Um mundo além do mundo escrita por Lobo Alado


Capítulo 27
Apertar de Mãos


Notas iniciais do capítulo

Olá pessoal, como estão?
Eu não queria ter postado este capítulo agora, pois as aulas vieram com todo o peso possível, então não terei tanto tempo para escrever, mas a ansiedade não deixou eu esperar, e estou postando o capítulo.
Boa leitura! Nos vemos nas notas finais...



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Roran estreitou os olhos quando os pôs no horizonte. O que via era uma verdadeira fortaleza. Tronco por cima de tronco, presos um ao lado do outro, até formar uma grande muralha com várias camadas, mais grossa que qualquer muralha que ele já tivesse visto. De portões abertos, a movimentação era intensa tanto dentro quanto fora.

Vários Kulls transitavam, carregando troncos imensos até para eles, puxando animais por cordas, ou suspensos no ombro. Nas muralhas, Urgals normais manejavam grossos arcos com flechas longas o suficiente para trespassar qualquer Kull.

­– Há quanto tempo isto vem sendo feito, Garzhvog? – Roran perguntou impressionado.

– Desde o verão passado. ­– O Kull respondeu, com as mãos em punho na cintura, cheio de orgulho. – Nossa raça é vulnerável, Martelo Forte. Podem dizer o que quiser, que somos brutamontes, assassinos... Mas a verdade é que, mesmo com o apoio de Rainha Caçadora noturna, somos fáceis de esmagar. Os humanos, com suas muralhas e soldados empacotados em aço e treinados para matar podem muito bem nos exterminar, como têm feito por anos... – Ele avançou para dentro das muralhas. Roran o seguiu. – Eu conheço a história que contam para os filhos de sua raça, Lorde Roran, sei que somos aqueles monstros que invadem as suas aldeias e massacram seu povo e comem suas crianças... sei como as coisas são aos seus olhos, mas já parou para pensar como as coisas são aos nossos olhos? Homens e mais homens invadindo nossas aldeias, flechas e mais flechas nos perfurando e queimando nossos telhados, crianças e mais crianças mortas em pilhas. Lordes tentando nos expulsar de nosso lar... Não pense que não me esqueço do que Lorde Haddes é capaz.

Roran engoliu em seco.

– Então resolveu construir uma fortaleza Urgal...

– Um lugar para nos escondermos quando não houver mais para onde irmos...

­– Se esconder? Nar Garzhvog, está construindo esta fortaleza bem nas margens do Ramr, está exposta a mercadores, exércitos a marchar e a pessoas de todo o império. Logo todos saberão de sua fortaleza...

– Aí está o ponto, Martelo Forte. Quem conseguirá invadir nossa muralha? O objetivo é mostrar para todos que existimos ainda, e não apenas nos escondemos em nossas aldeias isoladas... Se não, qual o motivo de nossa aliança com o Império Varden?

– Compreendo... – Roran passou pelos enormes portões e ficou mais maravilhado ainda. O interior era um complexo de construções bem estruturadas e variadas em suas funções.

No centro de tudo, várias tendas erguidas abrigavam Urgals, a maioria com armaduras, muitas desregulares ao corpo. Uma construção chamou a atenção de Roran, assemelhava-se a um celeiro, e era imensa.

– O que é aquilo? –Roran apontou para a grande construção marrom.

– Rá! Ali é onde guardamos nossas preciosidades, venha ver... venha ver Martelo forte.

Roran o seguiu.

Havia saído de Dras-leona fazia sete dias. A cavalgada até Iliera fora intensa, o caminho estava movimentado, mercadores e pessoas viajavam para longe de suas cidades, o boato da queda de Carvahall já havia se espalhado e o Império movimentava-se inquietamente. Roran aquietou os que pode pela viajem, mas tinha de ser cauteloso para evitar grupos de ladrões.

Ao chegar a Iliera a primeira coisa que fez foi pedir uma audiência com Nasuada, mas ela já o aguardava. Correndo pelos corredores indo ao seu encontro, a Rainha estava extremamente preocupada e exigira saber o que estava acontecendo.

Roran não encontrou uma forma fácil de explicá-la, quanto mais se aprofundava nos fatos, mais o rosto da rainha franzia-se. Há bastante tempo ela vinha lidando com problemas relacionados a rebeldes, mas ver Roran naquele estado e saber da queda de Carvahall... Por um momento Roran a viu vulnerável e sem saída. Saber que Haddes direcionava-se para o recanto de Marbrayes só escureceu seu humor. “Ele partiu para um ataque sem nem saber o que o aguarda? Está levando seu filho como guia?” Ela enviou uma grande tropa quase que imediatamente para Dras’Leona afim de informações mais aprofundadas sobre o paradeiro de Haddes, ela sabia que um informante sempre era enviado de volta para atualizar sobre a viajem.

Logo depois pôs-se a planejar com Jörmundur a retomada de Carvahall. Mostrou-se solidária e preocupada com Ismira, enviou um mensageiro e alguns soldados à Bullridge para saber se a jovem já havia sido encontrada. E Roran sabia que havia outro interesse por trás disso, a rainha precisava de Albriech ao seu lado.

Agora Roran conhecia a tão comentada fortaleza Urgal de Nar Garzhvog. Katrina havia permanecido em Iliera, Roran não queria deixá-la naquele momento. Ela chorava todas as noites desde Dras’Leona, chamando o nome de Ismira.

Se Albriech não encontrasse Ismira ele abandonaria Iliera imediatamente...

– Entre, Martelo Forte! – Nar Garzhvog abriu a pesada porta da estrutura. – Veja com os próprios olhos...

Roran chutou a pesada porta com a ponta das botas para tirar o excesso da lama e entrou. A porta era a entrada de um único e longo corredor central da estrutura. Caminhou observando do que se tratava. Várias grades, em sequência, trancavam quartos e o que quer que ali estivesse.

Roran aproximou-se de uma das grades de madeira e observou através delas, tentando decifrar o lugar escuro. Olhava com os olhos cerrados, mas nada parecia abrigar o quarto, na verdade estava muito escuro para ter certeza.

Foi quando um guincho rouco rasgou o ar e Roran foi empurrado para trás por um choque brutal na grade. Uma sombra assustada, dentro da cela, voltou para o escuro, longe da vista dele.

– O que... o que é isto, Garzhvog? – Roran perguntou incrédulo com as gargalhadas roucas do Nar.

– É aqui que prendemos os animais que nos servem, Matelo Forte. Eu não me aproximaria tanto das grades assim! – Ele voltou a gargalhar. – Este aí que quase lhe arranca um braço é um Nagra!

Roran suspirou e penteou a barba com os dedos.

– Bem... mostre-me o resto da fortaleza, preciso regressar à Iliera antes do anoitecer.

O dia estava nublado como todos os dias desde o inverno, mas o ar era quente e o chão úmido quase totalmente lama.

– Logo irá chover... – Roran disse à Nar Garzhvog. – Estas tendas irão dar conta de todos aqui? A lama não ficará bonita quando a água cair.

Os dois andavam agora pelas muralhas de troncos e pedras. Roran avaliava bem cada canto que conhecia do lugar, e parecia realmente bem projetado, ele só não confiava em construções de madeira, principalmente uma tão exposta...

...Mas era um bom trabalho.

– Nós não ligamos, Martelo Forte. Vivemos na floresta desde sempre. Um pouco de lama é bom para os pés. – Ele apoiou-se na meia-parede de troncos. – Mas logo cobriremos a maior parte, ninguém cansará até estar pronto... será glorioso para nossa raça terminar isto, será mais prazeroso que cansativo.

– É uma boa construção, Nar Garzhvog. – Roran deu um leve tapa no braço do Kull, com a intenção de fazê-lo no ombro, mas não alcançaria. – Mas eu preciso realmente seguir de volta para Iliera... você compreende minha situação. – Olhou para o céu. – Não posso ver o sol, mas é muito provável que logo escurecerá.

– Sim, eu entendo. Eu voltarei com você, quero acompanhar de perto o que irá acontecer, e se eu puder ajudar...

– Ótimo, Nar.

Nar Garzhvog apressou-se em mostrar-lhe o resto da muralha e suas engenhosidades. Roran teve de fingir contentamento e calma o tempo todo.

No pátio lamacento, os soldados que vieram com Roran esperavam, com as botas metálicas sujas de lama, como estátuas, perto de tantos Urgals. Roran juntou-se a eles, montado no garanhão cinzento que montava enquanto o seu descansava da viajem de Dras’Leona, e esperou por Garzhvog.

Ficou ali de sobrancelhas franzidas e humor sombrio, olhando todos aqueles Urgals, mas com o pensamento longe. Uma gota gelada caiu em seu nariz o despertando, e então pode ver Nar Garzhvog saindo da grande construção que se assemelhava a um celeiro.

O Nar vinha com as mãos firmes nas costas do que Roran achava ter lhe atacado nas grades. Um enorme Nagra, com pintas brancas formando caminhos pontilhados paralelos em seu pelo marrom. As presas do maxilar alcançavam a altura dos olhos.

– Vamos logo! Já está chovendo, vocês humanos empacotados irão enferrujar antes do fim da viajem! – Nar Garzhvog gargalhou como um relâmpago fazendo um trovão rouco. O Nagra avançou com os cascos afundando-se na lama. Garzhvog atravessou a entrada da fortaleza e Roran e os soldados o seguiram.

O caminho à margem do rio era verde e frio. A chuva diagonal atingia Roran no rosto como flechas frias. Sua capa estava mais pesada e encharcada.

Logo avistaram a ponte que atravessava o Ramr. Mais algum tempo no caminho inclinado e já avistavam a grande Iliera.

– Martelo Forte, – O Kull virou a grande cabeça para ele. Roran não sabia quantos anos ele tinha, e nem como expressavam-se os sinais da velhice na raça, mas podia presumir que o Kull estava próximo dela. Os olhos amarelos eram escondidos por pés de galinha e os cabelos entre os enormes chifres já ganhavam algum cinza. Os chifres tinham alguns desgastes e marcas de batalha.

Mas havia algo que Roran sempre pensava quando estava junto do Kull. Que jamais imaginara existir algo ou alguém tão grande. Ele às vezes não conseguia vê-lo como um ser pensante e racional.

– Diga, Nar... – Roran olhava para a cidade e para os pequenos vilarejos ao redor dela.

– Acha que a situação pode ser resolvida assim, da forma que esperamos? – Ele olhava com um olhar terrivelmente franzindo e preocupado para Roran. – Pelo que você nos contou ele não parece que cederá tão facilmente, e já deve ter planejado algo depois de sua fuga... O que fará Rainha Caçadora Noturna?

O que eu farei? Onde está minha filha? Pensou Roran. Ele franziu o cenho, ainda olhava obsessivamente para a cidade.

– Tudo irá se resolver, Nar... Não há por que se preocupar.

Nar Garzhvog não fez mais perguntas, com a vaga resposta de Roran, e Martelo Forte sentiu-se grato por isso. Seguiram calados e num ritmo calmo até a cidade. A chuva estava mais forte e mais fria e o céu começava a enegrecer.

O vilarejo às margens da de Iliera estava dormindo, a estrada verde até os portões estava completamente vazia, e as janelas das casas estavam fechadas.

Roran continuou o caminho até os portões, mas, quando estava no centro do vilarejo um homem saiu de entre as casas e caminhou até o meio da estrada e parou, olhando fixamente para Roran. Ele usava cota de malha, tinha um capacete debaixo do braço e uma espada na cintura. Olhava para Roran com o rosto serio.

Roran franziu as sobrancelhas. O homem parecia nervoso, preocupado com algo que pudesse dar errado. Todos atrás de Roran pararam ao perceber o homem. Todos ficaram imóveis por algum tempo.

Roran levantou uma sobrancelha.

– Eu ficaria contente em saber quem é você... – Disse ao homem que não parecia nem um pouco ansioso com a situação, apenas um pouco tenso. – Irá me ajudar?

O homem nada disse, continuou olhando para Roran com o rosto sério e sombrio. Os olhos carregavam uma frieza difícil de sustentar. Quando Roran estava prestes a perguntar novamente, o homem deixou o elmo cair e lentamente, sem tirar os olhos dele, desembainhou a espada. Olhou para a lâmina por alguns segundos e a deixou cair.

O homem parecia estar na sua segunda década. De cabelos cor de palha, curtos e enrolados, uma barba fofa pouco mais escura que os cabelos e rosto magro, o homem era a maior ameaça que Roran encontrara até agora desde que saíra de Carvahall...

...Não era fácil encarar alguém que largava suas armas e olhava daquela forma de frente para uma tropa de soldados acompanhada de um Kull montado em um Nagra.

– Senhor... Eu pergunto mais uma vez, quem é você? – Roran cerrou os olhos. – Posso lhe ajudar em algo?

Roran suspirou e desceu do cavalo, encarando o tempo todo o homem desconhecido. Caminhou até ele até ficar tão próximo quanto possível.

Um leve sorriso surgiu nos lábios do homem.

– Eu vim me entregar, Martelo Forte... – Ele abriu os braços. – Tenho muito a falar sobre Marbrayes.

Roran o olhou de cima a baixo, surpreso.

– Você serve à Marbrayes? – Roran o encarou, pressionando-o com o olhar, mas o homem parecia inabalável.

– Servia... Marbrayes cometeu vários erros, e a causa que apóia agora não é a mesma que me fez servi-lo. Então, repito... tenho muito que sua Rainha pode querer saber.

Roran fechou os olhos por um instante. Respirou fundo. Quando abriu-os novamente, estava decidido. Olhou para a clava que o garoto urgal lhe dera, presa na cintura. Arrancou-a do cinto e jogou ao chão, como o homem fizera à espada.

Olhou-o bem nos olhos, com a mesma profundidade que ele olhava. Socou-o no rosto, sentindo o choque agir contra seus dedos. O homem desabou e Roran imobilizou seus braços, esmagando-os com os joelhos.

Agarrou o pescoço do desconhecido com as duas mãos, o mais firme que conseguiu, com toda sua vontade. Esperou pacientemente até que a vida deixa-se o corpo.

E então terminou. O corpo afrouxou-se ali.

Roran levantou-se e pegou a pesada clava do chão. Caminhou até o seu garanhão e montou.

– Alguém o leve para a cidadela. Nasuada irá querer vê-lo.

Um dos soldados avançou para pegar o corpo. Alguns dos demais apenas observavam esperando que o caminho continuasse.

Garzhvog olhou para Roran com os olhos cerrados e o cenho franzido.

– Falaremos quando chegarmos ao castelo e a Nasuada, nada antes disso. – Roran esporeou o cavalo e avançou, espirrando água onde o cavalo pisava. Passaram pelos portões abertos da cidade e percorreram toda ela o mais depressa possível. Já era noite.

*

– Então você o matou... – Nasuada apoiou os cotovelos na mesa e aproximou-se dele. – Estrangulou-o com as mãos... Roran! Poderia me dar uma explicação?

Roran fitou o anel que Eragon lhe dera, pensando em Ismira. Ele poderia fazer um anel igual para Ismira.

Nasuada... Você não viu a situação. – Roran fechou os olhos, suspirou e ergueu uma mão, interrompendo o que quer que ela viesse a falar. – Trazê-lo até aqui seria fazer exatamente o que ele esperava, e eu não acho que ele tinha mudado de lado. E sei que sua preocupação é com as respostas que ele viesse a dar sobre Marbrayes. – Roran olhou para a Rainha. – Mas nós temos Lemond. – Aproximou-se dela com o olhar postulado. – Acredite, o melhor que podemos fazer agora é o inesperado. Não podemos correr o risco de dar vantagem a Marbrayes com nossas ações. Imagine o que poderia acontecer se eu o trouxesse até aqui... – Ele jogou as mãos para o alto. – Tudo isto pode fazer parte de um plano maluco.

A Rainha relaxou em sua cadeira e franziu o cenho olhando para os janelões.

– Roran... Deixe-me sozinha com Jörmundur, descanse um pouco e depois volte para decidirmos o que faremos.

Roran levantou-se imediatamente. Fez uma mensura à Rainha, despediu-se de Jörmundur e deixou a sala.

A Rainha poderia estar sentindo-se postergada, poderia castigá-lo, mas ele estava aliviado por ter eliminado suas preocupações com um apertar de mãos em volta de um pescoço. Não poderia perder tempo com um prisioneiro. A forma suspeita como o homem surgiu havia lhe colocado na beira do desespero. Não, ele não podia lidar com aquilo...

As portas de seu quarto estavam abertas. Katrina escovava os cabelos, sentada na beirada da cama com os pés cruzados e as costas tensas. Roran encostou-se na porta e ficou observando-a por um tempo. O fez lembrar-se da época que ela escovava os cabelos de Ismira até que o desembaraço do vento fosse embora.

Uma lareira estalava fogo, aquecendo Katrina. O barulho da chuva era abafado pelas paredes do quarto, e foi tudo o que ele escutou por alguns minutos.

Roran estava agoniando-se com os frenéticos puxões da escova nos cabelos cobres de Katrina, que puxavam também a cabeça dela para baixo. Roran andou devagar até a cama, sentou-se ao lado de Katrina e tirou as botas. Ela continuou escovando os cabelos violentamente, Roran percebeu que ela respirava intensamente e suas mãos tremiam.

– Katrina... – Ele envolveu seus ombros com as mãos e beijou sua nuca. – você dormiu? – Ele murmurou a pergunta enquanto deslizava os dedos pelas costas dela. – Você ficou acordada a noite passada inteira... descanse um pouco, sabe que não adiantará se torturar... Espere por Albriech.

– Não quero esperar por Albriech, quero esperar por minha filha! ­– Disse ela exasperada, segurando a escova com força nos dedos.

Roran pousou sua mão na de Katrina e retirou delicadamente a escova das mãos dela. Segurou-a pelos ombros e a deitou na cama. Ela já soluçava como uma criança.

– Apenas durma. – Ele deitou ao seu lado e começou a acariciar seus cabelos.

Roran ouvia os soluços dela arranjando alguma paciência piedosa. Abraçou-a sentindo os macios braços dela tremulantes... Era tudo o que ele tinha no momento. Dormiu sentindo o cheiro dos cabelos de Katrina.

Roran sonhou que estava em Carvahall. Não na nova Carvahall, mas na sua antiga casa de madeira. Ele estava deitado em sua cama e do seu lado na estreita cama dormia Katrina.

Roran olhou pela simples e pequena janela de seu quarto. De lá ele podia ver a floresta e perto das arvores descansava um dragão azul, batendo o rabo no chão tediosamente. Era Saphira, no sonho parecia normal o dragão estar lá.

Roran beijou o rosto de Katrina e levantou-se. Caminhou até o lado de fora para observar o dragão amigo, mas este não estava mais lá.

No solo despido de neve estava apenas uma garotinha. Era Ismira, ainda criança. A garota cujos cabelos iam além da cintura brincava com um martelo pesado, ela o segurava com as duas mãos dando investidas no vento simulando o barulho das pancadas com sua voz de criança.

– Hei, espere! – Roran foi até a garotinha e agachou-se. – Não faça isso...

A menina interrompeu frustrada a brincadeira.

– Por que, pai?! – Ela enfatizava as palavras com engraçados movimentos de mão infantis.

– Por que você brinca de lutar? Isto lhe dar prazer? – Perguntou Roran franzindo o cenho.

A garotinha olhou para ele cabisbaixa e não respondeu.

– Venha comigo... – Roran segurou-a pela cintura e levou-a até a floresta nos seus braços. – Vou lhe mostrar algo divertido para se brincar.

Roran entrou na floresta e deixou a filha se libertar de seus braços. O fazendeiro procurou um galho e analisou-o, constatou que era bom o suficiente, entregou para a filha e pegou um maior para si.

– Olhe só... – Ele remexia o solo com a ponta do galho. – Estou plantando alguns feijões, o inverno vai ser duro! – Ele disse numa voz brincalhona. – Ajude-me, pequena fazendeira.

A garotinha começou a cavoucar o chão com seu galho. Roran achava graça.

Mas logo ela largou o galho no chão.

– Eu não gosto! Quero meu martelo! Estou indo para a guerra, Lorde papai! – Ela disse e correu palas arvores deixando Roran sozinho com seu galho.

Despertou de repente.

Estava de novo no quarto do castelo. A lareira brilhava pouco com o fogo quase morto. Ele se levantou e caminhou sem ver o chão. Foi até a janela e deu uma espiadela lá fora. A cidade dormia pouco, os cidadãos sempre pareciam ter algum compromisso importantíssimo com as ruas. Mesmo assim... era madrugada.

Roran voltou-se para Katrina, ela dormia com a respiração tremula, como se ainda chorasse. Roran levou as mãos ao rosto, ele não podia fazer nada perante aquela situação, nem ao menos confortá-la.

Saiu do quarto discretamente, deixando a porta semi-aberta. Fora dos aposentos, tochas iluminavam o corredor. Caminhou contando quantas tochas havia até o final.

Vinte e três... Ele terminou a contagem.

O salão do centro do castelo era vazio e redondo, as escadas saiam de toda parte para o lugar cinzento e depressivo. Roran andou até o centro e ficou observando as escadas, olhando-as em todas as direções.

– Seus hábitos noturnos são esquisitos. – Disse Jörmundur que surgiu nas escadas.

Roran foi até ele e sentou-se em um degrau.

– Pensar é cada vez mais difícil. – Disse Roran com os antebraços apoiados nas coxas e as mãos juntas.

Jörmundur levantou afetado.

– Eu estou o atrapalhando? Desculpe-me, eu estava aqui e você chegou...

– Não, não... – Roran o interrompeu. – Foi uma observação sobre tudo isto. Você não está me atrapalhando. – Ele deu um sorriso que logo sumiu. – O que Nasuada decidiu?

– Ela planeja recuperar Carvahall, mas antes quer notícias de Dras-Leona, dividirá tudo de acordo com as circunstancias, então nada é certo.

Roran meneou.

– Entendo. E... sobre mim? – Ele perguntou olhando para o conselheiro.

– Sobre você? – Jörmundur franziu o cenho.

– Você sabe... sobre eu ter matado do homem que dizia estar se entregando para os Varden. O meu castigo?

– Roran... não tem castigo nenhum, Nasuada não interfere mais nas suas decisões. Só não deixe que isso o torne precipitado... – Ele retirou um cachimbo do bolso e acendeu-o. – Os enviados para Bullridge voltaram essa madrugada. Eles dizem que Albriech não está lá... me parece que ele foi além em suas buscas.

Roran deitou a cabeça na mão.

– Roran... – Jörmundur pegou em seu ombro. – Eu acredito em Albriech.

– Eu também... Mas acreditar não é tudo.

Jörmundur hesitou, mas então concordou.

– Eu passei um tempo com Ismira quando fui à Carvahall... Ela era uma criança inquieta e esperta, Roran, com certeza ela seguiu seu caminho sozinha. – Ele deu uma tragada no cachimbo. – Acredito que ela possa se virar sozinha.

E Roran acreditava que Jörmundur estava sendo sincero, pois ele falava com a normalidade que usava em todas as palavras.

– Obrigado, Jörmundur.

Os dois ficaram sentados ali na escada discutindo a situação do império... também sobre o fato de nenhum Cavaleiro de Dragão interferir em nada, e sobre a reação das pessoas, e de como a história de Carvahall vinha se espalhando, até que Jörmundur tocou em um ponto.

– Orrin conversou com Nasuada hoje, através de um espelho mágico.

Roran franziu o cenho e assentiu.

– E o que ele disse?

Jörmundur deu uma tragada no cachimbo e franziu as sobrancelhas rindo.

– Você conhece Orrin, Roran, mas até eu me surpreendi com o que ele disse hoje... – O velho homem balançou a cabeça num leve deboche. – Eu achava que com o passar de todos esses anos Orrin tivesse mudado, amadurecido. Ele está cortando relações de Surda com o Império Varden. Disse que a guerra afeta Surda mais que ao Império, e que Nasuada deveria contribuir avidamente na manutenção do reino Surdano...

– Nasuada recusou, e ele cortou relações. – Presumiu Roran.

– Nós estamos bem informados sobre a situação de Surda... e o Reino não foi afetado em nenhum aspecto. É engraçado tentar acreditar, mas Orrin estava realmente tentando beneficiar-se à custa do que está acontecendo no Império.


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Notas finais do capítulo

Pessoal, estou desesperado... tenho tantas idéias e tanta fome de escrever, e nesses últimos tempos a fic está se tornando minha prioridade hahahah, vou tentar não por a cela na frente do dragão e fazer tudo com calma...
É isso, espero que o capítulo tenha agradado, e até o próximo.
06/08/15



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