Inominável escrita por Sir Andie


Capítulo 21
Alcunha




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Por quatro dias Elle se trancou no quarto e não falou com ninguém. Na primeira noite Dean se sentou no corredor encostado na porta do quarto dela e tentou se fazer ser ouvido.

– Elle, vamos lá. É tudo tão confuso para todo mundo. Nós estamos confusos. Nós estamos assustados. Imagina você. – ele falava com o rosto encostado na madeira – Você precisa sair e nos ajudar a te ajudar. Nos deixar te ajudar.

Mas não adiantava.

– Elle, você precisa comer. – disse Kevin batendo na porta na noite seguinte. Mas ela não precisava realmente e todos, incluindo a mesma, sabiam disso.

– Elle, saia para que possamos conversar. – insistiu Sam na terceira noite, mas ele sabia que seria inútil. Eles precisavam criar uma abordagem diferente.

– Ela não vai sair. – afirmou o Winchester mais novo na manhã seguinte. Ele, Dean e Kevin dividiam a mesa de um café da manhã composto de cerveja e cereal. As manchas escuras sob os olhos não negavam as últimas péssimas noites que aquela casa tinha vivido.

– Alguém devia ir lá e simplesmente arrebentar a porta. – era a quarta vez que Kevin dizia aquilo e a quarta vez que olhava na direção de Dean enquanto fazia isso.

– Eu não vou fazer ela sair de lá. Não tenho esse poder sobre a vida dela. – explicou Dean cruzando as pernas por cima da mesa, virando na boca a terceira garrafa da manhã. – A garota está em choque. Não me parece algo fácil de ser entendido tipo... Ter Deus dentro de si.

– Também não podemos esperar que nossa senhora da reencarnação divina acabe com esse seu momento de TPM no tempo dela – insistiu Kevin sem paciência, debruçado sobre a tigela de cereal.

– Hey! – Dean apontou o dedo na direção dele sem muito humor – Não a chame assim!

– É uma alcunha muito boa, admita. – sussurrou o profeta revirando os olhos.

– Kevin tem razão. Esse não é só um problema dela. Lá fora todo o céu e todo o inferno está atrás da garota que tem Deus dentro dela! – interrompeu Sam com um tom de urgência - Ela na mão de qualquer um dos lados seria a peça mais significante da história da criação do universo e nesse exato momento tudo o que faz é ficar trancada no quarto.

– Nem sabemos se ela ainda está lá. – acrescentou Kevin.

– Ela está. – afirmou Dean veemente.

– Dean. – disse Sam de maneira cansada – Você não devia se prender a ela dessa maneira. Não existe maneira de isso terminar bem. É só... Idiota e perigoso.

Dean riu de canto. Era a primeira vez que sorria naquela semana. Mesmo que agora o fizesse de um jeito quase doentio.

– A maior peça da guerra do firmamento está conosco, trancada dentro de nossa casa. Tudo o que eu quero é garantir que ela continue estando do nosso lado. – falou se tornando sério a cada palavra – Ela não teve uma vida normal. Não faz sentido exigir que ela lide bem com isso.

– Ela não é só uma garota, Dean. – contrapôs Sam – Em nenhum outro caso você daria chance a um monstro.

– Elle não é um monstro. – Dean tirou os pés de cima da mesa e debruçou ali com os ombros voltados agressivamente para Sam – E ela não fez nada de errado. Não matou ninguém, não machucou ninguém. E isso não faz parte da natureza dela. Pelo contrário, em Saint Andrea se doou pela cidade inteira.

– Isso não muda o fato de que precisamos decidir rápido o que fazer sobre ela – Sam não se sentiu intimidado, apenas respondeu ao olhar.

– Não existe nada sobre ela em lugar nenhum – acrescentou Kevin observando a troca de faíscas entre os irmãos, mas ainda sim mais interessado na tigela a sua frente – O sistema da fortaleza, os livros, a internet, a bíblia – ele deu ênfase no último exemplo – Nada cita um filho de anjo e demônio. Nada cita um Inominável.

– Só podemos contar com a palavra de Castiel. – constatou Sam – E pelo o que ele falou não era mesmo para ter informações sobre ela por aí. Nem mesmo demônios mais novos devem conhecer a história. Só quem estava lá bem quando o mundo se fez.

– Isso me parece bem pouca gente. – concluiu Kevin.

– E é justamente essas pessoas que precisamos evitar. – Dean apoiou o gargalo na cabeça, os olhos perdidos procurando por uma solução.

– Podemos confiar em Castiel? – Kevin perguntou o que os outros se negavam.

– Se ele está falando a verdade? Acredito que sim. Ele pareceu contar tudo o que sabia. Parecia tão surpreso quanto nós com ela estar viva, com as marcas e principalmente com a notícia sobre Deus. – ele batia a ponta da garrafa em sua testa como se aquilo fosse força-lo a pensar.

– Quais são nossas opções? Se Deus se escondeu nela logo após o firmamento porque Elle acordou anos atrás? Se ela o guarda quando é que ele irá sair? Por quê? Como? São perguntas de mais em volta de uma garota só.

– Vamos expulsá-lo. – disse a voz parada como uma assombração sob o portal da cozinha. Elle estava mais magra do que lhe era normal, vestia apenas uma faixa branca sobre os seios e sua saia longa preta, por isso era possível ver suas costelas por baixo de algo que era só pele.

O rosto estava marcado, os olhos tão fundos e as bochechas quase inexistentes. Era possível ali também margear todos os ossos e pele. Por outro lado sua expressão era uma fortaleza.

A Elle debochada que tinha conhecido no primeiro dia tinha ido embora. A Elle bondosa da igreja tinha ido embora. A Elle envolvente que tinha ido para a fortaleza também. E principalmente, a Elle acuada da noite da descoberta não existiria nunca mais.

Sem cerimonias ela se sentou a mesa, cruzando as pernas por cima da cadeira e embolando a saia entre elas. Estendeu a mão e puxou a caixa de cereal para si.

– Como você está? – perguntou Sam. Todos os três rapazes ainda estavam muito chocados com a reaparição vinda do nada.

Agora de perto eles podiam perceber que algumas gostar de sangue estavam secas após de escorridas na pele dela. Aparentemente tinha se cortado e não se preocupando as feridas, que se fechariam momentos depois, também não se atentou ao sangue.

– Vamos criar um arsenal de batalha contra o que quer que esteja dentro de mim. – ela disse sem responder a Sam, Dean arqueou uma sobrancelha interessado no tom decidido dela – Preciso que levantem outros planos contra o bloqueio. O evill catcher aguentou por um tempo. James por mais um tempo. Se formos capazes de pensar em um ritual completo formado por diferentes partes, em que uma coisa fortaleça a outra, em que uma coisa amenize a outra então talvez o bloqueio se torne fraco o suficiente para que Kevin consiga ler.

– Você sabe que eu ler não significa que vamos conseguir expulsar Ele de dentro de você, não é? – pela primeira vez no dia Kevin estava coluna ereta e os ouvidos atento.

– Eu sei. Mas é o mais perto que podemos chegar de qualquer informação. É o passo que preciso dar para saber qual caminho vou ter que seguir até o meu objetivo, expulsá-Lo de dentro de mim. – suas palavras eram duras e seguras, mas o corpo estava mais interessado em se encher o máximo possível de flocos de milho doces.

– Você vai precisar lutar. Não me parece nem de longe que o plano de sua existência dê espaço para uma expulsão. – Sam tentou ponderar. Elle pareceu engolir a outra colherada com esforço.

– Não foram vocês os caras que pararam o Apocalipse? – pelo canto do olho ela encarou um Winchester e depois o seu Winchester. Dean sorriu pela segunda vez no dia.

Podia acreditar nas decisões dela.


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