Espelho Quebrado escrita por Zenner


Capítulo 10
Beatrice


Notas iniciais do capítulo

Demorou, mas saiu. :)



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Entro no carro e bato a porta com força. Olho o motorista pelo retrovisor e ele me encara confuso.

–Meu pai disse que pode me levar até o aeroporto e depois vim busca-lo – digo.

Tiro o pó compacto da bolsa que carregava e tento disfarçar o inchaço do meu rosto devido às lágrimas. Pelo tempo que chorei no banheiro o meu rosto não denunciou tanto assim. Em menos de 25 minutos chegamos ao pequeno aeroporto. Estava meio vazio e isso era ótimo quando se não quer ser perturbado.

O avião particular do meu pai nos levaria até Rio de Janeiro. Por ser espaçoso e confortável eu mesma o ofereci para a escola promover a viagem. Só assim eu poderia vim, já que não obtive notas o suficiente. Nem mesmo Jason.
As bagagens já foram guardadas e só faltava o resto do pessoal chegar. O que eu achava que seria logo.

As duas aeromoças, Julia e Carla, já se encontravam dentro do avião. Das varias viagens que acompanhei meu pai e seus sócios, eu já podia até considera-las colegas. Durantes as longas horas de voo eram as únicas com quem eu conversava, só pra fugir das cantadas dos velhos tarados que meu pai fingia não ver. Trabalhavam na empresa há cinco anos, então já tinha sua confiança.

–Oi meninas – me aproximo delas – o piloto já está ai?

–Sim, hoje vamos viajar com o Cássio – Julia responde.

–E com o Renato – complementa Carla.

–Ah, melhor então.

Os dois eram os melhores, nunca tiveram um acidente em 20 anos de carreira.

–Você está bem, Ana? Parece cansada – Carla se aproxima e analisa meu rosto.

Meu pai só me chamava de Ana, então era normal que as duas também fizessem isso. Eu pouco me importava com isso hoje em dia, mas quando era mais nova fazia questão de ser chamada de Beatrice.

–Estou bem, só tive uma manhã ruim. Nada que uma dose de whisky não resolva, pode me servir um pouco? – peço.

Ela ri e balança a cabeça.

–Se contar ao seu pai eu juro que te jogo desse avião.

Obvio que eu não diria, nem mesmo faria diferença alguma se dissesse.

Julia senta ao meu lado enquanto a outra vai buscar o whisky.

–Preciso te contar uma coisa – a loirinha diz animada.

–Fala – viro-me para ela.

–Finalmente a Carla me pediu em namoro – o seu sorriso tava do tamanho do mundo.

Eu acompanhava esse rolo delas há 6 meses, mas nunca imaginei que fosse tão longe assim. Estava feliz pelas duas, eram mulheres independentes e viviam longe de suas casas. Carla mineira e Julia paulista. As duas moravam em Natal há mais de 8 anos.

–Isso é ótimo, parabéns garota – lhe abraço.

–Cof, cof – Carla forçou uma tosse para chamar atenção.

–Até que enfim, teimosa – levanto e lhe abraço quase levando a garrafa e o copo ao chão – já estava na hora de fazer essa loirinha oficialmente sua.

Seu rosto cora e seus olhos desviam de mim para a sua namorada.

–Você disse que me deixaria contar – reclama.

–Não aguentei.

Pego a garrafa e o copo das mãos dela.

–Vamos comemorar.

–Estamos em horário de trabalho – Julia levanta e se posta ao lado da namorada.

–Suas chatas – digo e sento.

Encho o copo com o liquido transparente e viro o copo de uma só vez sentindo o liquido queimar por dentro.

–Vai com calma, Ariel – a mineira usa meu apelido de infância e isso deixa tudo ainda pior.

O telefone toca e elas vão atender. Voltam menos de um minuto depois passando por mim e indo até a porta. Meus “colegas” chegaram. Olho para o corredor e vejo os primeiros alunos entrando, logo depois avisto James com uma cara nada legal.

Ele caminha até mim e senta ao meu lado encarando a garrafa de Jack Daniel’s em minhas mãos.

–Você está cada vez mais parecida com ela – diz.

Tento não rir, mas acabo soltando uma gargalhada. Aquilo era cômico. Foi a terceira vez que ouvi isso essa semana e de pessoas diferentes.

–Vai á merda, James perereca.

Ele odiava esse apelido desde que um garoto do acampamento encheu sua cama de perereca e ele saiu correndo que nem uma garotinha.
James bufa e sai pisando forte. Tomo mais um gole da bebida e escondo a garrafa na minha mochila antes que a professora Marta chegue até mim.

–Chegou aqui antes Beatrice? – pergunta ajeitando os óculos gigantes em seu rosto.

–Sim, quis ver se estava tudo em ordem para a viagem. Meu irmão deve ter se esquecido de avisar – dou o meu sorriso mais tranquilo.

–Ah – diz apenas isso e volta para o fim do avião onde dois garotos brigam por um acento na janela.

Ponho o liquido da garrafa de vidro na minha garrafa de água, só assim ninguém me enche. As próximas horas seria apenas eu, Jack e Courtney em Hole.

Meu Iphone na bolsa toca em sinal de recebimento de mais uma mensagem no WhatsApp. Ainda não configurei para modo de voo.
Era um numero desconhecido, sem foto e status.

“Tão mãe, tal filha. Será que você vai acabar como ela?”

Olho ao redor, ninguém prestava atenção em mim. Os adolescentes ali apenas riam e conversavam animados pela viagem.

“Beatrice... Beatriz... Já são quase a mesma não é?”

Mais uma.

“Seu pai faz com você o que fazia com ela?”

E outra.

“Quem é você?” – pergunto.

“Você sabe quem eu sou. Venha me encontrar. Onde você está, eu estou também”

“O que quer de mim?”

“Dinheiro, poder, dor, lagrimas... ainda estou decidindo.”

Quem é esse doente? Pessoas sabiam aquelas coisa e eu estava tão cansada delas que tratava todos mal só pra pararem de me encher, mas agora era diferente.

“Diga seu preço” – envio.

Recebo uma foto. Paula.

Ela estava com a mesma roupa de mais cedo, mas a imagem era meio embaraçada. Parecia ter sido tirada escondida.

Olho para a sua poltrona. Ela ainda estava com aquela roupa e conversava animada com Chris e a gringa novata. Nem sinal de celular por perto.

“Sua paixãozinha não tem nada com isso. Mas isso foi só para mostrar que eu sei mais sobre você do que imagina... Tome cuidado”.

E mais 3 fotos recebidas. De dentro do banheiro. Naquele momento mais cedo.

Que merda!


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Notas finais do capítulo

Jack = Bebida
Courtney = Cantora
Hole = Banda da Courtney



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