You're The One escrita por Giovana Serpa


Capítulo 3
The one with the newcomer


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura.



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Clary Fray

Acordei sendo sacolejada por uma pessoa irritantemente insistente. A luz do sol agrediu minhas vistas acostumadas ao céu fechado do inverno de Vermont. Perguntei-me o que diabos estava acontecendo, onde eu estava e quem eu era, até que abri os olhos e vi o rosto sardento de minha mãe e suspirei em derrota. Não havia sido um sonho.

— Bom dia — murmurei, mesmo que o gosto ruim em minha boca dissesse que eu não estava lá com o melhor dos hálitos.

Minha mãe bufou. Sentei-me no banco do carro, sentindo minha coluna reclamar do desconforto. Tentei ignorar isso e saí do carro.

Nós havíamos estacionado em frente um prédio de três andares de aparência velha, com portas duplas e janelas que tinham grades gastas do lado de fora. O sol fraco batia nos tijolos avermelhados, dando a impressão de que estávamos no verão, embora eu soubesse que não estávamos, porque o frio conseguia penetrar em meu casaco verde, lançando calafrios em meu estômago e em minha coluna.

— É aqui que vamos morar? — Perguntei, forçando minha careta a se desfazer em uma expressão animada.

— Sim — minha mãe respondeu. — No terceiro andar. Vamos dividir o tríplex com dois idosos.

Fica na sua, Clarissa, obriguei-me. Em condições normais, eu protestaria, mas havia uma pergunta se agitando no fundo da minha mente.

— E quanto tempo nós pretendemos ficar aqui, exatamente?

Minha mãe pareceu indecisa ao responder isso. Ela se virou para pegar uma mala antes de voltar para mim e responder de modo vago:

— O quanto for necessário.

Sebastian surgiu atrás de nós.

— Espero que seja bastante tempo — ele disse. — Não estou muito a fim de dirigir mais treze horas, obrigado.

Ele segurava uma chave em uma mão e uma caixa em outra. Com passos apressados, se dirigiu para a porta do tríplex e entrou, simples assim. Peguei a maior das minhas malas, a que tinha minhas preciosas telas, e carreguei-a para dentro.

O hall de entrada estava parcialmente escuro, já que a claraboia enorme no teto estava mais suja que meus sapatos em dias chuvosos. Com exceção de nós três e os caras da mudança, tudo parecia muito vazio. Imaginei se aquele lugar era tão agitado quanto a minha última vizinhança. Você vai ser vizinha de dois velhos, uma voz irritante disse em minha cabeça. O que esperava? Astros do rock fazendo shows particulares? Skatistas descolados dando uma festa de arromba?

Bufei da minha própria idiotice enquanto subia as infinitas escadas na direção do terceiro andar. Minha mãe e Sebastian conversavam algo, mas eu não conseguia entender sobre o que era.

Demorou pelo menos cinquenta minutos até que todas as caixas e malas estivessem no apartamento, e mais trinta para que os móveis estivessem no lugar. Depois de longas horas de arrumação, o lugar quase parecia aceitável.

Quando olhei para o relógio, já era quase uma da tarde, e havíamos chegado às oito. Suspirei quando reparei que deveria estar na escola. Minha mãe havia matriculado a mim e Sebastian em um colégio particular chamado St. Xavier, em Manhattan. Ela usava nossa pensão mensal — resultado de um acordo bancário que Valentim havia feito antes de morrer — para pagar o colégio, o que não era nada mais do que justo.

Mesmo assim, eu só iria ao colégio na quarta-feira, já que era isso que havia sido combinado antes de o empregador de Jocelyn resolver adiantar a viagem. Isso me fez lembrar que não estava nevando em Nova York, mas em Vermont sim, e muito.

Sentindo um tédio repentino — nunca pensei que pudesse ficar entediada em Nova York, mas aconteceu —, virei para minha mãe e, com um suspiro, declarei:

— Vou tirar um cochilo. Você sabe, descobrir qual é a sensação de dormir em uma cama no Brooklyn.

Antes que ela pudesse responder, me virei e fui na direção do cômodo nos fundos que servia como o meu quarto. Tudo o que eu havia colocado era a cama, mas, para um cochilo, aquilo já era o suficiente. Joguei-me sobre o colchão e dormi imediatamente.

***

Na quarta-feira, eu estava quase feliz por estar indo ao colégio. Não aguentava mais ficar trancada em casa, mesmo que a possibilidade de uma cidade tão barulhenta, cheia de becos escuros e perigosos, me assustasse.

O café da manhã foi silencioso. Acho que nós três estávamos imaginando como seria nosso verdadeiro primeiro dia na cidade de Nova York. Alguma coisa me dizia que seria diferente do que eu esperava, mas eu não sabia como.

Sebastian e eu tivemos que ir andando para o colégio, porque o trabalho da minha mãe não era perto de lá. Enquanto caminhávamos, por algum motivo, achei necessário puxar conversa:

— Em que aulas extras você vai se inscrever?

Ele pensou por um momento.

— Filosofia, eu acho — respondeu. — E pretendo fazer esgrima, também. Soube que essa escola tem um clube. Não sou bom em clubes, mas sou bom em esgrima.

Eu ri, porque era verdade. Sebastian era horrível se tratando de fazer parte da sociedade, mas era ótimo em esgrima. Acho que Valentim havia ensinado a ele ou algo assim. Tudo o que meu pai havia me ensinado era onde bater em um garoto caso ele tentasse se aproximar de mim — isso quando eu tinha apenas nove anos —, mas tentei não ficar com ciúmes, afinal, minha mãe havia me ensinado a pintar, e não a Sebastian. Éramos dois injustiçados, de qualquer modo.

— E você? — Ele perguntou, apenas por educação.

Dei de ombros.

— Artes, obviamente — falei.

Nós ficamos em silêncio no resto do caminho. Nunca fomos realmente bons nesse negócio de fraternidade. Passamos mais tempo como estranho do que como irmãos, ainda era uma relação delicada de se lidar.

St. Xavier era, certamente, uma escola para pessoas ricas. Fiz uma careta quando vi as garotas com roupas caras e três quilos de maquiagem em cada lado do rosto. Já que Sebastian era do 3º ano e eu do 2º, fomos para direções diferentes sem nos despedir.

Enquanto eu caminhava pelos corredores movimentados na esperança de não chegar atrasada na aula, esbarrei acidentalmente em alguém. Clary, lamentei-me, Sempre tão graciosa. Bufei ao ver que meus livros haviam se espalhado pelo chão e, ao levantar os olhos, franzi a testa.

O garoto que havia esbarrado em mim estava parado me encarando, e só se mexeu para me ajudar a recolher os livros. Tentei manter a calma para não corar, mas, com minha pele clara, eu duvidava que havia tido êxito de alguma forma.

— Desculpe por não olhar para onde ando — sorri, constrangida. — Não é a primeira vez, mas...

— Tudo bem — ele estendeu uma mão. — Sou Simon.

Apertei sua mão. Ele era bem mais alto do que eu, o que não era nenhuma surpresa, na verdade.

— Clary — falei, pensando se aquele momento poderia ficar mais clichê. Uma garota chega em uma escola nova, esbarra em um cara alto e bonito, ele ajuda a recolher os livros... Típico besteirol americano. — Desculpe, eu estou atrasada. Até depois.

Depois de acenar, voltei a correr. Lembrei do que Maia disse sobre eu estar sempre com pressa e sorri para mim mesma.

Minha primeira aula era de Inglês, que era feita em duplas. Quando eu cheguei na sala, porém, todos pareciam já ter quando sentar. Suspirei, parada na porta como uma idiota.

— Posso ajudar?

Era o professor. Ele usava óculos de armação pesada sobre olhos escuros aguados e um casaco de tweed com cotovelos e camurça.

— Sou Clarissa Fray — falei como se aquilo explicasse tudo. — Sou nova e...

— Sente-se ali — ele me interrompeu, apontando para uma carteira no meio da sala.

Segui naquela direção com o olhar. Uma das carteiras já estava ocupada por um garoto que parecia estar mais interessado em seu próprio livro do que em qualquer outra coisa ali.

Tentei não suspirar, mas não consegui. Aquele era, simplesmente, o cara mais bonito que eu já havia visto. Ele tinha cabelos dourados que cobriam parte de seu rosto anguloso e bronzeado, e era mais alto do que qualquer um que eu já conhecera. Fiquei imaginando quais eram as probabilidades de uma pessoa como eu ter a chance de me sentar com uma pessoa como ele.

— Senhorita Fray? — O professor chamou minha atenção com impaciência, e eu tratei de ir logo para a mesa.

Prendi a respiração na expectativa de que o garoto não reparasse que eu existia, mas foi inútil. Assim que eu me sentei, seus olhos — lindos orbes dourados que pareciam líquidos de tão brilhantes — se levantaram do livro e me encararam. Demorou um tempo para que eu tivesse consciência o suficiente para formular qualquer palavra:

— Olá.

Seus lábios foram para o lado numa espécie sarcástica de meio sorriso.

— Olá — falou numa voz agradável. — Você deve ser a novata de que tanto falam. Sabe, é incomum ter pessoas novas neste Inferno, prepare-se para receber bastante atenção, boa e ruim.

— O que? — Arregalei os olhos, assustada.

— Eu teria pena de você se te conhecesse. Qual é o seu nome mesmo? Clementine? Carly? Chelsea?

— Clary — corrigi, piscando em surpresa e irritação.

O garoto assentiu e, como se houvesse cansado de ouvir minha voz, voltou a atenção novamente para o livro, que parecia ser de poesia. Ignorando a parte do meu cérebro que se derretia por ele ser um cara bonito que lia poesia, franzi a testa.

—E você? — Questionei. — Quem é?

Ele sorriu novamente, ainda sem olhar para mim. Quando falou, sua voz soava sarcástica, mas eu poderia apostar todos os meus pincéis que havia uma pontada de sinceridade mesclada com tristeza em seu tom irônico.

— Procuro essa resposta faz bastante tempo — sussurrou. — Boa sorte em descobrir. Se souber de algo, me diga, estou curioso para saber.


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Notas finais do capítulo

Aposto que vocês pensaram que era o Jace que tinha esbarrado nela, né? u.u Hehe. Mas, bem, pelo menos ele aparece :v Sempre tão perfeito :3 Que vontade de morder ele.
Espero que tenham gostado. Mandem reviews o/ Beijos!



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