You're The One escrita por Giovana Serpa


Capítulo 22
The one with the first dance


Notas iniciais do capítulo

Gente, senti tanta falta de vocês ;-; Eu tava sem internet, marujos. Sinto muito... Espero que me perdoem. Eu comprei um modem agora, não se preocupem. Boa leitura!



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Clary

Na sexta-feira, o dia no colégio havia passado como qualquer outro, exceto pela garota que me esperava em frente ao armário depois da aula de Economia. Isabelle tinha um sorriso incomum no rosto, o tipo que não anseia por uma arma e uma vítima disponível. Isso desvaneceu um pouco quando ela percebeu que eu estava ao lado de Simon, mas continuou lá do mesmo jeito. Senti uma vontade quase incontrolável de rir.

— Fomos convidadas para uma festa. — Ela cantarolou, sorridente até o último fio de cabelo. Não olhava para Simon. — Não uma festa, a Uma Festa.

— A temática é O Senhor dos Anéis? — Simon parecia realmente curioso, o que pareceu deixar Isabelle irritada.

Izzy colocou uma mão no quadril.

— A conversa ainda não chegou no clube de xadrez, Lewis. — Ela rosnou.

— Oh, ouch. — Simon colocou uma mão sobre o peito, fingindo estar ofendido, mas logo abriu um sorriso cínico. — Muito maturo da sua parte. Eu falaria o seu sobrenome, mas tenho medo de enrolar minha língua no processo.

Isabelle respirou fundo e silenciosamente contou até três. Eu assistia a tudo, alternando o olhar entre os dois como num jogo de pingue-pongue.

— Vou ignorar você. — Ela informou, e então se virou para mim. Havia um pedaço de papel entre os seus dedos. — Esteja na minha casa às seis. Preciso dar um jeito nessa sua aparência de moradora de rua.

Ela começou a se afastar.

— Bem, obrigada! — Resmunguei. Virei-me para Simon. — Eu fui penitenciada pelo resto da minha existência a servir de manequim para Izzy, não é?

Simon fez uma careta.

— Izzy? Você já a chama pelo apelido? Está corrompida! — Ele usou um tom propositalmente melodramático. — De qualquer modo, eu preciso ir. Sinto muito por você. Até mais!

É, pessoal. É pra isso que servem os amigos.

***

— Tem certeza de que é uma boa ideia? — Perguntei, não pela primeira vez. Estava de olhos fechados, e Isabelle passava algo pastoso em minhas pálpebras. Cara, eu odiava o cheiro de maquiagem. Me fazia querer espirrar como louca.

— Uma vida de boas ideias é uma vida sem graça alguma. — Isabelle finalmente tirou o pincel dos meus olhos e se afastou para ver o resultado. Sorriu para si mesma, satisfeita. — Eu deveria ser a próxima Pabla Picassa.

Abri e fechei a boca, incerta do que deveria responder. Eu temia que uma correção — afinal, Pablo Picasso não era maquiador — pudesse me render uma boa surra, então deixei por aquilo mesmo e murmurei um simples "" para ela enquanto caminhava em direção ao espelho. Tive que ziguezaguear entre as coisas jogadas pelo quarto de Isabelle — roupas, maquiagem, sapatos, livros e, curiosamente, meias de unicórnio —, que por sinal era um labirinto de bagunça, até finalmente chegar até a penteadeira para analisar o trabalho. Com a maquiagem preta carregada, eu mais parecia uma vampira ruiva de um filme bastante barato. Tive uma repentina vontade de me jogar no vaso sanitário mais próximo e dar descarga ao reparar no quanto estava ridícula, mas me forcei a abrir um sorriso nos lábios pintados de um vermelho que combinava com o meu cabelo (ou seja, que era bastante parecido com um ridículo laranja-abóbora).

— Ótimo. — falei.

— Você hesitou. — Isabelle falou imediatamente. — Por que você hesitou?

Revirei os olhos, tentando indicar que ela estava louca. Não estava. Mas Isabelle não insistiu mais. Ela jogou para mim um vestido prateado que mais se parecia com uma blusa e botas de saltos altos o suficiente para não me fazer parecer uma anã de jardim.

— Essa festa... — Continuei. — Não sei se deveríamos mesmo ir. Afinal, estamos no meio da semana, Izzy...

— É sexta-feira, Clarissa. Aliás, não tem hora pra festa. — Ela me interrompeu. — O mundo funciona da seguinte forma: você foi convidado para uma festa de arromba, você aceita ir para a festa de arromba. Simples assim!

Eu não sabia se estava totalmente preparada para seguir estritamente aquela tão sábia filosofia da minha mais nova amiga, Isabelle Lightwood. Eu ficava imaginando o que Maia diria dela, e vice-versa. Provavelmente, por serem dois extremos tão inteiramente diferentes, ambas cruzariam os braços, fariam uma careta, bufariam e virariam o rosto. Seria uma cena que eu realmente pagaria para ver.

Depois de estarmos parcialmente prontas (eu digo parcialmente porque eu ainda não havia conseguido enfiar toda aquela bota em meu pé), Isabelle, literalmente falando, empurrou-me para dentro de seu Jeep cor de vinho. Certo, eu poderia imaginar Isabelle dirigindo até mesmo um fusca, mas nunca, nunca em um milhão de anos, imaginaria um Jeep. Tudo bem, os bancos eram de couro e o rádio de última geração (afinal, pelo pouco que eu vira de sua casa, já dava para reparar que seus pais eram podres de ricos), mas ainda assim era bruto demais para uma líder de torcida. Mas aí lembrei que ela poderia torcer meu pescoço num segundo e pensei que até fazia sentido.

— Vamos buscar o imprestável do seu namorado! — Ela gritou alegremente enquanto dava a ré.

Eu quase gritei de volta que "ELE NÃO É MEU NAMORADO!", mas então lembrei que, mesmo que eu não tivesse percebido, Jace era meu namorado. Isso me fez entrar em êxtase. Eu, Clary Fray, sardenta, um metro e meio de altura, corpo de uma boneca de pano velha e ruiva até os dentes, tinha um namorado. E ele não era um débil mental ou nada parecido (pelo menos, não na maioria das vezes). Aquilo era algo para se comemorar.

***

— Você parece um anjo caído ou algo assim. — Jace falou, assim que me viu. Eu estava prestes a protestar quando ele acrescentou com um sorriso: — Eu gosto disso.

Tive que agradecer por ter tanto blush nas bochechas que a completa vermelhidão em meu rosto provavelmente não deu sinais óbvios. Eu apenas sorri para Jace e deslizei para o lado para que ele pudesse se acomodar no carro. Isabelle me lançou uma olhada pelo retrovisor, e eu tive que me segurar para não mostrar a língua para ela. Certo, aquela personagem de adolescente descolada que ia a festas de desconhecidos não tinha nada a ver comido. Como Jordan diz: nadica de nada.

— Odeio essa festa. — Jace falou, suspirando. — Tudo é sempre tão exagerado...

— Você já foi em alguma delas? — Perguntei, curiosa.

Isabelle riu alto.

— Jace Herondale nunca dispensaria a festa do ano, Fray. Nunca.

— Isso não é verdade. — Ele protestou. — É uma questão de imagem, só isso.

— Como se você algum dia tivesse ligado pra isso. — Isabelle replicou.

Era estranho ouvir sobre como Jace era antes de eu conhecê-lo. Não conseguia imaginá-lo diferente do cara que lia poesia e fugia para o refeitório para roubar café só porque tinha vontade. O Jace que ia a festas e beijava garotas (além daquela asiática sem sal, claro, que eu não tinha esquecido de jeito nenhum) por todo o canto, como Isabelle já mencionara uma vez, não me vinha a cabeça, e eu estava profundamente feliz por isso.

— Ruivas mudam pessoas. — Isabelle garantiu.

Fiz uma careta para ela, mas Jace sorriu. Ele tinha um braço em volta da minha cintura, como um cinto de segurança humano, e eu tentava conter os calafrios de nervosismo. Você domina o seu corpo, Fray. Só você, e não esses hormônios de adolescente ridículos.

— Chegamooooooooos! — Isabelle realmente usou mais Os do que necessário, mas eu logo entendi o motivo.

Havia pelo menos cem carros estacionados naquela longa rua, e todos eles abarrotados de gente. A casa era no mínimo enorme, tão chique quanto aquelas que você vê nos filmes sobre Beverly Hills. Eu fiquei um tempo impressionada, mas assim que Jace puxou minha mãe o choque térmico entre meus dedos frios e seus dedos quentes me fez acordar do transe. Ele me puxou para um meio abraço e caminhamos até a casa, de onde uma música estridente soava. Parecia algo escocês e, de um jeito bizarro, era até legal.

O hall de entrada provavelmente era magnífico, mas estava tão lotado que era impossível dizer com certeza.

— Vamos, a verdadeira festa é lá em cima! — Isabelle gritou, tentando sobressair o barulho da música.

Eu e Jace a seguimos prontamente. Vários pessoas cumprimentaram os dois no caminho, inclusive algumas garotas, o que me fez abraçar Jace também, claramente dizendo: Afastem-se, vadias. Ele é meu. Senti-me uma gota de óleo numa piscina. Incapaz de me misturar.

O segundo andar era ainda pior. Uma banda tocava no centro num palco redondo, e várias pessoas gritavam como loucos. Isabelle foi diretamente a um cara encostado num canto, olhando para as pessoas eufóricas com um sorriso meio psicopático. Ele realmente parecia um serial killer com aquela cara.

— Hey, Magnus! — Ela gritou para ele e jogou os braços em volta de seus ombros.

Olhei para Jace, procurando por explicações.

— Magnus, anfitrião e o noivo do Alec, irmão da Isabelle. — Ele disse com um sorriso leve. — O idiota costumava ser meu melhor amigo antes de ir pra faculdade nem Oxford.

Havia bastante coisa para processar naquela frase, mas eu apenas sorri alegremente. Eu, porém, não me sentia tão alegre. Era mais algo como claustrofóbica. Enquanto Isabelle conversava alegremente com Magnus, eu e Jace pegamos ponche de morango. Eu tinha certeza, pelo gosto amargo, de que tinha algo mais do que simples suco refrescante ali, mas estava tão desesperada para beber algo que não liguei. Simplesmente engoli tudo.

— Ei, calminha aí. — Jace gentilmente tirou o copo das minhas mãos. Ele tirou um cacho dos meus olhos. — Os amigos do Magnus fazem a comida, e eles são bastante especialistas em acidentemente colocar álcool e certas... substâncias nela.

— Certo, entendi. — Falei. — É que toda essa gente me deixa literalmente sem ar.

Jace olhou em volta, como se para certificar-se de que ninguém estava olhando.

— Quero te mostrar uma coisa. — Ele sussurrou, e eu quase não ouvi por conta da música.

Dei de ombros e o segui. Nós nos esgueiramos entre as pessoas e seguimos por uma escada longa. Em seguida, uma porta surgiu, e Jace a abriu. Ainda dava para ouvir a música dali, só que mais suave.

O terraço era tão grande quanto o apartamento onde eu morava. Eu me sentia um pouco tonta pela bebida, mas isso não me impediu de correr, tentando absorver toda a paisagem ao mesmo tempo. Não havia paredes ou muros, apenas um vento fresco, prédios iluminados e um céu escuro e lindo, colorido pelas luzes artificiais de Nova York. Depois de ver as mesmas estrelas por tanto tempo, aquele céu era uma bênção.

— Jace, isso é... — Eu não consegui terminar a frase. — Meu Deus, eu poderia morrer agora, e morreria feliz. Melhor ainda se tivesse comida chinesa para acompanhar.

Jace estava ao meu lado, observando o céu. Ele não parecia menos fascinado que eu, o que me deixou feliz.

— Quando eu vinha para as festas do Magnus, sempre subia para cá. — Ele contou. — É o meu lugar especial. Soa muito afeminado, eu sei, mas é. É como se o mundo fosse pequeno, sabe? Dá menos medo de encarar o que tem lá fora.

Ele tinha razão. E, por algum motivo, isso quase me fez cair em lágrimas. Mas, em vez disso, eu simplesmente abracei Jace como se ele fosse Jambo, o urso de pelúcia com que eu dormia desde que tinha quatro anos. Ele me abraçou de volta, mas aquilo não parecia o suficiente. Não demorou muito para estarmos nos beijando. Era como se, pela primeira vez, nenhuma parte de mim protestasse contra aquilo. Eu tinha plena consciência de que eu precisava de Jace, e estava feliz por, ao que tudo apontava, ele precisar de mim também. Então eu apenas deixei que meus lábios e meus braços fizessem todo o trabalho, fingindo que eu não tinha um cérebro racional — e não foi nem um pouco difícil.

Mas, em algum momento, Jace se afastou, ainda de olhos fechados. Fiquei desesperada por um momento, como se o oxigênio houvesse sido tomado de mim, mas ele logo sorriu e me encarou.

— Quer dançar? — Ele perguntou, não mais alto que um sussurro, mesmo que não houvesse ninguém além de nós ali.

Eu assenti quase que imediatamente. A música ainda era frenética lá em baixo, como se uma guitarra tivesse convulsões, mas não importava. Para mim, soava como a mais lenta e bela das sinfonias, uma tão perfeita que sequer o próprio Apolo poderia compor. Eu não fazia a mínima ideia de como dançar, mas não era um problema naquele momento. Apenas deixei que Jace, a música e o vento me guiassem.


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Notas finais do capítulo

Mandem reviews, marujos. Beijos! C: