Espelho Quebrado escrita por Zenner


Capítulo 20
Beatrice II




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Isso já tinha saído totalmente do controle. Os últimos dias não foram os melhores para mim, mas o que há nessas pessoas? O acampamento estava uma zona de batalha, literalmente. Garotos de um lado, garotas do outro. Usavam mesas como muros e comida como armas. Eles riam e jogavam comidas uns nos outros tentando não ser atingido. E os professores? Dormiam como pedra. A metade da tudo estava no meio da "guerra de comida" e os restantes bebiam em grupinhos.

O lugar era lindo. Um campo aberto para campistas rodeado de árvores e arbustos. Havia dois caminhos, um para a estrada e outro para a mata, onde ficava a cachoeira. Chegamos as 13:35 e todas as barracas já estão montadas. O professor de Geografia veio dirigindo um pequeno furgão que armazenava comida suficiente para todos.
Não sei como Paula, Chris e Taylor conseguiram esconder as bebidas lá dentro, mas de qualquer forma fizeram um ótimo trabalho. Passava das 3:00 da manhã e todos estavam totalmente ou parcialmente bêbados.

Falando na loirinha... Ela estava me dando o maior gelo desde o nosso encontro na piscina. Os dias naquela pensão foram um verdadeiro pesadelo. Ela me via nos corredores e fingia que eu era invisível, mas invadiu meu quarto duas vezes durante a noite e me atacou. O jeito que me beijava e sai sem nem olhar pra mim, isso me deixava louca. Se ela quisesse continuar me usando como boneca sexual eu não ia me importar, mas que pelo menos me desse um "boa noite" ou avisasse que não íamos até os "finalmente".

De onde eu estava podia ver os seus cabelos loiros balançando de um lado para o outro, como ela fazia quando ria de algo muito engraçado. Por estar de costas para mim, a sua bunda me parecia muito atrativa. Na verdade o seu corpo inteiro me atraia. Principalmente hoje. No fim da tarde ela e as garotas decidiram que buscariam galhos secos para a fogueira. Eu sabia que alguns meninos já tinham ido fazer isso, mas elas não. E como Paula me ignorava quando não estava com a língua enfiada na minha boca, eu deixei que elas fossem.

As segui em silêncio e impercebível. Ouvia as conversas bobas que elas tinham e até notei que apelidaram Taylor de Dora A aventureira quando ela deu uma pequena palestra sobre qual era o melhor tipo de madeira para ser queimada em fogueiras pequenas.

Depois de andarem por 15 minutos e juntarem uma boa quantidade de madeira, encontraram a cachoeira. Paula foi a primeira querer pular na água, mas as outras duas achavam que estava gelada demais.

–Que se foda, eu vou pular - foi isso que ela disse antes jogar os tênis para longe.

A cena se passou lentamente pela minha cabeça. Paula primeiro tirou a camiseta branca (que naquela hora já estava toda suja de terra) e depois o short jeans na altura dos joelhos. Ela usava uma lingerie de cor clara e sem estampa. Eu esperava que ela tirasse-as também, mas sabia que não faria. Mas não foi de tão ruim.

Quando saiu da cachoeira com o corpo molhado, o sutiã estava praticamente transparente. O pano grudava ainda mais no seu corpo e eu pude ver os biquinhos rosados de seus seios. Aquilo era tentação demais para quem queria ir até lá e jogar toda aquela roupa molhada longe.

Voltei para o acampamento antes delas e tomei quase um litro de uma só vez. Precisava esfriar a cabeça depois de ver aquilo.

Agora, vendo esse espetáculo de longe, o que eu mais desejo é atravessar essa guerra e lhe agarrar na frente de todos. Tomei mais um gole da vodca com suco de laranja que tinha no fundo do meu copo e procurei alguém para me fazer companhia. Onde estaria Jason? Eu não o via desde que chegamos. Alguma coisa ele estava aprontando.

–Oi - a voz chama a minha atenção e olho para o lado. Era Paula, ela parecia alegre, com um ar de graça.

–Oi - tento sorrir da melhor maneira possível.

–Não devia ficar sozinha... O monstro da floresta pode pegar você. Buh - ela levanta as mãos como se me desse um susto e começa a rir. Aposto que tinha bebido,

–Não tenho medo de monstros.

–Claro que não. Você é a Super Beatrice não é? - põe a mão no meu ombro e baixa à cabeça ainda dando uma leve risada - Caramba! Minha festa tá demais.

–Tá sim. Como conseguiu? - se ela estava bêbada podia arrancar a verdade dela, estava morrendo de curiosidade.

Ela olha para os lados e depois me encara. Aproxima-se e sussurra em meu ouvido.

–Eu fiquei com aquela garota para ela me conseguir sonífero e por as bebidas no carro do professor - afasta-se e põe o indicador sobre os lábios - xiiiu, não conte a ninguém. É o nosso segredo, ok?

–Claro. Prometo não contar a ninguém - pisco pra ela.

Ela senta ao meu lado, no tronco. Seus dedos batucam no copo que segurava e ficamos em silêncio.
Escuto uma musica um pouco família e logo Pedro, um colega de classe, aparece com um pequeno radio portátil.

–Achei - gritou ele e todo o resto acompanha com gritinhos e aplausos.

Algumas luzes foram apagadas e poucas restaram. Uma musica eletrônica tocou e uma pequena roda de dança se formou.

Onde estávamos ficou ainda mais escuro que antes.

–Quer ir dançar? - pergunto a Paula.

–Com você? - ela demora um pouco a responder, como se saísse de um transe.

–Comigo não, com suas amigas - aponto para Chris e Taylor que dançavam com os outros - Não quero se sinta obrigada a me fazer companhia.

Ela ri, mas não consigo identificar o que tem por detrás daquele riso. Antes que eu possa falar mais alguma coisa, ela se posiciona a minha frente e agarra a minha cintura.

–Eu estou muito bêbada hoje. Quase não consigo me segurar esse desejo gritante de te agarrar, mas eu preciso falar algo antes que eu perceba a merda que tou fazendo - ela dizia com o rosto muito próximo ao meu. O brilho azul lhe deixava tão fragilizada, eu não iria me aproveitar dela naquela situação - Naquele diz da piscina você quase me deixa louca. Como pode me pedir em namoro daquela forma, sua idiota? Não podia ter feito um jantarzinho ou uma serenata, como uma pessoa normal?

–Não sou uma pessoa normal - sorriu e ela faz o mesmo - de qualquer forma não sou muito boa na cozinha. E não toco instrumento nenhum. Não sou nada profissional com esse negocio de romantismo. Me desculpa.

Ela ri balançando a cabeça. Aquilo era bom.

–E quanto a um cinema e um lanche no Mc Donalds depois? - pergunta.

–Isso talvez eu possa fazer. Por quê?

–Está marcado. Cinema e lanche, segunda à tarde. Teremos um encontro de verdade, como pessoas normais. Eu cansei dessa loucura que é nossa relação... Se é que posso chamar isso que temos de relação.

Pela primeira vez na minha vida eu teria um encontro de verdade. É claro que eu já havia saído com outras pessoas, mas não dessa forma. Eu saia pra levar a pessoa para a minha cama no fim do dia. Com ela seria diferente. Porque eu a queria até o fim de tudo.

–Segundo meus estudos, relação é a ligação íntima de pessoas. Nós temos isso não é? - pergunto e passo os braços pelo seu pescoço.

–Temos sim - sorri exibindo os dentes brancos e me dá um selinho demorado. Se eu a beijasse mais forte não ia me controlar, ela também não. A nossa primeira vez juntas não seria com ela bêbada.

"Me lembre amanhã que teremos um encontro, tá? Não tenho certeza se lembrarei de tudo que aconteceu agora - pede e acaba rindo de si mesma.

–Vou te por pra dormir.

Afasto-me dela e tento lhe guiar até a sua barraca.

–Você tá se saindo bem pra uma garota que nunca namorou na vida - zomba quando ponho seu braço sobre meu ombro e lhe seguro pela cintura.

–Quem disse que nunca namorei?

–Você já...? - ela se afasta pra me olhar e dou uma leve risada.

–Eu tentei namorar um cara há alguns anos, mas não rolou. Ficamos juntos por um mês e eu mandei vazar.

–Que sutil - responde e volta para perto.

–Ele não era o melhor namorado do mundo. Só queria me exibir feito um troféu...

–Gata como você é, claro que todos querem exibir - ela diz naturalmente e acabo corando sem que perceba.

–Mas existe um limite pra exibição - tento voltar ao meu estado normal - não tínhamos o nosso momento. Porque todos os momentos eram voltados para ele. Não existia duas pessoas no nosso relacionamento, existia três.

–Ele estava traindo você?

–Antes fosse... Nosso triangulo amoroso era entre eu, ele e seu enorme ego.

–Sorte a sua que não sou egoísta.

–Você é o contrario disso. Talvez por isso eu goste de você...

–Por isso exatamente o que?

Paramos ao lado da barraca e ficamos de frente uma para a outra.

–Lar doce lar - digo.

–Você quer entrar para tomar uma xícara de café? - pergunta rindo.

–Não seria muito incomodo? - entro na brincadeira.

–Claro que não, pode entrar.

–Depois da senhorita.

Ela entra na barraca e lhe acompanho. O colchão inflável cor de rosa só podia ser da Chris. Era a cara dela.

–Eu estava pensando aqui - começo uma conversa - a Chris não vai ficar muito feliz com o nosso namoro.

–Provavelmente não... Mas ela vai ficar feliz se me ver feliz.

–Então farei isso acontecer - me aproximo e beijo o seu nariz.

Ela fecha os olhos e sorri.

–Não acredito que fez isso. Nem imaginava que você lembrava.

–Claro que lembro. Você sempre que podia beijava a ponta do meu nariz, mesmo que eu não entendesse porquê.

–Eu estou muito bêbada pra explicar - sorri e deixa no meu colo - então, você não respondeu o que perguntei lá fora. O que exatamente você gosta em mim? Serio.

Pego em seus cabelos e encaro seu rosto. Ela estava de olhos fechados e eu não podia ver aquele azul maravilhoso, mas ainda assim eu admirava muito a beleza daquela garota. Suas bochechas rosadas, seu queixo redondo, o nariz empinado. Os lábios eram os que mais me chamavam atenção.

–Eu gosto do seu jeito sereno. Da forma que me olha quando está desarmada. Eu fiz muita coisa ruim para você e suas amigas... Mas você nunca me odiou. Com você eu sei que posso falar cobre qualquer coisa sem ser julgada. Eu posso ser eu de novo. Posso tirar a minha máscara e me revelar.

–E por que você usa uma máscara? Você é tão bonita naturalmente - ela perguntou com uma voz sonolenta. Eu não sabia se ela queria dizer no sentido figurado, assim como eu, ou literalmente.

–Nem todo mundo tem os seus olhos - sussurro em seu ouvido. Isso responderia de todas as formas.

Se continuasse quieta, ela dormiria. E foi isso que fiz. Brinquei com seus cabelos até perceber que ela tinha caído no sono. Ela já vestia pijama, todo mundo lá fora também, então só precisei de um pequeno esforço para sair da barraca.

O vento frio me atingiu assim que me pus de pé. A musica ainda rolava ali fora, mas eu não queria mais festa. Para mim o dia tinha acabado ali. E por muito tempo, em anos, eu iria dormir completamente satisfeita.


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Notas finais do capítulo

Capitulo narrado por Beatrice, espero que gostem.



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