You're The One escrita por Giovana Serpa


Capítulo 5
The one with the questions


Notas iniciais do capítulo

Olá, pessoal :) Aproveitem Vossa Magnificência que é Jace Herondale narrando essa bagaça aqui



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/505204/chapter/5

Jace Herondale

Acordei na segunda-feira alguns minutos antes das sete e quinze, mas permaneci na cama. Encarava o teto como se fosse o telão de um cinema, mas na verdade estava só enterrado em meus próprios pensamentos, que não eram nada tão convidativo quanto filmes. Faz quatro anos, pensei. Quatro anos que tudo foi por água abaixo.

Minha mente foi interrompida quando eu estava prestes a afastar os cobertores e levantar.

— Jonathan Christopher Herondale, levante dessa droga de cama! — Era Will, meu primo mais velho/ despertador humano/ guardião legal, gritando do corredor com seu sotaque inglês ridículo que fazia todas as palavras soarem enjoativas. — Malditos americanos preguiçosos!

Ao me levantar, escutei Tessa, sua noiva, reclamar num tom indignado:

— William, eu sou americana.

Se passou apenas um segundo de silêncio antes que ele começasse a se desculpar. Balancei a cabeça. Ele era mesmo idiota.

A caminho do banheiro, voltei novamente a pensar, o que não era uma boa coisa. Eu odiava pensar. Era por isso que vivia enterrado em algum livro: o escritor já pensara por mim, e tudo o que eu precisava fazer era ler as palavras e entendê-las. Na maioria das vezes, desviava minha atenção de minha própria mente barulhenta.

Mas era difícil não pensar durante uma manhã parcialmente silenciosa quanto aquela, onde todo o barulho que eu escutava era Tessa rindo das idiotices de Will. Claro que Nova York nunca fica silenciosa, mas a mansão dos Herondale era grande o suficiente para deixar o barulho do lado de fora. Grande maldição. Era como um convite para relembrar tudo o que havia acontecido para eu parar ali.

Costumava morar em Los Angeles com minha enorme família — eu, meu pai, Stephen, minha mãe, Celine, e a família de Will, que tinha quatro pessoas — antes de tudo acontecer. Primeiro, eu havia ido para Mountain Elementary, um colégio interno no sul que ficava longe o suficiente dos meus pais para que eles não me enchessem o saco (eu era um pré-adolescente idiota na época, não conseguira evitar). Mas então, durante o outono, houve um incêndio. E eles simplesmente morreram queimados. Gostaria de não ter ido estudar na Mountain.

Depois disso, Will, meu único parente maior de dezoito anos que também não estava na casa (ele estivera numa faculdade na Inglaterra, país onde ele nascera), foi obrigado a cuidar de mim. Eu sabia que havia estragado a vida dele tanto quanto aquele incêndio havia estragado a minha, mas que opções eu tinha?

— Já terminou? São quase sete e quarenta.

Era Tessa, menos escandalosa e certamente mais gentil que Will. Percebi que eu estava apenas me encarando no espelho, e balancei a cabeça para afastar as memórias torturantes.

— Já — respondi, saindo do banheiro. — Não preciso de café. Já estou indo para a escola.

Ela assentiu e eu avancei para fora da casa. O tempo estava esquisito. As nuvens se amontoavam em um abraço cinza no céu, e eu quase conseguia sentir o temporal que se aproximava dali a pouco. Por conta disso, tratei de me apressar para o colégio e, ao chegar lá, não parei para falar com ninguém do lado de fora, simplesmente entrei.

Os professores que passavam olhavam com desprezo para mim, como sempre, mas eu só sorria para ele. Já estava acostumado com a aversão que os adultos tinham pelo jeito como eu levava a vida, mas não conseguia entender por que eles se importavam.

Ao chegar na primeira aula — Inglês —, percebi que sequer o professor estava lá. Era apenas eu e a minha dupla imaginária, já que eu escolhera ser o único da turma sem um par, e pretendia continuar assim. Me sentei na mesa típica e abri o livro de poesia que havia pego na enorme biblioteca de casa. Poesia me ajudava a enxergar que nem tudo estava perdido — exceto, talvez, as de Shakespeare, que eram sobre perdas, amor doloroso e essas coisas, o que só piorava a situação toda —, então eu sempre carregava um livro de versos comigo. Lia em silêncio, tentando esquecer o mundo ao redor e me focando apenas nos sentido das palavras. Era reconfortante.

Enquanto eu lia, percebi que o sinal já havia tocado. As pessoas invadiram a sala numa espécie de avalanche humana selvagem, me forçando a revirar os olhos pela estupidez. Não conseguia acreditar que era da mesma raça daquelas pessoas. Talvez houvessem algumas exceções, mas as pessoas da minha idade eram sempre uma decepção.

— Silêncio, por favor — o professor grunhiu, no mesmo momento em que a porta se abria.

Era uma garota. Uma garota tão bonita que eu tive que desviar os olhos para o livro para não encará-la. Fingi que estava lendo, mas na verdade as letras pareciam embaralhadas demais para formar palavras que eu entendesse.

— Sente-se ali.

Ao escutar isso, meu cérebro ficou atento. Não havia mais pessoas sem duplas naquela turma, todos já tinham alguém com quem se sentar, então isso significava...

Atrapalhando meus pensamentos, a garota se sentou ao meu lado. Suspirei imperceptivelmente. Droga. Aquilo estragava todos os meus planos de amargura e solidão eterna — ou apenas os reforçava; ambas eram opções horríveis.

Levantei os olhos, apenas para observá-la melhor, e ela não pareceu muito contente com isso. Ficou um tempo calada, fazendo uma careta de desaprovação, antes de dizer:

— Olá.

Tentei evitar o sorriso. Mas ela havia dito Olá de um jeito tão maravilhosamente engraçado que eu não consegui.

— Olá — respondi.

Procurei desesperadamente dizer algo que não fosse tão idiota quanto soava na minha mente, até que me lembrei sobre um comentário de uma garota sendo transferida para o colégio.

— Você deve ser a novata de que tanto falam. Sabe, é incomum ter pessoas novas neste Inferno, prepare-se para receber bastante atenção, boa e ruim.

Ela arregalou os olhos, me deixando aliviado por um momento. Assustá-la era realmente minha intenção. Se havia algo que eu havia aprendido ao longo do tempo, era como manter as pessoas das quais eu poderia gostar longe.

— O que? — Perguntou.

— Eu teria pena de você se te conhecesse — Balancei a cabeça. — Qual é o seu nome mesmo? Clementine? Carly? Chelsea?

Eu sabia que era Clary Fray, porque havia lido o nome rabiscado na capa de seu livro de Inglês, mas irritar sempre houvera sido meu forte.

— Clary — ela corrigiu, corando um pouco.

Eu assenti, tentando demonstrar que a conversa acabara ali, e voltei a olhar para o livro. Apenas olhar mesmo, porque não conseguiria prestar atenção nas palavras enquanto ela estivesse do meu lado. Mas então, me surpreendendo um pouco, ela perguntou, num tom quase de acusação:

— E você? Quem é?

Sorri. Era aquela a pergunta da qual eu sempre me esquivava. Quem é você? Era como se o questionador estivesse pedindo passagem para ter o poder de estragar minha vida. Eu não precisava de mais possibilidades ruins. Não poderia deixar que, por uma idiotice, eu voltasse a ser o garotinho indefeso que eu era depois da morte de minha família inteira.

— Procuro essa resposta faz bastante tempo — murmurei, tentando evitar que ela visse o efeito daquela pergunta sobre mim. — Boa sorte em descobrir. Se souber de algo, me diga, estou curioso para saber.

Ela abriu e fechou a boca, mas não disse mais nada. Fiquei feliz por ela ter desistido da conversa, mas ao mesmo tempo desapontado. Uma parte predominante de mim queria que ela continuasse perguntando, só para que eu pudesse ouvir sua voz. Talvez eu houvesse respondido.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Agora eu vou indo porque tenho 25 páginas de lição de Português pra amanhã ;-; Tá legal que eu sou uma escritora, mas eu odeio Português com cada pedacinho do meu ser... Enfim. Espero que tenham gostado da narração do Jace, é tipo uma apresentação dele, entendem? :3 Nada muito especial (exceto o Jace, que é especial por si só).
Mandem reviews!