O Guardião Cinzento escrita por Malcolm Beckster


Capítulo 8
O Herói




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Para um homem de 128 anos que tinha levado um tiro na espinha utilizando um exoesqueleto que permitia ele andar, o deixando mais pesado, o Kaiser, também conhecido como David Byron, era um homem incrivelmente ágil e terrivelmente cursado nas muitas artes marciais, de maneira que nem o Estratego com uma lança conseguia se desviar dos diversos golpes do inimigo e causar apenas alguns poucos no mesmo.

– Eu não deveria ter ousado usar aquela armadura contra você - disse o alemão - Você é bastante desengonçado - continuou antes de aplicar mais um golpe no herói, ele respondeu girando a lança no ar e a deslizando, atacando seus pés até que acertou o rosto do homem, aplicou um golpe rasteiro fazendo o inimigo cair e colocou a lança em seu peito - Não.

O Kaiser girou o corpo no ar, jogando a lança para longe e se levantando. Voltou a atacar e fez o herói cair no chão.

– Vamos ficar nisso - ele se desviou de costas de um soco do Kaiser, tomou a sua mão e o jogou no chão, chutando-o duas, três, quatro. Cinco vezes.

– Eu acho que não - no sexto o alemão pegou o pé do Estratego, e o empurrou, ele caiu no chão - Ou talvez sim.

Saíram do chão e começaram a se golpear, o alemão mais socava o rosto do herói enquanto o inimigo se focava nos órgãos vitais e no exoesqueleto que revestia-o, não era muito resistente e feito de silicone e plástico com muitas poucas peças metálicas para permitir maior agilidade dos movimentos, mas o mais importante era a conexão neural entre o homem e a peça corporal. Socos eram usados para golpes repetidos, chutes para jogar o inimigo no chão e as defesas como meios de perpetuar o ataque até o contra-ataque, continuaram, continuaram até que o Estratego se moveu por baixo do braço do Kaiser, pegou seu pulso localizando o braço do exoesqueleto que coordenava os movimentos entre o braço e a perna e o arrancou, a perna esqueda tombou no chão e ele estava agora ajoelhado.

– Ainda não, garoto - disse se levantando, pronto para lutar mais, mesmo com um membro bastante frágil e uma perna sem coordenação motora eficaz.

Ele realizou bons golpes, não bons o bastante, mas o suficiente para fazer o herói perder um pouco de espaço na luta.

O último golpe foi rápido, não bastante ágil, a luta tinha acabado e quem venceu foi o Kaiser.

O Estratego rastejava procurando por abrigo, o espaço limitado e enquanto isso o Kaiser procurava pelo computador para ativar o grandioso vírus que iria fazer a América regressar ao que era quinhentos anos atrás. Ao que o mundo era quinhentos atrás, dominada pelos bárbaros, magos e grandiosos impérios que foram aos poucos ruindo até que restou apenas um.

– Espero que goste do escuro, do gosto podre da água e de andar, não vai poder ir pra sua mansão de carro quando eu acabar.

– Do que você está falando?

– Não me venha com essa - ele andou até o herói, socou sua face duas vezes e arrancou a pequena máscara auto-colante, o Estratego, fraco, nada fez.

O rosto do herói era bastante simples, sem traços complexos, cabelos castanhos e olhos azuis, mas não era quem o Kaiser imaginava ser, não era Thomas Smith, para falar a verdade, ele nunca tinha visto aquele homem jamais em sua vida, não o conhecia, mas lembrava a feição séria e predadora de seu maior inimigo, um velho morto chamado Timothy Burnes, que ele viu morrer e isso lhe agradou muito, embora preferisse tê-lo matado.

– Quem é você?

O Estratego, fraco e incapaz de responder à altura, disse: - Meu nome… Meu nome é Richard Finnigan… Richard Finnigan Burnes, filho legítimo de Martha Finnigan e Timothy Burnes, o homem que você matou. Eu deveria ter percebido isso antes, e isso provavelmente meu pai ainda estaria vivo, e você seria apenas um homem morto cujo nome não seria lembrado.

– Eu vou ser o despertar de uma nova era, eu vou ser o que você tentou ser.

– Como você tem 128 anos e mantém essa sua carinha feia?

– Eu não sou um ser comum, e não tenho 128, sou bem mais velho. Eu tenho 1 028 anos, meu caro, sou afinal um projeto do Governo Alemão da Era do Homem, um soldado perfeito que não morria, sou imortal, não sofro de doenças e não preciso de oxigênio para respirar, sou um homem comum de fato, e nada mais, mas mesmo que você tentasse pelo resto de sua vida, não conseguiria me matar.

Richard Burnes se levantou, não tentou dar golpes, se desviou dos que Hilgert tentou executar antes de finalmente levar um belo soco de esquerda.

– Meu pai uma vez disse que o homem só sobrevive porque quando a morte se aproxima ele não desiste, ele se agarra à vida com todas as suas forças. Mas quando ele morreu, ele nada fez, e você sabe por quê? Porque ele não tinha nada que lhe importava, ele não tinha mais nada a não ser um sentimento de fraqueza e impotência. Mas porque em muito tempo, ele se sentia fraco.

– E como você sabe disso?

– Ele era meu pai.

– Você não estava lá, quase me enganou, mas eu não sou nenhum idiota, você é de fato Thomas Smith.

– Eu não sou, Thomas Smith é um homem. Richard Burnes deixou de ser um homem, uma criança que se perdeu para um mundo caótico e que ressurgiu.

Batalharam novamente, Hilgert atacou com um chute mal feito, Burnes o imobilizou, socou seu rosto uma, duas, três vezes, depois agarrou suas costas e correu com ele até uma parede para socá-lo mais vezes, a parede rompeu e a mesma se tornou um piso, que se desabasse iria demonstrar um perigoso fim para o herói e o vilão nas águas do Rio Rurik.

– Eu vi o mundo colapsar e surgir novamente, não me fale de ressureição seu tolo. Eu vi Jason Smith destruir sozinho com um rifle as Tropas Vermelhas de Cavaleiros, eu vi os Magos do Norte dominarem seus preciosos Estados e matar pessoas com facas que cortavam corpos com a mesma eficiência que cortavam o ar, vi a Fortaleza Voadora dos Magos se chocar contra sua Torre de Dominação explodindo o Império que eles construíram por duzentos anos - suas frases começaram e se tornarem declarações amargas da história - Eu vi Joanna West destruir Frotalezas Voadoras num balé sincronizado da morte e finalmente vi Marcus Baltazar dominar esse continente podre massacrando os bárbaros que aqui viviam. Eu vi muita coisa.

– Isso é passado - Burnes pegou o Kaiser pelo pescoço e moveu-o contra seu joelho, Gregor Hilgert sangrava.

– E você logo será também - disse mostrando um pequeno equipamento digital - Isso vai ativar o vírus do qual eu te falei.

– Boa Sorte.

– Do que você está falando?

– Aperte.

Sem se deixar levar, o homem apertou, nada aconteceu, as luzes continuavam a brilhar, os gritos cessavam com a polícia conseguindo manter a cidade em ordem depois das milhares de armas e equipamentos deixados pela recém-lançada Reborn Corporations, a união única de todas as divisões da Smith Investimentos na produção de tecnologia de ponta e os carros blindados andavam pelas ruas defendendo o povo.

– O que você fez?

– Chama-se Anti-Vírus. A Torre Bell possui um computador principal chamado Argo, em homenagem a Argo Berylium, logo eu só precisei achar o arquivo Berylium e instalar um programa que meu colega Smith passou a tarde inteira desenvolvendo na semana passada, eu mesmo o batizei, homenagem a um de meus generais favoritos e de grande porte histórico.

O pequeno celular digital mostrou o aviso: O arquivo Bell Riose.Data não permite o Acesso ao Argo

– Seu desgraçado, filho de um demônio e uma puta, que queime no inferno seu desgraçado.

O Estratego notou as rachaduras e andou até a borda da parede destruída, que mais parecia uma enorme placa flutuante.

– Você estava certo, eu não sou ma lenda, jamais vou ser, mas você também não. Seu nome se perderá na história assim como eu.

– Não ouse dizer isso de mim garoto.

– Cair seria bastante ruim, não?

– Sim, claro que sim, seria terrível - disse, remexendo em suas roupas como se procurasse por algo.

– Acho que estamos a quase um quilômetro de queda, a parede se romperia muito facilmente, não?

– Sim, muito facilmente.

Foi tudo muito rápido, como uma respiração ou um piscar de olhos, primeiro o Estratego parou, pisou firmemente seu pé na parede, as “fibras” de concreto entre a parede e o prédio se romperam, o Kaiser tomou um equipamento que lançou uma corda em direção ao pé do herói, e tudo se perdeu em minutos, Burnes se segurou, mas se ele sobrevivesse, seu inimigo mortal também.

– Não foi dessa vez, não foi seu idiota. Acho que teremos que ir para cima juntos ou morrer juntos, agora pode vir com seu papinho de sobreviver perante a morte, eu pelo menos acho que você não está se sentindo fraco ou impotente que não aquele velho sujo que você chamou de pai. Vamos seu idiota, eu não quero ficar aqui o dia inteiro.

– Você não se regenera não é? Você não envelhece nem fica doente, mas você não é resistente, se você cair você morre.

– Pare com isso, garoto, não precisa…

– Suas últimas palavras!

– Não, pare! Pare com isso agora!

Ele soltou, primeiro o mindinho, depois o anelar, o dedo médio e o indicador, o polegar já solto serviu apenas para formar um dedo positivo enquanto caíam. Ele não acreditava em vida após a morte, apenas nas trevas eternas que se fariam depois que ele morresse, a vida não foi boa com ele, mas ele nunca pediu que fosse, e agora ele poderia se despedir daquele mundo podre como uma pessoa pura. Ou pelo menos, uma pessoa menos podre.

Suas últimas palavras foram Um Final Digno de um Homem Indigno e seus últimos pensamentos foram a dor insuportável do choque antes da morte. Ele morreu, tal como o Kaiser, que embora tenha parcialmente sobrevivido, e teria conseguido escapar, morreu quando a corda que prendia ele ao seu inimigo ficou aganchada numa lança, uma lança antiga de um soldado velho que morreu afogado. Gregor Hilgert morreu da hemorragia que não conseguiu ser contida pela presença e sal na água, o homem mais velho do mundo tinha um fim trágico de um homem que não seria lembrado nem por seus homens, afinal ele era uma mentira, uma mentira que fracassou e logo todos esqueceriam.

Exceto o Estratego, aquele que morreu para livrar a cidade da tirania sombria do Kaiser.

Mas ele estava morto, e agora era um símbolo, a marca de que o bem vence o mal.

E se o Mal surgisse, o Bem viria em resposta.

E todos os Seres do Universo, deuses e homens, sabiam disso.


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