Finalmente domingo. Os 30 alunos que passaram com mérito e iriam á viagem já estava na escola. Nossos pais foram chamados para uma pequena reunião antes de o ônibus sair que estava acontecendo agora. Deixei Chris lá fora com Taylor e vim até o banheiro só pra passar o tempo.

Olho no espelho retangular na parede que ficavam as três pias de frente as cabines. Meus cabelos loiros presos em uma trança solta, eu gostava dele assim, me dava um ar desleixada. Meu rosto não tinha nenhuma maquiagem, ele estava de bem comigo essa semana, mas meus lábios estavam um pouco pálidos.

Pego o brilho labial na minha bolsa e passo sobre os lábios. Olho-me no espelho esfregando um lábio sobre o outro para espalhar o liquido pegajoso com glitter.
Olho para o reflexo atrás de mim. Beatrice.

Nessa manhã ela estava terrivelmente gostosa. Eu quase salivei quando a vi na entrada. As calças justas deixava sua bunda ainda mais contornada. A camiseta branca deixava um pouco amostra à estampa florida do seu sutiã. Mas no momento ela mantinha os braços cruzados sobre o peito e me encarava.

Na noite passada, antes de dormir, eu tinha dado uma rápida olhada no facebook. Vi a sua nova foto de perfil na minha timeline. Maldita foto. Ela estava apenas de biquíni na piscina de sua casa. Os cabelos ruivos molhados ficavam mais escuros, e seu sorriso sob o sol ficava mais claro. Ela estava linda.
Durante toda a noite eu tive sonhos proibidos com ela. Até a pobre Taylor fez uma aparição e se juntou a nós na cama... No sofá... No balcão da cozinha... Acordei completamente molhada.
As lembranças dos sonhos mexiam comigo ainda. Dizem que esse tipo de sonho é desejo reprimido. Se for assim o meu desejo é enorme.

Volto à atenção para o espelho e as íris verdes me encaram, o sorriso saliente no rosto o acompanha.

–O que você quer, Beatrice? - pergunto em um sopro. Não aguentava mais aquilo.

Vejo-a se aproximar e segurar minha cintura, puxando-me para colar seu corpo ao meu.

–Eu quero você Ana - sussurra ao meu ouvido com uma voz baixa e sexy. Só ela me chamava pelo primeiro nome, e isso só quando estávamos sozinhas. Isso me deixava extremamente quente, ela sabia disso.

Fecho os olhos e respiro fundo antes de me tentar me afastar e responder.

–Para com isso.

Antes de escapar dos seus braços, ela me vira para o lado e me empurra até a parede mais próxima. Mais uma vez seu corpo colava ao meu. Daquela distancia eu podia ver cada pedacinho do seu rosto. O nariz pequeno e fino, os olhos verdes, as bochechas com uma leve coloração rosa e os lábios... Terríveis e deliciosos lábios vermelhos.

–Eu sinto sua falta na minha cama.

Meu estomago contraiu e meu sexo pulsou. Aquilo me trouxe as lembranças mais encoberta que já tive. A minha quase noite de sexo.
Bea com aquele olhar selvagem podia ter o que quisesse de mim, mas ela disse que "eu não estava pronta". Fiquei com tanta raiva dela que sai de seu quarto e fui para o quarto vizinho onde estava o seu irmão, meu namorado, dormindo alheio ao que acontecia.

Foi essa lembrança que me trouxe a outra. O dia do clube. Onde ela me deixou em coma por três dias e me deu a fama de "sapa chiclete" na escola inteira. A mesma garota que dizia sentir minha falta aqui na frente era a que me fez bater a cabeça em uma pedra.

–Você tem um jeito bem estranho de mostrar isso - digo e dessa vez realmente escapo. Ando até o outro lado do banheiro e ficamos frente a frente. Levanto a blusa e mostro a cicatriz na horizontal acima do umbigo - Lembra-se dessa? - pergunto.

Seus olhos se arregalam.

–Eu...

–Não, espera - levanto um pouco o braço direito, a cicatriz próxima ao cotovelo - E essa? - baixo os braços e viro de costas - Vamos para uma mais recente.

Levanto a trança. Eu não vi a cicatriz da nuca, nem mesmo quando mamãe perguntou se eu queria ver. Era apenas mais uma pra minha coleção.

Segurei o choro quando ela envolve os braços na minha cintura, outra vez. Seus lábios beijam minha nuca e ombros, meus pelos arrepiam.

–Me perdoa, Ana. Você sabe que sou meio louca às vezes. Mas é de você que eu gosto, você é a única que já me viu de verdade.
Suas palavras saíram tão convictas que quase me pegou... Quase.

Tiro delicadamente suas mãos da minha cintura e viro para ela. Dou dois passos para trás.

–Você sempre vem com esses pedidos de perdão e falso arrependimento. Mas eu estou cansada de jogar o seu jogo, Ana - lhe chamo também pelo primeiro nome - Você nunca gostou de mim, ou de ninguém. Você é tão egoísta que só sabe pensar em si. Duvido que você saiba o que é amor. Eu tenho pena de quem se apaixonar por você - "tenho pena de mim mesma" quis dizer, mas não disse.

Se algum dia alguém me contasse que nevou em Natal, eu iria duvidar. Se eu soubesse que um vulcão entrou em erupção aqui no Brasil, eu podia até acreditar. Se eu visse a Katy Perry ganhar um Grammy, diria que é montagem.
Mas se um dos meus colegas falasse que viu a Beatrice chorar, eu iria rir da piada por uma hora inteira ou interna-lo em um hospício.

Acreditei por meio segundo em estar no universo paralelo. Ou quem estivesse na minha frente fosse um clone. Pois essa era a única explicação para Bea está chorando ali, á três passos de mim.
Nunca a vi tão triste, nem mesmo no que aconteceu no seu aniversario de 15 anos, que entrei de penetra com Chris. Meu primeiro instinto foi me aproximar dela e lhe abraçar, mas ela pois as mãos na frente do corpo e segurou a barra da camiseta.

–Não se aproxime. Não quero sua piedade - fala tentando não chorar.

–Eu não... - tento explicar.

–Xiiiiiu... Você sabe o porquê de eu não amar tudo ao meu redor como uma boa moça igual a você - levanta a camiseta e a leve marca reta e branca quase não se ver um pouco acima de onde fica o coração - Eu já amei, Paula. Amei e esse amor quase me matou. AQUELA MERDA QUASE ME MATOU - diz a ultima frase gritando e chorando.

Fico sem reação por alguns segundos e quando me dei por mim ela já tinha saído de lá. Deixando-me sozinha.