O Herói do Mundo Ninja escrita por Dracule Mihawk


Capítulo 121
Os Três Irmãos da Areia vs. A Assassina de Kages


Notas iniciais do capítulo

Boa tarde, meu povo -- e saudações rubro-negras para quem é semifinalista da Libertadores! Como vão vocês?

Estamos de volta após um tempinho de descanso. Gostaria de ter postado este capítulo na última sexta-feira, mas não deu. O capítulo ainda não estava pronto porque eu meio que refiz a luta inteira. Acrescentei algumas coisas, removi outras. No fim, saiu bem diferente do esboço que eu tinha preparado. Mas gostei do que escrevi.

Para compensá-los (e porque eu realmente estava com saudade de publicar), eis o capítulo da semana.

Não se preocupem. Não vou ferrar com nosso cronograma [outra vez]. Os próximos capítulos sairão, quinzenalmente, sempre às sextas-feiras.

Sem mais delongas, boa leitura a todos!



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— Pensei que você estivesse morta. Eu... — Temari balbuciou — eu vi o seu corpo ser trazido de volta à vila. Sua mão estava gelada quando a toquei... Então, como?

Suki deu um sorriso que poderia significar tanto compreensão quanto deboche.

— Você sempre foi uma pessoa inteligente, Temari-chan, mas não tinha como saber — disse Suki suavemente. — Mas sua percepção estava correta, já que, de certa forma, aquela também era eu.

Também era você? — Kankuro perguntou desconfiado. Não gostava da forma como aquilo soava.

— Isso mesmo. Uma antiga metade que precisei descartar para que o meu teatrinho funcionasse — Suki encolheu os ombros. — E deu certo.

Gaara estreitou os olhos e refletiu naquelas palavras. Durante a Quarta Grande Guerra Ninja, havia conhecido a reencarnação de Muu, o Segundo Tsuchikage, que possuía uma habilidade semelhante. Muu era capaz de dividir seu corpo em duas cópias idênticas e independentes uma da outra. Ao contrário das técnicas de clonagem habituais — como o Kage Bunshin no Jutsu de Naruto Uzumaki —, o clone do Segundo Tsuchikage não se dissipava quando golpeado com força. Muu, literalmente, dividia a própria existência em duas pessoas perfeitas, cada uma contendo a metade do poder do indivíduo original.

— Bunretsu no Jutsu (Técnica da Divisão) — disse Gaara impassível, e soube que aquela era mesmo a resposta quando viu os lábios vermelhos de Suki se abrirem em um sorriso de satisfação.

— Então você escondia um truque desses na manga — minimizou Kankuro. — Estou surpreso por ninguém da nossa vila ter suspeitado.

 — Como poderiam? Todos que sabiam do meu segredo já foram mortos... exceto vocês, agora. — Suki sorriu maliciosa enquanto seus olhos passavam pelos três irmãos. Fixou-os em Temari e prosseguiu: — além disso, um mestre nunca ensina tudo que sabe ao seu aprendiz... certo, Temari-chan?

Temari passara a observar Suki em silêncio absoluto, e, estupefata, sentia a voz tranquila daquela mulher reativando partes ocultas de sua memória, que, agora, agitavam-se como um vendaval em sua cabeça. Temari ignorou o tom debochado da ex-professora enquanto, paralelamente, procurava entender consigo mesma o que havia acontecido para Suki, uma heroína de guerra condecorada e uma mulher tão cheia de virtudes, que tanto a havia inspirado, decair ao nível dos Yuurei.

Para Suki, entretanto, a confusão no rosto da ex-aluna era apenas um doce divertimento.

— É tão estranho quando nossos ídolos são desconstruídos bem na nossa cara — disse a Yuurei para Temari. — Nossa cabeça sempre tenta resistir à verdade... Por isso, confiança é uma tolice no mundo ninja.

— O que aconteceu com você? — Temari não escondia a decepção.

— O que aconteceu comigo? — Suki desdenhou. — Ora, nada! Nem todo criminoso tem um passado triste.

— Responda-me! — vociferou Temari. — Por que nos enganou e forjou sua própria morte?

Suki suspirou e balançou a cabeça, compreensiva. Os três irmãos lhes foram próximos na Vila da Areia, então mereciam saber. Do contrário já estariam mortos. Não que isso mude muita coisa no fim das contas, pensou Suki.

Calmamente, a Yuurei fechou o leque de guerra e sentou-se no chão com as pernas cruzadas. Tinha os olhos fixos nos de Temari.

— Essa não é a pergunta que você quer fazer.

Temari cerrou os punhos.

— Você era minha professora... e uma Yuurei ao mesmo tempo, Suki-sensei?

Gaara e Kankuro se entreolharam, e Suki sorriu maliciosa.

— Antes de vocês três nascerem, eu já era as duas coisas — respondeu Suki. — Jounin de elite da Vila Oculta da Areia e a vice-líder dos Yuurei, o braço direito do Líder-sama.

A cor fugiu do rosto de Temari.

Não...

— Entendo. Você já havia se separado em duas com o Bunretsu no Jutsu — observou Gaara.

Suki assentiu com suavidade.

Pensávamos que fosse impossível Suki ter sido a primeira vice-líder dos Yuurei e uma Kunoichi ativa da Areia ao mesmo tempo... as informações simplesmente não batiam, murmurou Kankuro. Mas ela tinha mesmo um meio de viver duas vidas em separado... Maldita!

— Sou a primeira seguidora do Líder-sama — como se estivesse se referindo a uma divindade, o rosto de Suki resplandeceu em veneração. — Ele me confiou a tarefa de preparar tudo enquanto seu corpo se adaptava aos poderes recém-recuperados e, também, ao Rinnegan — contou. — Eu reuni servos leais, consegui recursos e o ajudei a criar os Yuurei; sou a mãe daquela organização!

Suki falou com orgulho de si mesma. E, então, fechou os olhos e suspirou; a Yuurei deliciava-se com as próprias palavras.

— Você me dá nojo — disse Temari secamente.

— Queria a resposta, não queria? — Suki abriu os olhos devagar. O brilho castanho era belo e suave, mas ameaçador ao mesmo tempo. — Nunca fui a pessoa que você idealizava em mim, Temari-chan. Não sou uma heroína.

Detalhada e pacientemente, Suki contou toda a verdade. Falou que, enquanto cooperava ao lado de Iori Kuroshini, sua outra metade angariava fundos para os Yuurei vendendo informações sigilosas da vila para os inimigos da Areia, o que se provou uma preciosa fonte de lucro quando a Terceira Grande Guerra Ninja estourou. Suki revelou que, apesar de o Alto Escalão suspeitar da existência de um traidor, isso era uma consequência inevitável, e conseguiu manter seu trabalho sujo escondido com sucesso até depois do fim da guerra. Evidentemente, houve quem chegou perto de descobrir meu segredo, disse-lhes Suki, mas eram tempos de guerra... O Kazekage e o Conselho não estranharam as perdas de um ou outro soldado.

— Também sou responsável por boa parte das baixas que tivemos nos conflitos pós-Terceira Guerra Ninja — acrescentou Suki —, ou realmente acharam que o País do Céu resistiu por tanto tempo ao nosso poder militar apenas por bravura? Não, crianças... — meneou a cabeça. — A vitória teria vindo muito mais rápido, e não teríamos perdido tantos homens, se eu não estivesse vazando nossos planos ao governo inimigo.

— Traidora... — Temari disse quase como um sussurro.

Suki fez uma careta.

— Negócios são negócios, apesar de eu também ter traído o rei do País do Céu no fim das contas — deu uma risadinha. — O idiota pensou mesmo que eu me voltaria contra a Areia... mas fui nomeada A morte do Céu, uma heroína de guerra da minha vila.

Um pensamento terrível assombrou Temari:

— A Heroína da Areia Oculta, Pakura do Estilo Calor, morreu em uma emboscada feita pela Vila da Névoa poucos meses após vencermos no País do Céu — disse Temari receosa. — Não me diga que você também...

De repente, a expressão de Suki tornou-se sombria; desfez o contato visual com Temari.

— Sua desgraçada! — Kankuro estreitou os olhos.

— Foi a única vez na qual lembro ter sentido algum remorso — confessou Suki. — Pakura era minha rival, mas também foi minha grande amiga... e tínhamos sido companheiras de time desde a Academia. Mas traí-la não foi algo que fiz apenas pelos Yuurei.

— O que quer dizer com isso? — perguntou Gaara.

Suki meneou a cabeça. Vocês realmente não sabem de nada, crianças, pensou consigo. Em seguida, contou-lhes que o Quarto Kazekage Rasa e o Quarto Mizukage Yagura, outrora inimigos declarados, haviam firmado uma aliança entre si, já que tanto a Areia quanto a Névoa ainda sofriam com o desgaste da Terceira Guerra Ninja e de outras campanhas militares posteriores. A ideia viera do próprio Rasa e, em tese, seria uma maneira de ambas as vilas se contraporem à Folha e a Nuvem, que cresciam como as duas maiores potências militares do mundo ninja sob os governos do Quarto Hokage Minato Namikaze, o Relâmpago Amarelo da Folha, e do Quarto Raikage Kira Ay.

Mas a aliança provou-se frouxa. A Névoa encontrou ali uma oportunidade de diminuir o poderio da Areia. Yagura, o líder da Névoa Sangrenta, que já caçava os usuários de Kekkei Genkai dentro de sua própria vila, usou isso como pretexto para forçar o Kazekage a entregar, em compensação, um de seus melhores ninjas que possuíssem Kekkei Genkai de natureza. Para nivelar as coisas, dissera ele.

Pakura, que possuía a Kekkei Genkai do Shakuton (o estilo Calor), foi a escolhida. Porém Rasa não só já sabia que o Mizukage iria escolhê-la, como também ele próprio já planejava matar Pakura; e orquestrou tudo para isso, revelou-lhes Suki. O Kazekage conseguiu livrar-se dela, e ainda conseguiu um acordo com a Névoa de Yagura. O pai de vocês é tão culpado quanto eu.

O rosto de Kankuro enrijeceu-se de raiva.

— Isso é ridículo! — esbravejou. — Isso foi coisa sua. Não acreditamos no que diz.

— Mas ele acredita — Suki indicou o Kazekage com o queixo. — Gaara-kun sabe muito bem o tipo de homem que tinha como pai.

Kankuro e Temari viraram-se ao mesmo tempo para o irmão caçula. O rosto de Gaara era duro como uma rocha.

— Gaara...

— Por que ele fez isso? — perguntou Gaara objetivamente a Suki.

— Porque Rasa era um covarde e não suportava a ideia de existir alguém na vila que fosse mais forte do que ele, o Grande Kazekage — Suki falou secamente. — Por isso, eliminou todas as possíveis ameaças ao seu governo. Matou Pakura, isolou os honoráveis irmãos Ebizo e Chiyo em uma casa nas montanhas... — deu-lhes um meio sorriso. — Eu certamente seria a próxima da lista.

— Mas você já tinha seus próprios planos de deixar a vila. Por isso, forjou a própria morte — observou Gaara.

Suki assentiu com um sorriso vermelho.

— Correto. O Bunretsu no Jutsu mantinha meu chakra dividido em duas partes, e eu precisava da minha força inteira de volta.

— Para assassinar o Mizukage Yagura? Outra ordem de Iori Kuroshini? — indagou Kankuro, estarrecido.

— Não precisei de tanto para matá-lo; e mesmo que não acreditem em mim, também fiz isso por Pakura — respondeu Suki. — Um tributo a ela antes de eu voltar definitivamente para o Líder-sama.

— Sua hipócrita... você a levou para aquela emboscada.

— E depois também morri por causa disso, Kankuro-kun — disse Suki. — Suki, da Vila da Areia, não existe mais.

Temari suspirou firme.

— Disse que precisava reunir sua força... — perguntou à professora. — Planejava se vingar do meu pai?

— Planejava — admitiu Suki —, mas Orochimaru o pegou antes de mim. De qualquer forma, Rasa não valia tanto esforço.

Gaara, então, entendeu contra quem Suki queria lutar e por que precisava de sua força máxima. Àquela época, os Yuurei já haviam sofrido sua drástica reformulação. Todos os subordinados que Suki juntara para Iori Kuroshini foram descartados; novos membros, recrutados; e outra mulher passara a ocupar o posto de vice-líder no lugar de Suki.

O Kazekage estava prestes a dizer algo quando percebeu a reação de Temari ao seu lado. A irmã tremia enquanto seus dedos comprimiam a empunhadura do leque de guerra. Não se tratava de medo ou ansiedade; era pura raiva fervilhando dentro dela.

— Eu te idolatrava... — sibilou Temari — eu queria ser uma heroína como você. Mas durante todo esse tempo você não passava de uma Yuurei maldita — exasperou-se. — Fui tola por chorar pela sua morte.

Suki se recolocou de pé e sacudiu a areia do manto.

— Eu te ensinei a ser a lutadora mais feroz na arte do Tessenjutsu, Temari-chan — empunhou o leque de guerra —, mas não apenas isso. Expliquei que uma mulher pode conquistar tudo o que desejar se tiver força, inteligência e beleza. Em três anos, eu te moldei à minha imagem — apontou para si —, para torná-la minha subordinada no futuro; uma extensão da minha força — encarou Temari com severidade. — Nós duas somos iguais! Então pare de agir como uma garotinha magoada. Ou, por acaso, algo te fez amolecer?

Foi quando Suki viu o anel de noivado na mão de Temari.

— Ah, entendi... romance — deu um sorriso de escárnio. — Deixou-se dominar por um homem. Pelo visto, eu perdi meu tempo com você.

— Já chega! — vociferou Kankuro. Suki viu o marionetista conjurar seis corpos através de dois pergaminhos que carregava na mochila. Kankuro manipulava sua coleção clássica, com Karasu, Kuroari e Sanshouo, na mão direita. Na mão esquerda, a mais nova coleção do titeriteiro: Sasori e as marionetes Pai e Mãe. — Você já disse o suficiente, Suki.

— Tem razão, chega de conversar — Suki abriu o leque de guerra, exibindo os círculos que representavam os Quatro Ventos. — Foi muito bom revê-los, Temari-chan, Kankuro-kun, porém meu assunto não é com vocês. Vim pelo Kazekage — fixou os olhos em Gaara. A areia já jorrava da cabaça que ele trazia nas costas, circundando-lhe o corpo como um escudo. — Deixem-no aqui e fujam. Se lutarem, não terei piedade.

Kankuro deu um meio sorriso.

— Temari.

À esquerda dos dois irmãos, Temari brandiu o leque de guerra. Ao liberar apenas a primeira das três estrelas, Temari foi capaz de arremessar uma bala de ar comprimido contra Suki. Um movimento ágil e quase imperceptível ao olho humano, porém carregado de fúria.

— Não me apresse, Kankuro — criticou Temari. — Sei muito bem quem faz o primeiro ataque.

Suki defendeu-se corretamente do golpe, mas não evitou que a força do vento a lançasse para trás. Surpreendeu-se por sua ex-aluna conseguir liberar tanta potência com apenas um terço do leque estendido. Suki manobrou no ar para aterrissar com suavidade.

Onde a areia do deserto já se abria para abocanhá-la.

Tsc, essa areia é mais lenta, Suki girou o corpo e desviou.

Mas não encontrou espaço para contra-atacar; Gaara insistia em persegui-la com a areia do próprio deserto enquanto Temari, de longe, arremessava ondas de vento cortante em sequência. Suki tinha que se concentrar em ataques que vinham tanto pelo ar quanto pelo solo. A Yuurei defletiu uma rajada lançada por Temari, esquivou-se de estacas e braços de areia que brotavam um após o outro. E sorriu.

Então era esse o plano, viu as marionetes Pai e Mãe logo à frente, me levar diretamente aos bonecos e me forçar a uma luta corpo a corpo com eles? Muito bom! Estou orgulhosa, crianças.

Os fios de navalha que interligavam os braços de Pai e Mãe passaram zunindo a centímetros da cabeça de Suki, que imediatamente manobrou para atacar as marionetes pelas costas. Mas as cinturas dos bonecos giraram em 180º, e Pai e Mãe — com armas em punho — já estavam outra vez olhando para a Yuurei.

Kankuro aproveitou a deixa para lançar Karasu e Kuroari contra Suki ao mesmo tempo, cercando-a pela dianteira e pela retaguarda. Mantinha Sasori consigo para ter sempre a opção de usar ataques de longo alcance. Enquanto isso, a marionete Sanshouo escavava o terreno arenoso e desaparecia no subsolo.

Chamava-a de Técnica Negra Secreta: Cinco Grandes Desastres. Com ela, o mestre titeriteiro mantinha o inimigo em um verdadeiro inferno de madeira e aço embebedado por veneno. Suki defendia-se contra variados tipos de lâmina, fios de metal, chicotes segmentados, agulhas senbon, além de ter que lidar com a areia de Gaara e o Fuuton de Temari ao mesmo tempo. Não fossem os reflexos elevados e a vasta experiência em combate, já estaria morta.

— Ela é como um inseto irritante, me escapa por um triz — comentou Kankuro debochado. — Ei, Temari — disse sem virar o rosto —, foi mesmo essa mulher quem destruiu o País do Ferro sozinha?

Temari não respondeu.

— Concentre-se, Kankuro — disse Gaara. — Você ainda não a pegou.

Os dedos do marionetista trabalhavam em um frenesi absurdo.

— É, tem razão. Vou pegá-la... — aguardou a oportunidade perfeita — agora!

O chão explodiu do nada e a bocarra de Sanshouo surgiu da areia bem abaixo dos pés de Suki, com o canhão de lança-chamas pronto para disparar à queima-roupa. As demais marionetes fecharam todos os espaços pelos quais Suki poderia escapar.

— Morra — disse Kankuro, e a rajada de fogo alaranjado irrompeu do canhão. Sem efeito, para espanto do titeriteiro, que viu suas chamas serem dissipadas para longe. Os bonecos também foram lançados com violência para todas as direções. — Ela venceu fogo usando vento? Como?

 Gaara semicerrou os olhos.

Ela criou uma pequena corrente de ar ao redor de si, como uma espécie de bolha; e então repeliu tudo ao redor de uma vez usando outra técnica de Fuuton, mais forte que o ataque de Kankuro. Ela transformou a própria fraqueza em força, concluiu o Kazekage. Ainda que sejamos fortes, Suki é uma guerreira muito mais experiente.

A Yuurei surgiu da fumaça com o leque em posição ofensiva.

— Dizem que o filho do meio costuma ser o irrelevante negligenciado pelos pais... — provocou Suki. — Mas você conseguiu algum destaque entre seus irmãos, Kankuro-kun; e não foi por parecer um palhaço — apontou para o rosto de Kankuro —, usando a pintura de guerra como maquiagem para chamar a atenção.

Kankuro encheu-se de fúria e atacou Suki com Pai e Mãe, mas desta vez a Yuurei apenas girou o leque na horizontal e despedaçou as duas marionetes com uma rede de vento cortante. Os restos de Pai e Mãe caíram espalhados na areia.

— Eu me enganei, Kankuro-kun — Suki sorriu provocativa. — Você não passa de um menino brincando de soldado.

Ela destruiu ambos os bonecos, Kankuro se irritou ainda mais, mas o que ela realmente queria era cortar os fios de chakra que me ligavam aos corpos de Pai e Mãe, para que eu não pudesse surpreendê-la com eles depois, trincou os dentes. Essa maldita... ela me enganou!

— Suki quer entrar na sua mente — disse Gaara ao irmão. — Não perca o foco, Kankuro.

Kankuro reagrupou as demais marionetes perto de si.

— Ela sabe irritar.

— Então não abaixe sua guarda! — Temari falou severa; os olhos estavam cravados na Yuurei.

Suki sorriu para os três irmãos.

Eles fizeram a leitura correta de toda a situação. Além disso, olhou para como os Irmãos da Areia se posicionavam, estão em perfeita sincronia. Temari-chan controla a longa distância com o estilo Vento, e a areia de Gaara-kun impede que eu me aproxime enquanto me empurra diretamente para os bonecos do Kankuro-kun; e como sou uma combatente de longa distância, me obrigar a uma luta corpo a corpo contra marionetes é um jeito muito efetivo de explorar meu ponto fraco enquanto se mantêm a uma distância segura ao mesmo tempo... e eu acabaria esgotada até, finalmente, ser pega por algum ataque.

Suki fixou os olhos em Gaara.

Por outro lado, se por um acaso eu me aproximar demais, Gaara-kun usará a areia da cabaça, que é muito mais rápida que a deste deserto, concluiu Suki, fechando o leque de guerra. Temari arqueou a sobrancelha, desconfiada.

Em situações assim, Mira seria cautelosa como sempre, Suki fez um selo com a mão esquerda. Mas ao contrário dela, eu gosto de correr riscos. E até onde sei, os três também são lutadores de longa distância. Em outras palavras...

Gaara estremeceu quando a Yuurei surgiu bem a sua frente, já lhe atacando. Suki aumentara a velocidade, e nem mesmo com sua areia especial o Kazekage pareceu ter sido capaz de senti-la se aproximando.

A investida da Yuurei espatifou a formação. Gaara, Kankuro e Temari mostravam-se atrasados no tempo e no espaço. Enquanto isso, Suki usou a parte afiada do leque de ferro para golpear o pescoço desprotegido do Kazekage, que se espatifou no ar instantaneamente.

— Um clone de areia?! — Suki franziu a testa.

Temari aproveitou a abertura para, imediatamente, bloquear a arma de Suki com seu leque.

— Já sabíamos que você tentaria algo assim — Temari permitiu-se um breve e triunfante sorriso. Embaixo, a areia travara os pés da Yuurei. Em seguida, Kuroari surgiu às costas de Suki e, abraçando-a, puxou-a para dentro de si. No instante em que a Yuurei desapareceu dentro do boneco, Kankuro acionou as travas da marionete de captura. Fórmulas escuras escorreram por todo o corpo de Kuroari.

— Instalei tarjas de selamento nela — disse o mestre titeriteiro. — Assim, não vai conseguir escapar através da escuridão — ergueu o rosto, gritou “Agora, Gaara!” e se afastou de Kuroari. Temari também saltou para longe dali.

Atrás da grande rocha, o verdadeiro Gaara erguia os braços, fazendo o ambiente responder com o mesmo movimento. Sob o comando do Kazekage, o deserto levantou duas mãos colossais em torno da marionete solitária, as quais envolveram-na em toneladas de areia.

Gaara estendeu a mão direita, suspendendo toda a estrutura no ar. A prisão era uma grande esfera de areia.

— É o fim — Kankuro observava de longe, satisfeito. Mas Temari mantinha o semblante sério ao lado do irmão.

Adeus, Suki-sensei, despediu-se em silêncio.

Os dedos de Gaara estavam abertos em formato de garra.

— Caixão de...

— Taiton: Kyoufuu Reppa (Estilo Tufão: Rajadas Consecutivas de Fortes Ventos) — a voz de Suki cantarolou bem atrás de Gaara.

Assombrados, Kankuro e Temari viram a prisão de areia e grande rocha explodirem juntas em uma chuva de fragmentos, e uma onda de areia e pó vir em sua direção carregada pela força estrondosa de um vendaval repentino. Kankuro mal teve tempo de reagir; jogou-se sobre a irmã e cobriu-se com Sanshouo. O corpo da marionete de salamandra chacoalhou, rangeu e estalou.

Tudo isso enquanto desaparecia sob toneladas de areia e rocha.

 

 

 

Estava escuro e abafado ali embaixo.

A dor fez Kankuro acordar. Sabia que havia batido a cabeça no meio daquela turbulência, mas só percebeu o filete de sangue escorrendo pela nuca minutos depois.

— Temari? — perguntou Kankuro, recobrando os sentidos aos poucos.

— Aqui...

Percebeu a respiração de Temari perto demais de seu rosto e, só então, notou que ainda estava deitado sobre o corpo da irmã. O embaraço fê-lo despertar, e Kankuro imediatamente saiu de cima de Temari, que agradeceu por voltar a respirar com liberdade.

— Você está bem? — perguntou-lhe o irmão.

Temari confirmou com um murmuro.

— O que diabos foi aquilo? — Kankuro estremeceu. — Foi como se uma bomba tivesse explodido bem na nossa frente.

Taiton, Temari recordou-se da Kekkei Genkai da antiga mestra. O domínio do estilo Tufão era mais uma característica que, quando criança, ela admirara em Suki; e foi determinante para que Temari optasse por sua própria heroína — e não a Heroína da Areia Oculta, Pakura — como sua professora particular.

Em se tratando de transformações de natureza avançadas — as chamadas Kekkei Genkai elementais —, via de regra, um novo elemento era criado a partir da combinação de duas naturezas básicas. Era o caso de Pakura, que misturava as naturezas de Fogo (Katon) e Vento (Fuuton) para criar o estilo Calor (Shakuton). Outros tantos nomes famosos no mundo ninja também faziam assim.

Mas Suki era diferente. Seu estilo Tufão (Taiton) derivava exclusivamente de seu próprio estilo Vento. Chamava-se forma superlativa toda Kekkei Genkai elemental criada a partir de uma única transformação de natureza básica, e era algo raríssimo de ser encontrado no mundo ninja.

Além de Suki, Temari só conheceu uma pessoa capaz de usar um elemento superlativo: Sasuke Uchiha, da Vila da Folha, que manifestava o estilo Chama (Enton) — forma superlativa do elemento Fogo (Katon) —, através do Amaterasu.

— Suki não chegou a romper o selamento, mas o ataque dela veio de fora — pontuou Kankuro. — Perto do Gaara.

Gaara...

Temari suspirou apreensiva. O irmão estava lá em cima, sozinho com uma Yuurei mais perigosa que aqueles encontrados na ilha Misuto. Embora Temari confiasse na defesa absoluta de Gaara, o estilo Tufão era rápido e violento; e causaria problemas se funcionasse à curta distância.

— Rápido, nos tire daqui — pegou com urgência o antebraço do irmão. — Precisamos ajudar o Gaara!

 

 

                                                                            ***

 

 

Um único movimento havia sido o bastante para mudar toda a geografia do ambiente ao redor. Suki sorriu, orgulhosa de si mesma.

— Vai ser difícil orientar-se neste deserto agora... — virou-se para o lado. — Não concorda, Kazekage-kun?

A areia especial de Gaara protegera-o bem a tempo, fazendo um casulo que, agora, emergia de uma montanha de areia recém-formada pelo ataque monstruoso da Assassina de Kages. Tinha visto muitos usuários poderosos com Fuuton; mas aquilo era simplesmente ridículo. A forma superlativa do elemento Vento... Taiton, pensou Gaara, é realmente impressionante se visto de perto.

O Kazekage se levantou e a areia especial, imediatamente, moveu-se sozinha para protegê-lo.

— Então, era verdade. Nunca foi o Shukaku... — Suki observou a defesa absoluta de Gaara assumir a forma de um enorme torso feminino, com mãos protetoras estendidas ao redor do Kazekage, como se quisessem escondê-lo do perigo. A cabeça da mulher de areia surgiu acima de Gaara; e como se a coisa tivesse vida própria, encarava, furiosa, a Yuurei. — Sempre foi o poder de sua mãe a protegê-lo — reconheceu o rosto da mulher. — Karura é uma pessoa realmente amável. Mesmo depois de morta.

— Antes de nos encontrar, você já havia preparado o Bunretsu no Jutsu — disse Gaara, percebendo que aquela Suki estava desarmada. — Por isso conseguiu nos enganar.

Suki assentiu.

— Devo dizer, Mira tem bom gosto para homens — fitou o rosto de Gaara com malícia. — Naruto Uzumaki... e agora você, Gaara-kun.

— Do que está falando?

— Mira te quer por alguma razão — deu de ombros. — Conhecendo aquela ruiva, diria que ela está nos observando bem agora — apontou para o céu —, verificando se vou deixá-lo vivo ou não.

— Mira Uzumaki me quer... e vivo? — Gaara perguntou retoricamente. Teria algo a ver com o Shukaku?, refletiu Gaara; e foi aí que uma ideia terrível lhe ocorreu: E se ela estiver planejando usar a metade Yin do Shukaku para atingir o Naruto remotamente, igual fez usando o irmão do Raikage?

— Não acho que seja isso — disse Suki, interpretando a expressão no rosto de Gaara, que pestanejou surpreso —, Mira está tão ansiosa por essa luta que não pensa em outra coisa — revirou os olhos. — Eu não acho que a Princesa do Redemoinho iria estragar tudo às vésperas de encontrar o Príncipe Encantado dela.

Então, o que Mira Uzumaki quer comigo?, perguntou-se Gaara.

— De qualquer forma, não pretendo obedecê-la — disse a outra Suki, armada com o leque na mão e Bashousen nas costas. Ela ressurgira no campo de batalha através de um portal negro que havia se aberto em pleno ar. — Tenho meu próprio jeito de fazer as coisas — saltou e posicionou-se bem ao da primeira Suki.

Gaara, então, viu as duas mulheres se fundirem em um único corpo.

— Ah... — Suki gemeu; o rosto corado. — Completa outra vez.

O nível de chakra dela dobrou, sentiu o Kazekage.

Você sabe o que deve fazer agora, não sabe?, Gaara escutou uma voz estridente dentro de si. Virou-se para trás e viu-se em outro plano. Era escuro, de um vazio sem fim. E frio, como os ventos noturnos do deserto.

— Não vou usar aquela técnica enquanto Kankuro e Temari estiverem por perto — respondeu Gaara. — Você, dentre todos, deveria saber disso... Shukaku.

A Besta de Uma Cauda resmungou.

Se pretende fazer as coisas do seu jeito, ao menos use o meu chakra, disse Shukaku.

— Farei isso assim que confirmar quão rápida ela é, e me ajustar a velocidade máxima dela — respondeu Gaara. — Atacar sem essa informação só irá deixá-la mais cuidadosa, e seria um desperdício de chakra.

Shukaku não pareceu gostar da resposta.

— Além disso — Gaara continuou —, eu preciso daqueles dois.

Que seja. Só acabe logo com isso, rosnou Shukaku. Do contrário, assumirei o controle do seu corpo e matarei essa mulher eu mesmo.

Gaara deu uma olhada séria para trás.

Calma, eu só estava brincando, Shukaku forçou uma risada. Não faço mais esse tipo de coisa.

Gaara se virou para frente e viu-se de volta ao Grande Deserto da Solidão com a Assassina de Kages o observando.

Imediatamente, Gaara sequenciou selos manuais.

— Não é rápido o bastante — a Yuurei disparou outra onda de Taiton, amplificando o poder ofensivo da Kekkei Genkai com o leque de guerra.

— Ryuusa Bakuryuu (Tsunami de Areia) — Gaara contra-atacou.

Os golpes chocaram-se com um baque estrondoso. Naquele momento, era como se dois desastres naturais estivessem medindo forças entre si. A onda de furacão liberada por Suki era várias vezes mais rápida, porém Gaara tinha o ataque mais consistente e pesado. Acreditando em sua defesa absoluta, o Kazekage usou seu chakra para conjurar uma muralha de areia desértica com mais de cento e vinte metros de altura por quase meio quilômetro de extensão, e arremessou-a de uma vez contra Suki.

Mas não era só isso. Ao posicionar a areia à frente, Gaara aproveitou a cobertura que ela lhe concedia para preparar seus próximos movimentos. Escondeu-se dentro da defesa de Karura enquanto o Terceiro Olho posicionava-se fora do escudo. Depois, criou tentáculos a partir da onda de areia lançada, tomando o cuidado para fazê-los brotar quando estivessem a poucos metros de Suki.

Ao mesmo tempo, Gaara se valeu dos grãos de areia dispersados no ar. Com eles seria capaz de mensurar a velocidade máxima que Suki poderia se mover, eis que o corpo da Yuurei estava todo revestido por correntes de ar, como um manto que a deixava muito mais leve e difícil de acompanhar.

Uma vez em posse daquela informação, Gaara imobilizaria Suki com o poder de Shukaku. Depois seria o fim.

Do outro lado, porém, Suki era uma verdadeira dançarina no campo de batalha. Seus movimentos eram tão graciosos e naturais que Gaara tinha a sensação de que ela sequer precisava pensar para executá-los; como se seu corpo soubesse exatamente o que deveria fazer e já fosse habituado ao caos, não importando qual inferno o Kazekage lançasse contra a Yuurei. Suki não era apenas rápida, mas também ágil, flexível.

E fisicamente forte. Pois conseguia brandir o leque metálico gigante como uma extensão de si mesma, trocando-o de um braço para o outro se a situação assim o pedisse. Era uma verdadeira mestra na arte do Tessenjutsu, muito mais habilidosa que sua irmã, Temari. Suki atacava, defendia-se e contra-atacava, lançando tornados, rajadas de ar pressurizado e lâminas de vácuo.

O fogo cruzado persistiu por mais de quinze minutos sem que a luta saísse do perfeito equilíbrio. Suki movimentava-se bastante, buscando atacar de vários ângulos diferentes e, assim, vazar a defesa absoluta do Quinto Kazekage. Mas a areia especial não falhou nenhuma vez sequer; era completamente intransponível — e mais do que isso: disparava projéteis de areia carregados de chakra, os quais só não acertavam a Yuurei por conta de sua movimentação absurda.

Eu poderia beijá-lo, Gaara-kun, por me presentear com essa luta, Suki rebateu os tentáculos de areia com uma rajada de tufão, mas não posso me demorar aqui. Então, se me permite, vou acabar com isso.

A Yuurei estava prestes a desatar Bashousen das costas quando foi surpreendida um ataque repentino pela retaguarda.

O quê?!

Desviar foi a única opção naquele momento. Seria impossível defletir todos os ataques do Kazekage e a poderosa rajada de fogo fortalecido com vento que vinha em sua direção.

— Desculpe-nos pela demora — Kankuro posicionou-se à direita, escondido atrás do escudo retrátil de Sanshouo. Flanqueou-se com as marionetes Karasu e Sasori. — Não foi fácil encontrar o caminho de volta à superfície com toda essa confusão.

— Kankuro... — Gaara olhou para o irmão à sua direita; depois para a irmã, à esquerda. — Temari.

— Você está bem, Gaara? — Temari olhou rapidamente para o irmão; e então viu a forma que a defesa absoluta havia tomado. — Essa é...

Antes que Gaara pensasse em fazer alguma coisa, parte da areia especial escorreu ao redor de Kankuro e Temari, envolvendo-os como fizera consigo. A defesa absoluta tomou a exata mesma forma, e três avatares de Karura ergueram-se diante de Suki.

— Mãe — Kankuro falou em voz baixa.

— Que bela reunião de família — Suki deu uma risadinha. — Sentem falta da mamãe? Posso arranjar um encontro ainda hoje — brandiu o leque. — Taiton: Kyoufuu Reppa (Estilo Tufão: Rajadas Consecutivas de Fortes Ventos).

Mas desta vez, Temari estava preparada. Com o leque aberto ao máximo, mordeu o polegar e deslizou o dedo ensanguentado por toda a extensão da arma.

— Kuchiyose: Kirikiri Mai (Invocação: Dança da Decapitação Rápida) — o animal de invocação de Temari, a doninha Kamatari, surgiu no campo de batalha carregando sua típica foice gigante, com outras três foices menores infundidas com chakra flutuando ao redor. Temari, imediatamente, brandiu o leque de guerra e gritou: — Taiton: Daikamaitachi no Jutsu! (Estilo Tufão: Técnica da Grande Foice da Doninha).

Era a técnica mais poderosa de Temari, e criava muitas correntes de ar simultaneamente, que se chocavam umas nas outras para criar bolsões de vácuo para retalhar o inimigo. Era um jutsu poderoso o suficiente para destruir uma floresta inteira de uma só vez. Ao mesmo tempo, o vendaval impulsionava Kamatari para frente — que cavalgava os ventos, cortando tudo pelo caminho por centenas de metros.

Por fim, ao combinar perfeitamente dois ataques simultâneos do estilo Vento — o seu próprio com o de Kamatari —, Temari conseguia, na prática, reproduzir uma liberação fac-símile do estilo Tufão.

Foi assim que Temari anulou o ataque de Suki.

— Estou realmente impressionada, Temari-chan — Kamatari desapareceu após a colisão. O barulho dos ventos se chocando ainda reverberava nos ouvidos de Suki. — Eu criei uma excelente Kunoichi.

Não sou sua criação, Temari disse a si mesma. Definitivamente, não sou igual a você.

Suki sorriu e se preparou para lançar outro ataque.

Do outro lado, Temari brandiu o leque de guerra, Kankuro pôs Sasori em posição ofensiva e Gaara cruzou os braços.

— Vamos fazer isso juntos — o Kazekage disse aos irmãos.

— Estou pronta — disse Temari.

— Eu também — Kankuro ativou os lança-chamas de Sasori. — Quando você quiser, Gaara.

Um ligeiro sorriso despontou nos lábios do Kazekage, enquanto seu coração batia calorosamente; Gaara sentia-se feliz e grato por ter Kankuro e Temari, seus dois irmãos, ali consigo. Mas guardou para si a vontade de dizer alguma coisa; aquele não era o momento mais propício. Antes, tinha uma Yuurei para matar.

Ela alcança velocidades supersônicas usando as correntes de ar para lhe dar propulsão e executar manobras, ainda que estivessem imperceptíveis ao olho humano, Gaara conseguia sentir, através do chakra, os grãos de areia viajando pelo vento. Suki pode ser tão rápida quanto o Raikage, mas minha areia especial também já provou ser igualmente rápida. Sendo assim...

Não moveu um músculo sequer; tudo o que Gaara precisou foi de um simples pensamento e, antes ela que pudesse escapar como das outras vezes, a areia travou as duas pernas de Suki, que arregalou os olhos. O plano funcionou, percebeu Gaara, Suki não esperava por isso.

— Você me pegou com a areia do deserto?! — viu a areia subir e imobilizar também seus braços, cintura e pescoço. — Como?

— Já que a Areia era a única vila oculta que, até então, não fora alvo dos Yuurei, nós sabíamos que era só uma questão de tempo até que sua corja aparecesse — disse Kankuro. — Como Kazekage, Gaara tem se preparado há meses para um ataque dos Yuurei; e graças ao poder de Shukaku, Gaara já infundiu chakra por todo este deserto; e fez de cada grão de areia no País do Vento sua areia especial — sorriu com a cara de espanto de Suki. — Em outras palavras, neste deserto, Gaara é invencível.

Entendo... desde o começo, ele sempre esteve medindo a velocidade da areia para que eu me sentisse confortável e não suspeitasse de nada, Suki sentiu a areia comprimindo-a, restringindo o menor de seus movimentos, ao mesmo tempo em que media minha velocidade para saber se eu escaparia ou não.

Após imobilizar o corpo de Suki, Gaara e Temari lançaram um ataque combinado de areia e vento, lançando-a para o alto. Vão, disse o Kazekage, e enquanto manobrava os dois irmãos por plataformas aéreas, Gaara também usou a areia para criar pilares gigantescos, que giravam e se fechavam ao redor de Suki.

— Aqui vamos nós, Temari — Kankuro utilizou Sasori para disparar rajadas de fogo dentro da estrutura, orbitando-a pelo ar com o auxílio da plataforma.

— Está atrasado, Kankuro — girando em sentido oposto, Temari fez seu leque soprar contra as chamas, aumentando-as ainda mais. Ao mesmo tempo, a prisão de areia engolia toda aquela massa incandescente e cerrava-a junto com a Yuurei.

— Gaara — Kankuro e Temari falaram juntos.

O Kazekage estendeu a mão para a estrutura flamejante.

— Shakunetsu Sabaku Kyuu (Calor Escaldante do Caixão de Areia) — e fechou a mão, esmagando Suki sob toneladas de areia.

A pressão lá dentro era enorme, e por estar tudo completamente vedado, tornou-se insuportável. Então, toda a estrutura colapsou e explodiu no ar.

— Conseguimos — Kankuro disse para Temari assim que aterrissaram. — Desta vez, pegamos ela.

— Sim.

Temari praguejou consigo mesma por uma parte dentro de si ainda sentir-se culpada. Não era exatamente remorso — entendia que Suki sempre fora uma traidora e uma criminosa que precisava ser detida. Mesmo assim, por ser uma questão pessoal, foi mais difícil para Temari.

Conquanto Suki a estivesse enganando por anos, da parte de Temari, o laço que compartilhara com a professora havia sido verdadeiro.

Suki-sensei, isso prova que não éramos parecidas, pensou ela. Além disso, tenho meus irmãos, minha vila, olhou para o anel na mão direita, e meu noivo.

Kankuro observava Temari atentamente e lembrou-se que tinha algo a lhe dizer.

— Eu fui um idiota com você.

Temari ergueu o olhar para o irmão.

— No caminho de volta... — Kankuro prosseguiu. — Não deveria ter me zangado com tão pouco — indicou o anel de noivado da irmã. — Somos irmãos, Temari. Você é a mais velha, e já que o pai era o Kazekage, você assumiu as responsabilidades da casa depois que a mãe morreu... — suspirou.

Assim como Temari, Gaara ouvia tudo em silêncio.

— Eu sou grato a você, Temari, por tudo. Gaara também. Vai ser meio estranho não te ter mais por perto — Kankuro coçou a cabeça e sorriu —, mas quero que seja feliz de verdade; e o Shikamaru é um cara bacana. Só não sei se vou me acostumar direito a chamá-lo de cunhado. Não concorda, Gaara?

O Kazekage piscou os olhos devagar.

 — Não tenho problemas com isso.

— Francamente... — Kankuro suspirou e Temari desatou-se a rir.

— Eu amo vocês dois — disse Temari, sorrindo. — Sempre serão meus irmãos, mesmo que eu esteja longe — então estreitou os olhos, severa —, mas não pensem que vão se livrar de mim tão cedo.

Kankuro fez uma careta contrariada.

— É, eu achei que não — disse.

Agora, Gaara não escondeu o sorriso. Afinal, o momento era apropriado.

Foi quando sua areia especial os surpreendeu, envolvendo todos os três irmãos dentro de um poderoso escudo com a forma de Karura. Acima deles, o céu escurecia em nuvens de tempestade formadas pelo soprar do vento leste.

À frente deles estava Suki. O manto negro fora destruído no último ataque, e seu uniforme de Yuurei estava todo danificado. A calça preta, chamuscada e empoeirada, apresentada rasgos, assim como a camisa de malha; e o coque de Suki se desfizera, deixando seus cabelos soltos pelas costas. Ambos os braços de Suki estavam vermelhos, com queimaduras horríveis que iam dos bíceps às mãos; e um lado de seu rosto estava coberto com sangue. Os pés descalços também apresentavam cortes e queimaduras.

Mas Suki parecia ignorar toda a dor; e tinha o leque de guerra empunhado na mão direita, enquanto segurava Bashousen na esquerda.

— Que momento mais fofo o de vocês.

— Sua... — Kankuro respirou fundo. — Como sobreviveu?

Gaara sentia que as reservas de chakra de Suki não haviam caído, o que significava dizer que aquela ali diante deles era mesmo a Suki original. Ela não os havia enganado com o Bunretsu no Jutsu; e os ferimentos também comprovavam isso.

Suki deu-lhes a resposta na forma de um sussurro: “Yami no Fuuin, liberar”, seguido de uma explosão de chakra escuro. Um poder tão grande que irradiava até os céus de tempestade, que responderam com raios e trovões.

— E pensar que eu chegaria até esse ponto... — as marcas da escuridão percorriam todo o corpo da Yuurei, revigorando suas energias e fortalecendo todos os seus atributos físicos. — O poder do Líder-sama só deve ser usado em batalha contra Naruto Uzumaki. Sasuke Uchiha é a única exceção.

Suki, então, gargalhou sombria.

— Ah, crianças! Vocês se tornaram fortes. Eu reconheço isso — fez uma ligeira mesura com a cabeça. — Não fosse este selo, teriam realmente me matado. Mas agora acabou.

Gaara tentou recapturá-la com a areia, mas Suki se desfez da pegada usando apenas a força física. Imediatamente, o Kazekage, junto com os dois irmãos, desferiu todo tipo de ataque a longa distância. Entretanto, nenhum golpe conseguia acertar a Yuurei, que naquela forma tinha todos os seus reflexos amplificados.

— Bashousen: Gogyou Gekikai (Bashousen: Golpe Explosivo dos Cinco Elementos) — e brandiu a arma do Rikudou Sennin contra o escudo de Karura, que desta vez não suportou.

A força de cinco elementos combinados, misturados ao estilo Escuridão, os lançou com violência para trás. Por sorte, a maior parte do impacto foi absorvida pela defesa de Gaara, que usou a areia para manobrar no ar e reequilibra-se enquanto, simultaneamente, também fazia o mesmo pelos irmãos.

Mas Suki continuava com seus disparos sucessivos. Usava o estilo Água para pesar e retardar a areia, enquanto os ventos do estilo Tufão cuidariam do resto. Gaara precisou concentrar muito mais chakra em uma quantidade menor de areia para torná-la mais forte, e usou sua própria aptidão para o estilo Vento para acelerá-la. Não era tão simples rebalancear aquele combate.

Foi quando Suki mudou a estratégia e, deixando Gaara falando sozinho, partiu para cima de Kankuro em uma investida de curta distância. Por muito pouco foi bem-sucedida; Gaara conseguiu defender o irmão, bloqueando o ataque de Suki mais por reflexo do que intencionalmente.

— Boa! — a Yuurei virou-se para o Kazekage e sorriu. — Vejo que alguém aqui ainda consegue me acompanhar.

Era verdade. Pouco a pouco, Gaara estava se adaptando ao novo estilo de luta de Suki, com a ressalta de que precisava concentrar-se na qualidade, e não na quantidade, de sua areia. Mas o mesmo não poderia ser dito para Temari e Kankuro, de modo que mantê-los ali já não fazia sentido. Seriam alvos fáceis para Suki, e Gaara precisava manter a cabeça totalmente focada na luta

Salvou Temari de ser atravessada por Suki, protegendo a irmã dentro de um casulo de areia. Gaara fez o mesmo com Kankuro e Sasori — a única marionete do irmão que ainda estava operante —, e mandou-os todos para trás.

— O que está fazendo, Gaara? — protestou Temari.

— Solte-nos agora mesmo! — Kankuro tentou se libertar, mas não obteve sucesso. — Gaara!

— Você queria a mim, não é mesmo, Suki? — Gaara ignorou os irmãos, dirigindo-se à Yuurei. — Você quer uma boa luta. Posso dar isso a você, mas não enquanto eles estiverem aqui. Não posso enfrentá-la e protegê-los ao mesmo tempo.

Suki estreitou os olhos.

— É muito tarde para arrependimentos, Gaara-kun.

 — Entendo, você quer garantir a vitória e não correr riscos. No fim, vocês duas pensam parecido — disse Gaara —, Mira Uzumaki e você.

A simples menção do nome da rival fez o rosto de Suki mudar subitamente.

— Vai se arrepender disso, Gaara-kun — olhou para os irmãos do Kazekage. — Eles podem ir.

— Não vamos a lugar nenhum! — gritou Kankuro. — Ei, Gaara, foi você quem disse, não foi? Vamos fazer isso juntos.

Gaara sentiu os próprios ombros pesarem.

— Como Kazekage, o meu dever é proteger todo o povo da Vila Oculta da Areia de qualquer ameaça, e isso inclui protegê-los também, Kankuro, Temari — disse Gaara de costas para os irmãos. — Isso já não depende mais de vocês.

Temari temia que o irmão dissesse aquilo.

— Nós entendemos — disse cabisbaixa, e Kankuro olhou-a incrédulo. Temari, no entanto, sabia que Gaara tinha razão; só iriam atrapalhá-lo caso continuassem ali. — Estaremos te esperando para voltarmos juntos para casa.

— Obrigado — Gaara limitou-se a dizer.

Com um selo nas mãos, Gaara criou plataformas de areia para Kankuro e Temari e os fez voar para longe dali. Considerou enviá-los a uma distância de, pelo menos, vinte quilômetros de onde estavam. Não menos que isso. Do contrário não poderia garantir-lhes a segurança.

Suki observava-o deliciada; um sorriso atrevido despontou em seus lábios.

— Devo dizer, gostei de estarmos sozinhos aqui. Podemos fazer loucuras agora — a voz de Suki era doce e provocativa. — Me diz, Gaara-kun, você já deu seu primeiro beijo?

Gaara juntou as duas mãos e fechou-se dentro de um casulo de areia.

Suki deu um sorrisinho.

— Entendo... ainda não provou o gosto de uma mulher — estalou os ossos do pescoço, dos ombros, e aprumou-se para a batalha. — Isso é perfeito! Depois que acabarmos, terá algo para se gabar no mundo dos mortos: ter beijado a Yuurei mais bonita.

Kankuro tinha razão, ela sabe irritar, pensou Gaara.

Dentro do casulo de areia, sentia o chakra circular por todo o seu corpo. Com os irmãos fora de perigo, não precisaria mais se segurar.

Vamos, Shukaku, Gaara disse mentalmente.

Sim, a Besta de Cauda abriu a boca no que parecia ser um sorriso grotesco, finalmente.

À medida que o chakra era liberado, Suki via toda a areia ao redor acumular-se junto ao casulo, ganhando forma e volume. A coisa inteira crescia, crescia e crescia...

 

 

                                                                            ***

 

 

— Está me dizendo que estamos perdidos nesse maldito deserto e que não podemos voltar para a vila para pedir ajuda? — o rosto de Kankuro endureceu. — Droga!

Temari também detestava a situação na qual se encontravam, mas não havia nada que pudessem fazer. A batalha entre Gaara e Suki havia modificado drasticamente o deserto com o qual estavam habituados, de modo que haviam perdido todos os pontos de referência; e não poderiam situar-se a partir da posição do sol, uma vez que ele estava escondido atrás das nuvens de tempestade invocadas por Suki.

— Sei como se sente — Temari engoliu a própria frustração e procurou ser racional por si mesma e por Kankuro. — É horrível sentir-se inútil, sem poder fazer nada.

Kankuro caiu sentado sobre um barranco de areia. Não queria admitir a si mesmo, mas estava exausto.

— É — suspirou. — Nos resta apenas confiar no Gaara.

Temari assentiu e forçou um sorriso.

— Como Kazekage, é dever do Gaara lidar com os Nukenin da Areia, e isso inclui a Suki — disse, procurando o kit médico no estojo. — E como irmã mais velha, é meu dever cuidar de você.

— Não se dê o trabalho — protestou Kankuro. — Aprendi a me virar com os primeiros socorros.

Mas Kankuro não conseguiu resistir a Temari, que ameaçou agredi-lo caso ele persistisse em recusar ser ajudado; e, no fim das contas, a irmã era realmente melhor nisso do que ele.

— Kankuro — Temari chamou-lhe a atenção para um fenômeno curioso —, a areia...

— Está escoando? — Kankuro também vira. Como as águas do mar após o quebrar de uma onda, a areia no chão fluía para longe. Era um incontável exército que marchava diretamente para o local de onde Kankuro e Temari haviam sido afastados. — Gaara... você...

Os dois irmãos ouviram um som grave e terrível estourar no horizonte. Era mais forte que um trovão, e muito mais assustador.

Um rugido.

 

 

                                                                            ***

 

 

O tamanho da criatura fazia o tsunami de areia anterior parecer um brinquedo. Seu corpo, várias vezes maior do que florestas inteiras e edifícios, era pesado e maciço, todo feito de areia com marcas azul-escuras. E a cauda solitária, quase do tamanho da própria besta, balançava vagarosa de um lado para o outro acima da cabeça do monstro.

Modo Bijuu, reconheceu Suki, enquanto olhava para cima, entendo... Gaara-kun se tornou um Jinchuuriki perfeito. E pensar que aquele garotinho amaldiçoado seria capaz disso.

A Yuurei deu dois passos para frente.

— A Encarnação da Areia, Shukaku — disse Suki pomposamente —, mas conhecido como Besta de Uma Cauda.

O monstro rosnou, irritado.

— Este deserto será o seu túmulo, Suki — a voz do monstro era uma mistura entre as vozes de Gaara e Shukaku. — Como Kazekage, garantirei que não sairá viva deste lugar.

Então, Yuurei e Bijuu se atacaram.


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Notas finais do capítulo

Nota:

Tessenjutsu: arte marcial que utiliza o leque de ferro como arma.

***

Se alguém aqui esperava um passeio da Suki, teve uma agradável decepção, acredito.

E aí, o que acharam dessa luta (que já deveria durar dois capítulos mesmo) entre Gaara, Kankuro e Temari contra Suki? Gostaram do contexto? Eu precisava mostrar um pouco mais a respeito dela, para que vocês conhecessem um pouco melhor esta personagem.

Agora quero saber: quais são as expectativas de vocês para o desfecho dessa luta? Gaara vs. Suki, Areia vs. Vento, Jinchuuriki vs. Yuurei.


Próximo capítulo: Verdadeiro Funeral do Deserto
Data provável: 26/08/2022


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E obrigado por acompanharem até aqui!

Até o próximo capítulo o/



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