A Espiã escrita por MandyCillo


Capítulo 11
Capítulo XI




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Na manhã seguinte, a primeira coisa que fez foi telefonar para Charles dando-lhe as boas novas. Mal acabara de desligar quando um homem, se dizendo assessor de Sr. Holmes, telefonou avisando que ele havia sido chamado inesperadamente para comparecer a uma reunião e que não poderia encontrá-la naquele dia, como estava combinado.

O que teria saído errado? Será que havia encontrado o microfone? Molly passou o dia preocupada, pensando em ligar novamente para Charles, mas alguma coisa parecia impedi-la sempre que chegava perto do telefone. Porém, os seus temores se dissiparam quando, às nove e meia, Sherlock telefonou, parecendo o mesmo de sempre e se desculpando por ter sido necessário cancelar o encontro. Ele precisou resolver alguns compromissos na Escócia e estava acabando de chegar do aeroporto.

— Então vamos trocar o sábado pelo domingo. Posso ir buscá-la amanhã as dez, como combinamos?

— Claro. Estou ansiosa para ver você. Até logo, Sherlock.

— Boa noite, querida.

Enquanto desligava, constatou que ele sempre a chamava de querida, mesmo sem ser correspondido nessa forma carinhosa. No ambiente teatral, todos se chamavam de querido ou querida, e a palavra parecia mais fácil de ser falada. No entanto, algo impedia Molly de chamar aquele homem de um jeito mais íntimo. Dormiu bem naquela noite, contente por suas preocupações teremsido infundadas. E no dia seguinte, quando ele veio buscá-la, foi muito bem recebido.

Sherlock trouxe uma máquina Polaroid e fizeram várias fotos do bracelete que ela havia adquirido no leilão da Sotheby's. Depois passaram um dia muito interessante, percorrendo a National Portrait Gallery e o Museu Britânico à procura de provas mais consistentes de que a joia tivesse mesmo pertencido a Simonetta Vespúcio. Não conseguiram o que queriam, mas a investigação foi divertida e estimulante. Molly, por sinal, teve a oportunidade de vê-lo usar a caneta várias vezes.

Durante a semana, eles se encontraram com a mesma constância de antes. Um dia Sherlock se atrasou e pediu a ela que fosse até seu escritório. Quando chegou, Molly percebeu que a empresa ocupava todo um edifício. O expediente tinha terminado, mas um segurança veio recebê-la.

— Srta Hooper?

— Sim.

— O Sr. Holmes me mandou esperá-la. Por favor, me acompanhe, vamos até a sala dele.

Subiram até o quinto andar e pararam em frente a uma porta fechada no meio do corredor. Havia uma placa pendurada, com o nome de Sherlock. O homem bateu e abriu, mas a sala estava vazia.

— Ele ainda deve estar na reunião. Por favor, espere um pouco, vou avisar que a senhorita já chegou.

— Obrigada.

Ela entrou na sala e olhou à sua volta com grande interesse, percebendo que essa era uma oportunidade perfeita para descobrir os segredos comerciais de Sherlock. Ou seria, se por acaso soubesse o que deveria procurar. Mas mesmo assim, havia uma coisa que podia fazer. Ligando o gravador que trazia sempre na bolsa e prestando atenção para ver se chegava alguém, foi até a escrivaninha e começou a ler em voz alta os nomes das pessoas e das companhias que estavam escritos nas cartas empilhadas em um canto. Depois abriu o arquivo de mesa e leu os assuntos contidos nas fichas. Tinha quase terminado quando ouviu vozes no corredor. Arrumou tudo rapidamente e foi para perto da janela, fingindo admirar a paisagem. Sherlock entrou na sala, acompanhado de mais dois homens.

— Desculpe por ter feito você esperar, mas não consegui sair mais cedo. — Chegou perto dela e segurando-lhe a mão conduziu Molly para a frente. — Gostaria de lhe apresentar dois dos meus diretores. Este é Bill Faden, nosso secretário-geral e este é Anthony Oliver, o diretor financeiro.

— Muito prazer. — Cumprimentou os dois homens, que apesar de responderem com simpatia, pareciam um pouco constrangidos, os olhares concentrados no rosto dela. Ao ver que estava intrigada, Sherlock deu um risadinha e passou o braço pela cintura de Molly.

— Vai ter que perdoar o modo como esses dois estão encarando você, querida. Não estão acostumados a ver moças bonitas nesta sala.

— É verdade. — Bill Faden deu uma risadinha. — Você nunca trouxe as suas… isto é, não tem o hábito de… — Suspirou ao perceber que só estava piorando as coisas. — Desculpe!

— Você sempre teve língua comprida, Bill — falou Sherlock, com bom humor. — Bem, vou guardar estes papéis no cofre e depois poderemos sair.

Ele foi até um dos arquivos, apertou um botão embutido na primeira gaveta e um dos lambris de madeira deslizou para o lado, revelando uma porta de aço. Sherlock disse o seu nome e um pequeno painel apareceu, mostrando uma tela de vídeo. Ele colocou a mão sobre ela por alguns segundos e a porta de aço se abriu. Atrás dela havia um cofre do tamanho de uma saleta.

— Meu Deus! — exclamou Molly, surpresa. — Nunca poderia imaginar que havia uma coisa dessas aqui!

— Espero que os possíveis ladrões pensem a mesma coisa — acrescentou Bill, com um sorriso seco.

Sherlock entrou, guardou os papéis e depois começou a explicar:

— Veja, o cofre é operado por um computador que foi programado para só abrir a porta depois de reconhecer a voz e as impressões digitais de certos membros da empresa.

— Transforma qualquer outro tipo de cofre numa coisa do passado!

— Bem, vivemos na era da tecnologia. Temos que aproveitar isso. — Ele sorriu e se virou para os outros dois diretores. — Lamento ter prendido vocês aqui até esta hora. Espero que amanhã já tenham mais ideias sobre o que foi discutido na reunião.

Percebendo que estavam sendo dispensados, eles cumprimentaram Molly e saíram. Sherlock os acompanhou até a porta e depois disse:

— Venha cá. — Seu tom de voz era suave.

Ela o olhou por um bom tempo, depois foi se aninhar nos braços dele, esquecida de tudo, inclusive do papel que estava desempenhando. No momento sua única necessidade era estar perto daquele homem. Ele a beijou apaixonadamente, moldando seu corpo contra o dela.

— Quer ir mesmo ao concerto desta noite? — perguntou, enquanto lhe acariciava o pescoço.

— Por quê? Você tem outra ideia?

— Você ainda não conhece o meu apartamento. Que tal jantarmos fora e depois irmos para lá… ouvir um pouco de música?

Ela sabia que isso seria perigoso, que estava brincando com fogo, mas o contato envolvente daquele corpo contra o seu fazia o instinto falar mais alto.

— Está bem — murmurou com dificuldade, quase sem respiração.

— Querida! — Um brilho de triunfo surgiu nos olhos azuis e ele a beijou de novo.

Foram a um restaurante italiano, e o jantar que havia pedido estava delicioso, mas Molly mal conseguiu tocar nos pratos. Estava ansiosa, prevendo o que aconteceria mais tarde. Enquanto esperavam o café, Sherlock pegou a mão dela.

— O que achou do restaurante?

— Encantador. Dá vontade de conhecer a Itália.

— Você nunca esteve lá?

— Não, mas adoraria ir. — Ela parou de falar. Era simples imaginação ou teria mesmo sentido a mão de Sherlock tremer?

— Fico contente que tenha gostado. Podemos voltar aqui mais vezes. — Olhou para o camafeu que ela usava no decote. — Você fica ainda mais bonita com esse broche!

Ela sorriu. Sherlock ia dizer mais alguma coisa, quando o garçom chegou, trazendo café.

Saíram do restaurante por volta das dez horas e logo estavam deixando para trás o trânsito pesado do centro da cidade e entrando na avenida que margeava o Hyde Park.

O apartamento dele ficava no sexto andar de um edifício luxuoso, a decoração era de muito bom gosto, com sofás de couro e várias vitrines de cristal exibindo sua famosa coleção de prataria. Aquele ambiente aristocrático, que combinava linhas arrojadas e refinados detalhes de acabamento, revelava muito da personalidade do morador.

Ele preparou dois drinques e depois voltou com os copos.

— Lugarzinho acolhedor que você tem aqui — brincou Molly.

— Um lugar perfeito para o lobo mau seduzir mocinhas inocentes — disse Sherlock, com uma piscadela.

Ela fingiu um ar de pavor.

— Oh, senhor, por favor, não me faça mal! Fique com o meu dinheiro, mas me deixe ir!

— Não é o seu dinheiro que eu quero! — ele fingiu uma voz maldosa, continuando a brincadeira.

— Oh, Deus, estou apavorada!

Ele riu de novo, mas depois ficou sério.

— É verdade? Você ainda sente medo? - Molly baixou o olhar.

— Sim. Eu… não sei.

Sherlock a observou por alguns instantes e depois se afastou.

— Vou pôr uma música.

Ela, que esperava uma música clássica, ficou surpresa ao ouvir os primeiros acordes de uma música bem dançante.

— Vamos dançar — ele convidou.

Tirando os sapatos e sorrindo, ela se entregou àquele ritmo animado. Dançaram por um bom tempo, rindo quando tentavam alguns passos mais complicados. Molly não poderia imaginar que além de lindo, dançava maravilhosamente bem. Depois o CD foi trocado, agora era uma música suave e romântica.

Sherlock parou de dançar e puxou-a para perto procurando beijá-la. Houve uma rigidez nesse gesto que a fez lembrar a primeira noite, no seu apartamento. Os lábios dele se tornaram exigentes, refletindo uma atitude de posse. Ele também lhe soltou os cabelos, quase com brutalidade, entrelaçando os dedos neles, enquanto mantinha Molly presa, beijando-a com fúria. Ela gemeu, atordoada com a magia daquele instante, abraçando Sherlock e deixando que o desejo lhe invadisse o corpo.

I can't keep up with your turning tables

Under your thumb, I can't breathe

Então, ele a levou até um sofá e deitou-a delicadamente. Com dedos ágeis, abriu o fecho do camafeu e o atirou para o lado, começando a desabotoar o vestido dela.

— Sherlock…

Molly levantou as mãos numa frágil tentativa de impedi-lo, mas ele as afastou com um gesto impaciente. Em poucos segundos o vestido estava abaixado e seus seios expostos às caricias daquele homem, que sabia exatamente o que fazer para excitá-la. Parecia conhecer seu corpo detalhadamente, estimulando com doçura as partes que lhe despertavam mais prazer. Depois de algum tempo, muito excitado, ele murmurou:

— Você é linda!

Inclinando-se, começou a lhe beijar os seios novamente, o que a levou à loucura. Depois, com movimentos ágeis, fez o vestido deslizar até se livrar dele, deixando-a praticamente nua.

Sherlock parou por um instante para admirá-la e depois começou a lhe acariciar a cintura e os quadris, sentindo o calor daquela pele macia.

— Ainda está com medo? — A voz dele saiu um pouco trêmula.

Molly ficou olhando para aquele rosto sério, procurando lembrar todos os alertas que havia recebido. Mas nada podia ser mais forte do que a excitação que ele lhe provocara. Agora eram simplesmente homem e mulher, e seus corpos pediam que aquele encontro fosse consumado.

Under hardest disguise I see, ooh

Where love is lost, your ghost is found

— Não. — ela respondeu baixinho. — Não tenho mais medo. — Um brilho de triunfo cintilou nos olhos azuis. Sherlock a beijou de novo e ela correspondeu ao gesto, apaixonadamente, ansiosa pela concretização do ato do amor. Mas, para sua imensa surpresa, ele se afastou de repente, levantando-se.

— Desculpe. — E foi servir-se de uma bebida, ficando de costas para ela. — Não tenho o direito de me aproveitar. Você confiou em mim ao aceitar o convite de vir para cá e não tenho o direito de trair esse sentimento. Mas você é tão linda… — Ele parou e tomou um grande gole.

Molly ficou olhando para ele, completamente perplexa. Nunca lhe havia acontecido algo semelhante, e não sabia se deveria rir ou chorar.

— Mas Sherlock, eu quero…

— Vista-se, vou levá-la para casa.

Ela se levantou, inclinando-se para pegar o vestido caído no chão. Movia-se como uma marionete, completamente confusa com aquela súbita mudança da paixão para um estado de fria normalidade. Calçou os sapatos e procurou à sua volta, quase sem ver.

So I won't let you close enough to hurt me

No, I won't ask you, you to just desert me

— Meu broche…

Ele terminou de beber, chegou mais perto e pegou o camafeu, que estava sobre uma mesinha.

— Pode deixar que eu o coloco para você.

Enquanto prendia o broche, seus dedos tocaram os seios dela, que sentiu um calafrio lhe percorrer a espinha. Sherlock percebeu essa reação e a expressão de seu rosto era pura ironia.

— Sherlock, eu…

— Psiu! Diga apenas que você me perdoa. Eu poderia ter estragado um momento maravilhoso com esse meu jeito afoito.

Para Molly, entretanto, já estava tudo estragado. Nunca havia sentido uma frustração tão grande, não sabia o que dizer. E pensar que tinha imaginado Sherlock como um homem incapaz de recuar numa situação daquelas… Fizera questão de deixar claro que desejava ser possuída, do que mais ele precisaria para ir em frente? Quanto ao ato de haver afirmado que não tinha o direito de se aproveitar dela... Não, nada disso combinava.

— Não consigo entender! — ela exclamou. Pegando-a pelos ombros, Sherlock falou num tom sincero:

— Querida, nós nos conhecemos há muito pouco tempo e… talvez seja um pouco cedo para dizer, mas… você é muito especial para mim e não quero que nada estrague o que está surgindo entre nós.

Ela concordou com um gesto de cabeça, olhando-o boquiaberta. Sim, tinha compreendido. Sherlock estava começando a se apaixonar por ela. O milionário cruel, o arrogante sedutor de mocinhas ingênuas, que Molly deveria ajudar a castigar, estava nas mãos dela! Era uma coisa incrível, chegava até ser engraçado. Ou, pelo menos seria se não estivesse em jogo uma carga tão forte de emoções.


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