You're The One escrita por Giovana Serpa


Capítulo 12
The one with the uncertainties


Notas iniciais do capítulo

Desculpem por essa pequena demora e.e Eu fiquei escrevendo e rescrevendo esse capítulo porque ele meio que não saía como eu queria, mas agora eu estou satisfeita. Só para avisar: Não tem muito de Clace (pelo menos, não "fisicamente") nesse cap. Pois é, pois é, eu sei que vocês estão ansiosos pra isso (e eu também!), mas ele é tipo uma introdução pros acontecimentos seguintes da história. Temos alguns personagens novos aqui :3 Ah, e tem narração inteirinha do Jace u.u

Boa leitura!



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Jace Herondale

— Sabe, eu realmente acho isso desnecessário — repeti pela milésima vez, cruzando os braços e intensificando a carranca.

— Bem — Will respondeu, usando seu raro tom de guardião legal responsável enquanto ajeitava a jaqueta em frente ao espelho que havia ao lado da porta. — É uma pena. Porque você sabe que temos que fazer isso, Jace.

— Não temos, não — bufei. — E daí que eles eram amigos da nossa família? Isso não significa que temos que recebê-los. Não significa que temos que ser amigáveis com eles ou nada disso.

Will não falou nada, o que me fez perceber que ele concordava comigo. Talvez só estivesse tentando ser responsável ou algo assim, então eu tratei de ficar quieto, mesmo que aquela situação me deixasse mais do que irritado.

Eu havia acordado perfeitamente feliz no domingo, tão feliz que sequer percebia o quanto estava perdido no meio da situação que eu mais temia. Tudo no que eu pensava era em Clary, no sorriso de Clary, no rosto de Clary. E então, quando Will chegou do apartamento de Tessa, me lançou aquela notícia depreciativa: os Penhallow, antigos amigos da família Herondale (quero deixar registrado que eu sequer me lembro da cara dessas pessoas com precisão, e muito menos me sinto como alguma espécie de amigo deles), haviam chegado de Pequim e passariam um tempo em nossa casa até que tivessem uma vida estabilizada o bastante em Nova York para que pudessem seguir sem ajuda.

Sinceramente, na minha opinião, eles eram uns verdadeiros bocós aproveitadores. Apenas isso e nada mais.

Enfim, aquela notícia havia meio que estragado meu dia, e pensar em Clary era apenas uma maneira de dizer a mim mesmo que eu poderia estar tranquilo, lendo um livro enquanto me permitia simplesmente lembrar dela — coisa que eu havia evitado por aquele tempo —, mas que seria obrigado a receber aquele pessoal. Grande droga de vida.

— Você costumava ser amigo de Aline — Will disse de repente, o rosto torcido numa sutil careta. — Sabe, quando os dois tinham uns sete anos.

— O Jace de sete anos era meio idiota, embora absolutamente magnífico — dei de ombros. — Você sabe, aquele Jace quis tomar banho de macarrão – e conseguiu.

A pior parte era que essa história era realmente verdade, e pensar naqueles tempos me fazia ter saudades de Los Angeles, mesmo que o banho tenha sido nojento e pegajoso. Will riu, mas foi interrompido pelo estridente e desnecessário barulho da campainha, já que estávamos parados bem na frente da porta. Soltei um suspiro, qualquer resquício de bom humor se esvaindo enquanto a campainha soava mais uma vez pela casa inteira.

— Seja legal — alertou ele, se esticando para abrir a porta, e eu apenas revirei os olhos.

A primeira pessoa que vi foi uma mulher asiática com curvas acentuadas nas bochechas, olhos estreitos como se ela estivesse eternamente desconfiada e cabelo escuro na altura dos ombros. Essa era Jia. Ela carregava uma mala tão pequena atrás de si que eu me perguntei o que diabos poderia caber ali dentro além de um livro. Foi seguida por seu marido — Patrick, um cara comum, sem nada asiático, apenas um nariz reto e testa franzida — e, depois dele, uma garota pequena da qual eu me lembro vagamente: Aline. Ela se parecia absurdamente com a mãe, embora seus olhos fossem um pouco mais arredondados e os ossos da face menos acentuados. Ela estava praticamente escondida dentro de um casaco vermelho enorme que contrastava com a escuridão de seu cabelo. Percebi com certo espanto que ela sorria para mim, e, sentindo o olhar de Will, retribuí o sorriso, embora não com o mesmo entusiasmo.

— É bom rever vocês — disse Will, que estivera envolvido em alguma conversa entediante com Patrick e Jia. — Faz tempo que não vemos amigos antigos. Não é, Jace?

Sequer prestando muita atenção no que ele está dizendo, eu resmunguei:

— É claro.

Mas, obviamente, isso era uma mentira. Em silêncio e ignorando as tentativas de Aline de começar uma conversa — eu geralmente respondia com "Hum" ou "Legal" num tom que sugeria que não, não era legal —, eu ajudei os três a levarem as malas para os dois quartos de hóspedes que eles usariam. Deviam ser apenas umas oito da manhã, então ainda estava terrivelmente frio na casa, mesmo com o aquecedor ligado, e Aline me disse:

— Nova York é mais gelada do que eu esperava.

— É o que todo mundo diz — confirmei, porque as pessoas geralmente esperam demais de Nova York, como se ela devesse ser a cidade perfeita. Sabia disso porque foi o que pensei quando cheguei no lugar, um pirralho de treze anos com muito com o que lidar. — Mas você acostuma.

Ela sorriu.

— Pois é, espero que sim — disse, dando de ombros, e estreitou os olhos para mim, o que a fez parecer com Jia mais ainda. — Acho que... Vou gostar daqui.

Fui livrado de ter que oferecer uma resposta quando Will surgiu no corredor, as sobrancelhas erguidas, e disse:

— O café da manhã vai ser servido, senhores. Os que estiverem famintos, me sigam.

***

A coisa irritante sobre as noites de domingo é que elas sempre antecedem as manhãs de segunda. E, convenhamos, segundas são uma droga normalmente.

Mas é claro que eu não estava em meu estado normal, então eu estava ansioso para que a segunda-feira chegasse. Eu havia me escondido na biblioteca, o único lugar onde o tempo parecia passar rápido o suficiente. Escolhi um livro antigo qualquer — acho que era Divina Comédia (para os desinformados, não tem nada a ver com um livro de comédia), de Dante — e afundei numa das poltronas antigas de veludo verde perto da lareira. Também carregava uma xícara de chá para ver se o sono chegava mais rápido.

Infelizmente, enquanto estava na metade de Inferno, a primeira parte do livro, minha leitura foi interrompida por um rangido que só poderia indicar que as portas duplas da biblioteca estavam sendo abertas. Como eu estava nos fundos, fiz silêncio e rezei para que quem quer que estivesse ali não me encontrasse. Eu só queria ficar sozinho um pouco com os meus pensamentos, o que eu não fora capaz de fazer o dia todo, já que precisara fazer uma eterna sala para os nossos "hóspedes".

Mas alguém parecia disposto a atrapalhar meus planos. Escutei passos vindo na direção do lugar onde eu estava, e apenas observei enquanto Aline passava os dedos pelas lombadas de livros nas prateleiras. Quando me viu, jogado sobre a poltrona, sobressaltou-se com o susto e levou a mão à testa.

— Pelo amor de Deus, você me assustou — reclamou, como se eu fosse o culpado.

Levantei uma sobrancelha.

— Achei que na Ásia todo mundo fosse budista — falei, num tom de devaneio. — E aí dissessem coisas como "Pelo amor de Buda" e "Buda te abençoe".

Ela revirou os olhos, aparentemente irritada com a minha observação, mas não muito. Sem sequer ser convidada, sentou-se na poltrona que havia ao meu lado, separada da minha por uma pequena mesa de madeira. Ficou em silêncio por um tempo antes de murmurar:

— Depois do que aconteceu, não tive a chance de dizer o quanto sinto muito sobre sua família, Jace. Eu era só uma criança quando os conhecia, mas eram pessoas ótimas. Aposto que, agora, estão num lugar bem melhor.

Me esforcei bastante para não revirar os olhos. O jeito como as pessoas agiam como se o incêndio fosse culpa delas — Oh, pequeno garoto órfão, eu sinto muito por seus pais terem queimado até a morte — era irritante, mas Aline não tinha culpa de fazer parte da sociedade comum. Talvez eu tivesse culpa de não fazer parte dela, na verdade.

Na morte há pouco mais de acerbidade — murmurei, encarando o livro sobre o meu colo.

Para a minha surpresa, Aline sorriu abertamente.

— Dante — reconheceu. — É um dos meus poemas preferidos, embora o começo seja meio... Mórbido?

— Mórbido — concordei, e ergui o livro para que ela pudesse ver a capa. — Estou lendo. Pela décima quarta vez, mais ou menos.

— Já experimentou ler Helena Kolody? — Perguntou, e eu balancei a cabeça negativamente. — Talvez devesse tentar ler. São poemas do tipo sem nexo, quase irritantes, mas tudo o que você encontra neles é a verdade. Gosto dos poemas dela, me fazem pensar.

Eu queria dizer para ela que, na maioria das vezes, eu não gostava de pensar, mas apenas levantei as sobrancelhas e garanti que leria algum poema de Helena Kolody um dia desses. Aline sorriu, satisfeita, e eu estava apenas remotamente feliz por ter alguém por perto que gostasse de poesia. Will era tão fissurado por livros quanto eu, mas ele era mais do tipo trágicos-clássicos-britânicos, e esse tipo nunca foi o meu forte. Já havia tragédia demais na minha própria vida, então para que eu iria querer ler sobre ela?

Aline se levantou em silêncio e murmurou algum "Boa noite" rápida, como se estivesse embriagada de repente, e eu respondi com um aceno da cabeça. Em seguida, voltei a ler, sentindo minhas pálpebras pesarem mais e mais a cada estrofe. Até que, quando dei por mim, eram apenas meus olhos que passavam pelas palavras, sem realmente absorvê-las, e eu ficava me perguntando o que diabos a palavra "lebréu" significava.

Eu estava pensando em Clary, o que se tornara típico, mas não do jeito em que eu pensara antes. Lembrei dos fios ruivos brilhantes de seu cabelo, caindo sobre seus ombros como uma cascata de fogo, e como eu poderia ficar horas a observando sem me entendiar se tivesse a chance. Estar com Clary era a ideia exata da perfeição, e eu não poderia negar isso nem em um milhão de anos. Mas eu ficava imaginando qual seria a sensação de vê-la ir embora, como eu havia visto tanta gente ir, porque, se tinha uma coisa que eu sabia com toda a certeza, era que nada, nem mesmo a ideia humana de eternidade, realmente durava para sempre. Imaginei se não estar com ela, vê-la partir, doeria de um jeito diferente, de um jeito novo, e tive certeza de que não conseguiria suportar maisessa dor. E só havia uma opção para evitar "não estar" com Clary, e isso significava pular também a parte de "estar".

Mas, inegavelmente, havia um problema no meio de todas essas certezas, e um dos grandes: eu não tinha tanta certeza assim se conseguiria pular a parte de estar com Clary. Não sabia se seria realmente capaz. E, talvez — apenas talvez — eu estivesse louco o suficiente para estar disposto a vê-la partir, apenas para tê-la perto de mim por um tempo. Havia essa parte incontrolável de mim gritando que valia a pena.


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Notas finais do capítulo

Sei lá, eu gostei da narração do Jace. Parece mais com a imagem que eu tenho dele, sabe, mas não sei por que :v E, se estiverem se perguntando se a Aline vai causar problemas... Bem, eu não posso responder essa e.e Mas acho que vocês já me conhecem um pouco, então...

Como vocês viram, o Jace é muito vidrado em poesia (e eu também), então não se assustem se virem várias referências à poemas, como esse de Dante, Divina Comédia, e da Helena Kolody. Prometo que vou tentar não deixar muito confuso.

Mandem reviews, ok? Beijos, seus lindos! Até mais :3