O Guardião Cinzento escrita por Malcolm Beckster


Capítulo 7
O Vilão




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/505022/chapter/7

Nova tinha 150 anos de idade, foi a primeira cidade construída por Marcus Baltazar, antes mesmo que ele dominasse a América. Ele quase a chamou de Novissima quando um terremoto destruiu o esboço do primeiro projeto da cidade, mas precisava dos ferreiros, numa época em que o nome da cidade era escrito nos limites dela em letras de ferro, manteu-se Nova. A cidade porém foi construída essencialmente por cinco famílias: Smith, Rock, Street, House e Power, todas elas se uniram para depois brigarem monetariamente, disputando até que a Smith e a House restassem, e a última prestes a se desfazer enquanto a primeira mantinha um vasto império financeiro e mais de 17 trilhões de dólares sendo que dez deles estavam estipulados fisicamente e apenas o resto em ações. Mais firme do que nunca.

Sobre os arranha-céus de Nova o Estratego observava o caos, mas permanecia quieto, invisível e alheio aos acontecimentos ele se apoiava em sua lança, a Arraia, e sobre os corpos de pessoas mortas, sobre as mulheres sendo violentadas e sobre os canalhas foragidos ele encontrou a paz, pensando em tudo que ocorreu até o momento em que ele se tornou o herói, passando por descobrir quem ele realmente era e o que deveria realmente fazer. Mas percebeu tarde demais quem eram seus inimigos, e isso acabou por condenar milhares de vidas humanas, ele não se perdoaria por isso, mas lutaria até o fim e mataria o maldito do Kaiser, que fez um verdadeiro inferno sob seu nariz.

O homem se estende por milhares de anos, e fez milhares de coisas, mas eu não consigo proteger a porcaria de uma cidade ele pensou Inferno. Ele sumiu, saiu do prédio e apareceu novamente para bater em alguns rostos, Arraia funcionava como uma extensão de seu braço e ele era fatal usando também a capa especial da Armadura Consular, uma cortesia da Obadiah Militar Suits, cujo contrato com o exército permitiu seu sucesso em desenvolver equipamentos de batalha baseados em exoesqueletos, depois que tinha sido comprada pela Smith Investimentos, o próprio tinha fornecido a ele diversos trajes, sendo um deles a complementação de todos entrei si, o Consular era afinal um traje de camuflagem, agilidade, invasão tática e combate. A camuflagem completa era permitida pela longa capa, se as bordas se unissem se transformava em um manto permitindo ele se locomover, e nem ondas de calor poderiam detectá-lo pelo sistema de confusão térmica, afinal a armadura adquiria a temperatura ambiente, logo embora ficasse um pouco quente no interior do traje, quando sentissem sua aproximação ele já estaria longe.

Ele andava, golpeava e espetava a lança diversas vezes em diferentes alvos, até que ele conseguia ver a Prefeitura. Correu, pressionou o contato na bainha da lança e a lançou, ela subiu, percorreu mais ou menos 50 metros e atingiu a parede de mármore do edifício, explodindo a parede em milhares de pedaçãos, o Estratego voltou a se tornar invisível e andou até lá calmamente, pensando em como acessaria o complexo subterrâneo.

Quando acessou a Prefeitura, ele via diversos homens, mais de cem, então imaginou algo que os impressionassem.

– Quantas horas são?

E muitos olharam os relógios, quase todos tinham um, e responderam 13:33.

– Obrigado - ele atacou, se desfez da invisibilidade para atacar, e não conseguiam atingi-lo de maneira alguma, e toda vez que quase conseguiam ele sumia para voltar novamente atacando, até que finalmente a entrada da Prefeitura era uma grande poça de sangue e o herói descia as escadas que o levariam à verdadeira prefeitura, um complexo tecnológico de alta segurança que o Kaiser conseguiu acessar com Byron.

Desceu as escadas e acessou o Patamar, entrou e encontrou Coração Azul, um homem de terno azul e gravata vermelha que o encarou:

– Pois não?

– Me conhece?

– Algum homem morto.

– E você quem é?

O homem, confiante de sua superioridade, respondeu: - Eu sou Coração Azul, o Braço Direito do Kaiser.

– Excelente, era isso que eu queria.

O herói girou sua lança antes que o arauto sacasse sua espada, defendeu-se e acertou a dois centímetros do rosto do emissário, mas ele não queria acertá-lo, travou o braço de Coração Azul e empurrou a lança na horizontal contra o pescoço dele e o socou duas, três, quatro, cinco e seis vezes até o ponto em que seu nariz sangrava e seu rosto assumia uma tonalidade roxa pelos inúmeros hematomas.

– Onde o Kaiser está?

Com os braços travados, ele não poderia nem pensar em ingerir uma das pílulas de suicídio.

– Onde está ele?

– Heil Kaiser und sein Reich!

– Sim, eu já ouvi essa baboseira, agora - ele procurou o pequeno equipamento nanotecnológico armazenado em seringa, ele pegou e procurou a jugular, se o equipamento estivesse funcionando corretamente o emissário sobriveveria à injeção. Inseriu a agulha fina e enquanto o homem reclamava, continuou - isso se chama Veritas, é uma droga baseada em nanorobôs, ela afeta suas correntes cerebrais e faz você ter espasmos de verdade que devem começar… Agora.

– Meu nome é Hugo Hartwig. Eu tenho 33 anos de idade e sou formado em Economia.

– Excelente, agora mais um tempo para você responder às minhas perguntas. Agora. Quem é o Estratego?

– Seu nome é Gregor Hilgert. É um soldado da infantaria alemã do Exército Azul do Quarto Reich, e mais tarde líder do Quarto Reich. Ele tem uma idade de mais ou menos 128 anos e eu acho que ele nasceu em Berlim - ele continuou falando, ou seja, o Estratego acabou colocado doses extras do remédio e talvez acabasse por morrer pela adrenalina excessiva. Ele precisava ser rápido.

– Quem é David Byron?

– É o Escorpião Branco, ele está na Prefeitura.

– E onde está o Kaiser?

– Ele está na Torre Bell, é a torre mais alta da cidade e ele pretende - bastava, o herói socou fortemente e Coração Azul desmaiou.

– Eu tenho que parar de usar essas drogas nos outros, eu sempre aplico no lugar errado - disse se levantando e saindo em busca do maldito Escorpião Branco, um péssimo nome para alguém cujo papel era bancar um completo idiota e enganar milionários para depois matar velhinhos desarmados com um grande machado e depois finalmente ser mortalmente perseguido por um empresário com a porcaria de uma lança. E também um rifle semi-automático carregado com quinze balas no pente e mira inteligente, afinal ele poderia acertar um homem a dezenas de metros sem errar, mesmo que sem o microcomputador e nem com um rifle, bastava a maldita lança.

Achou um portão de ferro e estourou a fechadura, todos olharam o efeito mágico enquanto a capa caía e o Estratego pegava as duas pistolas nos coldres e atirava, acertou as lâmpadas e voltou a atirar dessa vez acertando os inúmeros alvos, especialmente um que ele reconheceu na extrema diagonal direita, um que trazia estampado na camisa um escorpião branco.

Em saltos, ele alcançou o nível onde estavam e ele atirou quatro vezes na cabeça antes de ver que aquele não era David Byron, pelo menos o que ele conhecia, ou seja, ele tinha sido enganado, mas não apenas isso, o Kaiser tinha enganado seu próprio pessoal, e isso tinha rendido a ele um tempo exato de dezessete minutos e vinte e cinco segundos.

– Eu não acredito nisso - disse enquanto pegava a capa e a unia ao uniforme, voltou a andar e sumiu no escuro.

Alcançou a Torre Bell, ela tinha quase um quilômetro de altura embora apenas metade fosse usada operacionalmente e o resto fosse um armazém tecnológico que tinha sido recentemente falido e seria comprado pela Smith Investimentos, em breve a Torre Bell seria a Torre Smith, e o próprio empresário poderia ver todos os dias as margens do Rio Rurik, considerado sagrado de maneira que nenhum navio poderia navegá-lo e nenhum homem nadá-lo, afinal o próprio Marcus Baltazar tinha o atravessado rumo à Vila Rubra para depor o ditador Peter Storm, e nenhum outro homem ousou encostar em suas águas senão o filho pródigo de Baltazar, Leonardo. Que consolidou as conquistas de seu pai como o Primeiro Patriarca.

O Estratego subiu pelo elevador até o 57º andar, saiu erguendo suas armas e atirou diversas vezes, não conseguiam alcançá-lo ou acertá-lo, e depois de uma dúzia de soldados caídos no chão, finalmente alguém chegou perto o bastante de acertá-lo, errando por alguns poucos milímetros, a bala por vez acertou um tubo de onde saiu um gás inodoro e inflamável do qual o herói fugiu, correu enquantos os tiros eram disparados e se escondeu. De onde saiu, uma pequena pedra em formato esférico carregando uma mínima quantidade de explosivo plástico e um pequeno controle de ativação remota caiu, atrás de uma pilastra espessa que recebia diversos tiros, o herói contou vinte segundos antes de pressionar o contato que ativava o controle que deceu uma descarga elétrica no explosivo.

O explosivo explodiu. Definitivamente, levando as almas restantes.

Então ele subiu pelas escadas, cansou e começou a pular entre os andares agilmente sem se cansar, e chegou na Terra de Ninguém, como costumavam chamar os engenheiros do prédio, os cem andares, mais ou menos do 200º ao 300º, onde não havia nada senão enormes computadores processando diferentes dados, parou, verificou em quase todos os andares se não havia ninguém e alcançou finalmente o terraço. Mas já esperavam por ele.

O tiro fez ele cair, a camada de proteção de Levark permitiu que ele sobrevivesse, mas a dor era palpável. Foi erguido e jogado no chão, podia ver os olhos avermelhados do ser que começou a socá-lo e chutá-lo, e percebeu o aço frio quando segurou o pulso de seu agressor, era uma armadura, um equipamento muito avançado para sua época que provavelmente tinha vindo de poderosas empresas e corporações interessadas no controle da cidade.

Um soco foi aparado no ar, a mão do Estratego doía pela força necessária para parar o traje de combate do inimigo, mas depois o mesmo caiu no chão desarmado, um vírus corria pelos computadores da armadura, presente da Magnum Cibernética. Foi obrigado a tirar o capacete revelando sua verdadeira identidade, acobertada pela pequena másca que cobriu seus olhos.

De longe ouviu: - 128 anos e meus maiores inimigos estão mortos.

Ainda sem ver o rosto do Kaiser, ele respondeu: - Eu sou uma exceção?

– Não, é apenas um morto que insiste em andar por uma causa que em breve será desfeita.

– Eu ia dizer a mesma coisa.

– Bem, pouco importa. O que você vê meu caro é tecnologia de ponta servindo em prol de meus objetivos, computadores tão avançados capazes de realizar complexos cálculos em nanosegundos, e isso me servirá para muito coisa, especialmente corrupção dos sistemas mundiais por todo o mundo, a invasão de sistemas mais do que complexos. Eu vou corromper esse país para voltar ao meu e conseguir o que eu sempre quis, o Quarto Reich.

– Você invadiu Nova como uma distração?

– Do que mais essa cidade me serve senão uma distração?

– Você matou milhares de pessoas por isso?

– Eu mataria milhões, mas não reclame, eu evitei uma guerra que poderia ter acontecido se eu não tivesse atacado a cidade, enquanto seus fracos soldados vem para cá eu irei colapsar seu país com esses computadores, atacarei a França com suas armas e chegarei na Alemanha com as melhores armas do mundo, e enquanto isso vocês tentam reestabelecer esse sistema decadente. Especialmente, você.

– Eu, e por que eu?

– Eu sei sua verdadeira identidade meu caro, a delatou quando caçou Escorpião Branco.

Genial, só me faltava essa agora pensou o herói.

Surgiu atrás dele então a sombra, um ser alto de dois metros de olhos vermelhos soltando pequenas nuvens de vapor cinzento domiando tudo com um cheiro metálico, o rosto de David Byron apareceu antes de ser coberto por uma máscara, de ferro gigante e erguer uma espada maior ainda. Não eram necessárias palavras, o que ocorreria a seguir era puramente catastrófico.

– Oh, droga.

O herói foi arremessado para longe, se chocou contra o chão, máscara rasgada em um dos olhos, ele não tinha mais balas em suas armas, restava a pequena lança no coldre de couro em sua perna, tomou-a e ativou o contato que a faria expandir-se, girou-a no ar se esquivando dos golpes rápidos da gigante máquina onde estava Byron, ou melhor, de alguma maneira, o Kaiser.

O Meca tomou uma espada, o fio da lâmina gigante de dois gumes emitia uma coloração azul, às vezes verde e outras vermelha, dependendo dos padrões de luz. Parecia pesada, mas mesmo assim ele se movia rapidamente com ela, o homem desviou dos golpes, pulou e fincou a lâmina nas partes frágeis do equipamento, percebendo que a lâmina caia aos poucos, como se ficasse mais pesada.

O último golpe foi simples, ágil que quase incapaz de se ver: O Meca Kaiser atacou num movimento circular, o Estratego pulou passando por cima da lâmina, caindo ajoelhando segurando a lança com uma mão, passando pelas costas e se apoiando no outro braço que estava curvado, levantou-se e moveu o braço para frente atingindo em cheio o peito da máquina.

O monstro de metal caiu, e de dentro dele saiu Byron.

A luta entre o Kaiser e o Estratego não tinha terminado, apenas tinha alcançado um outro nível.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!