Opostos escrita por Mari


Capítulo 13
13. "Você que pensou com segundas intenções".




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Encaro pela última vez minhas duas malas, me certificando se tinha levado moletons suficientes para ir ao acampamento. Faço os mesmos com a mochila onde havia colocado os equipamentos no qual gosto de chamar de equipamentos de sobrevivência e checo se estão todos ali e não me esqueci de nada. Coloco um moletom por cima da minha blusa, afinal, lá fora estava muito frio. Encaro Camille que mal conseguia fechar sua mala depois de ter colocado tanta roupa.

— Tem certeza que não quer ajuda? – Pergunto observando a mesma se sentar em sua mala, quase cavalgando sobre ela enquanto tentava fechá-la. Ela me encara descrente, bufando alto e tentando mais uma vez fechar. Reviro os olhos e me aproximo dela, já que a mesma nunca admitiria que precisava de mim para fazer aquilo.

— Sai de perto de mim e da minha mala... – Ela grita em desespero quando a empurro de cima dali.

— Eu estou tentando te ajudar, você devia... – Encaro sua mala ao abri-la e fico boquiaberta com o que eu via. Havia um punhado de amendoins, o único alimento da face da terra no qual eu era alérgica. – Agradecer. – Completo minha frase em um sussurro. Minha mãe entra no quarto e segue meu olhar até a mala de Camille.

— O que é isso Camille Hamswere? – Pergunta minha mãe para ela que me encara fazendo cara feia.

— São amendoins... – Murmura o óbvio. Eu sabia o que ela iria fazer com aquilo. Camille não é santa e sabe melhor do que ninguém que amendoins me faziam tossir sem parar, ficar me coçando até minha pele ficar vermelha e formar enormes bolhas.

— Você iria levá-los para colocar na minha comida não é? Tudo para ter sucesso nesse seu projeto idiota de me irritar. Camille, para que você queria aquele vídeo? Com que propósito? Isso e ridículo, se eu fosse uma irmã tão ruim, teria contado que estava comigo durante meu pequeno furto, gravando tudo e ainda por cima, escondida de mim. – Grito. Eu estava sem paciência com ela, pois desde ontem, tudo que ela faz é me irritar... Aquele projetinho dela tava dando mais certo do que leis legislativas. Se tem uma coisa em que Camille é boa, é em ser inconveniente.

— Como é que é? – Se interfere minha mãe e só aí me dei conta do que tinha dito. Encaro minha mãe que estava vermelha de raiva.

— Mãe eu...

— Como saiu do quarto naquela noite? Você fingiu que estava dormindo? E pior... Como pode fazer isso com sua irmã? Sabe que ela tem muita alergia a amendoins... – Diz Maria segurando para não alterar a voz.

— É o tal projeto dela... O I.S – Digo imitando a voz irritante que Camille havia usado ao me contar sobre sua maravilhosa ideia.

— I.S? – Pergunta minha mãe confusa.

— Irri...

— Irrigar as plantas da Sophie. – Diz Camille tampando minha boca com a palma de sua mão e eu a encaro, nervosa. – Aquelas que a Sophie plantou na pracinha quando éramos pequenas... Nunca mais fomos lá regá-las.

Camille sorri amarelo, e aquilo tudo deixa minha mãe mais confusa ainda. Ficamos um bom tempo ali enquanto minha mãe raciocinava sobre o assunto. Do nada ela balança a cabeça, como se espantasse algum pensamento de sua mente.

— De qualquer forma... Camille, se o seu projeto é tão importante, fique e regue as tais plantas das quais eu mal me lembrava. Sophie é melhor ir porque está atrasada e a Olívia já está te esperando lá fora com o Pietro.

Encaro Camille sorrindo vitoriosa somente para lhe passar raiva. E deu certo. Seu olhar demonstrando que iria me fazer pagar pelo que eu fiz me davam um pouquinho de medo. Coloco minha mochila de equipamentos nas costas e saio carregando as duas malas com as mãos para fora do quarto quando dou de cara com o meu pai. Ele pega minhas duas malas silenciosamente, sem pedir permissão descendo as escadas.

— Obrigada. – Sussurro e ele me encara, permitindo dar um pequeno sorriso de lado para mim. Acho que voltarmos a ser como antes era questão de tempo. E também questão de entendimento. Eu deveria entender que aborrecê-lo jamais seria a melhor solução e ele deveria entender que a família também sofre ao se tornar submissa de seus sentimentos, sempre se preocupando com um olhar diferente, uma voz alterada.

Ninguém merece viver assim.

Assim que chegamos ao andar de baixo, vejo Olívia com apenas uma mochila. Ela sempre levava coisas desnecessárias e também em pouca quantidade, quando deveria fazer sempre ao contrário... Segundo ela, passaríamos pouco tempo lá então, desnecessário levar tanta coisa como eu levo... Depois na viagem fica pedindo minhas coisas porque não tem... Lerda...

— Vamos? – Diz ela já saindo de casa depois de se despedir de meus pais e Camille, claro. Assenti saindo de lá, depois de despedir de todos também.

Caminhamos juntas até o colégio. Pietro estava terminando de arrumar suas malas e então seus pais iriam levá-lo de carro para que o mesmo não se atrasasse. Viramos a última esquina e corremos freneticamente até o ônibus, onde algumas pessoas já entravam. O olhar de Olívia se encontra com o do professor e seu olhar se ilumina. Estranho muito isso, ela nunca foi assim. Rapidamente ela entrega ao professor sua autorização e suas malas entrando no ônibus, faço o mesmo e entro ali. Vejo Ethan sentado no fundo do ônibus, e havia um lugar ao seu lado. Ele sorri de lado assim que me vê e eu encaro Olívia com pena.

— Tudo bem, eu vou sentar com Pietro. – Sussurra sentando em um banco vazio.

Assenti quase que correndo aos tropeços até Ethan, ele se levanta me cedendo o assento da janela e eu me sento, assim como ele. Nos encaramos por um bom tempo, eu sorria de nervoso, já ele... Eu não tinha tanta certeza. Encaro a paisagem do lado de fora e vejo os pais de Pietro estacionando o carro na rua oposta. Um Pietro desesperado desce do carro temendo estar atrasado e eu sorri de imediato. Ele carregava mais coisas do que eu mesma.

— Então... – Ethan tenta puxar assunto, mas eu estava envergonhada demais para falar sobre o assunto.

— Eu não ronco ou coisa relacionada, se é o que realmente quer perguntar. – Digo baixinho, agarrada aos meus próprios pés.

— Não sei por que está tão preocupada se já dormimos juntos uma vez. – Retruca ele, mais alto do que deveria e sinto minhas bochechas queimarem ao ver olhares pesados sobre nós dois. Um arrepio indesejado percorre minha espinha.

“– Você fica bem com minha camiseta. Deita aí. – Murmura ele e eu me deito, virando para o lado contrário ao dele. Sinto sua respiração pesada atrás de mim, em minha nuca. Arrepio.

— Ethan, eu sinto muito por ter confessado...

— Shh... – Ele se aproxima mais de mim envolvendo seus braços em mim. Estávamos deitados de conchinha e era tão confortante. Ele já iria tirá-los achando que eu havia me sentido desconfortável, mas eu os seguro, abraçando-os e tentando passar a confiança que ele tanto estava me dando. – Vai ficar tudo bem e se não ficar... Eu me viro. Sempre me virei. – Sussurra por fim. – Durma.

Fecho os olhos cansada, suspirando alto. Em questão de segundos estava em sono profundo. Acordo e vejo que o quarto de Ethan está escuro e apenas a luz do luar iluminava o local. Tento me levantar, mas sinto as mãos de Ethan ainda me segurando. Deus, eu desejava que aquilo nunca acabasse, mas eu sabia que estava tarde e tinha que ir. Levanto-me vagarosamente, mas acabo acordando-o”.

— Dormimos literalmente juntos. – Completo-o, balançando minha cabeça rapidamente espantando aqueles pensamentos e... Aqueles sentimentos que cada dia insistiam em se mostrar quase presentes.

— Você que pensou com segundas intenções... – Sussurrou, se ajeitando no banco e fechando os olhos, colocando os fones de ouvido antes mesmo que eu pudesse dizer qualquer coisa em minha defesa. Acabo rindo de mim mesma também me acomodando no banco e fechando os olhos.


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