ele pronunciou com olhos baixos extremamente entediados.

— O que? – Roran levantou-se da cadeira... – Isto não será possível, Tharos. Para o meu plano funcionar, eu preciso de você.

— E o que você quer de mim, Roran, afinal? – Ele pôs as mãos em punho a segurar o queixo.

— Preciso que declare-se rebelde e declare guerra às cidades que ainda resistiram em surda...

Tharos levantou-se da cadeira aterrorizado.

— Não se preocupe, lhe explicarei... E se tudo sair como o esperado, você será o novo Rei Surdano. – Roran aproximou-se de Tharos, pondo as mãos na mesa. – O seu reino não está sendo atacado por rebeldes, Tharos... O seu reino é o Rebelde. Orrin é quem está por trás de tudo isso.


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Notas finais do capítulo

hahah, me agrada que eu mesmo seja surpreendido de vez em quando, e o que nos trará esta aventura de Roran? E o que dizer de suas especulações?
Que os próximos capítulos me respondam...
Até mais, meus amigos!
07/07/16



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