You're The One escrita por Giovana Serpa


Capítulo 17
The one with the discover


Notas iniciais do capítulo

Oi, gente :) Eu preciso ser breve aqui porque, neste exato momento, eu estou "trabalhando", vocês sabem. Hipoteticamente, eu estou "fazendo uma grade de horários" e toda essa baboseira empresária. Mas, shh, ninguém precisa saber. Além do mais, eu tenho direito, porque não deveria estar trabalhando ;-; A escravidão tá forte aqui, gente.
Então, eu usufruí bastante da minha nerdice (Sim, eu sou bastante nerd. Tenho até um sabre de luz de Star Wars, pra vocês terem uma noção. E tiro 10 em Álgebra u.u)
Boa leitura :3



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Clary

— Clarissa Fray, qual parte do "não seja você mesma" a senhorita não entendeu? — Maia praticamente berrava do outro lado da linha, e eu precisava afastar o celular do ouvido para evitar uma fratura permanente no meu tímpano. — Eu te avisei! Você sabe o quanto está sendo idiota, né? Por favor, diga que sim.

Respirei fundo, passando a mão pelo rosto. Eram sete da manhã de uma segunda-feira cinzenta, mas eu havia ligado para Maia mesmo assim. Afinal de contas, todo o mundo em Vermont acordava junto com os galos ou com o sol. Eu falava com ela enquanto prendia o cabelo num rabo-de-cavalo, tentando não deixar aparente na minha voz o quanto eu me sentia estúpida.

— Olha, May, eu só estou com medo, tá legal? — admiti, agarrando meu material de arte da mesa e jogando dentro da mochila. — Sabe quantos caras eu já beijei? Três! E adivinha só quantos namorados eu já tive? Nenhum. Eu não sou do tipo que tem experiência romântica. Sou mais como aquelas garotas que ficam assistindo filmes de super-heróis e comendo pizza de mozzarella no final de semana.

Deu pra sentir o revirar de olhos da Maia mesmo com milhares de quilômetros nos dividindo. Despenquei sentada sobre a cama, esperando pela resposta dela.

— Certo, você tem razão — ela murmurou pensativamente. — Mas, olha, você precisa parar de ser paranoica, ok? Eu já estava até arrumando nomes de casais para vocês dois! O que acha de Clace?

— Pare com isso — repreendi, colocando a mochila sobre o ombro e saindo. — Sério, pare. Não estou com humor para o seu sarcasmo. Nada pessoal. Sabe que eu fico um porre quando estou confusa.

Maia riu, concordando.

— Você está sempre um porre, Fray — ela respondeu. — Olha, eu tenho que ir agora. Jordan vai passar daqui a pouco para me pegar.

— Divirta-se na aula de Economia — ofereci, um sorriso meio diabólico tomando conta do meu rosto.

— Oh, pare — ela gemeu em má vontade. — Eu juro que vou enfiar um lápis na minha garganta se tiver que aturar mais conversas sobre como o gado é superimportante para a nossa sociedade e blá-blá-blá.

Não consegui evitar uma risada enquanto entrava na cozinha.

— Tchau, Roberts — me despedi.

— Tchau, Fray — ela respondeu. — E não se esqueça: ignore Sebastian. Ele é um esquisitão, e você sabe disso. Aliás, acho que ele tem até algum tipo de problema mental... Mas, enfim. Tchau, tchau.

Desliguei, ignorando os olhares curiosos de Jocelyn e Sebastian. Peguei uma barra de cereal com cobertura de chocolate e açúcar e devorei tudo em poucos minutos, fazendo total silêncio e me concentrando inteiramente na missão de morder, mastigar e engolir; morder, mastigar e engolir; morder, mastigar e engolir.

Eu e Sebastian saímos de casa em silêncio, e percorremos as ruas nesse mesmo estado, ele mergulhado nos próprios pensamentos e eu nos meus. Eu não sabia o que pensar além de Jace, então deixei minha mente vagar por ele. Lembrei-me de seu rosto reto, anguloso e tão perfeito que beirava o ridículo. De sua pele dourada, dos olhos dourados, do cabelo dourado. Definitivamente, dourado era minha nova cor favorita. Mas eu me sentia um lixo. Idiota. Desprezível. I-di-o-ta, com todas as letras e fonemas.

O arrependimento era como um tapa na cara. Ou, mais especificamente, repetidos tapas na cara, e vozes no fundo da minha mente que gritavam “Por que você é tão estúpida, Clarissa? Por quê?!”. Era uma tortura constante, e tudo o que eu queria era correr para Jace e enroscar meus braços em seu pescoço, descobrir qual era a sensação de abraçá-lo por uma eternidade, como se ele fosse meu mundo inteiro. Porque, naquele momento, eu sentia como se fosse. Mas, agora, eu havia afastado Jace, e eu era como uma Terra sem sol: escura, fria e mórbida. Ameaçando partir ao meio.

Quando cheguei em St. Xavier, me afastei rapidamente de Sebastian e corri para a aula, porque já estava quase atrasada, e eu queria chegar lá antes de Jace. Felizmente, eu consegui. Cheguei à sala e ela ainda estava vazia. Despenquei pesadamente sobre a cadeira de sempre — uma parte da minha mente se perguntou desde quando aquela era a cadeira de sempre — e joguei a mochila ao meu lado com o mínimo de cuidado possível. Eu não estava preparada para ver Jace, então parei de pensar num modo de tornar aquilo mais fácil, porque não havia. Definitivamente, não.

Assim que o último sinal tocou, eu soltei a respiração, que nem sequer percebera estar prendendo. O primeiro a entrar, infelizmente, foi Jace. Ele me olhou por um segundo, e eu pensei ter visto seu rosto corar. Mas era impossível. Jace Herondale não corava, e muito menos por minha causa. Talvez ele só estivesse com raiva.

Desviei o olhar quando ele se sentou ao meu lado em silêncio e fingi não estar prestando atenção em nada. Os outros alunos e o professor não demoraram a chegar, o que foi um alívio tremendo. Peguei meu livro de Inglês e o abri em qualquer página, não realmente prestando atenção. Eu olhava a cada dois minutos para o relógio, mas uma hora pareceu durar uma eternidade naquele momento. Só queria me ver livre da tortura que era estar ao lado de Jace, tendo que me preocupar em não tocá-lo acidentalmente com o braço, porque seria demais para mim. Alguma parte da hesitação do domingo anterior estava de volta. Eu tinha medo de me envolver demais com Jace e acabar saindo machucada. Cada pequena parte das minhas células gritava por ele, mas havia aquele buraco no meu peito que eu não conseguia entender.

Foi então que a voz do professor interrompeu meus pensamentos embaralhados. Era num tom de anúncio que ele dizia:

— Alunos, eu quero uma resenha de O Sol é para Todos, bem simples, de pelo menos vinte linhas — ele olhou para mim e Jace. — E eu quero para depois de amanhã, então eu aconselho que vocês se apressem. O bimestre já está na metade e eu preciso das notas até a tarde de quinta-feira. Não se esqueçam das avaliações na semana que vem, também.

Houve uma série de protestos, inclusive os meus próprios, mas o Sr. Brosnan dispensou todos eles com um giro descuidado da mão.

— É só uma resenha, não é pedir demais — ele repetiu. — E ela deverá ser feita em dupla. Isso é tudo. Eu estou dando pontos extras praticamente de graça para vocês, parem de reclamar.

Eu sempre havia imaginado professores de Inglês como pensadores complexos, mas o Sr. Brosnan era mais prático do que qualquer coisa. Ele não nos incitava a ter pensamentos profundos, pelo menos não propositalmente. Àquela altura, eu já havia percebido o quão ridículos eram os esteriótipos, mas não conseguia deixar de percebê-los.

O sinal tocou menos de um minuto depois, e eu fui a primeira a saltar da carteira para sair, agarrando minha mochila no caminho. Mas fui segurada no cotovelo por alguém que, mesmo antes de me virar, eu já sabia quem era.

— O que foi? — perguntei, sem conseguir controlar o sotaque caipira que foi mais carregado em três palavras do que poderia ser na leitura de um texto inteiro. A pergunta saiu mais como um suspirado e anasalado "Uquifoi?" do que qualquer outra coisa.

— É... Sobre... a resenha — o que ele fez não foi exatamente gaguejar, mas sim um longo período de tempo espaçando as palavras. — Precisamos...

— É, eu sei — respondi, interrompendo-o. Sequer tinha ideia de como encontrara minha voz, já que havia um laço apertado prendendo minhas cordas vocais. — Podemos nos encontrar no Central Park amanhã depois do colégio, o que acha?

Ele deu de ombros, me encarando tão profundamente que eu fui obrigada a desviar o olhar, sentindo meu rosto corando como nunca.

— Então, até — acenei levemente antes de me virar e sair, sem parar para escutar a resposta de Jace, obrigando-me a ficar com a cabeça vazia pelo menos até a aula de Geometria, quando Simon e suas conversas confusas sobre HQs e o crucial tópico "Razões pelas quais a Marvel é melhor que a DC Comics" me distrairiam. Mas era impossível não perceber a cratera se abrindo em meu peito.

***

— Tudo bem que o Batman é o Batman, mas eu realmente acho que os X-Men dão de dez à zero na Liga da Justiça — Simon gesticulava, mas não olhava para mim enquanto falava, provavelmente para não deixar claro para a professora que estávamos conversando. — Sem falar dos Vingadores, ignorando o fato de que, nos quadrinhos, o Homem de Ferro é um pé no saco.

Eu provavelmente entendia apenas 1/5 do que ele falava, mas ainda assim era engraçado. Era como quando eu, Jordan e Maia jogávamos o velho Playstation 1 do irmão dele: não estendíamos realmente, mas era divertido rir uns dos outros quando alguém ficava preso numa fase ou morria pelas mãos de uma bruxa má.

— Acho que eu já entendi — respondi. — Marvel manda na bagaça toda, certo?

Ele sorriu, virando ligeiramente a cabeça na minha direção.

— Eu ensinei direitinho, não é?

Soltei uma risada discreta no mesmo momento em que o sinal do intervalo tocou. Lentamente, coloquei meus livros de Matemática — sim, existiam mais de um apenas — na mochila. Acompanhei Simon a passos lentos para o lado de fora, e, como, depois do semestre passado, nossos almoços haviam mudado de horário, caminhamos direto para o refeitório.

— Esse lugar é um zoológico — comentei quando chegamos. Havia pessoas gritando e rindo, até mesmo alguns caras jogando basquete num canto e arremessando a bola propositalmente no clube de xadrez.

— E a hierarquia dos leões permanece firme e forte — ele concordou, se referindo ao time de beisebol e basquete, além das líderes de torcida, que denominavam a si mesmos de Leões de St. Xavier. Percebi ligeiramente o olhar que ele lançou para Isabelle Lightwood, sentada com outras garotas de minissaia. — Ei, o que acha de sair daqui?

Pisquei para ele, franzindo a testa.

— Não somos obrigados a estar aqui? — perguntei.

— Somos — seu olhar era cúmplice, e eu automaticamente sorri. — Mas sabe a quadra nos fundos?

Fiz que não com a cabeça, porque eu não fazia ideia de que lugar ele estava falando.

— É a antiga quadra do colégio, que eles usava antes de construírem o ginásio coberto — ele explicou, se virando para a porta do refeitório e gesticulando para que eu o seguisse. — É fechado, mas eu vou lá de vez em quando.

Então nós saímos, e ele permaneceu tagarelando sobre a quadra do lado de fora. Era incrível o dom de Simon de falar pelos cotovelos e permanecer interessante.

Nós atravessamos corredores vazios, entramos num minúsculo pátio de cimento que eu nunca havia visto antes e paramos em frente a o que parecia ser a tal quadra. Havia uma fita amarela que dizia NÃO ULTRAPASSE, mas Simon sequer olhou para ela. Ele caminhou na direção de uma abertura na grade quadriculada e se agachou para entrar lá. Eu fiz o mesmo.

— Uau — estremeci. — Aqui é frio.

Simon se colocou ao meu lado, como se quisesse me esquentar, mas ele também estava gelado. Murmurando sobre como aquele lugar parecia uma versão de cimento do Alasca, nós fomos na direção da arquibancada e nos sentamos.

— É estranho — comentei, olhando para o teto aberto para o céu escuro. — Parece outro mundo, de algum modo.

E era verdade. Era frio e isolado, como um reino de gelo numa dimensão mágica. O céu era como um teto de vidro, e os ecos ao redor deixavam os barulhos menos identificáveis.

— Tem razão — ele disse. — Nunca tinha reparado isso. Deve ser uma das vantagens de conhecer uma garota artista, né?

— Provavelmente — sorri, colocando as mãos nos bolsos do casaco. — E quais são as vantagens de ter um amigo músico?

Ele levantou uma sobrancelha.

— Bem, isso só você pode responder, eu acho — ele pareceu ligeiramente decepcionado com a minha pergunta, mas eu não entendi exatamente por que, então deixei pra lá.

Nós ficamos em um silêncio absoluto desde então, um silêncio que, normalmente, seria aprisionador, mas era agradável ao lado de Simon. E, mesmo no silêncio e naquele lugar — maravilhosamente — frio, o buraco que a falta de Jace provocava parecia preenchido. E foi no mesmo momento em que o sinal do fim do almoço terminou que eu percebi: Simon era uma espécie de porto seguro no meio do mar revoltoso que era minha vida naquele momento. Muitas coisas estavam acontecendo ao mesmo tempo, mas Simon permanecia o mesmo desde que eu havia conhecido — o que parecia uma eternidade, e não apenas alguns poucos meses.

E alguma coisa saltou em meu estômago enquanto caminhávamos para o colégio novamente. Era uma espécie de sentimento novo, que se embolava com tudo o que já havia lá. Eu não sabia com exatidão o que era, mas era tão forte que eu quase fiquei tonta, e enrosquei meu braço no de Simon para me apoiar. E ficar perto dele era bom, agradável e constante. E, no meio de toda a incerteza que se passava por minha cabeça, aquilo era tudo o que eu precisava naquele momento. Simon. Simon era tudo o que eu precisava.


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Notas finais do capítulo

Eu sei que não teve muita "ação" nesse capítulo, mas eu prometo que vai ter no próximo. Acreditem em mim!

Bem grandinho, né? E, tipo, admitam que, apesar de Clace arrasar mais do que tudo, Climon é fofinho :v Mas não se preocupem com essa proximidade deles dois... Ou se preocupem... (Vocês querem me bater? Por favor, não me batam. Eu gosto de vocês, por incrível que pareça xD)

Beijões :*