You're The One escrita por Giovana Serpa


Capítulo 2
The one with the travel


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura :)



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Clary Fray

Se havia uma coisa da qual eu tinha certeza, era que não queria, de forma alguma, estragar o sonho da minha mãe. Mesmo que ela dissesse que nós realmente podíamos dizer “não”, eu conseguia ver a felicidade em seu rosto quando ela falava do trabalho. Era como se a vida dela houvesse tomado um novo sentido, um sentido melhor. Eu sabia que cuidar de dois adolescentes levemente problemáticos pelo resto da vida em um lugar como Vermont não era o que se chamaria de sonho.

Era sábado à noite quando eu finalmente tomei uma decisão. Minha mãe, Sebastian e eu estávamos sentados à mesa da cozinha comendo pizza. Enquanto tirava as azeitonas — odeio azeitonas — da massa, pensava comigo mesma. Uma mudança não era exatamente o que eu tanto esperava? Passava horas a fio fantasiando com uma vida fora daquela prisão natural e, agora que uma oportunidade estava sendo oferecida, eu ameaçava jogá-la fora. Além do mais, eu realmente seria uma megera egoísta se obrigasse minha mãe a recusar o trabalho na galeria.

— Acho que você deveria aceitar — falei de repente. — O trabalho em Nova York, eu quero dizer.

Jocelyn pareceu surpresa ao me ouvir dizer isso. Ela largou a fatia de pizza que comia no prato e me lançou um olhar curioso.

— Por que acha isso? — Perguntou.

Encolhi os ombros.

— Eu não sei — respondi. — Mas acho que seria bom... para nós. Vida nova e tudo mais, você sabe. Parece que nenhum de nós está se dando bem aqui mesmo.

— Pensei que você tivesse amigos — comentou Sebastian, num tom cuidadosamente casual. — Sabe, aquele pequeno grupo de pessoas que você deveria levar em conta na hora de tomar uma decisão dessas.

Fiz uma careta de tédio para ele, mas o pior era que ele tinha razão. Eu não havia pensado em Jordan e Maia na hora de decidir aquilo. Apesar de que eu tinha certeza de que eles conseguiriam sobreviver sem a amiga do mundo da lua deles. Já eu não tinha tanta certeza se conseguiria ficar sem os dois por muito tempo.

— Vermont não é tão longe de Nova York — falei. — Posso visitá-los quando quiser.

— Tem razão, querida — minha mãe assentiu. — E é por isso que vamos de carro para lá. Vi no noticiário que todos os aeroportos de Vermont estão paralisados por causa da neve.

Balancei a cabeça, concordando. Eu nunca havia viajado de avião, e nem pretendia, então aquela informação era quase um alívio. Seria perfeito se você tirasse as mais de doze horas de viagem.

Em silêncio, terminei de comer minhas duas fatias de pizza. Havia agora um frio no meu estômago, e eu sentia que precisava preenchê-lo com comida. Quando já estava satisfeita, me levantei e disse:

— Vou arrumar as malas. Falo com vocês depois.

***

— Nova York? — Jordan fez uma careta. — Tem certeza disso? Eu quero dizer, você vai ter que se adaptar às pressas a uma escola, porque estamos no meio do ano letivo. Terá que se acostumar com os assaltos, sequestros relâmpagos, ar-condicionados caindo na sua cabeça, pessoas ignorantes...

Dei um tapa leve em seu braço.

— Pare de me aterrorizar, Kyle — reclamei. — Nova York não deve ser tão ruim assim.

— Pra que parte você vai? — Maia levantou uma sobrancelha.

Bufei, derrotada.

Brooklyn.

Os dois emitiram um som que parecia dizer “Boa sorte com isso”. Bem, eu sabia que, em parte, eles tinham razão. O Brooklyn não era lá o que se chamaria de vizinhança segura.

— É melhor já deixar o spray de pimenta na mochila — aconselhou Jordan, com um sorriso sarcástico.

— Na verdade, minha mãe me deu um — levantei as sobrancelhas. — Engraçado, Sebastian não ganhou spray de pimenta. De qualquer modo, acho que ele conseguiria arrancar as entranhas de um assaltante com as próprias mãos. Não precisa de proteção extra.

Os dois concordaram com um aceno da cabeça. Nós estávamos no Bell’s, finalmente, porque minha mãe havia nos trazido. Ainda nevava como o inferno, mesmo que o inferno seja quente e tal. Você me entendeu.

— Então... — murmurei. — Vocês têm certeza que não estão bravos comigo?

Maia sorriu.

— É claro que não estamos — falou. — Afinal, Nova York é logo ali do lado. Podemos te visitar no Natal.

— Isso seria demais — concordei com um suspiro. — Vou sentir falta de vocês. Não sei se os nova-iorquinos são muito gentis com ruivos.

Jordan, depois de rapidamente terminar seu café, me olhou com algo que parecia piedade.

— Ruivos sardentos e anões — ele corrigiu.

— Vá se ferrar, Jordan — mostrei a língua para ele, demonstrando um ato de pura maturidade.

Certo, talvez eu não fosse a garota de 16 anos mais alta do mundo e talvez eu tivesse sardas, mas ele não precisava me lembrar disso.

Ele estava prestes a acrescentar mais alguma provocação, mas foi interrompido quando meu celular tocou. Inclinei-me levemente na outra direção quando vi que era minha mãe ligando.

— Alô — atendi, imaginando por que ela estaria ligando. — O que foi?

— Clary? Você ainda está no café?

Balancei a cabeça afirmativamente, mas então lembrei que ela não podia me ver e, um pouco constrangida, respondi:

— Estou. Por quê?

— A viagem — ela parecia estar sorrindo. — Meu empregador a adiantou. Já arrumou as malas? Partimos essa noite.

Fiquei sem palavras por um momento. Em plena tarde de um domingo tranquilo e minha mãe me dizia que estávamos indo para Nova York em algumas horas. Certo, ela estava feliz por isso e eu entendia completamente. Mas eu estava me preparando para sair na terça, ter mais dois dias com Jordan e Maia, e não ser simplesmente arrancada de Vermont.

Era patético admitir, mas, mesmo que eu odiasse aquele lugar, ainda era meio que a minha casa. Era lá onde eu tinha nascido, vivido e etc. Ser tirada dali tão rapidamente era um choque.

— Clary? Está aí? — A voz de minha mãe me chamou atenção, e eu me sobressaltei na cadeira ao ser arrancada do devaneio.

— É, estou — murmurei. — Eu... Você pode vir me buscar?

— Estou indo.

Desliguei o telefone com pressa e me virei para Jordan e Maia. Eles me olhavam com expressões curiosas, e não pareceram muito animados ao ver minha cara. Eu deveria parecer desesperada ou algo tão agradável quanto isso.

— O que houve? — Foi Maia quem perguntou.

— Eu... Nós... Precisamos... Ir embora.

— Por quê? — Jordan questionou, mas começou a se levantar mesmo assim.

Respirei fundo e me forcei a manter a calma, mas meu estômago revirava de ansiedade e eu não conseguia decidir se ainda queria fazer aquilo — me mudar, eu quero dizer.

— Porque eu vou pra Nova York esta noite — falei em um tom forçadamente casual. — O empregador da minha mãe adiantou a viagem. Por causa do mau tempo, eu imagino. Dizem que a tendência é só piorar.

Um pouco diferente do que eu esperava, os dois sorriram.

— Legal — disse Maia, enquanto caminhávamos para o lado de fora. — Eu quero dizer, vou sentir saudades de você, mas... Meu Deus! É Nova York! Quem não quer ir para Nova York?

Talvez, eu não queira. Mesmo sentindo que iria vomitar, eu ri. De repente, imaginei milhares de coisas diferentes. Não haveria mais a Segunda-Feira do Nacho no Bell’s com Maia e Jordan, nem as tardes de primavera que eu passava nas margens da cachoeira perto de casa desenhando, e muito menos as infantis guerras de lama em Novembro, também com Jordan e Maia.

Santo Cristo, eu sentiria tanta falta deles!

Surpreendendo a mim mesma, eu abracei os dois ao mesmo tempo, e eles me abraçaram também. Desde os quatro anos, aqueles caras haviam feito parte da minha vida. Deixá-los seria como apagar tudo o que eu já havia vivido. Não parecia justo com eles, e nem comigo, que eu fosse assim, sem mais nem menos.

— Clary, prometemos que vamos lá no sábado — garantiu Jordan. — Quero dizer, posso dirigir de carro até Nova York. Meus pais não se importariam.

— E nem os meus — Maia parecia estar se segurando para parecer calma. — Vamos estar lá no sábado, tá bem? Sabe o seu endereço?

Balancei a cabeça. Eu não fazia a mínima ideia.

— Então, quando chegar lá, me mande uma mensagem, certo?

Assenti, no mesmo momento em que o carro de minha mãe aparecia, virando na esquina na direção do acostamento. Ela acenou para nós quando parou.

Suspirei. Fique calma fique calma fique calma fique calma, murmurei para mim mesma, tão rápido que não havia espaço para vírgulas. Entrei no carro, espirando fundo para sentir o cheiro da tinta acrílica. Era o mais confortador possível naquele momento.

***

— Sebastian, o que suas meias estão fazendo na minha bolsa?! — Gritei, na esperança de que Sebastian escutasse de seu quarto.

— Provavelmente, sentiram saudades das suas luvas — ele murmurou enquanto colocava a cabeça para dentro do quarto.

Arregalei os olhos quase imperceptivelmente. Sebastian fazendo uma piada idiota? O que eu havia perdido? Bem, talvez ele só estivesse animado pela viagem. Com toda aquela loucura, eu não havia imaginado o que aquilo significaria para ele. Será que ele gostava da ideia? Julgando por aquela piadinha sobre meias e luvas, sim, ele gostava da ideia.

— Bem, então eles estão na mala errada — levantei as sobrancelhas. — A menos que elas estejam tendo um caso com meu material de desenho, é claro. Ande, tire isso logo daqui.

Com uma expressão até mesmo agradável no rosto, ele tirou suas meias da minha bolsa e jogou-as de qualquer jeito na mala de mão que carregava.

— Crianças, já estão prontas? — Minha mãe gritou da sala.

— Odeio quando ela me chama de criança — resmunguei.

— Nem me diga.

Fechei o zíper da minha bolsa e joguei-a sobre um ombro. Sebastian e eu fomos para fora. Antes de apagar a luz, dei uma última olhada em meu quarto. Mesmo sabendo que aquela casa continuaria sendo nossa, só para o caso de a coisa em Nova York não dar certo, eu ainda sentiria uma saudade imensa do meu mural de desenhos, da vista privilegiada que eu tinha da minha janela e do cheiro de terra molhada que vinha do bosque. Não tinha ideia de como suportaria ficar longe por muito tempo.

Mesmo com vontade de chorar, eu suspirei e apaguei a luz. Virei-me para sair, caminhando na direção da rua, onde minha mãe já estava com o carro. O porta-malas estava simplesmente lotado de malas, e o caminhão de mudanças estava estacionado um pouco a frente do carro.

— Vocês demoraram uma eternidade — Jocelyn reclamou.

— Pelo menos estamos aqui — disse Sebastian. — Por que não vamos logo?

Minha mãe assentiu, e nós entramos no carro. Sebastian sentou no banco da frente, já que ele dirigiria durante a madrugada para que minha mãe pudesse dormir um pouco. Essa era a vantagem de não ter carteira de motorista: eu poderia dormir durante a viagem inteira, sem precisar me preocupar em dirigir. Suspirei aliviada. Meu total desespero ao volante finalmente fora útil para algo.

Nós partimos em silêncio. Demorou meia hora até que nós estivéssemos fora da vista de qualquer rastro de civilização. Minha mãe dirigia por uma estrada de terra desigual, lançando solavancos desagradáveis até mim. Enquanto isso, eu observava a cidade ficar para trás aos poucos, levando consigo tudo o que eu já havia vivido, e deixando apenas a memória para mim.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado *-* A emoção está pestes a começar, me aguardem.
Mandem reviews c; Beijos!



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