Opostos escrita por Mari


Capítulo 12
12. Colega de quarto?




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O sol mal havia nascido e já pulei da cama, mal havia dormido essa noite. Fazia uma semana desde que tudo ocorreu e apesar da minha mãe ter me perdoado ainda me olha com certa desconfiança, principalmente quando vou correr. Seu maior medo é que eu volte a roubar com frequência, mas aquilo não é um ato no qual eu possa considerar revigorante então ela estava praticamente sofrendo à toa. Mas também, a idiota aqui odeia ser desafiada por Ethan. Caminho vagarosamente até o banheiro, fazendo minha higiene matinal, prendendo o cabelo e tomo um banho na água quente. Hoje sairia o resultado das provas, e além de ser algo importante para meu futuro, tenho uma reputação a zelar e provavelmente ganharia alguns pontos com minha família.

Por que estou dizendo isso como em um todo? Afinal, quero de volta a confiança que minha mãe tinha em mim. Pouco me importa meu pai e Camille. Falando nela, eu estava furiosa e, acredite ou não, ela também, por eu ter excluído o vídeo dela. Sinceramente, espero que um dia, eu tenha a chance de colocar uma plaquinha no pescoço dela de “Quer uma irmã chata e implicante? Me alugue pela eternidade e seja feliz” enquanto ela desfila com esse nariz em pé dela. Até que é uma boa ideia. Talvez até Olívia queira fazer isso. Balanço a cabeça rapidamente ainda em baixo do chuveiro, espantando essas ideias incoerentes. Ouço dez batidas frenéticas na porta e reviro os olhos.

— O que você quer Camille? – Pergunto enfiando todo o meu rosto na água.

— Tomar banho. – Responde ela irritada.

Arregalo os olhos. Será que demorei tanto tempo assim no banheiro? Desligo-o e pego minha toalha me enxugando vagarosamente e solto meu cabelo, prendendo-o dessa vez com um pequeno elástico. Me encaro mais uma vez no espelho vendo o reflexo de uma pessoa desesperada. Também não era para menos. Eu estava surtando. Saio do banheiro e vejo uma Camille sorrindo triunfante. Encaro a janela entreaberta do quarto e vejo que nem nossa mãe ainda havia acordado.

— Desde quando acorda essa hora? – Balbucio abrindo meu lado do guarda-roupa e pegando uma roupa qualquer e a vestindo.

— Desde agora. É para um projeto que criei. O I.S – Disse Camille ajeitando o termostato do chuveiro para o morno. Eu amava banhos extremamente quentes então sempre que alguém ia ao banheiro tomar banho depois de mim, é bom ajustar o termostato.

— I.S? – Ela lança o sorriso mais falso que já vi em toda minha vida, parecido com aqueles que dou para Heather sempre que a vejo. Observo com atenção os movimentos da minha irmã no banheiro e mordo o lábio inferior. Eu estava sacando a dela.

— É. Irritar Sophie. Espero que não goste do fato de eu ser uma pedra no seu sapato agora. – Murmura ela sorrindo triunfante e fechando a porta com força. Que maduro Camille. Ouço um ronronar e me viro, vendo minha mãe se espreguiçar na cama e abrir seus olhos.

— Bom dia. – Murmuro e ela sorri descrente olhando o relógio e se levantando.

— É hoje o grande dia? – Questiona se levantando e eu suspiro longamente assentindo vagarosamente. Um frio involuntário percorre minha barriga e me arrepio até o último fio de cabelo. Penso em Ethan e em tudo que estudamos. Não o vejo desde aquele dia e eu torcia tanto para que ele estivesse se saído bem. Mordo o lábio inferior. – Vai dar tudo certo filha. Tenha confiança em si mesma.

Depois de algumas horas checando meu material pela milésima vez, o sol já havia começado a aparecer no horizonte. Desço as escadas em direção à sala de jantar, pegando um pedaço de bolo e enfiando na boca rapidamente, pondo um pouco de suco em um copo para ajudar a engolir aquele pedaço. Dou bom dia a meu pai que praticamente me ignora. Estava certo, afinal eu fui grossa com ele aquele dia. Saio de casa quase que correndo dando de cara com Olívia e Pietro entrando em casa discutindo sobre algo sem importância. Arrasto-os para longe enquanto os mesmos agora reclamavam comigo por eu não tê-los deixado comer, principalmente Olívia. Ela parecia ter um buraco negro dentro do estomago. Como pode comer tanto e não engordar?

Eu fico estupefata. Viramos a última esquina e já estou na porta do colégio. Finalmente solto-os e tudo parecia acontecer em câmera lenta. Não tinha ninguém ali ainda. Os corredores, completamente vazios, e eu caminhava vagarosamente quase que contando os passos. O barulho do eco, alto e claro em meus ouvidos. As fortes pisadas que dava sobre o chão liso quase se tornando uma corrida torturante até o painel onde mostravam as notas dos alunos. Quando finalmente cheguei ali, respirei fundo, fechei os olhos e observei todos os avisos do quadro. Mas nenhum possuía a nota dos alunos, e, eu me sentei ali me sentindo derrotada. Eu precisava ver aquilo. Agora. Ouço passos ruidosos vindo do corredor. Alguns alunos já devem ter chegado, mas eu pouco me importava. Suspiro pesadamente batendo a cabeça vagarosamente na parede. Meus pés fazendo um movimento agitado sobre o chão. Encarei a sala da direção por um bom tempo, mas meus olhos me traíam querendo descansar. Acho que trinta minutos dormindo sobre o colchão que, hoje decidiu ser desconfortável, não foi o suficiente para ser considerado que dormi bem.

— Só sai depois da aula. – Diz alguém ao meu lado, mas não me dou ao trabalho de identificar a voz. Já conhecia de longe.

— O que sai só depois da aula? – Pergunto e Ethan senta ao meu lado sorrindo torto.

— O que tanto quer saber... As notas. – Sussurra ele apoiando os cotovelos no joelho e me encarando. Sorri de imediato. – Por acaso esse sorriso é uma prova de que não está brava comigo?

— Por que eu estaria brava? – Questionei encarando a parede decorada com troféus do time de futebol americano do colégio.

— Por causa do seu primeiro e pequeno furto. – Respondeu me olhando como se eu fosse uma retardada e aquilo já fosse mais do que óbvio.

— Ethan, eu fui levada para a delegacia e mesmo tendo a chance de ser preso ali mesmo pelo que aconteceu com Dave, você me seguiu e ficou do meu lado. Então por que eu estaria? – Repeti sorrindo torto.

— Seu pai...

— Ethan faz quase três meses que não dou nem o direito de meu pai me direcionar a palavra, quanto mais me espancar como a última vez. – Balbucio e seu sorriso se abre. Ele acaricia minhas bochechas e sinto as mesmas se esquentarem. Viro o rosto, fingindo prestar atenção em outra coisa. – Acho que nos saímos bem, sabe... Na prova.

— E saímos, muito bem na verdade. – Disse ele convicto. Encaro-o arqueando a sobrancelha. Ethan tira do bolso uma folha de papel amassada e balança no ar e dou um pulo do chão, ficando em pé rapidamente.

— Isso não é o que eu estou pensando não é? – Pergunto tomando dele o pedaço de papel.

— Se está pensando que isso é a folha com as notas da nossa turma... Sim, é o que está pensando. Não é tão difícil descobrir algo aqui no colégio. A senha do diretor é tão fácil que fiz até de olhos fechados. – Murmurou.

— Assassinatos, corridas ilegais, furtos, desenhos e agora hacker no tempo livre? Acho melhor eu apressar o passo, não vou conseguir te acompanhar. – Ironizei, mas seu sorriso malicioso estampado em seu rosto demonstrava que, apesar de ter entendido, queria levar isso para o lado literal.

— Tem muita coisa de mim que você não sabe...

Engulo em seco, respirando fundo e encarando a folha amassada sobre minha mão. Respirei fundo e encarei apenas os nomes com os quais eu realmente gostaria de ver. Não sabia se encarava a ele ou ao papel.

— Isso é sério? – Pergunto estupefata voltando a encarar o papel. Ethan sorri assentindo. – Deu certo. Conseguimos.

Começo a dar pulinhos como uma menininha e me jogo nos braços de Ethan o abraçando ternamente. Suas mãos vão de encontro as minhas costas e sua respiração quente estava muito próxima do meu pescoço, causando arrepios desejáveis indesejáveis. Sorri sem graça, mas ele pareceu não se importar. Quando demos por nós, os corredores já estavam lotados de alunos e o sinal toca. Corremos até a sala e nos sentamos no fundo. Ethan começa a desenhar no seu velho caderno de couro pequeno. Mordo o lábio inferior.

— Posso ver? – Peço baixinho e ele nega com a cabeça, faço biquinho e ele ri, voltando a desenhar. – O que tanto desenha?

— Para que toda essa curiosidade? – Ele devolve a pergunta e eu ruborizo.

— Só quero ver horas, precisa de motivos? – Retruco escondendo minha pequena irritação.

— Dada às circunstâncias? Sim... – Balbucia ele e eu bufo fazendo-o sorrir.

O professor entra e fecha a porta com força e todos se calam engolindo em seco. Ele para em frente à mesa.

— Bom dia. – Murmura seco. – Eu acho que, como professor de vocês, eu tenho que dizer que... Vocês ganharam férias merecidas no acampamento. Parabéns a todos pelas notas, somente um aqui ficou com a nota vermelha. – Ele deu uma risada e todos suspiram aliviados gritando feito malucos e jogando suas mochilas no ar. Até Pietro e Olívia fizeram isso. Reviro os olhos. – Vou passar o panfleto para vocês levarem a autorização para seus pais. Mas, tenho boas e más notícias... Qual devo contar primeiro?...

— Conte logo a ruim por que assim a notícia boa alivia depois. – Diz Olívia animada. O que deu nela? Eu vivia animada e ela quase me sufocava com uma corda quando eu dizia que mal podia contar os dias para ir ao acampamento. Sinto que tem homem no meio dessa história aí... Pietro me olha de esguelha. Ele também parecia pensar o mesmo que eu, então sorrimos maliciosamente.

— É uma boa ideia senhorita Blayden. – Sussurra ele e Olívia sorri. Desde quando ela gosta de ser chamada assim. O que foi que eu perdi?

— A má notícia é que ao invés de passarmos uma semana no acampamento, passaremos somente dois dias. O local ainda recebendo bastante turistas então foi tudo que conseguimos. Mas em compensação, teremos as mesmas atividades que teríamos se passássemos em uma semana, só que em menor tempo. – Diz o professor calmamente e todos resmungavam ao mesmo tempo. Não dava para entender nada.

— E a boa notícia? – Pergunta Olívia.

— A boa notícia é que partiremos amanhã então estão liberados mais cedo crianças. – Ele pega os panfletos e sai distribuindo para todos ali. – Precisamos da assinatura de seus pais então tragam de volta amanhã e devolvam para mim enquanto entrarem no ônibus. Fui claro? – Todos assentirão e ele sorriu – Ótimo. Podem sair.

Todo mundo levantou rapidamente, alguns meninos ficaram no colégio para comemorar e as garotas, lógico, já ligavam seus celulares para cabeleireiras, manicure e toda essa ladainha, como se fossem ir a um desfile de moda. Corri para casa pedindo um dinheiro para minha mãe. Provavelmente à noite estaria frio demais e eu precisaria de moletons e alguns equipamentos típicos de acampamento... Era muita coisa. Contei para minha mãe sobre minhas notas e ela comemorou comigo então eu acho que ganhei alguns pontos com ela nesse quesito.

Meu pai me parabenizou secamente e Camille pouco se importou com isso usando o argumento de que aquilo não era novidade para ela. Tentei não levar para o pessoal. Saio de casa com as chaves do carro e busco Pietro e Olívia em suas devidas casas. Era tradição fazermos as compras daquilo que iremos precisar juntos. Se bem que no próximo ano, Pietro não estará mais aqui então a nossa tradição será parcialmente quebrada. Descemos do carro e entramos na loja. Eu estava na seção de lamparinas, lanternas e todas essas coisas que não me deixassem no escuro. Eu odiava escuro.

— Quero deixar algo claro aqui Olívia... Quando estivermos no chalé do acampamento, tente não roncar. – Resmungou Pietro e Olívia o encarou estupefato.

— Como assim? Você conversa sozinho e nem por isso eu fico reclamando, seu idiota.

Não terminei de ouvir o resto da briga. Estava praticamente no meu próprio mundinho para se preocupar com eles.

“– Como todos aqui sabem, eu devo escolher as duplas para ser seus pares até o fim do ano letivo e, também seu colega de quarto no acampamento do colégio durante as férias de verão.”

As palavras da professora Brianna voltam quase como um jato, gritando em meu ouvido alto, rápido e repetidamente. Colega de quarto e acampamento... Só então me lembrei que... Ethan era meu colega de quarto no acampamento.


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