Espelho Quebrado escrita por Zenner


Capítulo 19
"Tudo era um borrão para mim"




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A pegação da cozinha se estendeu até o quarto. Para uma garota que quer a ex de volta, Liz parece bem interessada no meu corpo. Já estavamos ali há um bom tempo, as mãos dela passeavam pelas minhas costas e deixavam alguns arranhoes na minha pele.
Escuto algo fora do quarto e me apresso em ficar sobre ela na cama. Liz aperta minha bunda e acabo rindo.
A porta se abre e nos afastamos. 4 pessoas aparecem: Chris, Taylor, Sara e Bea. Cada uma com expressões diferentes. Enfiei o rosto no travesseio que Liz encostava a cabeça e sinto o cheiro do seu perfume.
Foi naquele momento que me perguntei o que eu estava fazendo. Aquela era eu? Aquilo era algo que eu faria no meu estado normal? Eu estava na cama com uma estranha e 4 pessoas nos assistiam.
Levanto sem encarar ninguém e arrumo minha roupa amarrotada.
–Liz, adorei o nosso momento - lhe dou um selinho - mas agora tenho que resolver umas coisas.
Saiu do quarto e não olho para as minhas amigas, tinha que fingir que foi tudo "por acaso".
Já estava no meu quarto quando enfim soltei a respiração que não percebi estar prendendo. Meu coração batia rapido demais.
Escuto o meu telefone tocar e o pego no bolso detrás. Minha mãe estava ligando.
–Oi minha filhinha - diz animada.
–Oi mamãe - tento falar o mais natural possivel.
–Como você está?
–Estou otima, me divertindo muito.
–Que bom. Não deixe a Chris lhe meter em encrenca.
–Ok, mãe - mal sabe você que sou em quem está fazendo isso.
–Liguei apenas para dizer que chegou uma encomenda para você. Deve ser alguns desses livros que você compra pela internet.
–Tudo bem, olho quando chegar.
–Ta certo. Beijos querida.
–Beijos. Mande um abraço para papai.
–Mandarei.
Encerro a ligação.

13:00hrs desço para me juntar a todos no almoço. Sento-me a mesa com Chris, Taylor e Mariana, uma menina da turma de Beatrice. Comemos em silêncio. Eu estava louca para perguntar o que aconteceu quando sai, mas Mariana tinha uma fama de fofoqueira e não ia correr o risco da escola toda saber que fiquei com Liz.
Deixo a mesa com aquele olhar de "sigam-me" e elas saem comigo até a area vazia da piscina.
–Conta tudo - peço e encaro minhas amigas.
–Quando você saiu a Sara ficou piradinha. Ela chorou, gritou e estava visivelmente irritada e magoada. Ela e Eliza conversaram algo a sussuros e foi ai que percebi que Beatrice ainda estava lá - Chris contava - Parecia que ela tinha visto um fantasma.
–Na verdade, parecia que ela era um fantasma - corrigiu Taylor.
–Só porquê me viu ficar com Liz?
As duas se olharam e afirmaram com a cabeça.
–Aposto que ela percebeu que vocês estavam olhando e saiu de nariz empinado como se nada tivesse acontecendo - bufei.
–Não. Ela limpou os olhos e saiu de cabeça baixa.
–Ah - é só o que consigo dizer.
Hora de um mergulho. Não estava conseguindo pensar direito. Tiro a roupa e pulo na piscina deixando as duas para trás. Sinto a agua preencher tudo ao meu redor e prendo a respiração. Eu poderia ter sido nadadora profissional se tivesse levado o nado a sério quando era criança, mas a ideia de passar parte da minha vida dentro de uma piscina não me agradava. Talvez agora eu saiba melhor o motivo disso.
A água é muito clara, eu não estou acostumada a isso. Tudo era um borrão para mim. Desde criança sempre houve esse borrão, esse buraco. Primeiro: Eu sou adotada. Segundo: Minha origem é francesa. Terceiro: Com tantas crianças abandonadas aqui no Brasil, como e por que meus pais foram até a França para me adotar?
Eu devia focar meus pensamentos em Bea, mas era mais facil digerir aquilo do que o amor que eu sentia por ela. Se eu passasse mais tempo tentando descobrir o que aconteceu no meu passado, talvez eu esquecesse dela.
Meus pulmões pedem por ar e nado até a superficie. Olho ao redor e não tem ninguem. Só alguns pássaros comiam farrelos no capim. Encho os pulmões de ar e desço novamente.
Lembro de um exercicio que meu professor de natação sempre pedia que fizessemos. Todos tinhamos que sentar no chão da piscina por pelo menos 10 segundos, quem ficasse mais tempo ganhava. Eu sempre perdia, não conseguia ficar sentada lá embaixo por muito tempo. Mas faria isso hoje.
Sento na mármore fria e abro os olhos. Demora um pouco para meus olhos se acostumem. Quando consigo ver claramente alguem pula na piscina. O vulto afunda, mas logo começa a tomar forma. A cabeleira ruiva vem em minha direção. Seria possivel os olhos verdes serem ainda mais verdes dentro d'agua? Parecia que sim.
Bea me encarava. Tão forte, tão intenso.
Subimos na mesma hora.
–Ela ainda está ai? - pergunta. Estavamos proximas demais.
–Ela quem?
–A velha você.
–A boba e apaixonada? Está sim. Mas em um lugar bem longe.
–Eu já entendi o seu joguinho.
–Então me explica o seu, porque não estou entendendo nada - debocho.
Bea lança aquele sorriso torto que quebra todos os meus muros. A pequena cicatriz no seu lábio ainda estava lá.
–Você sempre tem algo pra falar, mas deixa muita coisa a dizer.
–Vá se acostumando com a minha ausencia. Faça as pazes com sua consiencia e veja se você errou.
Ela lembraria dessa musica. Foi o primeiro show que fomos "juntas". Ela me beijou quando Jason foi ao banheiro. Sem vergonha nenhuma das pessoas que olhavam, ou medo que ele nos pegasse juntas.
–Você lembra disso - diz supresa.
–Foi eu quem chamou seu irmão para ir ao show. Claro que lembro.
–Você não parecia feliz quando eu fui com vocês - ela ri.
–Eu não estava, você fazia aqueles joguinhos comigo. Eu queria só um fim de semana em paz.
–Você parecia em paz quando me beijou.
–Eu estava... Até você me soltar e fingir que nada aconteceu.
–O que queria que eu fizesse? Eu não podia dizer ao meu irmão que estava apaixonada pela namorada dele.
–Apaixonada... Por que você tem que complicar tanto as coisas?
–Eu estou sendo bem clara agora, Paula. Eu quero você, estou disposta a lutar por isso. E quanto a você?
–Isso é um pedido de namoro? Ou o quê? - pergunto confusa, quase debochando dela.
–Tipo isso, não sou boa com essas coisas.
–Eu... - mas que porra. Sim, sim, sim, eu quero muito namorar você. Mas eu não podia ir rápido demais. Ela nunca foi tão longe, mas talvez porque eu nunca tenha resistido tanto como agora e mostrado que eu podia me interessar por outras garotas - Preciso de um tempo.
–Leve o tempo que quiser.
Antes de sair ela toca meu rosto e beija minha testa. Aqueles olhos! Eu não conseguia decifrar o que ele queriam me falar, mas havia algo ali. Beatrice era a minha maior interrogação, não sabia se estava ansiosa ou assustada em ficar tão proxima da resposta.
Garota, você está me deixando ainda mais louca.


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