Paz Temporária - Olhos Amaldiçoados escrita por HellFromHeaven


Capítulo 4
A criminosa carismática




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Foi difícil aceitar aquela situação. Depois de tanto tempo achando que eu era o único ser humano que via o que não devia encontrei não só uma, mas três pessoas iguais a mim (o Lucas e a Jade não haviam confirmado, mas era quase certo). Olhei para Lisa, que parecia estar tão confusa quanto eu e depois suspirei profundamente. Depois de conversar um pouco com o homem surrado, Jade veio até nós com um sorriso amigável no rosto e deu dois tapas nas minhas costas:

– E aí? Estão bem?

– Er... Sim...

– Seus rostos me dizem que há algo errado. Podem falar para a tia Jade aqui.

Eu já tinha ouvido boatos de que ela era amigável e carismática, mas nunca botei muita fé nele. Afinal, se tratava de uma criminosa.

– Bem...

– De onde você conhece o Lucas?

– O quê?

– Vocês estavam conversando. Você parece trabalhar para ele, principalmente pelo jeito que o encarava. Então de onde o conhece?

Aquilo me surpreendeu e me deixou preocupado ao mesmo tempo. Pelo jeito eu havia deixado transparecer minha repulsa pelo babacão enquanto conversava com o mesmo. Ele tinha uma fama de ser pavio curto e bater em pessoas por razões simplórias. Talvez eu devesse tomar cuidado...

– Na verdade eu não o conheço de lugar nenhum. É a primeira vez que o vejo pessoalmente e antes disso só tinha o visto na televisão.

– E como foi sua primeira impressão?

– Uma bosta.

– Hahaha. Imaginei. Ele nem tenta parecer amigável. Mas se não o conhecia por que estava falando com ele? Queria salvar o comerciante?

– Não sou tão maluco assim. Eu precisava confirmar algo. Aliás... Poderíamos conversar em outro lugar?

– Claro! Essa bonitinha está com você?

– A Lisa? Sim.

– Heh. Sortudão.

Ela disse isso piscando um dos olhos e me cutucando com o cotovelo. Eu estava estranhando aquela intimidade toda que apareceu do nada, mas como precisava de respostas apenas sorri e disse:

– Não é o que está pensando. Somos apenas amigos. Na verdade nos conhecemos há pouco tempo.

– Sim. Faz pouco mais de uma semana.

– Oh! Entendo. Bem, se querem conversar eu conheço um bom lugar. Sigam-me.

Seguir uma criminosa famosa que eu acabara de conhecer para um lugar desconhecido parecia algo absurdo. Mas antes eu pudesse fazer algo Lisa já estava seguindo-a. Então apenas suspirei e as acompanhei. O engraçado foi que acabamos novamente naquela lanchonete.

– Adoro esse lugar. O café deles é o melhor da cidade.

– É realmente muito bom.

– Já veio aqui?

– Na verdade estávamos aqui até pouco tempo atrás.

– Droga, queria ter surpreendido vocês. Enfim, sobre o que gostaria de conversar?

– Gostaríamos de saber se você tem algum tipo de anomalia nos olhos.

– Anomalia?

– É, tipo ver algo que os outros não veem.

Ela arregalou os olhos e me encarou com curiosidade. Deu um gole em seu café e depois sorriu:

– Vejo sim. Como você sabe disso?

Olhei para Lisa que parecia tão animada quanto eu e respondi sem nem ao menos pensar:

– Simples: nós dois também vemos coisas que não deveríamos.

– Hmm. Pensei que fosse a única.

– Nós também. Aliás, o que você vê?

– Eu consigo enxergar as ambições das pessoas dependendo do tempo em que ficar encarando-as. Vai desde as ambições diárias até os sonhos de vida. Falando nisso, você tem mesmo cara de artista.

Pelo jeito não havia nenhuma regra dentre as habilidades. Como a minha e a da Lisa eram relacionadas com o futuro, pensei que a dela também seria. Mas era algo mais incerto e mutável. Algo que poderia ou não se realizar, ao contrário da morte e... Bem... Do verdadeiro futuro.

– Por que essa cara? Você não disse que também via essas coisas?

– Na verdade parece que cada um vê algo.

– Como assim?

– Eu vejo contadores em cima das pessoas que indicam quanto tempo elas ainda têm de vida e a Lisa consegue enxergar o futuro de todos em todas as rotas possíveis.

– Nossa... Mesmo sendo cega?

– Na verdade eu sou quase cega. E tentei tirar minha visão para não enlouquecer com essa maldição...

– Pobrezinha.

Jade a abraçou e continuou falando com Lisa ainda em seus braços:

– Então, desde quando vocês são assim?

Contamos nossas histórias enquanto ela observava atenciosamente. Lego depois houve um momento de silêncio e ela começou a falar:

– Interessante... Comigo também foi com um acidente de carro. Se bem que não foi um acidente... Eu estava no carro junto com meus pais e o motorista quando um carro se chocou contra o nosso e começou a atirar. Depois do som dos disparos só me lembro de ter acordado no hospital toda enfaixada e dolorida. Desde então assumi os negócios da família, já que fui a única sobrevivente do atentado.

– Sinto muito.

– Fique tranquilo. Quem entra nessa vida deve saber que está sujeito a “acidentes” assim. Já me conformei há muito tempo.

– Entendo.

– Por acaso era sobre isso que você estava conversando com o Lucas?

– Sim. Você apenas comprova nossa teoria de que há como identificar pessoas como nós das demais.

– E como se faz isso?

– O contador dessas pessoas está zerado e a Lisa não pode ver futuro nenhum nelas.

– Oh! Legal. Vocês são detectores de anormais.

– Não gosto muito dessa palavra, mas pelo jeito somos.

– Heh. Gostaria de saber o que o meu velho amigo vê.

– Acho que ele ia acabar me contando, mas você apareceu e o espantou.

– Eita... Foi mal.

– De boa. Pelo menos o cara parou de apanhar. Aliás, foi incrível o jeito que você encarou os três mesmo estando sozinha.

– Eu não estava sozinha.

– Como assim? Estava com algum tipo de espírito guardião?

– Acho que isso nem existe. O que eu quis dizer é que havia uma multidão ali e foi um deles quem me chamou.

– Eles pareciam assustados demais para fazer algo.

– Conheço cada um deles e suas ambições. Muitos foram e ainda são ajudados por mim de alguma forma. É assim que eu mantenho o controle da minha área. Pode se dizer que eu prefiro ser amada a ser temida.

– Oh... Então parece que os rumores a seu respeito são verdadeiros.

– Depende de quais forem.

– Dizem que você estabeleceu uma relação amistosa para com os moradores da sua parte da cidade.

– Nesse caso é verdade. Eu os ajudo como posso e em troca sou ajudada em algumas coisas. Os detalhes ficam apenas para quem é da família. O importante é que se o Lucas me matar no meio do meu povo, a situação vai ficar meio complicada para ele.

– Entendo... Eu acho.

– Pelo visto está desempregado, certo?

– Pois é...

– Se quiser posso te oferecer um cargo na família.

– Na família?

– É que eu costumo chamar todos os que trabalham comigo de familiares. Somos todos Valentines.

– É uma boa proposta, mas acho que não sirvo para esse tipo de vida.

– Você quem sabe. Se eu ficar sabendo de alguma vaga por aqui eu te aviso.

– Oh... Obrigado.

– Ah! E se descobrir mais alguma coisa sobre nossos defeitos de fabricação me avise.

– Não são bem de fabricação né, mas pode deixar que aviso sim.

– Bem... Eu tenho coisas a fazer. Foi bom conversar com os dois. Até a próxima.

Ela se despediu com um belo sorriso no rosto e saiu depois de cumprimentar a dona da lanchonete. Esparramei-me no banco e fiquei encarando o teto. Era muita coisa para digerir. Os dois maiores criminosos da cidade eram como nós e agora me conheciam. Isso só era 50% ruim, já que a Jade provou ser inofensiva. O problema mesmo era o Harrison. Aquele babaca poderia me trazer problemas futuros. Estava viajando em meus pensamentos quando senti Lisa me cutucando.

– Desculpa. Acabei me desligando do mundo.

– Tudo bem. É até compreensível depois de tudo que aconteceu hoje.

– Pois é.

– O engraçado é que eu sinto que isso não é tudo...

– Como assim?

– Não sei bem explicar, mas acho que ainda há coisas a serem descobertas.

– Bem... Isso só o tempo dirá.

– Pois é. Acho melhor eu ir para casa.

– Também acho. Pelo jeito o violino ficará para outro dia.

– Ah! É verdade...

– Não se preocupe. Algum dia você me mostra.

– Com certeza! Acho que é até melhor assim... Faz um tempinho que eu não pratico...

– Esperarei ansioso por esse momento.

Fui para casa enquanto refletia no caminho e andava totalmente distraído. Foi um dia longo e eu só queria descansar. Ainda tinha que falar com o babaca, mas isso poderia ficar para outra ocasião.


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Notas finais do capítulo

Bem, a próxima e penúltima prova é só quinta, então tirei um tempo para fazer mai um capítulo =D
Espero que estejam gostando e agradeço a quem leu até aqui
Até o próximo capítulo =D



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