Paz Temporária - Olhos Amaldiçoados escrita por HellFromHeaven


Capítulo 6
Acendendo as chamas da vingança




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Lembro-me de ter ficado ali parado por uns cinco minutos até eu perceber que se não saísse dali acabaria sobrando para mim. Corri até o ponto mais próximo e entrei no primeiro ônibus que apareceu. Por sorte consegui parar relativamente perto de casa (andei cerca de dez minutos, mas ainda é melhor do que apanhar ou... morrer). Meu pai não estava em casa, então eu simplesmente fui até meu quarto e me joguei na cama. Fiquei observando o teto enquanto pensava no que havia acontecido e no que eu faria daquele momento em diante. Quando me dei conta, já tinha se passado uma hora e decidi marcar um encontro com Lisa e Jade para planejar o próximo passo da investigação (afinal, três cabeças pensam melhor do que uma). Isso se a mesma continuasse a existir. A “reunião” foi marcada para as quatro horas da tarde naquela mesma lanchonete em que conversamos na última vez. Esperei o tempo passar olhando para o teto e depois segui meu rumo ao local. Fui o primeiro a chegar mesmo a Lisa morando pertíssimo dali. Esperei por mais ou menos dez minutos e pude ver as duas chegando juntas:

– Olá Harry! – disse Jade com um grande sorriso em seu rosto.

– Oi Harry.

– Olá vocês.

– Que cara é essa? Você disse que queria conversar sobre aquele lance coisado né? Aconteceu algo de errado?

– Mais ou menos. Hoje eu fui até o Lucas e descobri que o infeliz consegue ver o pensamento dos outros.

– Mas que porra...

– Nossa...

– Espere... Mas não seria ler?

– Bem... Ele disse que os vê “flutuando” e lê. Então... Bem, isso não importa.

– Ele está certo Jade.

– É... Enfim, isso não parecer ser tudo o que você queria nos dizer.

– E não é. Acontece que ele viu... Leu... Foda-se, ele coisou meus pensamentos e viu que eu meio que o odeio.

– Vish...

– Ele ia fazer alguma coisa comigo, mas uma garota começou a protestar contra o domínio violento da família dele no meio da praça. Então ele e seus capangas foram “dar um jeito” na situação, mas levaram uma bela surra dela.

– Sério? Gostaria de estar lá para ver isso! Aliás, eu ficaria lá até o infeliz acordar só para rir da cara dele.

– Então no final ela te livrou de uma encrenca?

– Exatamente. Daí eu fui agradecer e vi que ela estava acompanhada de outra garota. Perguntei o nome das duas e... Bem...

– Ela era homem?

– Não Jade... Isso seria igualmente bizarro, mas não. Ela disse algo como “você não deveria ser capaz de vê-la, mas meu nome é Jackie e o dela é Jessy” e saiu andando.

– Mas o quê...

– Exato! Fiquei me perguntando o que havia acabado de acontecer quando percebi que a garota que eu “não deveria ver” apontou para a cabeça da outra. Olhei na direção e lá estava o contador da bendita.

– E ele estava zerado?

– Não... O maldito estava negativo!

– Como assim negativo? Tipo... Com um menos do lado e tal?

– Sim. E em vez dos dígitos diminuírem, eles aumentavam como se estivessem realmente negativos.

– Tudo bem... E o que isso deveria significar?

– Eu não tenho a mínima ideia!

– Então quer dizer que demos de cara com um beco sem saída?

– Algo do tipo.

– Droga! Eu estava ficando interessada nisso.

– Pois é... Parece que sabemos menos do que achávamos... – disse Lisa.

– É... Chamei vocês aqui porque não conseguir pensar em como continuar essa droga de investigação. Isso se será possível continua-la.

– Bem... Seria uma pena parar agora, já que os resultados são do nosso interesse. – disse Lisa.

– O lance é descobrir o significado das coisas. Como, por exemplo, o porquê de os nossos cronômetros estarem zerados e se existe alguma relação entre a origem de nossas habilidades.

– Bem... É improvável que isto tenha realmente alguma coisa a ver com as anomalias, mas todos nós começamos a ver o que não devíamos depois de algum tipo de acidente de trânsito. Inclusive o Lucas.

– Realmente soa estranho, mas é melhor do que nada. Vou botar alguns dos Valentines para pensar sobre isso e ver se encontro mais alguma ligação. Também mexerei meus pauzinhos para pesquisar mais a fundo os nossos casos. Tentem pensar em algo também. Vou nessa porque quanto mais rápido eu chegar em casa, mais rápido vou poder botar o povo para pensar.

– Tudo bem. Tchau.

– Tchau Jade!

– Até mais, jovens aventureiros!

Ela foi embora com seu sorriso característico e uma expressão de determinação em seu rosto. Senti-me mais aliviado, pois pelo menos conseguimos elaborar alguma coisa. Mesmo que não levasse a nada no final. Eu e Lisa ficamos na lanchonete por mais algum tempo. Pedi mais um café e decidi puxar papo:

– Bem... O que acha de tudo o que está acontecendo?

– Estou ficando cada vez mais confusa.

– Somos dois então.

– Parece que quanto mais achamos que estamos perto da verdade, mais distante ela realmente está.

– Pois é... O engraçado é que aquela garota me é familiar.

– Sério?

– Pois é... Acho que já a vi em algum lugar antes. Talvez deva ser das aulas de defesa pessoal.

– Você fez aulas de defesa pessoal?

– Sim. Quando eu era mais novo.

– Deve ter sido legal.

– E foi. Eu gostava bastante. Na verdade o que o mestre mais ensinava era uma espécie de luta característica do extremo oriente.

– Qual o nome?

– Não me lembro. Era bem esquisito então eu nunca tentei gravar. E é por isso que acho que ela também fez aulas lá. Os movimentos dela lembravam muito aquele estilo de luta.

– Heh. Parou há muito tempo?

– Parei quando há uns cinco anos. Mas ainda me lembro do que aprendi.

– Que legal! A garota era boa?

– Olha... Ela derrubou cinco caras sem demonstrar nenhuma dificuldade. Os movimentos dela eram precisos.

– Ela teve sorte deles não estarem armados.

– Pois é. O Lucas tentou puxar a arma, mas ela conseguiu impedi-lo. Mas acho que isso não funcionará de novo. Aposto que da próxima vez que eles a encontrarem, irão usar as armas logo de cara.

– Verdade... Espero que isso não aconteça.

– Por quê? Você nem conhece a garota.

– Eu sei, mas ela pode nos ajudar a descobrir o que queremos. Sem falar que alguém que é contra a dominação violenta dos Harrisons não deve ser uma pessoa ruim.

– Concordo na teoria, mas nunca se sabe.

– Você é bem desconfiado, não é?

– Sim... Bem... Acho melhor eu ir embora.

– Oh... Tudo bem. Também vou nessa.

Pagamos a conta e eu a levei até sua casa. Despedimo-nos e segui meu caminho de volta para casa. Vi alguns caminhões do corpo de bombeiros passando com a sirene ligada, mas apenas ignorei e continuei caminhando. Concentrei-me o máximo possível para me lembrar de onde conhecia a tal Jackie, mas o máximo que consegui foi um flash do local onde o mestre ensinava e algumas crianças sorridentes treinando. Nada de garota com olheiras. Quando me dei por mim estava de frente à minha casa. Arregalei meus olhos e senti um profundo aperto no coração seguido de um imenso desespero. Ela estava em chamas e os bombeiros tentavam controlar o incêndio. Corri o mais rápido possível em direção à porta, mas um dos bombeiros me segurou:

– Acalme-se jovem! É perigoso se aproximar das chamas.

– Deixe-me! Essa é a minha casa!

– Oh. Então você é... Harry Stavic, certo?

– Eu mesmo! O que aconteceu?

– Não sabemos ao certo, mas os vizinhos nos chamaram para conter o incêndio. Achamos alguns galões de gasolina em frente á casa.

– Então quer dizer que... Foi proposital?

– Tudo indica que sim. Vocês receberam alguma ameaça?

– Não... Espere! Onde está meu pai?

– Não sabemos ao certo. A polícia já foi acionada e um dos vizinhos alegou que ligou para o trabalho dele, mas parece que hoje é um dia de folga.

– Sim... Ele... Não foi ao trabalho hoje...

A polícia chegou e fez algumas perguntas para mim. O fogo foi apagado cerca de meia hora depois de eu ter chegado ao local. O corpo de bombeiros local era um dos mais eficientes em todo o país. Um dos bombeiros pediu para que eu entrasse na casa com uma máscara de gás, pois eu precisava ver algo. Meu coração disparou, minha visão escureceu quase que por completo e perdi todo o meu fôlego por alguns segundos. Entrei em choque e, logo em seguida, gritei com todas as forças dos meus pulmões impulsionadas pelo meu desespero. Havia um corpo totalmente tostado amarrado em uma cadeira encostada na parede da sala. Na parede havia uma inscrição feita com algum objeto cortante: “Você sabe demais.”. Eu não sabia se chorava, gritava ou se batia em alguém. Levei minhas mãos à minha cabeça e apenas fiquei observando aquela cena enquanto várias lágrimas desciam pelo meu rosto.

O choque foi tão grande que quando me dei conta estava na maca de uma ambulância. Rapidamente me levantei e olhei ao redor. Estava do lado de fora de casa. Havia várias fitas amarelas cercando o local. O mesmo policial que me interrogara antes me ofereceu uma xícara de café e começou a conversar comigo. Fez várias perguntas, mas mesmo se eu contasse toda a verdade ele não acreditaria. Então apenas disse que tive alguns desentendimentos com Lucas (o que não era mentira) e disse que já estava me sentindo melhor. Levantei e apenas comecei a caminhar. Não estava nada bem, mas pelo menos já sabia aonde ir. Depois de perguntar a algumas pessoas, consegui a localização do meu destino. Andei bastante, mas a essa altura minha noção de tempo havia sumido. Aquela caminhada pareceu durar uma eternidade, mas consegui alcançar meu objetivo. Parei em frente a uma grande casa muito bonita e bem cuidada. Toquei a campainha e apenas esperei. Depois de alguns minutos a porta se abriu a uma figura familiar apareceu:

– Harry? O que faz aqui e... Seu rosto... Aconteceu alguma coisa?

– Jade... Lembra-se de quando perguntou se eu queria entrar para a família Valentine?

– Sim eu me lembro, mas por que está...

– Eu aceito a proposta...

– Tudo bem então... Entre, vai ficar tudo bem...

Eu entrei na casa determinado a me vingar e acabar com aquele maldito filho da puta com minhas próprias mãos. Aquele foi um dos piores dias de toda a minha vida...


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Notas finais do capítulo

Bem, esse saiu relativamente rápido! Aproveitei o feriado e terminei o que havia começado terça. A história "de verdade" meio que começa por aqui =D
Espero que estejam gostando e agradeço a quem leu até aqui!
Até o próximo capítulo!



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