O Guardião Cinzento escrita por Malcolm Beckster


Capítulo 9
Epílogo


Notas iniciais do capítulo

E acabamos por aqui. Espero que tenham gostado.



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O funeral do Estratego foi realizado de maneira calma, rápida e respeitosa, todos os cidadãos da cidade se reuniram naquele dia para prantar a morte do herói da cidade que os protegeu durante singelos seis meses antes de morrer, ele tinha se tornado um símbolo da capacidade individual e de lutar por algo melhor, mesmo que isso culiminasse no fim. Foi criado um grande caixão com a letra E, e como não havia corpo, lá foi colocada uma grande placa de mármore negro onde foi relevado o nome de todos os que morreram no ataque do Kaiser, o relevo foi pintado com um tinta a base de ouro. Durante a cerimônia, cada cidadão deveria colocar uma rosa numa gigante borda ao redor do gigante caixão (onde a alma dele poderia caber confortavelmente) até que ele se tornou um grande entorno vermelho. Foi carregado até o fundo do buraco e por vinte minutos o corpo policial carregou terra fofa a jogando no caixão, e logo carregando pás outros homens apareceram e até mesmo Smith ajudou no enterro do herói de Nova, agora metade da cidade que um dia foi.

Em ato final, uma estátua foi erguida justamente sobre sua cova. Nela se via o Estratego numa pose firme com a cabeça erguida olhando para a construção do qual caíra da Torre Bell, seus olhos jamais seriam vistos cobertos pela máscara, mas todos entendiam aquela firme representação do grande herói. E na base daquela estátua estava escrito: Estratego - O Guardião Cinzento que zela por Nova.

Todas as milhões de pessoas seguiram calmamente para suas casas, não formaram engarrafamentos, sendo o mais ágeis possíveis, e naquele dia ninguém trabalhou. Nem mesmo Smith, que tomou seu dia para assistir a televisão, cuja programação era controlada por diversos computadores reprisando desenhos animados, shows e filmes históricos como “Inverno das Espadas” que contava uma história bem interessante de Bell Riose.

Aquele foi um dia triste. Mas enquanto todos pensavam que tinha acabado, Smith descobria que tinha acabado de começar.

– Engraçado ele morrer assim, não? Nós já tínhamos vencido - falou a esposa.

– Não é bem assim.

– Por que não?

– O Estratego era um conceito de esperança e o Kaiser um conceito de caos, se ele tivesse sobrevivido, tudo poderia acontecer de novo.

– Você acha mesmo?

– Juro por todos os deuses.

E continuaram rumo à propriedade de Smith, observados pelo Triunvirato.

Na Lua, Chorant via isso com algo que se assemelhou a desespero. Não gostou disso, mas não conseguia evitar.

– Eu cometi um erro - disse ele, tonto e quase embriagado. Não tinha noção de suas capacidades e começava a tombar para os lados.

– O que foi? - perguntou Belleor confuso.

– Smith nunca foi o Estratego, nosso empreendimento foi uma farsa, mas como? E se Mehor Jokandrio não tiver colapsado?

– Oh, Pai Eterno, isso vai corromper a Ordem.

Sentiram uma quarta presença, um ser humanoide andando. Parecia vestir uma armadura, ela reluzia a lua da Terra, parecia que era feita de prata. Carregava uma lança, cheia de adornos e espirais, linda de fato como se tivesse sido feita pelos maestrais Deuses Antigos. O ser andou, seus olhos eram vermelhos e ele usava uma espécie de elmo que permitia apenas ver um grande T em seu rosto em que se via os olhos vermelhos, embora o nariz e a boca estivessem cobertos.

– Quem é você? - perguntou Ahn Golame.

– Eu sou Aquele dos Mil Sóis.

– Seu nome?

– Não me reconhecem? Eu fui instruído pelo seu mais digno filho.

– O nome.

– Eu sou Gregory Prime - disse, Chorant sentiu o nome com dor, e também não gostou disso - Eu sou o Inquisidor.

– Corram - disse ele se levantando para voar, mas não conseguiu.

– Não tão rápido - o ser se moveu em direção a Belleor, foi rápido, mais do que o deus e a grande lança se projetou em seu peito - Menos um.

– Ahn, fuja, vá!

E então ele sumiu, enquanto Chorant dizia as palavras: - Devai Amiarila Misani Abloartha Devanisa Azi Luperia Umarmia Abloartha.

Chorant caiu no chão pela forte gravidade impressa nele.

– Pare com isso, Prime, os Antigos estão mortos.

– Mortos por causa de vocês, vocês estão corrompendo o Universo tomando suas decisões por eles. Mehor Jokandrio não existe mais por causa de vocês.

– Precisamos de alguém poderoso, alguém como você.

– Eu já tomei minhas previdências, agora, as mínimas certezas que eu tenho me fazem acreditar que você sabe para onde seu irmão foi, então, para onde?

– Eu jamais falarei. Terá de procurá-lo por todo o Universo se necessário.

– Talvez eu o faça.

Ficaram silenciosos por um minuto, o homem se levantou e olhou para a Terra, sua casa. Não era a mesma que ele conhecia, não era a Terra na qual ele foi criado, era uma Terra antes dele, e muito aconteceu até ele se tornar o que era: Um Inquisidor, a Esperança de um Mundo Sem Deuses onde a humanidade estaria livre para fazer o que quisesse.

– Sabe que eu não seria capaz de fazer aquilo. Os Eternos são mais poderosos do que eu e você entende.

– Os Antigos eram a minha esperança de um mundo melhor, sabe o quanto eu tive que lutar para chegar aqui? Vocês são deuses, eu sou um reles mortal.

– Não mais.

– Isso mesmo, e agora você não tem medo de mim. Você que pode ver tudo não vê como escapar daqui.

– Não, mas eu não quero ver isso. Eu sei tudo que vai acontecer, afinal eu vejo tudo.

– Claro que sim, mas você vê as coisas erradas, você achou mesmo que Smith se tornaria um herói mascarado? Ele é mais elegante que isso.

– Foi você?

– Sim, eu precisei destruir estrelas para enganá-lo. Eu o embriaguei com emissões taquiônicas não-padronizadas, você está bêbado basicamente.

– E Smith, por que ele?

– Ele foi meu mentor, mas ele precisava ser o melhor para de fato ser o meu mentor. Ele se tornou o melhor quando vocês o mandaram para se encontrar com os Guerreiros do Norte, deveriam ter percebido que ele não iria parar nunca, que ele não tinha limites, vocês deveriam ter percebido que alguma hora ele iria se tornar invencível, mas deixaram isso acontecer. Então, quando ele me encontrou, ele me fez perceber que os limites não existem, e Smith teria vindo aqui matá-lo se tivesse nascido quarenta anos depois. Eu serei também o melhor de minha geração, eu serei maior entre os homens e os deuses, e eu vou matar todos os deuses e nunca vou parar.

– Acha mesmo que será tão fácil?

– Não, os Eternos serão difíceis, eu irei treinar por anos até conseguir vencê-los. E depois os Primoridiais, talvez tenha que esperar milênios.

– Pare, por favor, por todas as pessoas que você ama ou já amou algum dia.

– As únicas pessoas que eu amei foram Thomas e Júlia Smith, eles eram os meus pais, e vocês os mataram patrocinando os Novos Deuses.

– Oh, Pai Eterno, o que você fez com eles?

E então ele penetrou a lança sobre o peito do deus, mas fincou de maneira que ele pudesse ler a assinatura em ouro na lança.

Aghonara Primitia Zeus.

– Oh, você o matou.

– Sim, eu matei todos eles. Eles nem perceberam.

– Como eu não percebi isso?

O homem tirou o elmo e o colocou no chão, o elmo tinha as muitas inscrições em Goreg, uma delas era: Huballa Primitia Hades.

– Oh, não. Eram crianças e você matou todos.

– Sim, agora - ele espetou a lança mais profundamente - Adeus.

E assim morreu Chorant, Aquele que Tudo Vê.

Com calma, pensou nas palavras e lembrou-se de uma que Smith recitava.

Elas soaram asperas e vazias no espaço.

– Eu sou o Cavaleiro de Prata, ó Poderosos. Contemplai-vos minha obra e Temei-vos.

Enquanto isso, Gregory Prime olhou para a Terra uma última vez antes de desaparecer, se despediu de seu mentor, Thomas Smith e de sua mãe, não a sua verdadeira mãe, mas a mulher que habitava seu coração: Júlia Smith. Se voltou para as estrelas e com um salto sumiu para seu tempo, uma era onde deuses e homens se confundiam. Mas não por muito tempo.

Na Terra, entre os homens, Smith abraçado de sua esposa no quintal de sua grande casa fitou as estrelas, imaginando o que havia além delas. Imaginou mundos diversos, seres diversos e de grandes capacidades com poderes o bastante para ameaçar a sociedade humana e especialmente o seu planeta, mas mais especialmente ainda Júlia e os filhos que iria ter com ela, e os filhos dos filhos dos filhos.

Não gostou nem um pouco disso.


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Notas finais do capítulo

Isso é tudo, pessoal!