Inominável escrita por Sir Andie


Capítulo 20
Diante D'Ele




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– Obviamente Bastiel consegue acessar a sintonia telepática dos anjos – informou Castiel se dirigindo a porta do quarto – Me admira ela nunca ter orado até hoje. – ele suspirou – Vamos torcer para que eu tenha ouvido rápido o suficiente para que os outros não percebessem – disse virando o rosto por cima do ombro já alguns passos corredor a dentro

– Levantem. Ela precisa saber de tudo antes que eles a percebam.

Elle o seguiu imediatamente, atravessando até a sala sem se preocupar em colocar o robe ou os sapatos. Sam e Kevin saíram de seus quartos ao mesmo tempo, a nova voz vinda do corredor chamando uma atenção quase desconfortável de tão estranha. Logo eles entenderam o porquê. O olhar que dividiram perante a nova presença do anjo explicava susto.

Mas o tempo do choque foi o suficiente para que Castiel começasse a falar antes mesmo que qualquer um deles se sentasse. Tinha muito a ser dito, ele sabia. Não falava com os Winchester desde o acontecimento com o Apocalipse e por isso entendia os olhares de inquisição.

A questão era que durante todo aquele tempo o céu precisava mais dele. Os meninos não tinha ideia do quanto estava sendo complicado viver entre anjos em guerra, seres criados apenas para aplicar a ordem em um mundo que no começo era o caos.

Sabia que naquele momento precisava explicar muito mais do que tinha tempo para falar e por isso escolheu o assunto mais urgente. O assunto que estava piorando tudo o que já estava confuso antes. Não tinha mais como evitar a presença deles naquela história. Não havia mais como protegê-los, não quando estavam envolvidos com alguém como ela.

– Bastiel começou a chamar atenção de mais. – ele disse seco.

– Quem raios é Bastiel? – perguntou Elle já aflita tentando manter a paciência. Nervosa a garota prendia os dedos na barra da camiseta e mordia o canto da boca.

– Você é Bastiel. – confirmou Castiel sem cerimonias e também sem olhar para ela, mais interessado nas janelas.

A garota não percebeu, seu corpo vacilou. Ela tropeçou sozinha mesmo que nem tivesse se movido. Dean que estava logo atrás a apoiou pelos ombros e viu o rosto dela se virar para o dele em um completo tom de desalento. Ele respirou fundo e maneou a cabeça na direção de Castiel. Era a deixa sobre quem iria resolver aquilo.

– Você sabe quem eu sou? – ela perguntou hesitante, sem fazer cerimonias na pergunta primordial de sua história.

– Acredito que nesse momento todo mundo saiba, menos você. – informou o anjo checando a janela por entre as cortinas.

– Cass. – chamou Sam respirando fundo. Precisou controlar o impulso de começar a falar sobre a ausência – Foi só para isso que você veio? – soltou de um jeito amargurado.

Pacientemente Castiel caminhou da janela até a poltrona, onde se sentou ajeitando o casaco e o corpo sobre o assento. Procurava palavras e assim encontrou apenas alguém para culpar pelo momento desconfortável em que tinha se metido.

– Parece que Dean não contou a ninguém.

Todos olharam na direção de Dean. Ele por sua vez fechou os olhos e abaixo o rosto ainda não tinha encontrado as palavras que por um dia inteiro tinham desaparecido. Castiel o interpôs antes que a sentença errada acontecesse.

– Anos atrás. Quando o firmamento ainda se fazia e a disputa entre céu e o inferno estava apenas em seu ápice inicial a relação entre anjos e demônios era desmedida. Era tudo bem menos político. – o anjo suspirou como se preferisse o que falava.

Com passos curtos e muitos lentos Elle se soltou dos braços de Dean e começou a caminhar na direção da poltrona de Castiel, onde como uma criança se colocou de joelhos no chão o observando de baixo para cima com um olhar vidrado.

– Mas tanto contato gerava confusão. – Castiel baixou o rosto na direção dele e sua expressão seguinte foi de amargura - A maior delas decidiriam que não merecia um nome. – seus olhos subiram a Kevin e aos Winchester mais uma vez - Amando como apenas um anjo pode amar, Adael entregou sua alma para Satibah. E desejando como apenas um demônio pode desejar Satibah o violou. Satibah chamava de pecado. Adael de virtude. A união entre os dois gerou um fruto. Tomada pelos demônios em seu nascimento Bastiel cresceu no inferno. O bastardo dos anjos.

Ninguém na sala ousava falar. Nem Elle, quieta em seu lugar.

– O nome se espalhou e algum tempo depois os anjos a descobriram e a tomaram. Innominabile, foi o que Deus disse. Um híbrido proibido não merecia uma raça. Sem nome ele não seria lembrado. Adael e Satibah foram terminados. A decisão foi tomada por Miguel e Lúcifer e essa era a primeira vez que céu e inferno realizavam uma aliança. Deus tinha levado a criança. Ele mesmo a terminaria, diziam os arcanjos. Para ter certeza que seria feito. Para ter certeza que um erro como aquele não existisse mais. Deu certo. Ninguém nunca mais falou sobre aquilo.

Os olhos azuis claros de Castiel encontraram mais uma vez os olhos azuis marinho daquela chamada de Bastiel. Ele nervoso e aflito, ela nervosa e instigada.

– Pelo menos até agora. – terimou.

– Então você também não sabe como ela veio parar aqui? – confirmou Sam soltando o ar pelo nariz.

– Não. Até ontem eu não a via há séculos. – explicou Castiel focando agora nas pernas e braços da garota. Observando os detalhes em sua pele com a cabeça virando lentamente de um lado para o outro.

– Você já me conhecia? – perguntou Elle inocente, seu corpo parecia vibrar de curiosidade.

– Adael era de uma casta próxima. – respondeu Castiel hesitante. - Mas não é por isso que eles estão atrás de você. – continuou o próprio assunto – Aparentemente os demônios acreditam que Deus está te usando como receptáculo.

– Ham... Oi? – o corpo dela se deixou cair sentado no chão. O rosto dela se contorcia nas mais diferentes expressões de confusão, medo e surpresa.

– Isso explicaria a energia que vai para dentro, a energia ser divina, o fato de você e Kevin dividirem a mesma origem mágica e você ser autorregenerativa. – disse Sam pensando alto e junto deles.

– Sinceramente esse não é o nosso maior problema agora – disse Castiel se levantando – Os anjos estavam se ocupando deles mesmos. Agora nossa guerra desceu e até eu chegar aqui a ordem era que qualquer um encontre Bastiel. Basicamente quem encontrar primeiro, contando que a encontrem. Só isso.

– Ela está segura aqui? – perguntou Kevin mantendo o único ponto de sensatez ainda frio dentro do ambiente.

Sentada no chão Elle escondeu o rosto entre os joelhos e abraçou as pernas de cabeça baixa. Mesmo o movimento das suas costas podiam mostrar que ela estava tentando respirar fazendo máximo possível para encher os pulmões.

Dean engoliu em seco e caminhou até o lado dela, se ajoelhou e lhe acariciou as costas abaixando o rosto para que pudesse vê-la. Elle virou a face para ele. Os olhos vermelhos e inchados ainda se negando a produzir lágrimas. Ela prendeu os lábios entre os dentes e engoliu seco. Movimentou a boca algumas vezes antes de ser capaz de falar.

– Desde quando você sabia sobre mim? – ela pareceu repensar as palavras – Você sabia sobre e mim e não me contou!

– Eu apenas soube ontem. Quando me ouviu rezando eu estava falando com Castiel. Ele sabia. Eu só não sabia como fazer isso. – ele tentou colocar a mão sob o queixo dela e fazer com que ela olhasse para ele, mas Elle não permitiu. Virou o rosto bruscamente.

– Não me toque. Apenas não faça isso.

Conforme juntou o braço de novo ao corpo percebeu que estava verdadeiramente machucado. Compreendeu que a dor que sentia não era apenas por ter sido incapaz de dizer algo a ela e sim sobre o que aquilo tinha causado nela. Sentia-se impotente perante alguém como ela. Impotente perante Deus.

O desconforto de realizar a presença de um ser daqueles tomou seu corpo como uma rajada de fraqueza. Se era Deus o que estava na frente dele, na forma daquela garota, justamente daquela garota ele realizava o que era impotência.

O que se faz diante de Deus?


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