Sexto ato -– Mizushima Iku -– Gêmeos

– Por Paola Tchébrikov

Vê-la diante de mim me causava ao mesmo tempo uma enorme irritação e uma deliciosa quentura, que preenchia e aquecia meu congelado coração. Ela lembrava tanto a minha querida Nee-san que eu não pude evitá-la.

Seus grandes, expressivos e curiosos olhos deixavam claro que ela era pura, não conhecia o amor ou a dor, e eu sentia vontade de aproximar-me dela apenas para destruí-la.

Queria ver lágrimas de dor escorrendo por seu rosto, ouvir seus soluços de desolação por descobrir que o amor não era tão colorido ou bom como ela imaginava. Sua pele pálida chamava pelo toque dos meus dedos e sua pequena e quente mão pedia que eu a apertasse até que os dedos fossem esmagados.

Eu a tomaria para mim sem pensar duas vezes, apenas para iludi-la e deixá-la de lado, desolada, ferida. Queria retirar dela, a todo custo, seu ar de pureza e inocência. Queria manchá-la, senti-la desvanecer como as cinzas diante do fogo.

Sua presença me irritava por mexer tanto comigo. Vê-la todos os dias fazia eu lembrar-me da minha falecida irmã, aquela que nunca sofreu por amor, que não sofreu a dor do mundo. As duas eram muito parecidas, apenas nesse quesito, afinal, não havia no mundo mulher mais linda que a minha querida irmã mais velha…

Embora eu devesse assumir que aqueles olhos amendoados e brilhantes fascinavam-me de tal modo que eu precisava encará-los por longos minutos, perdido naquele mar de chocolate doce e agradável, era um tom de chocolate do tipo que eu odiava, uma personalidade que eu odiava, uma existência que eu odiava.

Eu lhe propus que se tornasse, em segredo, minha namorada e ela aceitou. Sua coragem me fez sorrir de leve, era até impressionável se eu não soubesse que, no fim, ruiria. Seria delicioso vê-la perder a cor, o amor, vê-la contemplar a dor, o desamor.

Eu não hesitaria no meu intento. Minha fascinação por ela era tamanha que, sem notar, pensava nela a todo momento, o que, em certo ponto, passou a me incomodar. Mas aquilo apenas fazia parte dos meus planos de arruiná-la, apenas isso…

Yahisa Tsukiko, sua maldita alma pura ilumina o meu caminho.