O anjo tentou voar, mas algo o puxava para baixo, não era a força da gravidade, era algo muito mais profundo: pendências. Ele sabia o que tinha que fazer, mas lhe faltava coragem. Depois de muito tentar, desistiu de voar e sentou-se às margens de um lago, viu seu reflexo e não reconheceu a si mesmo, no lago refletia-se o interior do anjo: sombrio, vazio, um profundo poço de solidão. Um aperto no peito o fez desabar em lágrima, eram negras, assim como suas asas e seu coração.

Katherine acordou assustada, porque estava sonhando com um anjo? Por que ele estaria triste?

Foi até o banheiro e lavou o rosto, e afastou os pensamentos sobre o anjo, mas não por muito tempo, ao olhar seu reflexo no espelho ficou imaginando: como seria o seu interior? Vazio e sombrio como o do anjo ou repleto de luz e alegria? Eram perguntas que não sabia responder, e também tinha medo de descobrir, não sabia o porque, mas sempre levou uma vida de aparências deixando o seu "eu" de lado e sendo aquilo que a alta sociedade queria: comportada, destacada e sempre no comando.

–Esqueça isso Katherine, cabeça erguida, agora tem de pensar como vai encarar o Lysandre depois do escândalo daquela pirralha-lolita-de-filme-de-horror. Será que ele está muito bravo comigo? Meu deus que pergunta besta! É claro que ele deve estar uma fera! - disse para mim mesma.

Fui até a minha bolsa e peguei o celular, eram 6h30, tinha tempo para me arrumar, então decidi responder aos SMS no meu celular. Tinham muitos das minhas amigas e dois dos meus pais, não falava com eles desde que havia chegado no aeroporto, então respondi as mensagens deles primeiro, depois os das minhas amigas e por último o de Emery, uma garota da minha antiga escola, minha inimiga número 1 , que sempre tentou ser mais popular do que eu. "Está curtindo a nova escola? Espero que sim, aí você não tem que voltar para cá, pois aqui não é mais o seu lugar e agora a escola tem uma nova rainha,eu!" Que garota besta! Ela ia ver só:

Parabéns! Precisou que eu saísse da escola para você ganhar algum destaque, afinal eles não tem outra opção, certo? Mas lembre-se querida, você nunca foi, não é e nunca será melhor do que eu. E se quer chegar perto de representar bem a escola, renove o seu guarda-roupa, parece que você comprou as suas roupas num brechó! Kisses :)

–Quero ver se ela terá coragem de responder. - pensei.

Fui para o banheiro e tomei um banho rápido, fiz a higiene pessoal e fiz uma maquiagem leve. Novamente encarei o dilema de escolher a roupa, hoje estava mais frio então optei por um casaco. Arrumei a minha bolsa e fui para a cozinha, Lysandre não estava lá. Por educação e também como pedido de desculpas, fiz o café, cortei umas frutas e coloquei açúcar e canela. Meus dotes culinários se resumiam a miojo, café, brigadeiro e salada de frutas. Junto do prato deixei um bilhete: Sinto muito, de novo, seu relacionamento não é problema meu.

Ouvi a porta do quarto do Lysandre ser destrancada e corri para fora do apartamento, deixei a porta apenas fechada, sem trancar, pois não possuía uma cópia da chave. Anotei no bloco de notas do meu celular que precisava fazer uma cópia da chave do apartamento. Corri para o elevador, iria a pé para a escola, não conseguiria encarar ele agora.

Depois de longos dez minutos cheguei na Sweet Amoris, ainda faltavam 15 minutos para as aulas, então fui para o pátio e me sentei em um dos bancos. Logo um garoto de cabelos azuis veio correndo em minha direção, era Alexy um dos gêmeos.

–Oi! Estava tentando falar com você desde ontem. Adorei o que disse para aquela cara de broa de milho mal feita, foi de mais! Por sinal amei a sua roupa, você é muito diva. - disse Alexy todo animado.

–Cara do quê? - perguntei já caindo na gargalhada. - Adorei o apelido! Alguém tinha que dar uma lição na Ambrega. E você me chamou de diva, amei! - eu disse. Eu adorei o Alexy, além de excelente em apelidos, sabia identificar uma diva quando via uma.

–Quer fazer compras comigo um dia desses? Você seria a minha musa inspiradora? Vou adorar escolher roupas para você, já tem cara de boneca, vou deixar ainda mais bonita com looks perfeitos! - disse Alexy

–Claro! É só marcar. - eu disse sorrindo.

O sinal ia tocar, então fomos para a sala de aula, me sentei do lado de Alexy e Castiel sentou ao meu lado, logo em seguida Rosa se sentou atrás de mim e Íris na frente. Era aula de biologia, então a minha intenção era prestar atenção em toda a aula, mas isso não foi possível a partir do momento que Lysandre entrou na sala atrasado e ao passar por mim deixou um bilhete em cima da mesa. Peguei o bilhete e pensei em abri-lo, acabei desistindo da ideia pois o professor poderia ver e também estava com receio de ler o que ele havia escrito.

Passei o resto da aula imaginando o que poderia estar escrito, podia ser apenas um obrigado pelo café ou um vai se ferrar. Assim que tocou o sinal peguei o bilhete e para a minha surpresa o que dizia era: Me encontre no portão na hora da saída, quero te mostrar um lugar. Não havia nenhum xingamento ou "vá embora do meu apartamento!" Onde será que ele iria me levar?

Na hora do intervalo me sentei com Violette, Rosalya, Íris e aquela garota que havia impedido Ambre de bater em Vi, descobri que o seu nome era Kim e ela tinha cara de ser fortona, anotei mentalmente de nunca me meter em uma briga contra ela. As últimas aulas foram de inglês, geografia e história, prestei o máximo de atenção que pude, mas confesso que nos últimos minutos guardei o meu material e fiquei contando os segundos para tocar o sinal.

Assim que o sinal bateu, fui o mais rápido possível para o portão, esperei mais de 5 minutos e... nada do Lys aparecer. Comecei a imaginar se aquilo não era uma pegadinha, algum tipo de vingança pelo o que eu tinha feito. Fui até um dos bancos do pátio e me sentei, conseguia ver perfeitamente o portão, quando ele passasse iria atrás. Vi um bloco de notas no chão ao lado do banco, de quem seria? Abri na primeira página e vi o nome do Lysandre escrito no canto inferior, entregaria à ele assim que ele aparecesse, se é que ele viria. Talvez ele pulasse o muro apenas para não me ver e me largaria plantada aqui por um século, guardei-o na minha bolsa e voltei para o portão, iria esperar apenas mais 5 minutos.

Logo em seguida ele apareceu e disse:

–Desculpe o atraso é que estou procurando...

–O seu bloco de notas? - o interrompi. - Encontrei-o em um dos bancos do pátio. - disse retirando o bloco da minha bolsa. - Se quer saber, eu não li, não sou tão enxerida como você deve pensar. - eu disse.

–Obrigado. E não acho que você seja enxerida. Ah já ia me esquecendo (N/A: por que não me surpreendo o do Lys estar esquecendo alguma coisa? XP) obrigado pelo café, não pensei que você soubesse cozinhar ou algo do tipo. - ele disse.

–Por que? Acha que o fato de eu ser filha de um grande empresário e ter tido a minha vida inteira rodeada de empregados para me servir, faz de mim uma bonequinha de vidro que não tem a capacidade de fazer um café? Me poupe Lysandre, você é que nem os outros, tem o mesmo tipo de pensamento sem fundamento. Você não me conhece então não fique me julgando! - eu disse. Deixei-o falando sozinho e fui andando sem rumo. Não demorou nem dois minutos para ele me alcançar com o carro.

–Pare de tirar conclusões precipitadas, você nem deixou eu me explicar. Não acho que você seja incapaz, só não parece que é a sua cara ficar cozinhando. Agora entra no carro, porque eu quero te mostrar um lugar...por favor. - disse ele.

Eu não iria discutir, afinal acho que a minha moral com o Lysandre está meio ruim, ou melhor: péssima. Entrei no carro e ele nos levou ao centro da cidade, não muito longe de onde fica o apartamento. Estacionou de frente para um parque e descemos.

Em silêncio, andamos até uma parte afastada da entrada do parque e entramos em uma pequena trilha, em menos de 5 minutos de caminhada, me deparei com um dos mais belos jardins que já tinha visto em minha vida. Haviam orquídeas azuis, brancas e roxas nos troncos das árvores quase cobrindo-os por completo. Roseiras brancas e vermelhas por toda a parte, além de tulipas e árvores de grande porte que pareciam ser bem antigas, junto a bancos e mesas de pedra ao lado de um riacho.

Lysandre sentou em um dos bancos e fez sinal para que eu sentasse ao seu lado.

–É aqui que venho de vez em quando para escrever, me traz inspiração. Descobri esse lugar quando era pequeno, só o jardineiro vem aqui. Nunca trouxe ninguém. - disse ele.

–É realmente lindo, mas porque me trouxe aqui? - perguntei.

–Não sei, talvez... porque esse lugar combine com você. - disse ele com um leve sorriso.

–Você acha? Sempre achei que shoppings fossem a minha cara, mas agora que parei para pensar... até que consigo me imaginar junto a essas flores. Obrigada por me trazer aqui. - eu disse. Tomei coragem e decidi novamente pedir desculpas:

–Olha Lys, posso te chamar assim? Como eu disse no bilhete, a sua vida não tem nada a ver com a minha, acabei provocando uma situação péssima com a sua namorada, sei que deveria ter ficado calada, mas sabe não gosto de ter que engolir desaforo. Sinto muito e isso não vai se repetir.

–Você não tem que pedir desculpas, a Nina foi longe demais com aquele ciúmes doentio. A muito tempo tento terminar com ela, mas sempre algo acaba fazendo eu deixar para depois... Agora estou decidido a acabar com essa ilusão que ela tem de relacionamento. Nós não combinamos em quase nada, ela está mais para fã que fica discutindo com outra para ver quem é a número 1 do que para minha namorada. - ele suspirou.

–Entendi... espero que você encontre alguém que te faça feliz de verdade. - eu disse.

–E você... tem algum namorado que deixou em Paris? - ele pergunta.

–N-não, mesmo que eu tivesse, teria terminado para vir para cá, não acho justo deixar a pessoa esperando por mim mesmo sabendo que só vou para lá nas férias. Na verdade nunca namorei... acho que ainda estou procurando o meu "príncipe encantado". (N/A: sua cega ele está bem na sua frente, se não quer, deixa o Lys para mim!) - eu disse envergonhada.

–Tenho certeza que vai encontrar. - ele disse sorrindo. - Vamos? Quero logo ir encontrar a Nina.

Voltamos para o carro e logo estávamos de frente do prédio. Lysandre entregou-me a cópia da chave da porta. E em seguida foi embora, para terminar o seu relacionamento.