Um mundo além do mundo escrita por Lobo Alado


Capítulo 28
A dança da pedra e do aço


Notas iniciais do capítulo

Olá, meus amigos.
Foi este um capítulo que gostei muito de escrever... Só espero que agrade a vocês.
Boa leitura!



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A pedra perfeitamente retangular deslizava pela lamina, como se fossem dois amantes delicados mergulhados um no outro. Dorâne amolava sua espada.

O que impressionava Lemond era a pedra de amolar perfeitamente retangular. Por que alguém gastaria tanto tempo para moldar de forma tão trabalhada e cuidadosa uma pedra? Algo que tinha como finalidade apenas afinar uma lâmina, para que ela se torne mais mortífera...

...Lemond realmente não entendia.

Os seres humanos criam grandezas estúpidas. Ele refletiu vendo os dois amantes dançarem, pedra e aço.

– Onde arranjou esta pedra de amolar, Dorâne? – Perguntou Lemond.

O capitão dos guardas olhou-o de soslaio interrompendo o movimento delicado.

– Eu a fiz, por quê? – Dorâne voltou ao exercício.

Lemond sorriu consigo mesmo.

– Nada... apenas algo que pensei. – Ele levantou-se e afastou-se das margens do rio.

A viagem de volta foi bem mais sofrida do que quando estavam acompanhados pelas tropas. Dormir era menos seguro, viajar era perigoso, e sempre seguiam por dentro das arvores. Lemond estava sujo novamente, mas já não se importava, havia se acostumado desde que viajara na gaiola dos urgals.

Dorâne ainda não o havia prendido, mas sempre o vigiava. Lemond não podia fazer nada, mas o melhor era que Dorâne também não. Sem Haddes ele não tinha quem obedecer, tão longe de casa, e Lemond sabia de coisas demais para não ser levado a sério, então tudo o que o capitão podia fazer era levá-lo em segurança para Dras-Leona.

Os dois haviam fugido da aldeia urgal fazia uma semana, mas parecia que havia se passado um ano... um ano de sofrimento, mas finalmente estavam alcançando o Leona, e logo, logo, Dras-Leona surgiria.

Dorâne não era mais o amigo de sempre que Lemond uma vez tivera, e o rapaz sentia-se inquieto pela forma como o capitão olhava para ele, queria, acima de tudo, que o rapaz mais velho o compreendesse, mas isso era impossível, nunca ninguém compreendia Lemond, era quase como se todos tivessem combinado isso.

Lemond explicou para ele, explicou como faria para a pessoa mais íntima, da forma que ele nunca gostara de falar com as pessoas, mas Dorâne relutava em aceitar o que ele dizia. Contra argumentava, como se tentasse convencer a si mesmo que Lemond não poderia ser perdoado em hipótese alguma.

“ Foi um erro, eu admito” Dissera Lemond. “Eu agi por impulso, mas você não pode aceitar isto, não é? Vossa honra vem acima de tudo” Ele debochara. “ Você não é filho de Haddes, você não é Lemond Grorvan... Grorvan, como eu daria tudo para não ter este sobrenome. Você nunca teve de ser outra pessoa para não ter que apanhar como um cachorro de rua. Mas Dorâne apenas escutava com cara de pena.

O importante era que o capitão levava Lemond de volta para Dras-Leona, e lá ele conseguiria a vingança que precisava.

– Bem... eu tenho quase certeza que essa espada já pode lidar com qualquer tipo de entranha. – Disse Lemond observando o capitão agachado amolar a arma. – Temos de seguir viagem, Dorâne. Cada segundo que passamos longe de Dras-Leona é um Lorde que Marbrayes captura pelo império.

O capitão o olhou de forma fria.

– Espero que possa realmente reverter esta situação.

– Eu farei isto. – Disse ele colocando cada gota de determinação que existia em si.

Se você não me aprisionar assim que chegarmos, traidor. Pensou Lemond olhando para os olhos frios de Dorâne.

Montaram os cavalos e galoparam para dentro da floresta. Os cavalos que montavam já estavam em exaustão. E eram os segundos que usavam depois da aldeia. Os primeiros haviam sido pegos quando fugiram da zona de guerra, perdidos de seus cavaleiros, os que montavam agora haviam sido roubados de uma pequena aldeia perto do Toark, depois de os primeiros morrerem.

Lemond abaixou a cabeça para passar por um galho, e só então percebeu que Dorâne havia parado e ficara para trás. Virou-se para vê-lo, ele desmontava seu cavalo e observava ao redor com desconfiança.

– O que houve? – Perguntou Lemond erguendo uma sobrancelha.

O capitão levou o indicador aos lábios, pedindo por silencio. Gesticulou com a mão, pedindo que ele se aproximasse.

Lemond desmontou o cavalo e foi cautelosamente até ele.

– O que houve? – Sussurrou. – É algum tipo de encenação para me capturar? Aqui estou eu, leve-me. – Ergueu as mãos.

– Tem alguém aqui, posso ouvir...

– Ouvido dos deuses, nos ajudará bastante. Provavelmente são camponeses.

– Não, ouça... – Ele ficou em silencio para que ele ouvisse.

Ele pode ouvir vozes distantes e tintilares de aço em aço. Relinchos de cavalos e outros barulhos que faziam cavaleiros.

– De que isso importa? – Lemond deu de ombros. – Não acho que nos seguirão.

– De qualquer forma é bom saber do que se trata. – Disse o capitão num tom de voz que Lemond conhecia bem...

...Estava determinando, eles iriam procurar saber do que se tratava.

– Vamos, Lorde Capitão. – Debochou Lemond.

Não foi difícil achar a origem dos sons. De arvore em arvore, sorrateiramente eles encontraram seus cavaleiros. Empacotados em aço, em tendas de lonas amarronzadas, centenas deles.

– Satisfeito? O que fará agora? Se apresentar e perguntar quem são? – Lemond levantou uma sobrancelha.

– Eles me parecem suspeitos... – Disse ele olhando para as tendas, ignorando a ironia de Lemond.

E Lemond odiava que ignorassem suas ironias, ele preferia que o chamassem de imaturo mimado.

– Você aperta as mãos e beija no rosto pessoas suspeitas? – Ele sussurrou. – E armadas? Vamos embora.

Lemond deu uma última espiadela nos cavaleiros. Então reparou nas suas armaduras cruas. Não usavam nenhum tipo de estandarte. Olhou aqueles rostos, não eram tão familiares, mas um deles...

– Maard? – Seu coração acelerou. – Não pode ser Maard.

– Quem é Maard? – Perguntou Dorâne com interesse reforçado.

– Dorâne, ouça-me. – Ele segurou nos ombros do mais velho. – Precisa sair daqui, agora. Estes aqui são perigosos, me espere nas margens do rio. Não sei o que eles fazem aqui, mas não deviam estar aqui, não estava nos planos de Marbrayes quando saí... Vou tentar conseguir informações com eles, eles ainda acham que estou do lado de Marbrayes.

– E talvez você esteja. – Dorâne comprimiu os lábios. – Como saberei se você não planeja fugir?

– Que escolha você tem? – Lemond deu de ombros. ­– Se confia em mim, me espere nas margens do rio e lhe levarei informações, se não, corra agora para Dras-Leona, pois está em menor número...

Dorâne forçou o maxilar.

– Tudo isto que está acontecendo... Você pagará por isso.

– Ah, este é realmente o melhor momento? Vá para o rio, agora! É a melhor escolha.

Dorâne montou o cavalo o mais silenciosamente que pode e explodiu para longe dali. Imediatamente os Soldados de Marbrayes alertaram-se e encontraram Lemond.

Dois soldados o agarraram pelos braços, e Lemond viu-se de novo um prisioneiro.

– Soltem-me, não têm amor à vida? Não sabem quem eu sou? – Os soldados hesitaram, mas continuaram firmes a imobilizá-lo.

– Mas que raios!? – Maard finalmente surgiu. – Não acredito em quem vejo. Soltem-no.

– Não aceitarei isto. – Lemond limpou as mangas onde os soldados apertaram seus braços. – Quero as mãos destes cortadas.

Maard gargalhou vendo os rostos dos dois soldados.

– Marbrayes não tem tantos homens para desperdiçarmos assim, não se preocupem, homens. – O homem grande voltou-se para Lemond. – E você? Soube que estava sumido já tem algum tempo. – Ele levou a mão à espada. – Devo me preocupar?

Maard era quem controlava o recanto de Marbrayes, que era na verdade apenas uma das bases onde Marbrayes construía seus planos nojentos e deploráveis. Um homem alto vivido e amigável, porém explosivo e preocupante.

– Claro que não... – Respondeu Lemond. – Você, obviamente sabe que Martelo Forte fugiu e me capturou. Consegui escapar, mas Martelo Forte está por aí, e preciso chegar em Dras-Leona antes que meu pai descubra toda a história... Preciso preparar as coisas antes que descubram que estou do lado de Marbrayes. – Ele deu de ombros. – E claro, preciso encontrar Martelo Forte, mas creio que já está tudo sobre controle, não é? Acredito no seu potencial. Agora me diga, qual o motivo de tudo isto? – Lemond apontou para as tendas.

O homem grande sorriu.

– A primeira parte está concluída... – Ele gargalhou. – Você perdeu muita coisa neste tempo que esteve fora, Grorvan. Marbrayes conquistou mais um a seu favor. É Lorde Vandlan... de uma cidade qualquer de Surda.

Lemond franziu as sobrancelhas.

– E por que isto conclui a primeira parte? Como este Lorde está contribuindo?

Maard ergueu uma sobrancelha e sorriu.

– Me parece que este Vandlan é muito influente em Surda... E ele aproveitou-se disto para conquistar os outros Lordes com suas mentiras. – O homem gargalhou. – É um velho vivido, sabe lidar com as pessoas, e com Surda sendo controlada pela criança que é aquele Orrin, o reino é praticamente de Marbrayes.... tudo o que ele precisa fazer é derrubar cada um dos Lordes das cidades Surdanas, e é aí que entra Vandlan... – Ele assentiu concordando consigo mesmo. – Marbrayes está quase chegando ao Império Varden. Me diga, Lemond, quem desconfiará de Surda?

Nasuada, quando eu contar a ela, tolo.

– Me parece um grande passo... – Disse Lemond fingindo satisfação. – Marbrayes gostará de saber que estou de volta, você tem de avisar à ele, mas ainda não me respondeu à pergunta... onde você e estes soldados entram?

– Nos instalaremos em surda com a ajuda de Vandlan, para ajudar a tornar o reino do sul totalmente dos rebeldes.

– E Marbrayes, onde ele está?

– Aberon, escondido, pronto para fazer de Orrin refém. – Ele gargalhou como se tivesse contado uma piada.

– Estou impressionado... nunca pensei que chegaríamos neste ponto. Mas... eu realmente tenho de ir, minha situação está complicada.

– Leve um cavalo mais forte com você, neste caso, tenho certeza que Marbrayes entenderia, e um companheiro de viajem, você pode precisar.

– Tenho de chegar em Dras-Leona sozinho, mas aceito o cavalo descansado.

– Não, leve um arqueiro com você, invente qualquer história, diga que pagou por um guarda.

Isto será um problema...

– Tudo bem... Prepare alguém para ir e meu cavalo, não tenho muito tempo, pretendo chegar em Dras-Leona no final do dia.

Tudo foi preparado, um cavalo marrom bem abastecido para Lemond, e um jovem arqueiro para acompanha-lo. Um rapaz calado, mas que Lemond tinha certeza ser traiçoeiro, como todo rapaz calado.

Não houve tempo perdido com despedidas, logo os dois puseram-se em galope.

Durante o caminho, Lemond não parava de pensar na história que ouvira. Por que Marbrayes compartilharia tanto com Maard? Pensou ele. Marbrayes não lhe parecia alguém que expõe seus planos, sempre parecia ter algo a esconder. De qualquer forma, será sua queda.

– Seguiremos pelas margens do rio. – Ele disse ao rapaz que o acompanhava em um cavalo cinzento, ao seu lado.

Lemond aguardava ansiosamente a chegada às margens, e talvez Dorâne, se o capitão estivesse realmente lá.

Quando o solo começou a inclinar-se, Lemond olhou por entre as arvores tentando ver Dorâne. Escutou o som de pedra em aço então teve certeza de que ele estava lá.

As arvores morreram com as águas, e Lemond encontrou Dorâne agachado como antes, amolando sua espada.

– O que é isto? Quem é este? – Perguntou o rapaz calado retirando seu arco das costas.

Não se preocupe, este é Dorâne, ele está me acompanhando.

Dorâne virou-se e olhou para o rapaz dos pés à cabeça. Lançou um olhar desconfiado para Lemond, que retribuiu com um meneio.

– Tenho certeza de que se darão muito bem. – Desceu do cavalo, e gesticulou para o rapaz de voz verde descer do seu também. – Vamos planejar nossa chegada em Dras-Leona? Então, como disse Maard, você será um guarda costas que comprei, certo? E Dorâne, um viajante que juntou-se a nós. – Lemond aproximou-se de Dorâne enquanto falava e pediu sua espada, sem que o rapaz percebesse. – Estamos de acordo? – Disse ele segurando o aço, de costas para o rapaz.

– Será com diz, senhor.

Lemond virou-se rapidamente e enfiou a espada na barriga do arqueiro, olhando para os olhos castanhos esbugalhados dele. Torceu a espada e chutou o corpo, retirando a lamina da barriga.

O rapaz caiu, contorcendo-se.

Lemond sorriu e entregou a espada para Dorâne.

– Eu disse que ela cortava todo tipo de entranha. – Passou pelo corpo e segurou as rédeas dos cavalos. – Agradeça-me... consegui cavalos novos e notícias mais novas ainda. – Sorriu novamente vendo a expressão de espanto de Dorâne. – Vamos andando... ah, e não insista, só lhe direi qualquer coisa assim que chegarmos a Dras-Leona, até lá, meus segredos morrem comigo.

A viagem foi a mais tensa possível. Dorâne parecia estar vivendo algum tipo de trauma. Nada falava e parecia nem perceber o tempo passar. Lemond não conseguia compreender aquele comportamento.

Pararam quando já estavam alcançando o lago Leona. Lemond molhou o rosto na água e Dorâne limpou o sangue de sua lâmina antes de voltar a amolá-la.

Lemond já estava irritando-se com o barulho da pedra no aço.

– Não acha que isto já está bom?! – Ele franziu as sobrancelhas. – Quantas barrigas mais eu terei de abrir para provar para você?

Dorâne voltou o rosto para ele, pronto para revidar, mas seu rosto ganhou expressão de espanto e ele olhou para o céu.

– O que é? Não me diga que está ouvindo algo de novo, ouvido dos deuses. – Lemond jogou as mãos para o ar.

Dorâne estava boquiaberto, totalmente sem reação. Lemond virou-se para entender o que estava acontecendo.

No céu uma luz brilhava, laranja e forte, correndo em direção ao sul. Lemond não estava compreendendo bem. Até que uma possibilidade passou por sua cabeça.

A luz crescia e mergulhava para o chão. Lemond cerrou os olhos... foi então que distinguiu asas. Não é possível.

– Aquilo é um Dragão... – Dorâne disse o óbvio.

Agora era possível ver a grande criatura. O rabo e o pescoço guiando-o no ar. As asas claras da cor de mel transparente.

– Dorâne... – Lemond chamou abismado. – Este era de um dos ovos que Marbrayes queria roubar... o que foi para Carvahall.

Dorâne arregalou os olhos.

– Como você sabe?

– A cor... Cor de mel. Translucido. – Ele subiu no cavalo. – Precisamos chegar em Dras-Leona agora!

Os dois seguiram viagem o mais rápido que podiam, observando o dragão sumir nas nuvens do sul. Lemond tinha de saber o que estava acontecendo, Maard não falara nada sobre um Cavaleiro com Marbrayes.

Lemond enterrava os calcanhares na barriga do cavalo, mas a cidade relutava a aparecer. E já estavam cavalgando em paralelo com o Leona a um bom tempo.

Vamos... vamos...

Ele pedia pela cidade no horizonte.

E só quando ele viu os primeiros sinais da cidade permitiu-se relaxar um pouco. Mas o que mais lhe assustava agora era o destino daquele dragão.

Quando se encontravam a duzentos metros das muralhas, pararam.

– Chegou o momento, Dorâne... – Lemond respirou fundo. – Me ajudará a concertar tudo ou me colocará numa das celas de meu pai?

Dorâne olhou com raiva para ele.

– Eu não tenho escolha...

– Então me diga... – Ele encarou profundamente o Capitão. – O que eu devo ser quando atravessar aqueles portões, se quiser ter alguma esperança de resolver esta bagunça?

Dorâne olhou para as muralhas e tornou a olhar para Lemond friamente.

­– O Senhor de Dras-Leona.

– Ótimo... – Lemond assentiu.

Os dois seguiram para a cidade mais calmamente.


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Notas finais do capítulo

É... Embola e embola cada vez mais, não?
Eu digo que não vejo assim. Na hora certa tudo será exposto a vocês, e espero que esperem o momento...
Gostaram do capítulo? E, tenho de perguntar, algo precisa ser melhorado?
É isso, aguardem o próximo.
Até!
14/08/15



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