A Espiã escrita por MandyCillo


Capítulo 12
Capítulo XII




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Charles Magnussen ficou muito satisfeito quando Molly lhe contou que havia estado no escritório e no apartamento de Sherlock. Combinaram de se encontrar em um bar que ficava fora da cidade, para que ela pudesse entrar em maiores detalhes.

— Tem certeza de que foi só isso que ele fez? Só disse o nome e colocou a mão na tela? Não apertou um botão ou qualquer coisa parecida?

— Não, já disse. Mas por que quer saber tanto sobre o cofre? Você me garantiu que não quer fazer um assalto. — Ela já estava irritada por ter repetido tantas vezes o que havia acontecido.

— Claro que não. — Charles deu uma risadinha. — Só estou interessado em algo que possa ser usado na minha própria empresa. Você se saiu maravilhosamente bem. Vou estudar a gravação com todo o cuidado e tentar descobrir alguma pista. Se houver alguma prova de que Sherlock anda fazendo malabarismos na Bolsa de Valores, nós vamos acabar com ele.

— Nós?!

— Eu e Sarah, as empresas que ele vem prejudicando, os acionistas e tem arruinado com sua ganância. Não sou só eu que quero vingança. Apenas estou em melhor posição do que os outros para conseguir isso.

Ele sorriu radiante, e Molly também sorriu, satisfeita por sua encenação estar sendo de alguma ajuda. Por sorte, Charles não tinha insistido em saber mais detalhes daquela visita ao apartamento. Assim, não havia sido necessário contar que talvez Sherlock estivesse começando a se apaixonar. Sem dúvida o fato era interessante, mas no fundo, ela sentia certo constrangimento em usar esse tipo de arma.

— Com você já esteve no escritório e no apartamento dele, certamente vai haver novas visitas. Daí, mais cedo ou mais tarde será possível colocar alguns microfones nesses lugares. — Charles riu e tirou uma caixa do bolso. — Olhe, trouxe os aparelhinhos. Você só vai ter que tirar este pedaço de papel de trás deles e grudá-los em lugares onde não possam ser vistos, embaixo de escrivaninhas, atrás de quadros, nos telefones… Muito bem. Agora, que contas têm para mim?

Ele estava tão satisfeito que ao preencher o cheque, acrescentou mil libras, adiantando parte do pagamento que havia prometido para o final do trabalho.

— Se você conseguir logo as informações que deseja… vamos terminar isso tudo mais cedo do que esperávamos, não é?

— Por quê?

— Bem, eu… é difícil me manter todo o tempo em guarda. Estou ficando nervosa. Não pensei que fosse vê-lo com tanta frequência e imaginei que haveria tempo para descansar do meu papel de vez em quando. Mas estamos nos vendo diariamente.

— Está insinuando que quer mais dinheiro?

— Não, claro que não! — Molly corou, nervosa. — Só estou lhe pedindo para terminar o mais rápido possível…

— É o que eu também quero, mas tudo vai depender das provas que preciso encontrar. Vamos ver como fica a situação depois de você colocar os microfones, certo?

— E a caneta, está dando resultado?

— Infelizmente não. A maior parte das conversas tem saído abafadas e o resto não revelou nada de novo até agora. Mais ainda tenho esperança, é claro, e sei que com esses outros microfones conseguiremos o que procuro.

— O que vai acontecer com Sherlock? — ela perguntou, sentindo um nó na garganta.

Charles lhe dirigiu um olhar rápido e depois encolheu os ombros.

— Não posso dizer exatamente. Se houver provas consistentes, talvez seja possível abrir um processo. Mas aconteça o que acontecer, a reputação dele no mercado de valores vai ficar arruinada para sempre. — Fez uma pausa e continuou num tom grave — Mas isso não é suficiente para pagar o que ele fez a minha filha… nada poderá trazer Sarah de volta…

— Não, claro que não. — Molly pegou a bolsa e se levantou. —Vou colocar os microfones assim que for possível.

Pegou um táxi e voltou para o apartamento. Tinha planos de ir fazer algumas compras, mas sentia-se inquieta, incapaz de se concentrar, profundamente cansada do papel que estava desempenhando. Num impulso trocou o trailleurelegante que estava usando por uma calça jeans e vestiu um suéter largo, prendeu os cabelos num rabo-de-cavalo e saiu. Pretendia ir para o seu antigo apartamento, em Bermondsey.

Encontrou Liz em casa e ficaram conversando enquanto tomavam café, comentando as atividades dos colegas, os casos amorosos e as novas oportunidades de emprego. Molly tentou se concentrar, voltar à atmosfera do mundo artístico que conhecia tão bem, mas descobriu que de algum modo, não pertencia mais àquele meio. Algo havia mudado nos sentimentos dela, talvez de maneira irreversível.

Voltou para o apartamento a pé, imaginando que o exercício e as vitrines das lojas ajudariam a melhorar seu estado de espírito, mas isso foi em vão. Suspirava pelo caminho, desejando nunca ter concordado em participar daquela farsa, querendo que tudo acabasse o mais rápido possível. Agora a realidade era outra. Talvez estivesse apenas começando a se acostumar com uma vida de luxo e percebesse que seria difícil voltar a ser novamente Molly Hooper, uma atriz lutando pela carreira e pelo pão de cada dia. E seria ainda mais difícil voltar a estar sozinha sem a companhia de um homem carinhoso, que estava sempre telefonando e mandando presentes. Como viver sem o toque daquelas mãos, sem os beijos enlouquecedores que a faziam gemer de paixão?

Atravessou a praça em frente ao prédio onde estava morando, distraída. Ao entrar no pátio, parou com o coração aos pulos. Havia um Rolls-Royce estacionado e encostado nele, Sherlock fumava tranquilamente.

Quando a viu, ele se endireitou vagarosamente e atirou o cigarro para um lado, com uma expressão de surpresa estampada no rosto. Ela teve a nítida impressão de não ter sido reconhecida logo de início por causa de sua aparência simples, tão diferente da Srta. Hooper que estava acostumada a representar. Por um longo instante os dois ficaram imóveis, se olhando fixamente e depois Molly caminhou na direção de Sherlock que a examinava atentamente. Enquanto isso ela tentava desesperadamente voltar ao seu personagem, procurando as palavras certas para aquela ocasião.

Havia um estranho ar de tristeza no rosto dele e isso a assustou, embora não pudesse dizer por quê. De repente ele lhe segurou o braço com um movimento brusco e beijou-a. Foi um gesto rude, como se encontrasse prazer em machucá-la. Os olhos de Molly se encheram de lágrimas, mas não estava magoada. Queria corresponder àquele beijo com paixão, tranquilamente, sem ser pressionada pela arrogância daquele homem.

— Este foi por mim… — ele disse, depois de algum tempo. Ela ficou imóvel, observando a expressão fria de Sherlock. Então ouviram uma buzina e ele mudou completamente de atitude. Depois de um olhar à sua volta, pegou-a pelo braço e a fez se afastar do carro que saía do estacionamento.

— Parece que estamos impedindo o trânsito… e que conseguimos uma plateia.

O automóvel passou por eles e o motorista lhes dirigiu um sorriso bem-humorado. Olhando para cima, Molly viu um grupo de moradores que observava a cena com grande interesse.

— Vamos entrar — ele disse, e a conduziu pelos degraus com uma expressão tão arrogante que as pessoas desviaram rapidamente os olhares.

Ainda confusa Molly o deixou assumir o controle da situação enquanto tentava encontrar uma desculpa para explicar sua aparência modesta. Mas o gosto daquele beijo alucinante permanecia nos lábios dela, atrapalhando o fluxo normal das ideias. Sherlock parecia diferente, como se a tivesse beijado contra a própria vontade. Normalmente ele era reservado, evitando demonstrações de carinho em público. E aquelas palavras? “Este foi por mim”… Tudo muito estranho.

Esperava receber alguma explicação, mas ao entrarem no apartamento, ele simplesmente se virou para Molly, com uma expressão inquiridora. —Fui dar uma volta no Parque de Hampstead. — ela disse.

— Por que tão longe? Há muitos parques por aqui.

— Quis ir a um lugar mais aberto… e natural.

— Sentiu vontade de ficar em contato com a natureza? — Sherlock sorriu, segurando as mãos dela.

— Acho que sim. Todo mundo precisa disso de vez em quando, não acha? — Ela conseguiu falar num tom mais leve, se acalmando, por sentir voltar seu personagem. — Não esperava ver você esta tarde. Ficou muito tempo esperando lá fora?

— Não, cheguei faz uns dez minutos. — Ele lhe soltou as mãos e foi sentar-se numa poltrona. — Trouxe o catálogo do leilão de joias que vai haver na Christie's, na próxima semana. Vão apresentar um colar que pertenceu a Sarah Bernhardt. Achei que você gostaria de ir vê-lo.

— Já está em exposição?

— Não, mas falei com um dos diretores, que é meu amigo, e poderemos vê-lo em particular. Se estiver interessada, é claro.

— Interessada? Mas é claro que estou. Quer ir agora mesmo? — perguntou nervosa.

— Foi por isso que vim aqui.

— Vou ter que trocar de roupa. Quer se encontrar comigo lá?

— Posso ficar esperando. Não tenho nada para fazer esta tarde. — Ela não teve outro jeito senão concordar, apesar de sentir que precisaria de pelo menos uma hora de solidão para se recompor dos acontecimentos do dia.

Trocou de roupa rapidamente e, ao se olhar no espelho, vestindo uma marca famosa, os cabelos presos e a maquiagem perfeita, sentiu-se de novo a milionária Srta. Hooper, uma mulher sofisticada, colecionadora de joias antigas.

O colar foi mostrado em uma saleta que ficava nos fundos da galeria. Era muito bonito e tinha o formato de uma serpente. Havia uma faixa de ouro cravejada de rubis e esmeraldas, constituindo o corpo, e a cabeça era um pendente feito em opalas, com dois rubis representando os olhos. Havia sido especialmente encomendado para que Sarah Bernhardt pudesse usá-lo no papel de Cleópatra. Era uma joia belíssima, mas o interesse de Molly se devia ao fato de o objeto ter pertencido à maior atriz de todos os tempos. Obviamente, ela não comentou sobre isso com Sherlock. Só admirou a joia e fez as perguntas esperadas.

Depois do chá, foram visitar uma exposição de pinturas, inaugurada há pouco tempo. Sentindo que era seguro confessar sua ignorância sobre arte moderna, ela pôde relaxar um pouco a vigilância e deixou Sherlock assumir o controle da situação.

Quando estavam saindo, ele consultou o relógio.

— Que tal ir ao concerto que perdemos ontem à noite? — Quando ela concordou, continuou — Ainda temos duas horas, mas não tem sentido nos separarmos. Por que não vem ao meu apartamento e espera enquanto eu troco de roupa? Tomaremos uma bebida e jantaremos depois do espetáculo.

Apesar de não estar inclinada a ir ao apartamento dele tão cedo, depois dos acontecimentos da noite anterior, Molly não poderia perder aquela oportunidade de ouro para colocar os microfones.


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