You're The One escrita por Giovana Serpa


Capítulo 19
The one with the electricity


Notas iniciais do capítulo

Peeeeeeeessoinhas! Olhem, eu decidi que só vou postar sexta e/ou sábado. Então, se eu não postar durante a semana, não se assustem, ok? Acho que já comentei que minha vida é uma maratona de 100 metros rasos eterna. Queria voltar pra época em que a escola era resumida em contas de mais e menos, separar sílabas e verbo to be (tudo bem que eu estudo essa merda até hoje, mas acho que vocês me entenderam).
Eu sei que vocês estão esperando um capítulo de paixão ardente entre Clace. Só lendo pra saber u.u Mas aqui vai um pequeno spoiler: vocês provavelmente vão me matar... de abraços :3

Então, boa leitura.



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Clary

Eu não tinha cara suficiente para aparecer na aula de Inglês, mas tampouco tinha forças para deixar a oportunidade de ver Jace passar. Meu pescoço parecia pinicar, e eu sabia que não tinha nada a ver com o suéter felpudo que eu estava usando. Enquanto minha mãe dirigia — eu havia percebido que ela estava sempre de folga nas quartas-feiras —, eu ouvia música (era Drops of Jupiter, da banda Train) e Sebastian lia algo que parecia superinteressante em seu livro de História. Como ele conseguia?

Eu tentava não pensar em nada sobre o dia anterior. Nada. E isso acontecia desde o dia anterior. Mas, às vezes, inesperadamente, as memórias queimavam em minhas retinas quando eu fechava os olhos. Eu queria me enroscar nele e, por essa vontade ser tão avassaladora, vinha junto com um desejo de socá-lo. E depois beijá-lo. E depois socá-lo de novo.

Foi só quando o carro parou e eu joguei a mochila sobre os ombros que percebi uma coisa. No dia anterior, eu e Jace não havíamos exatamente terminado o trabalho para a aula de Inglês — havíamos feito um pequeno resumo, mas não era suficiente. Tentando não me lembrar do que havia ocasionado a distração, eu saltei do carro, ligeiramente desesperada.

— Clary! — exclamou minha mãe, assustada. — Onde você vai com tanta pressa? Salvar a América? Você quer que eu venha te buscar? Soube que os alunos do segundo ano vão sair mais cedo hoje.

— Não precisa! — respondi apressadamente, acenando para ela, e corri pelo pátio até a escadaria murmurando uma sequência de palavrões que deixariam minha mãe muito zangada.

Cheguei na sala de Inglês no mesmo momento em que o primeiro sinal tocou. Droga! Me joguei sobre a cadeira, rezando para que o professor houvesse faltado, concentrada demais no fato de que eu estava ferrada para poder reparar quando Jace entrou na sala, seguido pelos outros alunos. Ele se sentou ao meu lado em silêncio e eu pigarreei, endireitando a coluna. O calor se espalhou pelo meu rosto antes que eu pudesse evitar, e a sensação dos lábios molhados de Jace sobre os meus vieram junto. Eu as bloqueei, tentando abrandar meu rosto quente.

— Você percebeu que não fizemos o... — ele começou, sua voz soando impossivelmente impassível.

— Eu sei — interrompi. — Também sei o quanto estamos ferrados. Pois é, tenho total consciência.

Jace, por incrível que pareça, sorriu. Tive vontade de tirar aquele sorriso do rosto dele. Com um beijo.

Droga, Fray.

— Acho que eu posso resolver isso — ele falou, girando o olhar na direção do professor, que havia acabado de entrar na sala, usando seu impossivelmente clichê casaco de tweed com cotovelos de camurça. — Observe.

E então Jace se levantou, mesmo que sem permissão para fazer isso — o professor costumava ser bem rigoroso sobre interrupções, mesmo quando ele sequer tinha começado a aula —, e caminhou até o Sr. Brosnan. Ele falou alguma coisa em volume baixo, e o professor olhou para mim de repente. Com um suspiro de má vontade, ele assentiu para Jace, que girou e olhou para mim, sorrindo. Quando voltou novamente, eu levantei as sobrancelhas ainda mais, mas ele ficou em silêncio.

— Turma, decidi dar mais um dia para o prazo de entrega do trabalho — o professor anunciou. — Tragam amanhã — ele olhou para mim e Jace — ou estarão automaticamente de recuperação.

Meu queixo caiu um pouco, mas eu logo tratei de puxá-lo. Encarei Jace.

Como você fez isso? — perguntei, impressionada enquanto o professor rabiscava alguma coisa no quadro.

Jace encolheu os ombros.

— Charme — soou como uma pergunta, e seus lábios começavam a puxar de lado. E que boca, mas que droga.

— Jace Herondale estava seduzindo o professor de Inglês? — murmurei, segurando o riso.

Ele também pareceu segurar uma risada. Seus olhos não paravam num ponto só. Impressão minha, ou ele parecia não saber para onde olhar? Ficava me perguntando o motivo. Não poderia ser o mesmo motivo pelo qual eu não conseguia evitar a sudorese nas palmas das minhas mãos.

— Digamos que eu seja um dos únicos alunos que ele não odeia — ele falou, finalmente se virando para mim. — Ele já foi meu professor particular quando eu cheguei aqui, tinha treze anos.

Franzi a testa.

— Isto não deveria ser motivo... — comecei, mas fui interrompida por um pigarro do Sr. Brosnan. Ele me encarou por trás dos óculos, uma ameaça silenciosa de Você vai levar um F se não fechar a matraca agora mesmo. Pisquei. — Desculpe.

Ele se voltou novamente para o quadro. Jace, segurando um sorriso, pegou o lápis e rabiscou alguma coisa no meu caderno aberto em uma folha em branco. Dizia: duas da tarde na minha casa.

Segurei o nervosismo numa pequena caixa imaginária e me imaginei sentando sobre ela e a prendendo. Não parecia haver espaço para o nervosismo ao lado de Jace. Levantei uma sobrancelha enquanto escrevia; ou, pelo menos, tentei, porque Deus sabe que minhas sobrancelhas não agem fora de sincronia. Rabisquei de volta, tendo vergonha da minha letra de criança de 5 anos semialfabetizada. Escrevi apenas uma palavra: Depende.

Jace franziu a testa. Do que?

Eu estava cansada de escrever.

— Da quantidade da população oriental na sua casa — chiei para ele.

Jace suspirou e levantou os olhos para o professor antes de falar:

— A estimativa atual da população oriental na mansão Herondale é de 0.000 às duas da tarde — ele esfregou um olho com as pontas dos dedos. — Aline disse que iria sair hoje. Sair.

Ele soava desconfiado, mas tudo no que eu consegui pensar foi no rosto de porcelana de Aline. Ela parecia tão mais exótica que eu. Eu me sentia uma boneca de pano com cabelo de lã vermelha, com sardas rabiscadas de preto.

— Eu vou encarar seu silêncio como um sim — ele concluiu, e tudo o que eu fiz foi assentir. Mas ainda estava pensando em Aline e Jace. Se beijando.

Uma espécie de raiva bem específica entupiu minha garganta, do tipo que você sente quando sua mãe compra doces para outra criança, só que mais potente. Ciúmes. Olhei para Jace, apenas para medir os níveis da minha raiva. Mas Jace sorria, e tudo se derreteu como um cubo de gelo que voa diretamente para o sol.

Fray, pensei, balançando a cabeça, você é uma idiota.

***

Às uma e meia, eu estava uma pilha caótica de nervosismo. Simon estava sentado ao meu lado na aula de História — ele havia se mudado para aquela classe depois de perceber que reprovaria em Computação, porque, apesar de ser um geek, ele não entendia nada de HTML.

Mas, para o azar dele, Isabelle Lightwood estava lá. Ela jogou uma bolinha de papel na nuca dele. Era a primeira vez que eu via uma menina tão graciosa quanto ela arremessar uma bolinha de papel.

— Lewis, tira o cabeção da frente.

Simon respirou fundo e esticou as costas, apenas para ficar mais alto e, consequentemente, tampando mais ainda a visão de Isabelle. Ela grunhiu. Eu sorri.

— Eu juro que vou aí arrancar todo e cada fio de cabelo judeu dessa sua cabeça se você não sair da minha frente agora — ela ameaçou. Impressão minha ou ela estava entretida?

Simon finalmente se virou para ela, e eu estava apenas encarando o pequeno conflito.

— Isso é nazismo, Izzy?

Ela mostrou os dentes no mesmo momento em que o sinal tocava. Eu lancei um sorrisinho malicioso para Simon. Ele ergueu uma sobrancelha para mim.

— Que foi? — perguntou.

— Vocês se merecem — eu falei, ajeitando os livros dentro da mochila. — Já pensaram no nome do primeiro filho? O que acha de Lucinda? Talvez Gabriel...

Simon fechou a cara.

— Te vejo por aí, Fray — ele fingiu sorrir e virou num corredor.

Abri e fechei a boca, mas Jace apareceu do nada, destruindo minhas intenções de ir atrás de Simon. Eu quase havia me esquecido dele. Quaaaaaase.

— Oi, Fray — ele falou, imitando Simon. Fiz uma careta. — Certo. Prefere Adele? Talvez Clarissa?

— Como sabe meu nome todo? — perguntei, descendo os degraus com velocidade para acompanhar os passos rápidos de Jace. — Você não leu minha ficha, né? Porque isso é crime. Eu posso ligar para a polícia.

— Ah, claro — ele revirou os olhos. — Mas não vou falar dos meus meios. Enfim, vamos logo, antes que comece a chover.

Pisquei, e meu rosto imediatamente corou quando vi o sorrisinho que Jace lançou para mim. Fiz uma nota mental de sempre andar com um guarda-chuva de agora em diante, mas queria poder ter um buraco onde me esconder.

Nós andamos o resto do caminho falando sobre como Jace gostava do meu nome inteiro e como eu achava que ele tinha algum problema mental, assim como minha mãe também tinha. Mas, lá no fundo, eu estava dando cambalhotas de felicidade e dançando com ninfas alegres.

Quando chegamos à casa de Jace, mal tinham passado alguns minutos. Assim como naquela manhã, eu empurrei o nervosismo de lado e tranquei-o num quarto escuro. Olhei para Jace com olhos estreitos.

— Você herdou a fortuna da rainha da Inglaterra ou...

— Eu posso ser um filho bastardo do príncipe William que ele quer manter calado — ele imitou um sotaque inglês e ergueu o queixo, as pálpebras caídas, exatamente como os ingleses falavam. Inutilmente, tentei não rir. — Certo, sua risada é adorável.

Eu imediatamente parei de rir para encará-lo, e Jace apenas sorriu e empurrou a porta aberta, desviando os olhos de mim. Meu rosto queimou mais que um incêndio numa fábrica de petróleo. Mas... Existiam fábricas de petróleo? Eu não sabia ao certo.

O mesmo hall luxuoso me engoliu. Eu pisquei para a iluminação fraca e tirei um cacho do rosto para encarar o tapete rico em detalhes e os castiçais. Eu sentia como se morasse num abrigo para animais de rua.

— Vamos para a biblioteca.

Para a minha surpresa, Jace agarrou minha mão. Eu arfei antes de ser arrastada escadas acima. Tentei não lembrar de Aline enquanto percorríamos corredores e mais corredores, como num labirinto. Jace finalmente empurrou as trancas de portas duplas numa parede e o cheiro acolhedor dos livros me envolveu como se me pegasse no colo. Eu respirei fundo o cheiro de páginas, couro e café.

Percorremos um estreito corredor entre estantes e nos sentamos em duas poltronas de couro. Afundei no tecido, sentindo-me aconchegada. Eu queria dormir ali. Com Jace bem ao lado. Mas que...

— Você parece drogada — Jace interrompeu meus pensamentos. Eu abri um olho que sequer percebera estar fechado.

— Livros — expliquei e, embora não fosse exatamente aquilo, era em parte verdade. — Livros para todo lugar.

— Achei que você não gostasse muito de ler — ele sorriu de lado.

Balancei a cabeça.

— Não gosto de ser obrigada a ler — falei, cruzando as pernas. — Na escola, eles fazem com que o ato de ler seja algo tedioso. Eu prefiro ler em varandas bonitas, com o gosto do verão para todo lugar, com o som do vento... Esse tipo de coisa. Não gosto de ler com aquele sentimento de que estou prestes a ser reprovada, sabe?

Jace olhou para o teto. Parecia pensativo.

— Isso foi possivelmente a coisa mais profunda que você já me disse — ele riu, me levando a rir também. — Mas temos que acabar logo com esse trabalho, ou seremos reprovados.

— É — foi tudo o que eu respondi enquanto pescava minhas anotações do dia anterior, que estavam meio borradas pela chuva, e os livros.

Ficamos alguns minutos debatendo sobre quem escreveria o trabalho. No final, eu convenci Jace a escrever. Minha letra era uma droga, e era como se meus dedos fosses tentáculos. Eu não sabia como conseguia desenhar até mesmo razoavelmente bem.

E, principalmente, a combinação entre a narração constantemente magnética à atenção e as fascinantes memórias de Scout cria um enredo perfeito para qualquer um — concluí, e Jace escreveu. Ficamos alguns segundos encarando nossa obra-prima. — Nem acredito que eu colaborei com isso.

Jace colocou a resenha dentro do livro de Inglês de o guardou. Bom. Eu provavelmente esqueceria se ficasse com o trabalho. O silêncio reinou de repente, e eu fiquei encarando as prateleiras de livros, perguntando-me se alguém seria capaz de lê-los mesmo numa vida inteira. Eu queria poder construir um casulo ali e ficar para sempre.

— Clary, eu estava pensando sobre ontem — ele falou de repente. Olhei para os meus sapatos, deixando que o cabelo caísse sobre meu rosto. Pelo canto do olho, vi Jace se inclinar na minha direção. — E... Bom... Eu não sei o que realmente aconteceu.

— Nos beijamos — simplifiquei, mas eu sabia o que Jace queria dizer. Ergui os olhos.

Jace sorriu.

— É. Mas eu não sei o que isso significa.

Significa que nossas bocas se tocaram.

— Nem eu — falei, ousando olhar para ele. Jace me encarava. — Mas, afinal, não dizem que as melhoras coisas são inexplicáveis?

Jace ficou imóvel por um tempo, mas não durou muito. Nós nos levantamos ao mesmo tempo, e nossos corpos colidiram num aperto perfeito. Jace pressionou uma mão quente em minha nuca e a outra em meu rosto, seus braços fortes envolvendo meus ombros quase que de modo sufocante. Eu apertei seus ombros com a mão, tentando puxá-lo para perto. Havia apenas alguns centímetros entre nós, mas parecia uma galáxia inteira. Eu nunca havia desejado tanto percorrer o espaço.

O beijo pareceu urgente, e eu sentia como se cada parte do meu corpo estivesse levando pequenos choques elétrico. Apertei Jace o melhor que podia e, de algum modo, tropeçamos para trás. Jace despencou para trás na poltrona, e eu caí sobre ele, meus joelhos de cada lado de suas pernas. Ele pressionou meus quadris, as mãos enfiadas sob a camisa, e eu segurei seu rosto. Não conseguia pensar em nada além dos lábios de Jace, suas mãos tocando minha pele, ativando minhas terminações nervosas mil vezes mais intensamente do que eu acharia possível. Eu me inclinei ainda mais contra ele, minhas costas arqueando. Meu mundo todo era resumido a ele.

Até que o celular vibrou no meu bolso, e depois gritou Bulletproof Picasso, que era o toque de minha mãe. Corada e assustada, eu saltei para trás, aterrissando de pé. Girei de costas para não precisar encarar Jace, que me olhava com olhos arregalados. Saquei o telefone do bolso e atendi.

— Alô — eu estava arfando. Sentia como se minha mãe estivesse ali, olhando para mim, sentada no colo de um garoto apenas dois segundos antes.

— Onde você está?! — Minha mãe gritou. Realmente gritou. — Já são três horas, e você deveria estar em casa há uma hora! Uma. Hora! Explique-se imediatamente!

Esfreguei a testa. Droga.

— Desculpe por não ter avisado, eu estou fazendo um trabalho de Inglês — Verdade. — Na casa de... uma amiga — Mentira.

— Ah, é? — sua voz era desconfiada. — E que amiga seria essa?

Falei o primeiro nome que me veio à cabeça.

— Isabelle. Isabelle Lightwood — praguejei para mim mesma. Caramba. — Eu já estou indo para casa agora, na verdade — sem olhar para Jace, peguei minhas coisas. — Saí da casa dela agora. Preciso ir, o sinal está quase fechando e eu preciso atravessar, a menos que queira que eu seja atropelada.

Jocelyn suspirou e desligou o telefone. Claramente, ela estava zangada. Ótimo!

— Isabelle, hein? — Jace sorriu. Idiota. — Por que tem tanto problema em dizer a verdade?

— Você, claramente, não conhece minha mãe — resmunguei, ainda mantendo os olhos presos no cadarço. Meu rosto queimava. — Jocelyn Fray reclama quando eu demoro mais de vinte minuto para chegar em casa.

Sem que eu visse, Jace estava parado à minha frente num piscar de olhos. Ele colocou a mão sob o meu queixo, forçando-me a olhar para ele. Afastei um cacho do rosto, no mesmo momento em que Jace se inclinava para frente e tocava de leve minha bochecha com seus lábios. O auto-controle dentro de mim desmaiou.

— Te vejo amanhã — ele sussurrou no meu ouvido. Queria me enroscar nele como um parasita. — Certo?

Fechei os olhos.

— Isso não é justo — murmurei, desconcertada. — Queria poder fazer esse tipo de coisa com você.

Eu senti seu sorriso.

— Você faz. O tempo todo, Fray. O tempo todo.


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Notas finais do capítulo

AEHOOO, CLACE NA ÁREA! :3 Ai, ai, só Raziel sabe o quanto eu fiquei feliz escrevendo esse capítulo. Mas, como eu sempre digo, nada é perfeito (nem mesmo o Jace, sinto em decepcionar).

Então, mandem reviews! Beijos, seus lindos e lindas.