Paz Temporária - Olhos Amaldiçoados escrita por HellFromHeaven


Capítulo 5
De volta à estaca zero




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Pensei que teria uma boa noite de sono, mas estava terrivelmente enganado. Meu cérebro resolveu trabalhar durante a madrugada inteira. Pelo menos quando eu acordei (devo ter dormido umas três horas no máximo) tinha uma teoria a respeito de tudo o que estava acontecendo. Fiquei pensando nas três histórias enquanto tentava encontrar conexões e semelhanças. No final, acabei notando que adquirimos a capacidade de ver coisas que não deveríamos depois de algum tipo de acidente no trânsito. O lance da Jade não foi bem um acidente, mas ainda assim se encaixava na categoria. Depois de surrar o sono e o cansaço para fora de mim, resolvi procurar a última peça do quebra cabeça (pelo menos até agora), Lucas. Preparei-me psicologicamente para ser educado e não demonstrar meu desgosto para com aquele sujeito. Depois saí à sua procura na parte da cidade controlada pelos Harrisons. Eu poderia ter chamado Lisa para me acompanhar, mas achei melhor ir sozinho. Afinal, o cara era perigoso e eu não sabia o que poderia acontecer. Aliás, eu mal sabia por que estava procurando uma pessoa daquelas. Cheguei a questionar várias vezes se minha curiosidade valia o risco. Acabei dando um foda-se e indo do mesmo jeito.

Ele morava na parte rica da cidade e era minha primeira vez andando por lá. Como eu não sabia por onde começar e nem como me movimentar por ali, parei em uma banca de jornal para pedir informações:

– Com licença, eu gostaria de uma pequena ajuda.

– Ajuda?

– Sim. Estou procurando Lucas Harrison e sei que ele mora nessa parte da cidade. Mas não tenho a mínima ideia de onde ele esteja.

– L-Lucas? Acho melhor você se afastar desse tipo de gente.

– Não pretendo me juntar a ele ou coisa parecida. Só quero conversar um pouco.

– Conversar? Tudo bem então... A essa hora do dia ele costuma ficar na praça do antigo templo.

– Muito obrigado! Só mais uma coisa...

– Diga.

– Poderia me dizer como chegar a essa praça?

O vendedor me explicou calmamente o caminho que eu teria que percorrer para chegar ao meu destino e, depois de agradecer, sai determinado. Demorei cerca de meia hora para chegar lá. Me perdi umas duas vezes, mas o que importa é o resultado final! Depois de andar um pouco pela praça avistei meu alvo. Ele estava sentado em um banco junto a uns quatro capangas e parecia estar se divertindo. Aproximei-me cautelosamente e consegui chegar ao lado deles sem ser notado.

– Olá Lucas.

Todos pararam de conversar e seus olhares se voltaram para mim. Confesso que estava ligeiramente nervoso e tive uma imensa vontade de sair correndo, mas resisti à pressão e continuei os encarando ali mesmo. Os homens olharam para Lucas como se esperassem uma ordem e ele apenas levantou-se e caminhou em mina direção:

– Ora se não é o garoto de ontem! Qual era o seu nome mesmo?

– Eu não cheguei a falar, mas é Harry.

Pensei se dizer o meu nome verdadeiro seria burrice, mas logo lembrei que, como um criminoso daquele porte, ele poderia facilmente me rastrear mesmo se eu mentisse. Então resolvi dar um foda-se.

– Isso explica o porquê de eu não me lembrar. Minha memória é ótima assim como tudo em mim.

Aquele cara me dava nos nervos, mas se eu quisesse continuar a investigação eu teria que aguentá-lo.

– Tsc. Essa sua cara me incomoda.

– O quê?

– Não importa. Pessoal, acho melhor vocês darem uma volta, pois tenho um assunto importante para tratar com esse moleque.

Os homens obedeceram e saíram em direção a um bar próximo à praça.

– Muito bem, vamos ao que interessa.

– Por mim está ótimo.

– Eu não sei quem você é, mas parece que você sabe mais do que devia.

– Isso não é bem minha culpa.

– De qualquer jeito eu gostaria de saber... Como você sabe?

– Por incrível que pareça, você não é o único que vê algo que não deveria ser visto. Eu vejo contadores em cima das pessoas que indicam quanto tempo elas ainda têm de vida. E o seu está zerado.

– Mas que porra? Explique-se direito!

– Eu ainda estou tentando entender o porquê, mas parece que pessoas como nós têm esse “cronômetro” zerado e o futuro não pode ser visto.

– Futuro? Você não está falando coisa com coisa.

– Foi mal aí. É que eu conheço alguém que vê o futuro das pessoas e ela não consegue ver o destino de pessoas como nós. Aliás, foi assim que eu descobri que não era o único assim.

– Porra moleque. Se eu soubesse que ganharia um nó no cérebro nem teria te chamado para conversar.

– Desculpe-me por isso. Eu queria poder explicar melhor, mas sou um merda nessas coisas. Aliás, qual é a dos seus olhos? O que você vê?

– Eu vejo os pensamentos das pessoas flutuando em cima delas e consigo lê-los sem nenhuma dificuldade.

Lucas exibia um sorriso sádico ao falar aquilo e senti um arrepio subindo minha espinha. Eu havia pensado tanta merda dele, principalmente no último dia. Eu com certeza estava fodido.

– Oh... Entendo...

– Pois é...

– Ah! Antes de tudo preciso perguntar algo.

– O que é?

– Quando você começou a ver essas coisas?

– Quando? Deixe-me ver... Acho que foi depois de um dos Valentines fazer com que o carro da minha família batesse de frente com outro carro qualquer.

– Entendo...

Era mais um acidente e eu estava quase confirmando essa relação entre os casos. Só restava escapar com vida daquela situação.

– Bem... Eu acho que já vou nessa.

– Espere aí! Seus pensamentos em relação a minha pessoa me incomodam muito.

– Eu peço desculpas, mas não acho que você deveria se importar comigo. Sou apenas um vagabundo qualquer.

– Pode até ser, mas eu não estaria onde estou se deixasse “vagabundos quaisquer” falando mal de mim por aí.

– Bem... É...

Eu estava me preparando para correr como um peido quando algo chamou nossa atenção. Havia uma garota em cima de uma espécie de caixa de madeira no meio da praça pedindo a atenção de todos. Ela tinha aproximadamente um metro e setenta de altura, olhos e cabelos negros (os cabelos chegavam até a metade de suas costas) e sua pele era morena. Possuía grandes olheiras e parecia estar determinada a algo.

– Gostaria de um minuto da atenção de todos vocês!

– Mas que porra é essa?

– Sei lá... Parece que ela é do Sul... E também parece que precisa de uma boa noite de sono.

– Não me importa que ela seja de Sul, Norte, Leste ou Oeste! Quem ela pensa que é para ficar gritando no meio da minha praça?

– Essa cidade tem passado tem sido o campo de batalha entre duas famílias e quem está sofrendo com isso é o povo! Dentre elas, os Harrisons são os piores e não pensam duas vezes antes de matar um inocente a sangue frio!

– Mas que porra essa vadia está falando?

– Sinto muito, mas é a verdade.

– Filho da puta.

– Não acham injusto ter que pagar por uma falsa proteção e viver sob o constante medo da morte? Vocês têm o poder para acabar com isso! Lembrem-se que uma paz conquistada pela violência nunca será verdadeira! Resistam! Mas não se rebaixem ao nível deles e não matem um filho da puta sequer!

– Filho da puta? Agora essa vadia extrapolou! Vou acabar com isso agora!

Os capangas haviam voltado graças ao tumulto e acompanharam Lucas até a causadora do mesmo. Ao vê-los chegando, a garota (por incrível que pareça) não se intimidou e continuou com seu protesto:

– Aqui está a prova do que eu estava falando! Eles não puderam aguentar um simples protesto e já vieram acabar com o direito de liberdade de expressão!

– Tá louca garota? Como ousa causar um tumulto na minha praça?

– Essa praça é pública e não vejo seu nome escrito em lugar algum.

– Tudo bem... Você passou dos limites... Acabem com essa vadia!

Os quatro avançaram em direção à garota, mas foram derrubados um a um pela mesma. Ela parecia saber lutar e acabou com eles sem nenhuma dificuldade. Lucas observou tudo com um olhar raivoso. Ele colocou a mão direita dentro de seu paletó (provavelmente procurando uma arma), mas antes que pudesse fazer mais alguma coisa, foi surpreendido por um chute no meio de sua cara. Ele caiu de costas e tentou levantar, mas levou um chute na nuca e parou de se mover. Em menos de dois minutos os cinco estavam imóveis no chão. Assisti aquilo tudo boquiaberto, assim como todos que estavam passando pelo local. Ela subiu novamente na caixa e continuou com suas reclamações:

– Viram só? Fui atacada em desvantagem por esses filhos da puta! Mas mesmo sendo apenas uma cidadã normal pude resistir! Todos vocês podem! E se todos nos unirmos não haverá necessidade nem de brigar com os punhos! Muito obrigada pela atenção!

Ela desceu da caixa, a pegou e saiu andando. Tudo aquilo foi muito estranho, mas como ela havia acabado de salvar minha pele decidi alcança-la para poder agradecer. Corri em sua direção e notei que havia uma garota ruiva ao seu lado:

– Olá!

As duas me encararam e ficaram em silêncio.

– Bem... Eu gostaria de agradecer. Esses caras poderiam me causar alguns problemas.

– Não foi nada. Aliás, foi apenas uma coincidência.

– Obrigado mesmo assim. Eu gostaria de saber o nome de vocês.

Vocês?

Elas se entreolharam e a outra garota sorriu enquanto minha salvadora exibia uma expressão confusa no rosto.

– Você não deveria poder vê-la, mas meu nome é Jackie e ela é a Jessy.

– Como assim não deveria poder vê-la?

– Não importa. Eu tenho que ir.

As duas andaram até sumir de minha vista. Enquanto isso, eu estava estático e confuso. Aquela conversa havia sido deveras perturbadora, mas o pior foi o que percebi apenas quando elas viraram as costas. A garota calada acenou para mim e apontou para a cabeça da outra. Primeiramente fiquei confuso, mas quando olhei para a direção que ela havia apontado fiquei em choque. Parecia que ela tinha apontado para o contador de sua amiga, mas o pior era que aquele maldito cronômetro não estava nem normal nem zerado... Estava negativo! Aquilo só poderia ser sacanagem! Tudo o que eu parecia ter descoberto até aquele momento foi por água abaixo. Aquele foi um longo e desagradável dia...


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Notas finais do capítulo

Eu realmente sinto muitíssimo pela demora desse capítulo! Aconteceu muita coisa (últimas provas, espera de resultados, SENAI, Girls of the Wild's, Onepunch-man...) e acabei não escrevendo nada por um bom tempo.
Bem... consegui achar um tempo e chutar a preguiça para longe de mim e aqui está o capítulo V! Vou tentar escrever mais a partir de agora, já que as provas se foram e estou de férias da facul /o/.
Agradeço a quem leu até aqui, peço desculpas novamente pelo atraso, espero que estejam gostando e... até o próximo capítulo! =D



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