O Herói do Mundo Ninja escrita por Dracule Mihawk


Capítulo 122
A verdade através do espelho


Notas iniciais do capítulo

"A guerra é um banquete de fúria; não há espaço para a misericórdia." (Suki, a Assassina de Kages)



Boa noite, meus caros!

Sei que o capítulo deveria ter saído na sexta, mas foi justamente ontem que consegui terminá-lo; e precisei do sábado para revisá-lo antes da publicação. Perdoem-me o atraso.

Perceberam que o título está diferente daquele que foi previsto? ("Não percebemos, mas ok"). Pois bem, escrevi mais do que o desfecho da luta. Por isso, penso que este nome é mais apropriado.

Bom, chega de enrolação. Boa leitura a todos! Aproveitem o capítulo o/



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Mira acompanhava o desenrolar da luta com ar de desaprovação. E à medida que o tempo passava, mais ficava ansiosa. Uma ou duas vezes cruzou as pernas na cadeira, enquanto seus olhos mal piscavam, atentos ao que era mostrado na bola de cristal.

O combate entre Suki e o Quinto Kazekage ainda estava em aberto, com chances para os dois lados. Porém, Mira sabia, se aquilo se prolongasse por mais tempo, o desgaste físico logo pesaria desfavorável à Suki, e a Quarta Oficial dos Yuurei seria engolida pela fúria de um deserto vivo.

Foi um erro designá-la para esta missão, pensou Mira Uzumaki, enquanto assistia a Suki defender-se de um sem-número de braços de areia para, rapidamente, contra-atacar. Kioto teria sido uma escolha muito mais sábia.

Era fato que Suki conhecia Gaara melhor do que qualquer outro Yuurei. Porém Mira havia minimizado, para sua própria vergonha, o apetite voraz que a Assassina de Kages tinha por desafios e batalhas grandiosas. Deveria ter previsto a imprudência de Suki, que deliberadamente escolhera enfrentar o Quinto Kazekage, um poderoso Jinchuuriki, em pleno deserto.

E o tempo estava passando.

Maldita seja, Suki, Mira comprimiu os lábios, até quando pretende me fazer esperar?

— Você está tensa, Mira-hime — ouviu a doce voz da Donzela Celestial, que lhe penteava os longos cabelos ruivos. — Não te vejo assim há muito tempo. É por causa de sua companheira?

Aquilo fez Mira franzir a testa. Suki também poderia ser uma Yuurei, mas as duas estavam longe de se considerarem companheiras. Não fosse aquela missão e o fato de Suki ser um membro importante dos Yuurei, Mira não se incomodaria caso a Quarta Oficial morresse.

— Ela sabe se cuidar — disse Mira, e terminou em pensamento: mas talvez eu devesse mesmo interferir. Suki está demorando demais.

A Donzela Celestial assentiu.

— Vejo que esta mulher gosta de lutar. É feroz. Veja esses movimentos e o brilho assassino nos olhos.

— Suki nasceu para o combate, é onde se sente mais viva — disse Mira, indiferente. — É uma mulher de sangue quente e tola.

— Entendo.

A Donzela Celestial afagou a cabeleira ruiva com os dedos todos enfaixados por ataduras, dividindo os cabelos de Mira em camadas, enquanto o pente era usado na outra mão. Mira ergueu os olhos para o espelho e a observou trabalhar, paciente e delicada. A Donzela Celestial agia com um zelo solene e impressionante.

— Mas existe algo que a está perturbando, Mira-hime — disse-lhe a outra depois de um tempo. — Posso sentir.

Mira Uzumaki estudou a criatura angelical através do reflexo no espelho. A Donzela Celestial, como esperado, ocupava-se com sua tarefa; e não pareceu à Mira que ela a estivesse observando de volta. Mas era impossível ter certeza. A Donzela Celestial, assim como seus oito irmãos, tinha o rosto totalmente escondido atrás de uma máscara branca com detalhes vermelhos. Mira, quando criança, gostava de imaginar como seria a verdadeira aparência daquele ser misterioso.

 Ela não deixa te ter razão, encolheu os ombros.

— Ele está perto — disse Mira, baixinho —, tão perto que quase posso senti-lo se aproximando.

Com o braço esquerdo, a Donzela Celestial içou a cabeleira ruiva de Mira e, assim, pôde pentear as pontas.

— Fala de Naruto Uzumaki.

Mira baixou os olhos novamente para a bola de cristal.

— Não posso encontrá-lo sem primeiro tratar com Gaara do Deserto. Também preciso enviar uma mensagem à Hokage da Folha — juntou os dedos, pensativa. — E ainda há a questão de Hana... — Mira suspirou cansada. Essa é a parte mais complicada, pensou.

A Donzela Celestial respeitou o silêncio de sua senhora Uzumaki. Pensou em aconselhar Mira para que não fizesse tudo sozinha, porém não o disse. Temia vê-la pior. E, no fim das contas, seria inútil. Mira Uzumaki já estava só há muito, muito tempo.

Quando o serviço terminou, Mira se pôs em pé diante do espelho. Parecia satisfeita com o que via. O cabelo sedoso e perfumado, de um vermelho tão vivo quanto o sangue, desceu como um véu escarlate até a altura dos tornozelos.

— Você deveria fazer uma trança, Mira-hime — observou a Donzela Celestial. — Ou talvez deixá-lo preso, como Mito-hime costumava usá-lo na juventude.

— Gosto de usar meu cabelo assim, livre. Me traz boas lembranças — Mira afagava os fios, com um sorriso brando que rapidamente morreu. — Prendê-lo me lembra de Hayato, da Velha Yama, daquela casa... e de todo o resto.

A mulher mascarada curvou a cabeça respeitosamente.

— Compreendo. E peço desculpas por minha sugestão inconveniente.

— Não precisa se desculpar — Mira se virou para a outra. — Você entende do meu cabelo melhor do que eu.

As mãos da Donzela Celestial se juntaram à frente do corpo numa expressão prestativa.

— Você gostaria que eu fizesse algo mais, Mira-hime? Cozinhar, talvez — sugeriu. — Posso servir-te de companhia para o jantar esta noite.

Mira franziu o cenho.

— Espíritos não comem.

— Comerei se assim me ordenar, Mira-hime.

Mira deu um pequeno sorriso. A Donzela Celestial era, com certeza, a mais gentil dentre as Nove Bestas Mascaradas, e com a qual Mira se sentia mais à vontade. Diferente das demais, aprendera a conjurá-la quando ainda era uma menina sob os ensinamentos de Yama Uzumaki. Segundo lhe contara a Velha Yama, o ritual de invocação das Nove Bestas Mascaradas era uma técnica secreta praticada apenas entre a Família Real do País do Redemoinho, e que em toda a história do país, apenas um homem fora capaz de dominar todas as nove bestas: Ashina Uzumaki, o mais habilidoso e respeitado líder do clã Uzumaki, e que estabelecera aliança com o Primeiro Hokage, Hashirama Senju, da Vila Oculta da Folha. Nem mesmo a talentosa Mito Uzumaki, que se tornou esposa de Hashirama, conseguiu reproduzir este feito.

— Obrigada, mas não é necessário.

— Tem certeza? — mesmo com o rosto escondido sob uma máscara, a criatura transparecia clara hesitação.

— Não se preocupe — disse Mira, grata. — Ficarei bem.

A Donzela Celestial virou o rosto na direção da escrivaninha, precisamente para a violenta batalha que era transmitida pela bola de cristal.

— Chame-me se precisar, Mira-hime — e desapareceu instantaneamente.

De volta ao silêncio habitual, Mira Uzumaki caminhou até o cabideiro e pôs o manto dos Yuurei, tomando o cuidado para que a capa não estragasse o penteado. E como era de seu costume, não usou o capuz. Depois, buscou um enorme rolo de pergaminho na estante e o atou às costas.

Por último, Mira pegou a faca escura em forma de garra que já havia separado sobre a cabeceira da cama. Atou-a à cintura.

E aguardou o desfecho da batalha entre Suki e o Kazekage.

 

 

                                                                            ***

 

 

O rugido de Shukaku a lançou para longe no ar. Suki usou o leque de guerra para surfar entre as correntes de vento e, manobrando, preparou o contra-ataque imediato com Bashousen. Contanto que se mantivesse bem longe do chão, ficaria bem.

Atingiu Shukaku com o maior relâmpago já visto. Dedos negros da mais bruta descarga elétrica misturada com escuridão rasgaram os céus e atingiram a Besta de Uma Cauda bem na cabeça e em um dos braços. O monstro colossal grunhiu gravemente e balançou enquanto seu corpo, todo feito de areia, despedaçava... para, logo em seguida, regenerar-se.

O gargalhar de Shukaku foi ensurdecedor.

— Ainda não entendeu, Yuurei burra? Você está muito ferrada! Aqui, neste deserto, Gaara e eu somos invencíveis!

Imediatamente, o monstro revidou com uma tempestade de areia cegante. Assim vinha sendo entre os dois: todo ataque tinha uma resposta à altura. Era um equilíbrio dinâmico perfeito. Tanto Gaara quanto Suki sabiam estar andando em uma corda tênue sobre um abismo; o menor deslize significaria a derrota certa para qualquer um dos dois.

Ao assumir a forma de Shukaku, Gaara tornara-se um só com o Grande Deserto da Solidão, de modo que seu poder bruto fora aumentado exponencialmente. E apesar de o corpanzil torná-lo um alvo estático, fácil de acertar e incrivelmente lento, o mesmo não poderia ser dito de seus ataques de areia. Para Suki, tocar no chão, ainda que por uma fração de segundo, seria o fim.

Mas se Gaara tinha o pleno controle do chão, Suki dominava todo o céu. Combinando seu estilo Tufão com as cinco naturezas de chakra de Bashousen e, ainda, o poder da escuridão, Suki fazia chover raios, granizo e todo tipo de desastre natural contra o corpo de Shukaku. Além disso, seus reflexos e seu tamanho milhares de vezes menor a tornavam difícil de ser atingida.

O problema era que não importava o quão duras fossem as combinações de Suki. Ali, naquele deserto, Shukaku se regenerava de tudo quase instantaneamente. Além disso, mesmo com o Yami no Fuuin, a Yuurei não conseguiria manter aquele ritmo por muito tempo... e aí o equilíbrio dinâmico se desfaria.

Começo a acreditar que seja verdade, Suki voou para acima da tempestade de areia, refugiando-se entre as nuvens. Talvez ele seja mesmo invencível aqui.

— Onde você está, Yuurei? — berrou o monstro, olhando de um lado para o outro.

Ele ainda não me viu. Ótimo! Preciso dar um jeito de..., viu Shukaku acumular uma massa de chakra perto da boca, engoli-la rapidamente e, ainda segurando a energia com a boca fechada, virar a cabeçorra para cima, exatamente em sua direção.

... ah, mas que merda!, a Yuurei tratou de manobrar o leque para longe dali o mais rápido possível.

— APAREÇA!

Quando Shukaku abriu a boca, toda a energia escapou de uma vez. A rajada explosiva abriu um buraco entre as nuvens ao mesmo tempo em que clareava o céu cinzento de vermelho e laranja.

 A uma distância segura da rajada, Suki surgiu entre as nuvens. Estava sobre o leque de guerra e segurava Bashousen com ambas as mãos. Zuniu, como um míssil, na direção da Besta de Cauda.

— Minha vez!

O relâmpago negro atingiu-o na garganta, e enquanto o monstro ainda se recuperava, Suki continuou com ventos de furacão e baforadas de fogo negro. Mudou o nível, voando rasante à altura dos dedos da besta. Desviou de tentáculos, braços e projéteis de areia, e imediatamente atacou com água negra, para diminuir a velocidade da areia especial. Depois subiu de novo, em um ângulo de 90º, desviou de tudo aquilo que brotava do corpo de Shukaku e, quando chegou à altura da cabeça do monstro, usou ambas as armas de uma vez para lançar um ataque combinado bem na cara da Bijuu.

— Hora de dormir, animal estúpido — e arremessou tudo que tinha de uma só vez: todos os cinco elementos de Bashousen corrompidos pelo Meiton, e o seu próprio estilo Tufão, também banhado em escuridão. A cabeça de Shukaku desapareceu, engolida por aquele ataque.

Suki até tentou evitar, mas a própria força de seu ataque a lançou com violência para o chão. Por meio do leque de guerra, ela manobrou no ar e caiu de mal jeito. Escapara de uma queda fatal, mas seu ombro esquerdo estava deslocado e todos seus músculos, principalmente os das pernas, queimavam de exaustão. Por mais que tentasse, já não conseguia ignorar toda aquela dor.

Suki rasgou parte da roupa e improvisou ataduras para os braços e pernas. Depois cerrou os dentes, respirou fundo e puxou o ombro de volta à força. Um grito de dor escapou de sua garganta e seus olhos lagrimejaram automaticamente.

Então, Suki caiu de joelhos. Trêmula, suada e tonta.

Fazia muito tempo que ela não sabia o que era aquilo. A sensação de chegar perto de seu limite, de estar à beira da morte, era assustadora, mas também deliciosamente viciante. Aquela pulsação no peito, o medo da derrota, a adrenalina que somente o calor da batalha poderia lhe proporcionar... e fora com um homem desta vez! Um homem jovem, bonito e, mais importante, o Kazekage.

Você fez melhor do que o Yagura... Gaara-kun. Foi o primeiro homem a quase me matar, mesmo eu usando toda a minha força, pensou Suki. A respiração era desesperada, com os pulmões implorando por mais ar. A Assassina de Kages se pôs em pé e usou a língua para limpar o interior da boca. Cuspiu sangue e areia.

E riu de nervosismo e incredulidade quando seus olhos viram o monstro de areia se levantando outra vez.

— Meu ataque não fez nada... — Suki percebeu-se trêmula e, enraivecida, mordeu a própria mão até parar a tremedeira. Que ridículo! Ele conseguiu me deixar assustada, pensou.

Após se acalmar, Suki reparou que Shukaku se reerguia menor e mais enfezado do que das outras vezes. Controlar toda essa quantidade de areia de uma vez cobrou seu preço, observou que, mesmo no chão, estava segura àquela distância. Ele também já consumiu muito chakra, o que significa que a defesa de areia já não funciona como antes, analisou.

Imediatamente, Suki bateu nas próprias feridas em ambos os braços. Usou a dor como uma ingestão extra de adrenalina e, renovada, armou-se com o leque de guerra e Bashousen para terminar aquele combate.

Mas bastou um único movimento da Besta de Uma Cauda para Suki saber que o equilíbrio dinâmico daquela luta havia terminado. Shukaku colocou-se sobre as duas patas traseiras enquanto juntava as duas patas dianteiras no Selo da Cobra.

— Shin Sabaku Taisou (Verdadeiro Funeral do Deserto) — bradou o monstro.

Tudo aconteceu ao mesmo tempo. Suki viu o chão se abrir em uma bocarra na forma exata de Shukaku enquanto paredões de areia subiam rápidos a sua volta. De uma hora para outra, incontáveis muralhas desérticas erguiam-se por todo lugar, não importando para onde Suki olhasse. Todas as dunas existentes naquele deserto pareciam se amontoar bem ali, ao redor da Yuurei, para devorá-la.

— Ele fez um corpo menor de propósito! — Suki trincou os dentes, alarmada. — Todo o chakra da Bijuu estava espalhado pelo ambiente... ele estava preparando esse jutsu desde o começo!

Desesperada, Suki rasgou o ar e atravessou um portal de trevas. No entanto, tentáculos da areia de Gaara perseguiram a Yuurei através da escuridão e, puxando-a pelo cabelo através do desconhecido, trouxeram-na de volta ao deserto antes que o portal de trevas se fechasse e Suki estivesse em segurança.

— Eu disse a você, Suki — misturada com a de Shukaku, a voz de Gaara ressoou grave pela boca da Bijuu. — Este deserto será o seu túmulo.

A Besta de Uma Cauda ergueu as duas patas dianteiras para o ar, rugiu estrondosamente e, então, bateu-as contra o chão. Após a areia esmagar tudo pelo caminho, veio a onda de choque, que percorreu vários quilômetros através do campo de batalha.

Somente após isso o deserto parou de se mover.

 

 

 

 

O corpanzil da Besta de Uma Cauda logo se desfez e Gaara caiu de joelhos sobre montões de areia. Arfava copiosamente. A Transformação Bijuu ainda exigia muito de suas forças e não estava totalmente habituado a ela, mesmo obtendo a cooperação de Shukaku. Mas conseguira mantê-la por muito mais de uma hora. Um feito, até então, inédito para o Quinto Kazekage.

Não teria conseguido sem você, disse Gaara em pensamentos. Obrigado, Shukaku.

A Besta de Uma Cauda praguejava dezenas de nomes e enviava Suki para os piores lugares possíveis. Shukaku também havia usado muito de seu chakra durante aquela batalha. E pensar que aquele vermezinho me deu tanto trabalho... é tão humilhante.

Gaara esboçou um sorriso cansado. Orgulhoso como sempre, pensou o Jinchuuriki. Agora restava buscar Kankuro e Temari e voltar, enfim, para a Vila da Areia. Ainda precisava reunir o Conselho naquele mesmo dia.

Gaara colocou-se de pé.

E viu a mulher ali, parada, observando-o.

— Você...!

Gaara, quem é esta mulher?, a voz de Shukaku havia mudado para um tom que jamais esperaria encontrar na Bijuu: tensão. A Besta de Uma Cauda, quase sempre, era uma montanha de arrogância e orgulho de suas próprias habilidades, o que fazia-o subestimar os inimigos na maioria das vezes. Tem alguma coisa errada no chakra dela, avisou Shukaku, sinto uma presença familiar.

Mira Uzumaki curvou a cabeça em um cumprimento formal.

— Imaginei que Suki encontraria dificuldades por estar lutando no seu território — disse a vice-líder dos Yuurei —, mas nunca imaginei que ela seria derrotada por você, Kazekage.

Gaara fechou as duas mãos de uma vez, mas a areia ao redor de Mira simplesmente não reagiu. Gaara notou, então, que Mira garantia a própria segurança por meio de uma fórmula de selamento que projetara bem abaixo dos pés.

— Ao contrário de Suki, eu não subestimo meus adversários; e não gosto de sacrificar a prudência em favor da emoção.

— Entendo, você assistiu à minha luta contra Suki; ataques-surpresa não funcionarão em você — deduziu Gaara. — Apenas força bruta.

— Receio que nem isso — respondeu Mira. — Posso sentir seu chakra e o da besta dentro de você. Ambos acabaram de sair de uma guerra contra a minha subordinada. O que acha que acontecerá agora?

Shukaku, chamou Gaara, é melhor que você tenha conseguido reunir chakra para outra transformação.

É claro que consegui! Acha que sou um idiota?, berrou a Bijuu, e logo suspirou. Mas Gaara, eu já disse: tem algo errado com o chakra dessa mulher... é grande demais para padrões humanos; e não parece que essa ruiva seja uma lutadora descuidada como aquela outra Yuurei que enfrentamos.

Nisso Gaara tinha que concordar.

O que você sugere?

Vamos distraí-la com o Modo Bijuu, encontrar seus irmãos e recuar para a vila, explicou Shukaku, lá teremos a vantagem numérica a nosso favor. Se ficarmos aqui, seremos dois ferrados contra alguém que já sabe como lutamos.

Vai ser difícil surpreendê-la; Mira Uzumaki é do tipo sensorial, admitiu Gaara, mas não custa tentar.

Sim. E com sorte poderemos enterrá-la também, Shukaku sorriu e juntou as patas dianteiras, concentrando chakra para seu Jinchuuriki. Não custa tentar.

 

 

                                                                            ***

 

 

— Droga! O que será que está havendo lá?

Estavam a vários quilômetros de distância e, mesmo assim, as ondas de vento reverberavam contra eles; e não havia qualquer rocha por perto em que pudessem se abrigar. Não fosse a habilidade de Temari com o Tessenjutsu, que brandia o leque de guerra para afastar as lufadas de vento arenoso, teriam sido envolvidos naquela luta apesar dos esforços de Gaara para protegê-los.

— Deveríamos esperar que seria algo bem exagerado, afinal Gaara está lutando ao lado de Shukaku contra Suki — disse Temari, que olhou para cima com expressão intrigada.

Kankuro sabia o que a irmã estava pensando. O céu voltou a clarear, observou o titeriteiro, então a luta terminou? Se sim, quem venceu? Gaara ou Suki?

— Temari, nós...

Não a vira nem a ouvira se aproximar. Os joelhos de Kankuro vacilaram e o gosto de sangue encheu-lhe a boca. Kankuro sentiu as costas rígidas e as entranhas virarem água. Não entendeu como aquilo havia acontecido. Viu que Temari olhava-o aterrorizada. A irmã parecia gritar, mas não escutava a voz dela ou qualquer outra coisa. Kankuro apenas sentiu a camisa molhada e pesada, e as mãos sujas do que entendeu ser seu próprio sangue. Olhou para baixo e viu a ponta do espigão de ferro que saía por sua frente.

— Sua... maldita! O que você está fazendo aqui? — gritou Temari com o leque às mãos.

Suki sorriu atrás de Kankuro.

— Foi por pouco — disse a Yuurei, olhando fixamente para Temari —, por muito pouco, mas consegui me dividir bem a tempo... antes que o Gaara-kun me soterrasse viva.

— Afaste-se do meu irmão! Agora!

— Receio que isso não seja possível, Temari-chan. Minhas armas ficaram com o outro corpo e, sem meu leque, só tenho o Kankuro-kun para usar como escudo.

Kankuro tentou concentrar chakra nas pontas dos dedos para ativar Sasori, mas não conseguiu; seu corpo não respondia aos comandos do cérebro. Olhou para baixo e viu que, misturado ao seu sangue, havia um líquido roxo pingando do espigão de ferro. Veneno, concluiu.

— Relaxe, Kankuro-kun — Suki apertou-o contra si, e Kankuro grunhia à medida que o ferro mais lhe atravessava —, não é uma dose letal; e tomei cuidado para não acertar seus órgãos vitais. Se você morrer rápido, então a Temari-chan não vai hesitar em me atacar.

Era verdade. Em circunstâncias normais, Temari não teria pensado duas vezes em obliterar Suki com uma lufada de vento cortante. Mas uma vez que ela o tinha tomado por refém, Kankuro sabia que a situação era completamente outra. Mesmo assim, acreditava que sua irmã mais velha iria fazer o certo: matá-lo junto com o inimigo.

Mas Temari não o fez. E quando a risadinha de Suki tilintou em seu ouvido, Kankuro lembrou-se de que aquela mulher também sabia como a mente de Temari funcionava.

— Não é hora para sentimentalismo, sua idiota... — Kankuro falou com dificuldade. — Nós somos ninjas, Temari... você sabe o que precisa ser feito.

— Cala a boca, Kankuro.

— Olhe para ela — Suki disse com a boca ao ouvido do refém —, veja a dúvida em seus olhos; a piedade que eu trabalhei tanto para tirar dela ainda está ali, impedindo-a de agir. Temari-chan sabe o que deve fazer, mas não vai fazê-lo. Ela está pensando num jeito de te salvar, Kankuro-kun.

Merda! Se não fosse esse maldito veneno me paralisando, pensou Kankuro, que gritou:

— Mate-a, Temari! Isso é mais importante do que salvar a minha vida.

Temari respirou fundo. Não conseguia encontrar um ângulo seguro para atacar. Suki se posicionava bem atrás de Kankuro. Se eu pudesse separá-los, pensou.

Foi quando Temari percebeu a ponta do espigão. O ferro estava atravessado totalmente na horizontal na barriga de Kankuro. Teve uma ideia, e sabia ser algo bem arriscado. Ao contrário de sua professora, Temari não dominava aquela técnica. Não tenho escolha, preciso tentar.

Temari fechou dois terços do leque de guerra. Com apenas uma das três estrelas à mostra, Temari posicionou o leque atrás do corpo, com a folha voltada para cima. A perna direita deu um passo para frente.

Suki arregalou os olhos.

Essa postura... é o estilo do Vento Norte, o mais violento de todos os quatro ventos, a Yuurei vacilou; Temari lhe dirigia o mais feroz dos olhares. Ela pretende mesmo atacar o próprio irmão para me matar?

— Tem razão, Kankuro. Nós somos ninjas e sei o que devo fazer — disse Temari, que completou em sua mente: perdoe-me por isso.

Temari saltou e, girando o leque no ar, fintou um ataque com o Vento Norte. Foi o suficiente para deixar Suki na dúvida. Imediatamente, Temari mudou a pegada, posicionando o leque ao lado do corpo, com a folha voltada para a direção oeste. Sua perna esquerda acompanhou o movimento do leque de guerra em uma sincronia perfeita, recuando dois passos, enquanto a perna direita servia-lhe de base na areia.

Brandiu o leque num movimento arqueado, e usou o Vento Oeste como uma espécie de pinça. Aproveitando-se da brecha que Suki lhe havia dado, Temari puxou o irmão para si. Kankuro caiu ao seu lado gemendo de dor; ainda sentia o ferro passando bruscamente por suas entranhas. Mas estava livre.

Imediatamente, Temari colocou-se entre o irmão e a Yuurei. Tinha o leque de guerra completamente aberto em posição defensiva.

— Então, você tem potencial para usar o estilo dos Quatro Ventos... — Suki não pôde deixar de sorrir orgulhosa. — Daria uma ótima Yuurei, Temari-chan.

Temari encheu-se de fúria e lançou num ataque com o estilo Vento. Suki, porém, em um movimento ágil, soprou sua Kekkei Genkai na ponta do espigão, transformando-o num sabre de vento de furacão, e usou-o para cortar o jutsu de Temari ao meio.

— Seria melhor do que meu antigo parceiro, eu garanto — continuou Suki —, e poderia me ajudar a matar uma certa ruiva.

— Cale essa boca!

Temari avançou contra Suki, que aceitou o duelo. As duas Kunoichi trocavam golpes ferozes da média para a curta distância, combinando Ninjutsu com Taijutsu. O fato de terem sido mestra e aluna lhes dava uma boa noção do que poderiam esperar uma da outra, de modo que boa parte de seus movimentos já estavam telegrafados. Disparos de vento cortante, ainda que à queima-roupa, não eram efetivos por si só. Temari sabia o quão ardilosa Suki poderia ser, e vice-versa. Por isso, junto com o vento, vinham chutes, socos e cotoveladas de ambos os lados.

Suki desferiu uma sequência de socos, mirando na cabeça de Temari, enquanto também tinha o espigão de vento girando no ar entre elas. Temari defendeu-se da arma com a haste do leque de ferro, esquivou dos socos e, ao mesmo tempo, aplicou um chute nas costelas da Yuurei, que catou a perna de Temari com um braço e, com o outro, puxou-a pela gola para dar-lhe uma cabeçada na ponta do queixo.

Conquanto Temari tivesse sentido, também havia lançado um cruzado de esquerda ao mesmo tempo, o qual atingiu Suki em cheio, fazendo-a balançar. Temari saltou para trás e, brandindo o leque, atacou com vento cortante. Suki reuniu chakra e soprou contra o solo, impulsionando-se para cima e por sobre o jutsu de Temari. Ainda no ar, Suki sequenciou selos de mãos.

— Fuuton: Shinkuugyoku (Estilo Vento: Balas de Vácuo).

Temari usou o leque para rebater os projéteis na direção de Suki, que já esperava por isso. Poucos segundos de ser atingida, substituiu-se por um cacto que estava bem ao lado de Temari. A Yuurei, então, lançou-se contra a ex-aluna e, numa manobra surpreendente, tomou-lhe o leque das mãos.

Com Suki prestes a brandir o leque, Temari imediatamente se pôs a sequenciar selos manuais. Isso não é o bastante, Temari-chan, pensou a Yuurei.

 Temari até chegou a lançar um jutsu, mas agora Suki tinha a posse do leque de guerra, que amplificava o poder de suas técnicas de Vento, além de não a deixar perder segundos preciosos com selos manuais. Suki só precisou agitar o leque de cima para baixo.

Houve um silvar de ventanias colidindo; e, quando a poeira baixou, Suki estava só. Saíra vitoriosa contra a ex-aluna.

Olhou para trás. Kankuro jazia caído e inconsciente longe dali. Sem deixar corpos, assim agem os Yuurei, a máxima ecoou na mente de Suki. Mas depois de haver matado Temari, Suki viu-se hesitante em cumprir a regra. A última vez que o remorso a tomara daquele jeito tão inconveniente fora quando havia entregado a amiga Pakura para a morte.

— Acho que eu também cheguei a me afeiçoar por você, Temari-chan — riu-se Suki, erguendo o leque contra Kankuro. — Sentimentos são tão esquisitos... não se pode confiar neles.

Mas antes que pudesse finalizar o serviço, viu um clarão ao longe, seguido por um estrondo. Suki parou o que estava fazendo e, fitando o horizonte, encontrou traços de uma enorme explosão. Considerando o alcance daquela bomba e principalmente a direção em que ela explodira, entendeu que se tratava de uma Bijuu Dama. Gaara-kun está lutando de novo? Mas contra quem?

Suki percebeu que já tinha aquela resposta.

— O que será que ela quer? — ignorou Kankuro e, imediatamente, abriu um portal de trevas para lá.

 

 

                                                                            ***

 

 

Quando Suki chegou ao local, o combate já estava terminado. O Kazekage jazia deitado sobre uma mesa de pedra octogonal, com velas acesas em todos os cantos. Gaara era mantido preso sobre o altar por correntes de chakra que brotavam do próprio solo; e havia uma fórmula de selamento desenhada com tinta vermelha sobre seu peito desnudo.

Atrás dele estava Mira Uzumaki, de olhos fechados, executando selos manuais que Suki não reconhecia. Para cada selo estranho que fazia nas mãos, Mira pronunciava uma palavra de um idioma também desconhecido; e recitava-as melodiosamente, como se entoasse algum tipo de canção ritualística.

Mas parou quando pressentiu a Assassina de Kages ali.

— Então, foi desse jeito... — Mira abriu os olhos no instante exato em que o portal de trevas desaparecia atrás de Suki. — Estava me perguntando como você havia se dividido sem que o Kazekage percebesse. Agora eu sei. Separou-se após abrir aquele portal, e escondeu sua metade enquanto a outra de você era pega no jutsu do Kazekage.

Suki suspirou firme.

— Por que veio fazer sua bruxaria Uzumaki bem aqui? — comentou ríspida. — Poderia simplesmente levar o Gaara-kun como refém; e matá-lo quando não precisasse mais dele.

Mira negou com a cabeça.

— Se eu o levasse comigo, Iori me mandaria matá-lo — respondeu. — E preciso dele vivo.

— Ele é o Kazekage! — frisou.

— Sei muito bem disso.

Suki já não conseguia mais aturar toda aquela displicência de Mira. Aquela seria a terceira vez em que os Yuurei poupariam um Kage. E o pior de tudo, em todos os três casos havia a influência de Mira Uzumaki.

Por isso, Suki não pensou duas vezes e atacou Mira com o leque de guerra. O tornado rugiu contra a vice-líder dos Yuurei, levantando uma densa nuvem de areia e pó. Mas após a poeira começar a baixar, foi possível ver a barreira que as correntes adamantinas haviam erguido.

— O que você pensa que está fazendo, Suki? — Mira perguntou com súbita irritação; e ver a rival reagir daquele jeito foi, de certa forma, um deleite para a Assassina de Kages.

— Perdão, Mira-sama — ironizou Suki —, eu só estava tentando acertar o Kazekage, nosso inimigo. Como já deve saber, não há qualquer razão plausível para poupá-lo. Então, afaste-se da minha presa... a menos, é claro, que queira defendê-lo — apontou o espigão para Mira —, o que faria de você uma traidora.

— Estou cansada da sua desconfiança, Suki...

— E eu, desse seu jeitinho de princesa comportada; não sabe o quanto me irrita — Suki cuspiu no chão. — A guerra é um banquete de fúria; não há espaço para a misericórdia. Mas aí está você, poupando inimigos que, certamente, declararão guerra contra os Yuurei depois de hoje. E por quê? Por causa de Naruto Uzumaki, o seu Príncipe Encantado, que também é inimigo dos Yuurei.

Mira ficou em silêncio.

— O que eu ainda não entendi é — prosseguiu Suki — onde, exatamente, Gaara-kun se encaixa nisso tudo. Pode me explicar, Princesa do Redemoinho?

Mira se colocou à frente do altar de pedra, entre Gaara e Suki. A Assassina de Kages franziu a testa num primeiro momento, mas logo em seguida esbanjou seu típico sorriso confiante; e saltou para trás, assumindo postura de combate.

— Não devo explicações a você — disse Mira

— Ah, que ruiva mais difícil... — Suki ergueu o leque acima da cabeça. — Taiton: Moofuu Daireppa (Estilo Tufão: Grande Rajada Consecutiva de Ventos Extremos).

Desta vez foram seis tornados, todos muito maiores que o primeiro. Os vórtices cinzentos devastavam tudo deserto afora, crescendo à medida em que se aproximavam uns dos outros. A poucos segundos de alcançarem seu alvo, os monstros de vento se juntaram em uma só supertempestade.

Nós duas sabemos que essa sua barreira não suporta tudo isso; e mesmo que você fuja através da escuridão, jamais conseguirá salvar o Gaara-kun a tempo, pensou Suki, com os olhos brilhando de expectativa.

O tornado monstruoso se aproximava e Mira não recuou.

— Um jutsu tão exagerado... eu já deveria imaginar — Mira executou quatro selos manuais, enquanto proferia as palavras do mantra: “Gyoku, Nan, Hoku, Kouchin”. — Venham, Sacerdotes Divinos.

O redemoinho chegara a envolver Mira Uzumaki, Suki tinha certeza. Mas como, Suki se perguntou, como ela fez? O meu jutsu... Como se não acreditasse no que seus olhos lhe mostravam, Suki viu o tornado gigante bater em uma barreira roxa e, logo em seguida, dissipar-se em múltiplas direções. Ele foi... rasgado?

Quando a poeira finalmente abaixou, Suki viu Mira Uzumaki... e três pessoas com ela. Dois eram homens grandes, e vestiam-se de maneira idêntica: túnicas sacerdotais brancas sob estolas pretas e colares de contas de madeira. Ambos tinham seus rostos cobertos por máscaras brancas com detalhes vermelhos e traziam, cada um, um cajado na mão direita enquanto a esquerda mantinha um selo ritualístico. Suki compreendeu que aqueles dois homens eram os responsáveis pela criação da barreira roxa.

A terceira figura era a mais adiantada e tinha contornos femininos. Não era tão alta quanto os outros dois, porém era mais alta do que Mira. Usava uma túnica branco-amarelada com uma fita vermelha na cintura e sandálias de madeira nos pés. O cabelo preto e brilhante estava penteado no estilo Shimada, como o de uma gueixa. A mulher tinha ataduras cobrindo toda a pele nas duas mãos e, assim como os outros dois, também usava uma máscara.

Todas as três figuras olhavam diretamente para Suki, que respirou fundo. Ela invocou humanos?! Mira deveria invocar uma quimera. Quando foi que...

— O seu chakra é tão bom! — do nada, uma quarta figura surgira bem atrás de Suki. Eu sequer o senti, congelou ante àquele ser horripilante, cuja ponta da foice afiada colava-se em seu pescoço. — Ei, pirralha! Posso levar essa daqui comigo?

— Não — foi Mira quem respondeu. — Por favor, Shinigami, deixe-a.

Suki engoliu em seco. Shinigami? Olhou de soslaio. A quarta criatura era tão alta quanto a mulher mascarada. Parecia um esqueleto vivo, com a máscara branca nos moldes de um crânio. Vestia uma túnica toda preta, larga, com capuz, e tinha uma foice enorme na mão. Essas coisas não são humanas, Suki arregalou os olhos.

Os dois sacerdotes bateram seus cajados no chão, fazendo a barreira desaparecer.

— Parece que acabou, Mira-sama — disse um deles.

— Sim — completou o outro — a senhora está segura conosco. Aquela mulher não fará mais nada.

— Devemos matá-la por esta insolência — a Donzela Celestial olhou para trás. — Mira-hime, ela tentou te ferir.

Mira pareceu ponderar a sugestão. Virou o rosto na direção de Suki, estudou a expressão tensa da Assassina de Kages e limitou-se a encolher os ombros.

— Suki costuma ser bastante inconveniente, mas é minha subordinada e a mais leal dos Yuurei. Iori detestaria perder um soldado tão valioso por uma simples desavença. Além disso, Suki tem outra missão a cumprir — disse a vice-líder dos Yuurei, voltando-se ao Shinigami. — Por favor, solte-a.

A criatura fez um ruído contrariado.

— Como quiser, pirralha — e afrouxou a foice do pescoço de Suki, e esta imediatamente saiu de perto do Shinigami.

— O que são esses monstros? — Suki perguntou ainda perturbada. — Que tipo de técnica de invocação é esta?

— Não são invocações — replicou Mira —, o Selo das Nove Bestas Mascaradas é uma relíquia Uzumaki, passada entre gerações na minha família.

— Não são invocações... — repetiu Suki, compreendendo. Isso é Fuuinjutsu! Mira... você mantém essas coisas seladas dentro de você? — Por que nunca as usou antes? Se essas criaturas são uma herança de família, por que não as liberou quando lutou comigo naquela vez?

A expressão fria de Mira Uzumaki falou por si só, e foi como um soco no estômago para Suki. A Assassina de Kages sentiu o rosto quente, corado de vergonha e frustração. Você me derrotou, tomou o meu posto... e sequer precisou lutar a sério...

— Agora você entendeu? — Suki acusou um susto; Mira parecia ter lido seus pensamentos, e falava com a voz tranquila que lhe era costumeira. — Sabe por que estabeleci uma hierarquia entre os Yuurei? Para evitar a soberba e a matança entre os membros. Ranqueados por força, todos saberiam seus devidos lugares dentro da organização e não tentariam algo que saberiam ser impossível.

Mira puxou uma mecha de cabelo para trás.

— Sempre haverá alguém melhor — continuou Mira. — Não importa o quanto tente negar ou o quanto se esforce, há um teto ao qual o poder de um ninja não pode ultrapassar. Não importa o quão alto você voe, Suki, o sol sempre estará acima de você.

Suki ouvia aquilo e só conseguia sentir mais raiva.

— Não sabe o quanto eu te odeio, sua... cadela mimada e arrogante!

— Sua frustração apenas prova o meu ponto — fez sinal para que a Donzela Celestial não avançasse. — Nós duas sabemos porque estamos onde estamos. Eu, a vice-líder, e você, a Quarta Oficial... há um abismo de força que nos separa, e é por isso que não a considero como minha rival, Suki. Não estamos na mesma prateleira.

Dito isto, Mira virou as costas e se dirigiu ao altar de pedra. Suki fuzilava-a com o olhar pelas costas, já não se importando com os quatro seres espirituais ali presentes.

— Um dia você cairá do seu trono, princesa... cairá feio... e não terá o Líder-sama para protegê-la — trincou os dentes. — E quando esse dia chegar, eu juro, Mira... juro para você, juro por mim mesma... eu vou matar você!

Como de praxe, a reação de Mira foi simples. Não chegou a responder a ameaça de Suki; apenas segredou algumas palavras com a Donzela Celestial, que assentiu solenemente. Suki observava-as desconfiada.

A criatura removeu parte das ataduras nos braços. As bandagens ganharam vida própria, como os tentáculos de areia de Gaara. A Donzela Celestial usou-as para perfurar o solo arenoso e de lá puxar o Leque dos Quatro Ventos e Bashousen. A arma de Suki fora completamente destruída. Já a arma do Rikudou Sennin parecia estar intacta.

— Seus pertences, senhorita.

Suki tomou Bashousen e o guardou selado dentro de um pergaminho. Estava ferida e exausta; e por haver gastado todo seu chakra do Yami no Fuuin, bem como ter sido obrigada a se dividir em duas na luta contra o Kazekage, não tinha mais condições de manter Bashousen empunhado.

Distraída, não viu as bandagens da Donzela Celestial imobilizando-lhe os braços e as pernas. Suki debateu-se violentamente, mas não conseguiu se libertar. Aquelas ataduras eram mais duras do que aço.

— Sua filha da...

— Fique quieta, Suki — Mira fez um selo na mão direita —, está me atrapalhando.

Uma fórmula de selamento surgiu bem abaixo dos pés da Assassina de Kages. Invocação: Chamas da Montanha Flamejante, Suki suou frio; já testemunhara Mira incinerar inimigos exatamente daquele jeito. Primeiro vinha a fórmula no chão, depois uma torrente de chamas brancas.

No entanto, quando Mira ativou o jutsu, tudo o que Suki sentiu foi o mais puro alívio. Até seu medo, naquele instante, pareceu ter desaparecido. Mas não era apenas alívio...

— Minhas feridas... — Suki observou a cicatrização instantânea — e meu chakra — olhou para a rival, confusa. — O que significa isso?

— É um Selo de Transferência de Chakra, desenvolvido pela Família Real do clã Uzumaki — explicou Mira pacientemente. — Serve para evitar isso aqui...

Mira puxou a manga da camisa para trás e mostrou o braço direito para que Suki o visse. Estavam longe uma da outra, mas Suki conseguiu reconhecer as marcas das mordidas.

— É irônico — Mira cobriu a pele marcada — podemos curar as feridas dos outros, mas essas marcas nunca saem de nós. É como se os Uzumaki existissem apenas para serem usados.

— Por que está me curando? Ainda pretendo te matar.

— Mas não hoje — acenou com a cabeça para a Donzela Celestial, que libertou Suki das amarras. — Você precisa concluir sua missão de recrutamento; e dadas as circunstâncias, precisa da minha ajuda...

— Dane-se você e a sua ajuda — Suki cuspiu no chão raivosa.

— ... já que você não está em condições de lutar, pelo menos não sozinha — continuou Mira normalmente. — Por isso, convoquei outro membro para acompanhá-la. Irá encontrá-lo te esperando próximo à entrada da Vila Oculta da Areia.

Que ótimo, um intrometido, Suki revirou os olhos.

— Quem é? — perguntou. — Me diz que não é o lunático do Kan.

Mira fez que não.

— O objetivo é entrar na Vila da Areia, resgatar o candidato e sair, se possível, sem entrar em combate — explicou a vice-líder. — Você e Kan não são lá muito discretos. Por isso escolhi outra pessoa.

Ah, então é o Kioto, concluiu Suki. Mas imediatamente lembrou-se que o Terceiro Oficial tinha suas próprias responsabilidades.

— Kioto deixou o País dos Demônios? — estranhou Suki. — E deixou Hana sozinha? E quanto à avaliação do Musashi?

— Não se preocupe com isso, apenas cumpra a missão; e tente não exagerar com seu corpo, Suki. Precisa se recuperar devidamente se quiser marchar ao lado do Líder-sama amanhã.

Suki rapidamente percebeu a ambiguidade daquelas palavras.

Ao lado do Líder-sama? No lugar da vice-líder, você diz — olhou com desconfiança para Mira. — Está dizendo que não marchará conosco até a Vila da Nuvem? Logo você, que odeia aquela vila mais do que tudo?

Mira fez que não.

— Infelizmente, não posso estar em dois lugares ao mesmo tempo, ao contrário de você — sorriu brandamente. — Por isso, conto com você, Assassina de Kages, para se vingar do Raikage por mim... caso ele já tenha regressado do Encontro das Nações Ninja.

O semblante de Suki se fechou novamente. Era a segunda vez que Mira a estava usando para seus próprios fins. A última coisa que Suki gostaria era se tornar uma ferramenta nas mãos de outra mulher, especialmente Mira Uzumaki.

— E onde você estará amanhã? — atou o leque que pertencera à Temari nas costas.

— Em casa — Mira sorriu. — Tenho um encontro; e não posso deixar meu Príncipe Encantado me esperando.

 

 

                                                                            ***

 

 

O portal se abriu no local que Mira lhe havia indicado. Suki deixou as trevas para emergir na estrada que levava à Vila Oculta da Areia. Não que Suki estivesse com saudades de casa; ela detestava aquele deserto seco e solitário.

— Tenho que admitir, aquela ruiva sabe surpreender — disse para o companheiro que a estava aguardando. — Dentre todas as opções possíveis, jamais esperaria que Mira trouxesse você aqui.

— Espero que minha companhia te seja agradável, Suki-dono.

— Ah, se é — avaliou o samurai de cima a baixo, Musashi Yamamoto era um homem esbelto com ar misterioso, e as novas roupas lhe caíam bem. Suki gostava muito do que via. — Se está vestido assim, significa que foi aprovado no estágio probatório e é, definitivamente, um de nós.

O samurai assentiu simplesmente.

— E em apenas três dias, Musashi! — admirou-se Suki. — Você quebrou o recorde de Juha Terumi, que se tornou um Yuurei nove dias após eu recrutá-lo. Como foi sua adaptação ao selo?

— Devo confessar, o poder do Lider-dono é diferente de tudo que já vi, mas fui treinado para suportar a dor.

Suki assentiu satisfeita.

— Diga-me, Sétimo Oficial dos Yuurei, quem é a sua dupla atual?

— Fui designado para ser o novo parceiro de Kioto-dono, uma vez que Hana-dono é um membro Sênior agora.

— Entendo — Suki realmente não tinha planos de trabalhar ao lado de Musashi Yamamoto; seu verdadeiro lugar era ao lado do Líder. Não obstante, enquanto Mira ocupava provisoriamente seu posto, Suki, enquanto a responsável pelo recrutamento, tinha sempre o primeiro contato com cada um dos futuros Yuurei. Gradativamente, Suki enxertava na organização membros que fossem mais leais a ela do que à Mira. Se tudo desse certo, o próximo Yuurei seria, inclusive, um conterrâneo da Vila Oculta da Areia. — Mal chegou e já é parceiro do Terceiro Oficial... só tome cuidado para não chegar perto demais da Hana — deu uma risadinha.

— Irei me lembrar disso — encobriu o rosto com o capuz e pôs-se a caminhar. — Vamos indo, Suki-dono. Este calor não me agrada e vestir preto só piora as coisas.

— Concordo.

 Suki seguiu-o primeiramente com o olhar antes de dar seus primeiros passos. Acompanhava o andar de Musashi com atenção perene. Ele é habilidoso, sem dúvida; e tem atitude, ao contrário do estúpido do Taka, que só vivia me comendo com os olhos, pensou Suki jubilante e cobiçosa. Talvez eu o pegue emprestado algumas vezes; Kioto certamente não se importará.

 

 

                                                                            ***

 

 

— Você foi imprudente, pirralha — o Shinigami meneou a cabeça. — Aquela mulher falou sério, e o desejo assassino fervilhava dentro dela. Foi um erro deixá-la viver.

Mira Uzumaki não respondeu; estava concentrada no ritual de selamento. Mas deu àquelas palavras a devida importância.

— Devo concordar com meu irmão, Mira-hime — disse a Donzela Celestial. — Suki tentará te matar novamente.

— Não é com Suki que estou preocupada — disse Mira após terminar a sequência de selos manuais. — Tenho medo de que tudo isso seja em vão.

— O que quer dizer?

— Naruto está a menos de cinco horas da costa do País do Fogo — frisou Mira, urgente. — Ele chegará ao Mar Chigiri antes do anoitecer, e eu ainda estou aqui.

Os quatro Sacerdotes Divinos se entreolharam.

— Podemos atrasá-lo até que esteja pronta, Mira-sama — sugeriu o Eremita do Norte. O gêmeo, o Eremita do Sul, assentiu em concordância.

— Não — Mira foi enfática. — Não quero abordá-lo com truques. Não é assim que quero vê-lo...

Mira parou de falar e olhou ao redor. Quinze formas de chakra, divididas em três grupos de cinco se aproximavam de sua posição. Moviam-se com pressa e deveriam chegar ali em, aproximadamente, trinta minutos. Equipes de busca da Vila da Areia, concluiu Mira Uzumaki. A comitiva do Kazekage já deveria ter retornado... ou será que foi apenas a espalhafatosa da Suki?

— Teremos companhia em breve — avisou às Bestas Mascaradas. — Protejam a barreira. Caso eu não tenha terminado com o Kazekage até lá, matem qualquer um que se aproximar.

Rapidamente, Mira infundiu chakra na faca encurvada em forma de garra enquanto a outra mão mantinha um selo. O chakra de Gaara reagiu ao encantamento, e pela marcação que Mira havia desenhado no peito do jovem Jinchuuriki, a energia começou a jorrar em formado de bolha.

Sem pensar duas vezes, Mira golpeou a bolha de chakra com a faca escura e usou a lâmina em forma de gancho para separar uma parte do chakra do resto. Trabalhava com extremo cuidado, de maneira cirúrgica. Não se permitia errar no corte nem por um milímetro sequer.

— O pergaminho — pediu Mira, finalizando o ritual. — Abram-no.

A Donzela Celestial adiantou-se aos demais e, tomando o rolo das costas de sua senhora Uzumaki, desatou-o e abriu-o sobre o chão ao lado de Mira, que imediatamente pôs a ponta da faca, com o chakra que extraíra de Gaara do Deserto, sobre a folha do pergaminho.

— Selar — juntou as duas mãos. Depois, Mira executou outra sequência de selos manuais: — Kekkai: Mahou Mira no Jutsu (Barreira: Técnica do Espelho Mágico).

A estrutura se levantou do chão do deserto, dois metros e trinta centímetros de vidro brilhante dentro de uma moldura redonda de metal carmesim, como o símbolo do clã Uzumaki. Mira olhou o espelho imponente e sentiu calafrios. Aquela técnica fazia-a lembrar do senhor seu pai e era, de longe, a preferida do governador do País do Redemoinho. Era somente a segunda vez que Mira usava aquele jutsu, mas já o tinha visto diversas vezes. Muito mais do que gostava de se lembrar.

— Ei, mana — o Shinigami cochichou para a Donzela Celestial —, por que a pirralha travou? Não era ela quem estava com pressa?

— Mira-hime sofre de eisoptrofobia, irmão.

— Medo de espelhos? — o Shinigami segurou a gargalhada. — Que ironia, hein? “Espelho” é justamente um dos significados do nome dela.

A Donzela Celestial, porém, não compartilhava do senso de humor de seu irmão. O nome “Mira” também significa “milagre” no antigo idioma do País do Redemoinho, lembrou-se a criatura que, dentre seus nove irmãos, melhor conhecia Mira Uzumaki, mas Mira-hime nunca encontrou conforto nesse outro significado.

— Ela não tem medo de espelhos, irmão — corrigiu a Donzela Celestial. — Mira-hime tem medo desse espelho apenas.

— Hã? Como assim?

A Donzela Celestial observava em silêncio. Mira punha a mão sobre o vidro mágico enquanto, de olhos fechados, fazia uma rápida contagem. Era um hábito, sabia a Donzela. Logo depois, Mira iria abrir os olhos e enxergar não a si mesma, mas a única pessoa com quem, há muito tempo, partilhara do mesmo rosto.

— Hayato-sama usava constantemente este espelho para punir e controlar Mira-hime — disse a Donzela Celestial com pesar. — Aquele espelho é uma barreira dimensional que mantém a vítima sob total domínio do invocador do jutsu. Uma vez lá dentro, o invocador dita todas as leis e pode fazer qualquer coisa que desejar. É um jutsu muito assustador para ser usado em crianças.

O Shinigami estremeceu.

— Hayato Uzumaki usava isso na própria filha?! O que ele fazia lá dentro?

Não houve resposta.

E Mira, quando viu Kushina em seu próprio reflexo, atravessou o vidro do espelho mágico e desapareceu.

A Donzela Celestial meneou a cabeça.

— Hayato-sama nunca foi o pai da Mira-hime.

 

 

                                                                            ***

 

 

Gaara abriu os olhos devagar.

— Onde eu...? — viu-se flutuando em um espaço vazio, branco e infinito. Não sabia dizer se aquilo era real ou uma ilusão, nem se estava vivo ou morto. Tudo o que Gaara sabia era que estava preso ali, e não estava sozinho.

A mulher de cabelos carmesim e olhos azul-safira tinha um rosto firme; e embora Gaara soubesse que fora ela a responsável por tudo aquilo, por alguma razão, não se sentiu atemorizado, ao contrário de antes, quando havia enfrentado Mira no deserto. Era como se por um instante ela tivesse deixado de ser uma Yuurei.

— Não se preocupe — disse Mira —, não sou sua inimiga. Pelo menos, não agora. Neste momento, há algo que quero falar a você.

— Falar a mim? — Gaara estranhou tudo aquilo.

Mira assentiu gravemente.

— Naruto Uzumaki... o que ele é para você?

Gaara estudava as feições da mulher, desconfiado. Suki havia dito que Mira tinha um interesse por ele, e Gaara até cogitou que fosse algo relacionado à metade de Shukaku que carregava dentro de si, o que, possivelmente, faria a vice-líder dos Yuurei usá-la contra Naruto. Mas também fora Suki quem descartara essa possibilidade.

— Considero-o meu melhor amigo — disse Gaara com cautela. Mira pareceu gostar da resposta.

— E estaria disposto a morrer para salvá-lo?

— O que quer dizer?

Mira baixou os olhos por um instante.

— Eu entregarei o poder da Árvore Shinjuu que há dentro do Naruto para que Iori realize o Banbutsu Souzou no Jutsu — disse Mira, voltando a olhar Gaara nos olhos —, mas não tenho a intenção de entregar o Naruto para Iori Kuroshini.

Uma ruga de desconfiança se formou na testa de Gaara.

— Fala em extrair todo o chakra Bijuu que há no Naruto — procurava digerir aquilo com calma e atenção. — Assim, irá matá-lo.

— Naruto sobreviverá — Mira falou convicta —, ele é um Uzumaki assim como a mãe dele. E por amor a Kushina, não deixarei que ele morra. Farei de tudo para salvá-lo de Iori e dos Yuurei.

Você é uma Yuurei — frisou Gaara —, e até onde sabemos, Naruto está limitado por causa do seu jutsu, Mira Uzumaki. Suas ações não condizem com suas palavras.

— Tem razão, Kazekage. E se me permite uma confissão, não me alegro nas minhas ações. Tenho feito mal ao Naruto e não quero isso. Mas apoio a vontade de Iori e dos Yuurei — Mira suspirou. — Meu coração há muito está dividido.

Gaara estudou-a com frieza.

— Naruto é jovem e tolo — prosseguiu Mira —, e está tentando defender um mundo que não tem salvação. Por isso o Banbutsu Souzou é necessário. Não significa dizer que Naruto precisa ser sacrificado em prol deste mundo. Chega! Nem mais uma gota de sangue Uzumaki será derramada.

— Entendo... por isso você quer enfrentá-lo sozinha, para garantir que Naruto seja capturado e você possa transferir as Bestas de Cauda para outro hospedeiro sem que Iori Kuroshini interfira — concluiu o Kazekage. — No caso, quer selá-las em mim.

Mira assentiu.

— De bom grato eu teria feito isso com o Jinchuuriki do Oito Caudas, mas Iori tinha outros planos — Mira falou com certo desgosto. — Aquele Jinchuuriki foi usado para que Iori conseguisse implantar o Zero Caudas em Naruto, para restringi-lo e eventualmente controlá-lo...

— Obtendo, rapidamente, o chakra das outras Bijuu — completou Gaara.

Mira meneou a cabeça.

— Não apenas isso — contou. — Iori também quer o corpo do Naruto. Como um Jinchuuriki perfeito de todas as Nove Bijuu, ele é a pessoa mais compatível para servir de receptáculo de Iori Kuroshini.

— Receptáculo? — Gaara estreitou os olhos.

— Sim. Há mais de mil anos, Iori Kuroshini tentou tomar o poder da Árvore Shinjuu uma vez, mas foi derrotado por aquela que se tornou a Progenitora do Chakra, Kaguya Ootsutsuki — revelou Mira. — Segundo o próprio Iori, ainda havia bondade no coração de Kaguya e ela se viu incapaz de matá-lo. Por isso, ela o amaldiçoou, selando seu poder dentro de um corpo mortal.

Então foi isso, Gaara recordou-se do que Konan havia dito no Encontro das Nações Ninja sobre Iori Kuroshini, foi Kaguya Ootsutsuki quem o selou.

— Mas nem todo o poder de Iori fora selado naquele corpo — acrescentou Mira —, e ele atravessou os séculos... parasitando corpos para sobreviver até que... — hesitou, ressentida — encontrasse um meio de recuperar seus plenos poderes. Com isso, Iori pretendia apropriar-se do poder de Kaguya Ootsutsuki. Ele já tem um Rinnegan. Agora está atrás da Besta de Dez Caudas, a qual, por sua vez, foi particionada nas Nove Bestas de Caudas... e isso o leva até o Naruto.

Gaara escutara tudo em silêncio. Conquanto Mira Uzumaki fosse sua inimiga e quisesse matá-lo, aquela história não parecia ser uma mentira.

— Sendo também um Jinchuuriki perfeito, você é o substituto ideal para o Naruto — disse Mira. — E por já haver experimentado o sofrimento extremo, a escuridão também existe em você. Estou certa de que não haverá incompatibilidade na hora de transplantar o Zero Caudas.

Foi nesse instante que Gaara percebeu algo errado.

— Shukaku! — pôs a mão sobre a marca de selamento. — Não o sinto dentro de mim. O que fez com ele?

— Por enquanto, nada — respondeu Mira. — Apenas separei uma parte de seu chakra do da Bijuu e a selei. Dessa forma, somente a sua consciência se manifestaria aqui dentro. Como o chakra de um Jinchuuriki perfeito está estritamente vinculado ao da Besta de Cauda, separá-los, ainda que só um pouco, foi um procedimento bastante delicado. Se eu errasse, viraria um procedimento de extração da Bijuu, que é algo violento demais para qualquer Jinchuuriki sem a vitalidade Uzumaki suportar — explicou.

Gaara sabia exatamente o que aquilo queria dizer. E fora graças a Naruto que Chiyo-sama conseguira trazê-lo de volta dos mortos. De certa forma, sua vida pertencia ao melhor amigo. Como uma dívida. Uma dívida que Gaara, de bom grado, estaria disposto a quitar, mas não para fazer a vontade dos Yuurei. Apagar a existência atual em prol de outra, supostamente melhor, ainda significava genocídio. Gaara não poderia concordar com algo assim. Preciso confiar que Naruto irá vencê-la, disse a si mesmo.

Mas e se Naruto não derrotar Mira Uzumaki? Essa era a pergunta que martelava na cabeça de Gaara. Mas não apenas isso. Também havia algo por trás dos planos de Mira Uzumaki que o deixava bastante intrigado.

— Por que está tentado protegê-lo?

— Eu já disse o porquê.

— Não — fitou Mira bem nos olhos. — Não é só pelo clã Uzumaki. O que há entre Naruto, Kushina Uzumaki e você?

Pela primeira vez, Gaara viu aquela mulher desconfortável. Mira pressionou as mãos uma na outra, enquanto comprimia os lábios.

— Kushina e eu éramos melhores amigas... — começou. — Devo isso a ela.

Gaara não estava convencido.

Amigas? Ou havia algo mais entre vocês duas?

Mira sentiu um nó formar-se em sua garganta. Não, não posso...

— Sabemos que Kushina Uzumaki era importante para você — persistiu Gaara. — Mas Naruto não é Kushina, é um ninja da Folha. Não faz sentido proteger seu inimigo por uma amizade de infância.

— Chega...— a voz era fraca e vacilante. — Eu não quero mais...

— O que está tentando esconder, Mira? — Gaara pressionou. — Fale o que havia entre vocês duas. Não me diga que era apenas amizade. Por que Kushina ainda significa tanto para você?

Mira apertou as pálpebras com força, mas uma lágrima solitária lhe escapou pelo olho direito. Tentava recuperar o autocontrole, mas sua cabeça estava um turbilhão de emoções. Cometera um grave erro ao permitir que o Kazekage visse seu lado mais frágil, o qual ela lutara tanto para esconder.

A confissão estava entalada em sua garganta. Queria gritar, dizer aquelas palavras para alguém diferente de si mesma. Pensara em contar para Naruto, mas como ele reagiria ao descobrir a verdade? Não tenha medo, princesa, lembrou-se de Kushina, pegue minha mão. Isso. Melhor assim, né? Agora, vamos.

— Não éramos apenas amigas — as palavras saíram por si só —, Kushina e eu tínhamos um laço... era tão óbvio, mas só descobri depois de tê-la perdido. Kushina nunca soube a verdade sobre mim.

— Que verdade? — Gaara desconfiou.

Mira respirou fundo.

— Kushina e eu éramos irmãs. Gêmeas que foram separadas ao nascer — confessou. — Mira foi como o governante Hayato Uzumaki me chamou; não é meu nome verdadeiro. Este eu nunca saberei qual é.

Gaara estremeceu.

— Então... — não sabia por onde começar — por isso você...

Mira assentiu friamente. Lembrar-se de Hayato despertara sua raiva e, após aquela confissão, conseguira recuperar o controle das próprias emoções. Gaara viu diante de si a terrível vice-líder dos Yuurei novamente.

— Sim — disse com voz grave. — Naruto Uzumaki é meu sobrinho.


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Notas finais do capítulo

É, senhores... ela disse.

Parabéns para quem já suspeitava disso. Não foi exatamente o mais mirabolante dos mistérios, mas penso que gerou certa ambiguidade e suspeitas. Mas agora está escrachado.

Uma observação sobre as Nove Bestas Mascaradas: é, em sua essência, o mesmo jutsu utilizado por Menma Uzumaki no filme Road to Ninja, com as ressalvas de que alterei sua concepção para Fuuinjutsu -- e não um jutsu de clonagem feito a partir do chakra do Kurama Negro -- e alterei a aparência de algumas das criaturas, como a Donzela Celestial.

Ah, desde já peço perdão aos fãs de ShikaTema. De verdade.


Próximo capítulo: 09/09/2022.
Título: Encruzilhadas do destino.


O capítulo foi revisado, mas caso haja ainda algum erro de português ou mesmo de edição (porque reescrevi algumas partes), por favor, me avisem para que eu corrija.



Obrigado por acompanharem até aqui!

Até o próximo capítulo o/