You're The One escrita por Giovana Serpa


Capítulo 20
The one with the truth


Notas iniciais do capítulo

PESSOAL! Juro que não me esqueci de vocês. Bem longe disso. E também não tenho uma desculpa. Foi uma daquelas épocas em que os contratempos se juntam com a preguiça e a falta de criatividade, sabem? Mas eu continuei pensando na fic. Até bolei algumas ideias. Sério.
Eu queria agradecer a Tizzy pela maravilhosa recomendação. Um suor estoico até me escapou dos olhos. Esse capítulo aqui vai pra você



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Jace

— O que é isso? Algum tipo de gororoba inglesa? — fiz uma careta enquanto pegava um pedaço de alguma coisa parecida com carne no meio da minha sopa.

Will revirou os olhos. Ingleses tinham um jeito tão patético de revirar os olhos. Era como se vivessem numa série excessivamente dramática.

— É sopa de legumes, Jonathan — Will remexeu em seu prato. — Fui eu que fiz.

— Está explicado — levantei as sobrancelhas e me afastei do prato.

Olhei em volta na mesa quase vazia. Aline e os pais não estavam ali. Os Penhallow tinham algo para resolver sobre uma casa em Long Island, o que eu considerava como ótimas notícias, mas Aline não parecia estar em lugar nenhum desde que... Bem, desde que ela conheceu Clary.

Eu era um idiota.

— Quem era aquela garota ruiva que você trouxe outro dia? — perguntou Will de repente, como se lesse meus pensamentos. — Clary, né?

Me remexi desconfortavelmente na cadeira e encarei Will com olhos estreitos. Ele tinha uma sobrancelha levantada, e algo como um sorriso maligno no rosto.

— Ah, cale a boca — balancei a cabeça. — Ela é da aula de Inglês.

— Essa é a pior desculpa que um adolescente poderia usar para...

— Não é uma desculpa — interrompi, empurrando o prato cheio de gororoba marrom na direção de Will. — E isso está horrível. Você é tão bom na cozinha quanto um coala poderia ser, e sabe o que os coalas comem?

Will fez uma careta de nojo.

— É, eu sei — ele grunhiu. — Mas, se não quer comer isso, fique à vontade para se retirar, pensar na sua namorada ruiva.

— Ela não é minha namorada, William — cruzei os braços, tendo total consciência de quanto eu parecia com um garoto teimoso de doze anos. Mas que se dane.

— Quem não é sua namorada?

Eu e Will nos viramos ao mesmo tempo para olhar quando Aline entrou pela abertura da sala de jantar. Ela usava uma blusa com algo escrito em alemão — eu suspeitava que era algo de Bukowski — e calças jeans escuras. Seu cabelo estava preso para trás, deixando seu rosto pálido aparente. Ela levantou uma sobrancelha.Percebi que Will estava prestes a responder — o sorriso idiota no rosto dele dizia tudo —, e me apressei em dizer:

— Um monte de gente. Um monte de garotas não é minha namorada — comecei a me virar. — Dá licença, eu tenho que fazer a lição de casa.

Como se eu me incomodasse em fazer a lição de casa. Lá estava uma das minhas mais esfarrapadas desculpas.

Passei por Aline, tomando cuidado para não ficar muito próximo dela. Ela me fuzilou perigosamente com olhos muito escuros enquanto eu me afastava da sala de jantar. Fiquei pensando que, se asiáticos viessem com visão de raio laser, eu certamente estaria ferrado.

Clary

Há uma linha tênue entre a euforia descontrolada e o desespero total. Às quatro horas da manhã de quinta-feira, eu alternava perigosamente entre esses dois extremos, e isso me deixava encarando o nada escuro do quarto, me perguntando o que diabos estava acontecendo.

Às seis e trinta e três, quando eu finalmente decidi me levantar, ainda não tinha a resposta. Estava irritada, o nariz coçando por conta de um resfriado que começava a despontar, e minha cabeça doía. Eu estava cansada de pensar. Caminhei na direção da cozinha e enchi uma xícara com leite e cereal açucarado. Afundei no sofá e liguei a TV no canal de desenhos.

Acabei dormindo com o rosto afundado numa almofada durante alguns poucos minutos. Acordei arfando em busca de ar quando alguém se sentou ruidosamente sobre o sofá. Sebastian. Olhei o relógio. Não eram sete horas ainda.

— Qual é a sua? — resmunguei, me encolhendo como um feto. Fazia alguns dias que não falava com Sebastian, mas não sentia nenhuma falta daquilo. Ele estava estranho ultimamente.

— Se você quisesse mesmo dormir, estaria na cama — ele falou, sequer olhando para mim, e mudou o canal para um programa de lutas.

— Você merece o Nobel da Idiotice — falei, cruzando os braços.

Sebastian ficou em silêncio por alguns momentos, o que só fez me irritar mais. Eu odiava quando as pessoas encerravam a discussão no meio de uma provocação minha. Eu gostava de discutir. Era o meu hobby estranho.

Mas então Sebastian falou, e não era exatamente o que eu esperava. Ele olhou para mim com as sobrancelhas numa linha reta e clara, e falou num tom sério:

— Vai continuar fingindo para Jocelyn que não estava com Jace Herondale ontem?

Meus olhos se arregalaram contra a minha vontade, e eu encarei Sebastian, me perguntando se ele havia dito mesmo aquilo. Ele também me encarou, esperando por minha resposta, uma negação que ele logo arrumaria um jeito de desmentir. Ah, bela merda.

— Isso não é da sua conta — foi o melhor argumento que eu achei, mas, afinal, não era mesmo. Sebastian não tinham nenhum direito de se intrometer em nada que eu fazia.

— Claro que é — ele discordou. — Eu sou seu irmão, Clary.

— E daí? — levantei as sobrancelhas. — Você só age como tal quando lhe convém — fiquei orgulhosa do meu vocabulário intelectual, embora ele soasse como uma série de chiados no meu sotaque irritado da Nova Inglaterra. — Não enche, Sebastian.

Ele sequer pareceu ficar ofendido.

— Isabelle Lightwood parece ser uma garota fútil — ele continuou, parecendo entretido. Que idiota. — E eu nunca vi vocês duas andando juntas — uma sobrancelha sua se arqueou. — É uma amizade estranha.

Estava tudo explícito em sua expressão. Sebastian não deixaria barato. Aquele bastardo.

— O que você quer dizer com isso? — Tentei comer mais um pouco do cereal, mas ele já estava mole. Eca. — Preciso entender o tom de ameaça estúpido por trás dessa sua cara feia.

Ele revirou os olhos, o que já era um avanço. Sebastian quase nunca expressava abatimento. Um revirar de olhos era como o primeiro lugar numa corrida olímpica.

— Já que insiste — ele deu de ombros. — Eu estou dizendo que você deveria se afastar de Jace, Clary. Para o seu próprio bem, sabe. Jocelyn nunca foi do tipo que atura mentiras, e... Digamos que eu tenha informação verdadeira para fornecer.

Sebastian me encarou, tentando ver se eu havia entendido. Havia. E, por um momento, eu odiava Sebastian o suficiente para querer empurrá-lo pela janela na direção da Quinta Avenida. Mas eu sabia que não tinha chance contra ele, então simplesmente me levantei do sofá, caminhei até o banheiro e tomei um banho quente para aliviar a tensão.

***

— Por que você parece ter visto um fantasma?

Simon levantou uma sobrancelha para mim. Eu havia chegado cedo demais naquele dia — viera a pé, já que Jocelyn fora mais cedo para o trabalho para organizar a exposição de sábado —, então nós dois estávamos sentados na escadaria do colégio revisando uma lição de Geometria. Eu era realmente péssima naquilo. Tantos graus, tantos ângulos, tantos x a serem procurados... Minha cabeça estava com ânsia de vômitos.

— Eu vi um — resmunguei, rabiscando a imagem de um ângulo obtuso qualquer no caderno com raiva exagerada. — Sebastian.

Simon pareceu confuso.

— Irmãos são um porre, certo? — ele deu um sorrisinho.

— E se são — concordei.

— O que ele fez?

Pisquei, olhando para Simon. Se eu explicasse o que Sebastian havia feito, precisaria explicar o que havia acontecido antes, e eu realmente não estava a fim de conversar com Simon sobre quem eu beijava. Sequer havia falado com Maia ainda. Que saco.

— Nada fora do habitual — respondi, fechando o livro com força. — Olha, eu desisto. Que se dane Geometria.

— Diga isso quando tiver de frequentar a escola de verão — ele falou, no mesmo momento em que o primeiro sinal tocava. — Tenho que ir agora. Jornalismo é uma droga. Tchau.

Ele acenou enquanto se afastava, e eu acenei de volta. Caminhei a passos lentos na direção da sala de aula, querendo e não querendo ver Jace. Onde eu colocaria a minha cara?

Improvisando, peguei um livro assim que cheguei na sala — Misto-Quente, do Bukowski — e enterrei o olhar nele, fingindo estar muito interessada na narração. Falava sobre um garoto chamado Henry, mas eu não estava realmente lendo, só captando algumas palavras. Ouvi a algazarra quando as pessoas invadiram a sala e esperei por Jace para se sentar ao meu lado, mas foi só quando ele não apareceu que eu percebi que todos haviam entrado, menos ele — e foi assim, até o final da torturante aula. Jace simplesmente não estava lá.

Que droga. Certo, talvez fosse melhor assim. Eu não saberia como agir perto dele, mesmo.

Quando cheguei à aula de Geometria, vasculhei a sala com o olhar. Simon sorriu da sua cadeira, me convidando a sentar ao seu lado. E então meus olhos pararam sobre Isabelle Lightwood, que analisava as próprias unhas pintadas de vermelho. Lembrei do tom de Sebastian, que achava estar fazendo algum favor para mim.

Engoli em seco, lançando um olhar de Conversamos depois para Simon enquanto me encaminhava na direção de Isabelle. Me perguntei por que estava ligando para o que Sebastian pensava. E daí se Jocelyn soubesse? Ela teria de saber algum dia, certo?

Mas lá estava eu, me sentando na carteira ao lado de Isabelle Lightwood, a líder de torcida fútil. Por algum motivo, queria manter o que eu sentia por Jace só para mim, sem Sebastian para ameaçar aquilo, mas sem minha mãe também.

Isabelle levantou os olhos lentamente para mim. Eram castanhos e enormes. Pude sentir o olhar confuso de Simon sobre mim também, e meu rosto corou. Me esforcei para dizer:

— Oi, eu sou Clary.

— Eu não perguntei, na verdade — ela murmurou, uma sobrancelha erguida. Seu tom era meio... raivoso. Seu nariz torcido indicava que ela não apreciaria minha companhia. — Você não deveria estar com o seu namoradinho?

Abri e fechei a boca. Ela estava falando de Jace? Mas ninguém...

— Você parece exatamente o tipo de garota em que Simon estaria interessado — ela estreitou os olhos. — Não me surpreende. Dois idiotas se merecem, mesmo.

Apesar do insulto, eu escolhi o tema mais banal para protestar:

— Simon não é meu namorado — senti meu rosto corar mais ainda, e o olhar de Simon se intensificar. Olhei de esguelha para ele. Suas sobrancelhas estavam franzidas, e a boca meio aberta. Quando viu que eu olhava para ele, se virou para frente de novo, desviando o olhar. — Nós não... Não. Ele é só meu amigo.

Definitivamente. Eu não conseguia imaginar Simon daquele jeito. Ele era como um amigo de infância que eu por acaso só havia conhecido aos dezesseis anos.

Isabelle endireitou a postura e, por um segundo, pareceu surpresa.

— Não? — Ela inclinou a cabeça de lado, e sua voz diminuiu para um sussurro. — Ele sabe disso? Porque ele olha para você como se fosse a última Coca-Cola no mundo das Pepsis.

— E por que isso te incomodaria? — Perguntei.

Por um momento, ela quase pareceu sem uma resposta, mas então jogou o cabelo negro sobre o ombro e ergueu o queixo.

— Não incomoda.

Estreitei os olhos. Não era isso que o tom dela sugeria. Se não se tratasse dela, eu até pensaria que gostava de Simon. Mas era impossível. Eu não tinha certeza se líderes de torcida tinham a capacidade de sentir.

Mas, como era minha relação com Jace que estava em jogo, eu arrisquei:

— Você gosta dele? — murmurei.

Isabelle girou a cabeça para mim tão rapidamente que eu quase não vi o movimento. Ela pareceu com raiva e sem palavras, abismada e surpresa. Parecia até mesmo prestes a me estrangular, mais ainda do que antes. Mas respondeu, mesmo assim:

— Se fosse o caso, não seria da sua conta!

Reprimi um sorrisinho idiota. Tentei ficar alguns minutos quietas enquanto a professora falava sobre alguma coisa irritante. Mas não consegui evitar.

— Isso é tão clichê — comentei. — A líder de torcida e o cara nerd. Soa como um filme da Disney. Já pensou em vender os direitos autorais? Ganharia uma grana de milhões de pré-adolescentes sonhadoras.

Isabelle respirou fundo.

— Eu só não te mato agora porque sou contra a extinção das ruivas, tá legal? — Ela grunhiu. — Mas não se meta onde não é chamada.

Eu fiz que sim, mas, menos de dez minutos depois, continuei falando:

— Simon é um cara legal — dei de ombros. — E o melhor jeito de chegar até ele é falando sobre super-heróis. Talvez você devesse tentar.

O sinal tocou enquanto Isabelle me encarava, incrédula. Me levantei, sorrindo, e coloquei a mochila sobre os ombros. Caminhei para fora na direção do refeitório, e quase não fiquei surpresa quando vi que era Isabelle quem estava me acompanhando. Ela franziu os lábios para mim.

— Se você insinuar isso para alguém — seu tom era baixo —, eu juro que faço você de tapete, baixinha.

Sorri alegremente para ela.

— Se me prometer que limpará os pés antes de pisar em mim — pisquei.

Ela tentou evitar, mas sorriu também.

— Te vejo por aí — começou a se afastar, e até acenou ao virar num corredor.

Certo. Talvez aquilo não fosse tão difícil assim.

***

Quando o sinal de saída tocou, não consegui parar minhas pernas. Elas me levaram diretamente para a rua de Jace, cujo caminho eu havia curiosamente decorado. Eu queria descobrir por que ele havia faltado a escola naquele dia, porque não parecia algo que ele faria.

Bati na porta com certa hesitação. Ouvi os passos quando alguém se aproximou para atender, e rezei a todo e qualquer deus para que fosse Jace.

Mas não era. Assim que a porta se abriu, um rosto feminino apareceu, suave e pálido. Por um momento, fiquei com medo de que se tratasse de Aline, mas então as diferenças ficaram óbvias: o cabelo castanho ondulado, os olhos cinzentos, a expressão amável.

— Pois não? — Perguntou a garota. Ela não deveria ter mais de vinte anos.

— Eu sou Clary — falei, hesitando. — Eu... Estou procurando pelo Jace. Ele não foi à aula hoje, e...

— Ah, claro — a garota estendeu uma mão. — Eu sou Tessa. — Apertei sua mão. — Venha, ele está lá em cima.

Oh-uh. Entrar na casa não estava nos meus planos, muito menos subir para o segundo andar. Imaginei se ele estaria na biblioteca, mas desejei que não. Não depois do dia anterior.

Acompanhei Tessa até o andar de cima. Ela vestia roupas simples, mas era linda. Fiquei imaginando o que ela seria.

— Sou noiva de Will — ela falou, como se lesse meus pensamentos. — Ele é primo do Jace.

— Ah — foi tudo o que eu disse.

— Ele está ali — ela gesticulou para uma porta. — Sugiro que bata antes de entrar. Ele não está muito receptivo hoje.

Engoli em seco quando ela desceu as escadas. De repente, quis que fosse a biblioteca, porque aquele provavelmente era o quarto de Jace, e isso era dez vezes pior. Mil vezes pior. Centenas de vezes pior.

Mas eu não poderia simplesmente dar meia-volta e sair agora. Avancei e bati na porta. Ouvi a voz de Jace:

— Se for Will, vá embora.

Revirei os olhos. Era estranha a relação de Jace com o primo, e o fato de ele morar com Will. Onde estariam os pais dele? Abri a porta lentamente, imaginando o que encontraria do outro lado.

O quarto era pouco iluminado. Duas das quatro paredes eram tomadas completamente por estantes de livros, enquanto noutra havia uma enorme TV de plasma, rodeada por duas poltronas. A cama ficava no centro, e era larga. Jace estava lá, usando uma calça de moletom e uma blusa do Guns N' Roses. Quando me viu, pareceu surpreso. Fechou o livro que lia e se ajeitou na cama.

— Clary? — ele perguntou, como se não fosse óbvio. — O que você está fazendo aqui?

Boa pergunta.

— Só fiquei curiosa, me perguntando por que você não foi para o colégio — falei, me mantendo perto da porta caso aquilo ficasse estranho o suficiente a ponto de eu precisar fugir correndo. — Por que?

Jace encolheu os ombros.

— Não há um motivo, na verdade — ele murmurou. — Não um que sirva como justificativa, pelo menos.

Franzi a testa. Aquilo não fizera sentido o suficiente.

— O que quer dizer? — perguntei.

Jace suspirou.

— Você vai ficar aí na porta? Está começando a me deixar incomodado.

Engoli em seco e adentrei completamente no quarto, fechando a porta atrás de mim. Hesitando, sentei-me na beirada da cama, trinta centímetros afastada de Jace. Ele sorriu fracamente.

— Você nunca matou aula? Sabe, só porque não queria sair da cama — ele perguntou.

Dei de ombros.

— Não é como se eu tivesse opção, sabe — funguei.

Jace baixou os olhos para as próprias e suspirou longamente. Ficou em silêncio por um longo minuto que pareceu durar uma eternidade antes de finalmente falar:

— A verdade — seus olhos dourados encontraram os meus. Seus cabelo estava tão maravilhosamente bagunçado, e tudo o que eu queria fazer era entrelaçar meus dedos nele — é que eu precisava de um tempo para pensar. Pensar racionalmente, sabe? E eu tenho total consciência de que não conseguiria fazer isso estando perto de você.

Bom, aquilo era novo. Geralmente eu era que precisava de um tempo para pensar. Jace era mais do tipo que não refletia muito, eu acho. Mas fiquei feliz, de um jeito estranho, ao saber daquilo.

— Pensar sobre o que? — Perguntei, correndo o risco de soar intrometida. Mas, àquela altura, acho que já não importava mais.

Jace sorriu. Ele afastou um cacho dos meus olhos, e seus dedos esbarraram no meu rosto. Tentei controlar o arrepio que se arrastou lentamente pela minha espinha.

— Sobre tudo, eu acho — ele murmurou. — Clary, sinceramente? Acho que nunca fui tão apaixonado por uma pessoa quanto sou por você. Na verdade, acho que nunca me apaixonei, mesmo. É terrivelmente novo para mim.

Engoli em seco, desviando o olhar. Por que ele tinha que dizer aquelas coisas quando estávamos tão perto e sobre uma cama? Não era justo com a minha pessoa.

— Não é como se fosse diferente para mim, Jace — murmurei de volta. Reuni todas as minhas forças para olhar para ele. — Também é novo para mim, essa coisa toda. Mas eu tenho certeza de que é de verdade, sabe?

— Mas aí é que está — ele coçou a nuca. — Talvez isso seja mais importante do que eu possa lidar. Eu sempre estrago tudo, sabe? Sempre acabo afastando as pessoas que eu amo.

O quê?

— O quê? — repeti, sem pensar. Ele havia mesmo dito aquilo? Eu escutara direito?

Jace piscou, confuso. Demorou alguns segundos para entender a direção da minha pergunta e sorriu.

— Acho que eu falei demais — ele disse. — Verdade demais.

Jesus. Ele precisava parar de fazer aquilo. Inclinei-me na direção de Jace e encoste minha testa à dele. Seus olhos dourados pareceram me perfurar, e eu entrelacei meus dedos atrás de seu pescoço.

— Posso dizer outra verdade? — sussurrei, sentindo que fogos de artifício eram lançados em meu estômago e meu peito.

Jace piscou.

— Pode.

Sorri lentamente e o beijei, tomando cuidado para manter certa distância. Foi um beijo rápido, mas poderia ter durado uma eternidade. Eu sentia que o mundo havia se fragmentado ao meu redor, e só Jace existia.

— Eu amo você também.

Me afastei, sufocada pela intensidade daquele momento. Jace permaneceu me encarando enquanto eu recuava, feliz e assustada ao mesmo tempo. Eu nunca havia dito aquilo para ninguém além de minha mãe. Não era do tipo que dizia Eu te amo com facilidade. Mas parecia errado não dizer a Jace, e foi só naquele momento que eu percebi a verdade irrefutável daquelas palavras. Eu amava Jace, e estivera tempo demais inconsciente daquilo. Me sentia culpada por quase deixá-lo se afastar.

— Infelizmente, eu preciso ir agora — falei, me lembrando, de repente, de Sebastian. — Minha mãe estará em casa mais cedo, e Sebastian também.

Jace permanecia imóvel até então, como se afundado nos mesmos pensamentos que eu.

— Te vejo amanhã — ele falou.

— Te vejo amanhã — concordei, começando a abrir a porta. Enquanto saía, ousei me virar e dizer, lentamente e mais uma vez: — Amo você.

Jace abriu o mais belo dos sorrisos.

— Amo você.


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Notas finais do capítulo

Por algum motivo, adorei esse capítulo :3
Espero que tenham gostado, marujos! Mandem reviews, tá bem? Beijões!