Inominável escrita por Sir Andie


Capítulo 22
Daqui em Diante




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Sam e Kevin deixaram o bunker naquela tarde. O mais sensato seria deixar que Dean e Sam fizessem o trabalho de campo buscando pelo o que fosse preciso enquanto Kevin ficava para fazer a pesquisa, afinal esse era o modo de operação com mais chances de sucesso. E de qualquer maneira Elle não poderia sair dali, como medida de segurança mundial era melhor não aparecer em terra. Ainda assim Dean insistiu em ficar sozinho com a garota.

Ele sabia que ela precisava entender os pontos. Que ela precisava de tempo para encontrar o equilíbrio necessário e a única pessoa que poderia trazê-la até o ponto de partida era Dean. Mesmo que essas fossem apenas suas conclusões egoístas e solitárias.

Porém, por mais três dias, ela se trancou no quarto.

E ele então descobriu que era ainda mais agoniante aceitar o confinamento daquela mulher sem ter com que dividir. Tendo que encarar a falta e a presença dela em bandejas tão próximas e idênticas.

No primeiro dia Dean teve paciência. A pesquisa ocupava seu tempo e logo grande parte dos livros próprios tinham sido lidos e revirados. Foi capaz de separar boa parte dos feitiços, rituais, poções, amuletos e qualquer outra coisa que envolvesse proteção, exorcismo, alinhamento, purificação e calibragem.

No segundo um nervosismo lhe tomou o corpo. As palavras nos livros se tornaram mais soltas. Era difícil encontrar algo diferente e que principalmente pudesse ser pego rápido. Nesse dia ele trocou a cerveja pelo uísque e só percebeu que duas garrafas tinham ido embora quando a noite chegou. Tentou dormir, mas tudo o que foi capaz de fazer foi deitar no sofá com as mãos cruzadas sobre a barriga e encarar o teto.

Tentava imaginar como estaria o céu naquela noite. Se as estrelas poderiam lhe dizer algo como prometiam os mágicos e também os leigos. Se o tempo continuava chuvoso e sombrio. Se pegou pensando que às vezes tinha a impressão que os dias estavam ficando mais gelados, mas que a preocupação ia embora no momento seguinte, como aconteceu naquele último em que estava no sofá pensando sobre.

Não tinha tempo de se preocupar com a temperatura e muito menos com as estrelas. Não importava o quanto qualquer astrólogo dissesse o contrário, elas não revelariam nada que qualquer livro na mesa ou no chão já não tivesse tentado gritar. Afinal era justamente sobre isso a história onde tinha se metido. Não ter respostas.

Os livros abertos e esquecidos sobre todo o bunker o constantemente mantinha seguro sobre sua impotência diante dos fatos. Já tinham enfrentado muitas coisas antes, mas por mais difíceis que fossem suas aprovações elas ao menos possuíam um caminho. Dessa vez, o que aconteceria a seguir era um futuro tão etéreo quanto à presença divina que dividia a casa com ele.

– Yeap. – confirmou pelo telefone – Azul. Sim, uma folha azul. Não, não diz o horário. – mesmo os telefonemas de Kevin e Sam confirmando o que devia ser pego não o tiravam do transe em que tinha escolhido ficar deitado no sofá. – Não, ela voltou para lá. – disse antes de desligar o telefone.

Fechou os olhos uma última vez e respirou fundo soltando o copo vazio sobre o estofado ao mesmo tempo em que se colocava de pé. Caminhou a passos calmos e seguros até o quarto de destino. Tocou a mão sobre a porta e girou a maçaneta. Para a sua surpresa estava aberta.

– Você pretende ficar sem falar comigo até quando? – perguntou sem rodeios quando o barulho da porta revelou sua presença. Tentou olhar Elle nos olhos para manter sua seriedade, mas a visão da mulher contra a luz do sol poente lhe embebedou os olhos.

Em pé entre a janela e a cama a mulher ainda vestia a roupa dos três dias atrás. A faixa de bandagem que amarrava os seios agora estava completamente vermelha e marrom, como se há dias sangrassem sobre o mesmo tecido. A longa saia preta tinha sido cortada rusticamente em alguns pedaços da barra e agora pendia do quadril dela em uma linha desigual. Os espessos cabelos escuros tentavam se prender em um nó mal dado próximo a nuca, mas várias mexas deslizavam sobre o rosto, frouxas demais para se manterem na unidade do penteado, unidas de mais a pele suada e quente.

A beleza de uma natureza doentia se revelava ainda mais intensamente quando se percebia que os braços dela sangravam. Que um corte desenhava uma linha pelos dois antebraços alimentando a grande poça de sangue já escuro em que ela pisava.

– Eu não estou sem falar com você. – ela respondeu olhando de um braço para outro, analisando o corte se movimentar tão lentamente que qualquer outro não perceberia.

– Faz três dias que você está trancada nesse quarto Elle! – brandiu Dean maneando a cabeça para encontrar o prumo. Tanto o tom quanto a cena faziam seus músculos tremerem sobre os ossos - Se cortando! – completou levantando o olhar da poça até o rosto dela.

– A porta estava aberta. Você que só resolveu entrar depois de três dias entrou. – ela respondeu sem alarde, movendo os braços contra os fracos raios de luz do fim da tarde, procurando o melhor ângulo para observar seu espetáculo particular.

– Era isso que esperava que eu fizesse? Invadisse seu quarto? – ele gritou por entre os dentes, a perna travada no chão, pronta para o próximo passo.

– Na verdade não. Me parece um ato tão grande de desespero e covardia. – pela primeira vez ela o olhou. Sem abaixar os braços lhe ofereceu uma careta cínica de descrença.

– Eu não sou covarde! – a voz rouca saiu rasgando da garganta em um tom mais alto – Eu só estou tentando te entender!

– Me entender? – ela soltou uma grande gargalhada – Eu estou tentando me entender há anos. Desde o dia em que eu acordei e mesmo assim olha onde estamos. – com o gesto de demonstração seus braços gotejaram vermelho sobre o chão mais uma vez.

– Sim! Olha só onde estamos. – argumento o outro em um lampejo – Aonde você chegou em anos sozinha? O que você conseguiu descobrir em poucas semanas de ajuda?

[APERTE O PLAY– ROADS, PORTISHEADS]

Ela abriu a boca para falar, mas o som lhe faltou. Respirou algumas vezes na mesma posição procurando por uma resposta, mesmo que o rosto continuasse duro Dean podia ver o contrário que os olhos azuis marinho escondiam.

Elle abaixou o rosto e em passos curtos e lentos se encaminhou para sentar-se na beirada da cama.

Dean passou a mão sobre os próprios cabelos. Suspirou vencido e deu o passo travado. Caminhou até perto dela também se sentando na cama. Com cuidado tocou os ombros dela e subiu por sua nuca, o leve movimento dos dedos fizeram o cabelo dela se soltar. E mesmo naqueles curtos movimentos de carinho sentiu o sangue seco devolver o calor da sua mão.

Elle olhou na direção dele e em um sorriso fraco aproximou o rosto do dele. Dean por sua vez virou a face na direção contrária e respirou profundamente para manter a paciência.

– Não, Elle. Você não pode me beijar toda vez que não quiser falar. – ele se pegou pensando se ela também sabia quando ele dizia algo e seus olhos o contrário.

E como resposta a garota não pareceu se importar muito com os fatos.

Uma das pernas subiu para a cama e com o joelho apoiado no colchão ela curvou o corpo sobre dele. Foi impossível não olhar para os seios se projetando a frente, a atadura começando a se soltar.

A respiração quente perto do pescoço o fez fechar os olhos mais uma vez e morder a própria boca em uma tentativa de autocontrole. Os lábios tenros que vieram em seguida o fizeram esticar a espinha e sentir cada poro da pele alerta a um novo toque.

Ele podia sentir as mãos dela paradas em seus ombros e mesmo a falta de movimento o agitava por dentro. Tenso e rígido não se moveu, com a cabeça jogada para trás e a boca aberta respirou fundo sentido os cheiros de sangue e excitação que emanavam dela. De uma forma, a qual ele não estava se esforçando em entender, o corpo se arrastando sobre o seu era algo que devia, precisava ser seguido.

O modo como ela se movia o lembrava de boas músicas. Aquelas em que a batida faz tanto sentido para a alma que o corpo responde no mesmo ritmo. Que o som movimenta os músculos, fazendo os dedos tamborilar sobre a pele úmida e o ar escapar por cima da língua. Até que todo o sangue que pulsa em si procura um mesmo caminho e a única saída é dominar a letra, o maestro e o instrumento.

Dean a segurou pelos pulsos e mantendo seus braços rigorosos a girou sobre a cama. Viu o corpo de ossos e carnes bater sobre o velho colchão e de uma vez por todas o pedaço de pano lhe descobrir os seios. Hiante se deixou saciar pelo primeiro pensamento de tê-los na boca. Sentiu o sabor metálico da pele suja ser lavado de sua língua pela própria dela.

Não era capaz de fechar os olhos. A imensidão noturna daqueles olhos do mais incrível azul escuro não deixavam de o encarar. Quis saltar para dentro deles. O chamado do vazio que os mais perigosos penhascos despertam. Mergulhar nas profundezas do céu que habitavam aqueles círculos. O mundo estava mesmo de cabeça para baixo, porque se preocupar onde fica o mar?

Como ondas seus corpos reberveravam uma frequência exata e particular, nada se encaixaria em tantos pequenos detalhes e espaços como aquela unidade de dois. As roupas jogadas no chão e o incomodo do mínimo toque externo que o pingente dele causava sobre a pele da garganta dela era a prova que apenas pele quente teria vez naquele momento.

Quando ele arrepiava a coluna, refletindo o arranhão que recebia na linha das costas, todo o corpo dela levantava para seguir o dele. Era desejo de manter peito encostado no peito, barriga na barriga, perna nas pernas, boca na boca e olhos nos olhos.

Não era como os corpos que se afastam e se aproximam dos filmes baratos da madrugada. Aqueles dois não precisavam do choque, apenas de se fundir mais e mais. Dos gemidos as contrações a coreografia parecia ter sido ensaiada há séculos.

Nas semanas anteriores, em que se deitaram juntos, tinham encontrado o corpo um do outro e ali, pela primeira vez se encontravam dois espíritos. Eternos e prometidos, puros como nos escritos dos céus. Fazia todo o sentido o amor se divino.


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Notas finais do capítulo

Mil desculpas pela demora do capítulo, eu apenas senti que precisava acrescentar essa cena e depois que ela precisava ser escrita com mínimo de paciência e a vibe certa. Obrigada a todos que continuaram aí, eu também continuo aqui.



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