POV Scorpius

Não dormi a noite inteira, e precisei de uma poção para acabar com o meu sono.Por motivos já conhecidos, aquela notícia que Luke me deu me abalou de tal modo, que eu estava me sentindoum monte de lixo ambulante.

Saí do meu quarto, e me troquei de qualquer modo, sem nem ao menos pentear os cabelos.Fui até o Salão Principal e comi com desânimo.Ao terminar de comer, eu já estava pronto para ir até a sala de Runas Antigas e ficar olhando para a parede com cara de sono quando alguém me parou.

–Você tá mal.-Ouvi a voz de Albus.Levantei meus olhos para ele e vi que Albus não estava sozinho.Ao seu lado, com uma impressionante cara de tédio, estava Blace.Ela viu que eu estava olhando para ela, então deu de ombros.

–Que fique claro que eu só estou aqui porque o Potter me prometeu 10 galeões se eu te ajudasse a ficar animado.-Diz ela com descaso.Suspirei e olhei para Albus.

–Eu não vou ficar animado.Eu não quero ficar animado.-Digo.Albus me olha e sacode a cabeça.

–Me conta o que tá pegando, cara.

–Ninguém, é óbvio.-Resmunga Blace.Albus lhe lança um olhar cortante.

–Só fala.-Ele despeja para mim.Suspiro de novo.

–Eu já disse que não.

–Na verdade, você disse que não queria ficar animado.-Murmurou Blace.Albus lançou-lhe um outro olhar fuzilador.

–Você não está ajudando, sabia?-Ele disse irritado.Blace deu de ombros de novo.

–Fazer o que, Rose é bem mais fácil de animar do que esse loiro sebento.-Ela desdenha olhando para mim com nojo.A menção do nome de Rose me fez ajeitar a postura, com a raiva se apossando de mim.

–Não quero ser comparado a essa garota.-Praticamente cuspo as palavras.Blace sorri erguendo as sobrancelhas.

–Acho que encontrei o problema.-Ela ironizou para mim.

–Eu não entendi.-Comentou Albus.Blace soltou uma risadinha.

–O pequeno Malfoy ai, teve a primeira decepção amorosa na sua vida.

–Hãn?-Albus parecia bastante confuso.

–Não foi a primeira!-Exclamo ofendido.Blace riu agora mais alto.

–E quem era antes dela, hein?Sua mãe?-Blace caiu na gargalhada, mas de repente ficou séria.-Olhe aqui Malfoy, você fica aí desanimado, mas o que você esperava da Weasley?Que ela fosse uma santa, que tivesse uma foto sua na porta do guarda-roupa e fosse devota a você?Se toca!Achou mesmo que ela ia ficar aí, se sentido sozinha, tudo isso porque você não foi homem o suficiente para tirar o seu relacionamento sujo daquela sala de troféus?Rose não fica parada esperando por alguém, ela nunca foi assim, não bejo como você esperava que ela fosse agora.

–Do que vocês estão falando?-Indagou Albus mais confuso ainda.Mas eu não estava disposto a esclarecer suas dúvidas.

Pensei no que Blace havia dito.Talvez ela estivesse certa.Mas Rose não iria ficar esperando que alguém tomasse as decisões por ela.Como Blace mesmo havia dito, Rose não ficava parada.Respirei fundo e olhei nos olhos da loira a minha frente.

–Mas Rose também não ficaria esperando que alguém tomasse decisões por ela!-Bradei.Blace negou com a cabeça, como se eu fosse muito, muito burro.

–Ela também não toma decisões das quais ela pode se arrepender.A menos que ela esteja muito cansada.-Blace diz com sabedoria.

–Ela iria se arrepender de ficar comigo?-Perguntei irritado, como num desafio.

–Ela nem ao menos sabia quem você era!Ela nem ao menos sabia quem ela seria ao seu lado!-Gritou ela, perdendo a paciência, se é que algum dia Blace a teve.-Como você esperava que ela tomasse uma decisão tão importante?

–Ela que começou toda essa bagunça, ela que arrumasse.-Digo.Blace quase avançou em mim, mas Albus agarrou-a, impedindo-a de me ferir.

–Não diga essas coisas, como se você a conhecesse, como se você soubesse como a cabeça dela funciona!-Berrou ela.Nesse ponto todos no corredor nos olhavam.-Não culpe Rose por seus erros, seu estúpido cachorro filho da puta!

–Não venha colocar toda a culpa da sua amiguinha em mim!-Gritei e dei as costas para Blace, subindo as escadas e pisando fundo.

Mas as palavras de Blace ecoavam na minha cabeça.

Como se você a conhecesse, como se soubesse como a cabeça dela funciona!

Parte do que ela disse parecia ser verdade.Eu não conhecia Rose.Eu poderia pensar que a conhecia, achar que saberia seus próximos passos, mas a verdade era que Rose era um completo mistério para mim.Um jogo que eu não conseguia jogar.

Suspirei e continuei meu caminho para a minha sala, mais cansado do que antes.Mas acabei topando com alguém no caminho, fazendo com que eu derrubasse todos os livros da pessoa.

–Me desculpe.-Murmurei e comecei a pegar os livros, erguendo-os e entregando para a pessoa a minha frente.

Essa pessoa era uma garota.Ela era mais alta que eu e parecia mais velha.Talvez fosse do sétimo ano.Seus cabelos eram de um loiro claro, como o meu, e eles eram cortados bem curtos e bagunçados.Ela tinha olhos dourados e exalava sabedoria.

–Não foi nada.-Ela murmurou pegando os livros de minhas mãos, eu ia continuar o caminho quando ela continuou.-Mas eu gostaria de me desculpar, pois ouvi a sua briga no corredor...

–Ah, não tem problema, acho que todos ouviram.-Dei de ombros.Ela balançou a cabeça.

–Mas eu gostaria de te dar um conselho.-Ela disse ficando ligeiramente vermelha.-Sei que você pode estar com raiva de Rose, ou algo do tipo, mas eu a vi indo em direção a sala da professora Helock.-Eu ia protestar, brigar com a garota talvez, mas ela continuou.-Mas eu não digo para ir até lá por causa dela.Professora Helock é ótima com conselhos, mesmo ela parecendo um pouco maluca, ela é uma boa ouvinte.Você poderia conversar um pouco com ela.

Pensei na sugestão.Eu estava mesmo precisando de bons conselhos.Sorri.

–Muito obrigado!-Digo e então mudo minha direção, correndo até a sala da professora Helock.

Ao chegar lá, ouvi algumas vozes lá dentro, e quando entrei, eu jurei ter visto a porta do armário bater*, mas achei aquilo comum, já que a professora era tachada de louca pela escola inteira, mesmo ela sendo a melhor professora de Adivinhação que Hogwarts já teve.

–Olá professora Helock.-Digo animadamente.A professora se vira para mim e me abre um enorme sorriso.

–Olá mocinho!-Ela responde também animada.-Parece-me que hoje é meu dia de sorte não?Eu estava a esperar-te e tu vieste, assim como aquela outra garotinha Weasley.

Arregalei os olhos.De qual das garotas Weasley ela estaria falando?Talvez Lily que sempre gostou dessas coisas místicas.Ou até mesmo Dominique que tinha aqueles surtos de tristeza.Mas eu me recusava a pensar em Rose.Aquilo não parecia ser coisa dela.

Mas lembrei do que Blace me dissera e descartei essa ideia.Eu não sabia quem era Rose.Tudo que eu havia suposto em relação a ela estava errado.Mas eu estava curioso.

–Que garota Weasley?-Perguntei.A professora sorriu enquanto despejava chá em duas xícaras.

–Rose.-Ela comenta alegre enquanto me entrega uma das xícaras.Agarro ela e bebo um pequeno gole.-Uma garota muito simpática ela.Mas tenho muita pena do que vem em frente para aquela pobre garotinha.

Tentei fingir desinteresse quando perguntei o porque.Mas era evidente a curiosidade em minha voz.

–Oh, ela fez algo horrendo.Até envergonho-me de dizê-lo, até mesmo ela admite que o que fez foi algo inaceitável.Agora ela pode perder certo alguém muito importante para sua vida.-Diz a professora casualmente, como se dizer algo como aquilo fosse uma rotina para ela.

–O que ela fez de tão horrível?-Pergunto.A professora me lança um olhar que não consegui decifrar.

–Não poderia dizer-te, nem mesmo que eu desejasse fazê-lo.-Ela diz séria mas logo me lança um belo sorriso, indicando uma poltrona confortável onde logo me sento.-Mas tu não estás aqui para falar sobre a garota Weasley, não?Ou estás?

Dei de ombros e tomei mais um gole do chá.O chá era simplesmente maravilhoso e parecia varrer da minha mente todas as preocupações.Eu sabia que algo me incomodava mas eu não conseguia me lembrar do que.Merlin, aquele chá era milagroso!

–Diga-me, querido, o que te afliges?-Perguntou a professora amigavelmente, tomando minha mão livre entre as dela.

–Eu precisava de um conselho, e alguém me disse que a senhora era boa com eles.-Digo olhando em seus assustadores olhos violetas que me deixavam ligeiramente nervoso.Professora Helock abana a cabeça sabiamente, como se soubesse de algo que não sei.

–Acho que sim, parece-me verdadeiro o que dizes.Acho que o fato de eu estar a sonhar contigo há alguns dias também me ajuda nessa dedução.-Ela comenta com a voz macia, enquanto dava mais um gole no chá.-Mas diga-me, jovem, que conselhos tu queres?

–Professora, eu gostaria de saber o que a gente deve fazer quando a gente gosta muito de alguém, e essa pessoa faz algo grave.Muito grave.Devemos perdoar ou pedir explicações e acabar se decepcionando.-Despejo tudo em cima dela como se aquelas informações fossem um balde d'água.Ela arregala os olhos.

–M-mas já?-Ela murmurou para si mesma, levantando-se e andando até o armário que eu tinha visto bater antes, e então ela sussurra com o armário,como se ele fosse alguém que pudesse ouvi-la.-Temos pouco tempo, ele já sabe.Oh, eu sabia que este plano nunca daria certo!Se Minerva ao menos me ouvisse...

–Desculpe professora, mas eu não estou entendendo.

–Oh, querido!-Ela exclama virando-se para mim, bastante preocupada.-Eu esperava mais tempo, mas aquele sonho já veio e logo tudo entre vocês se esvairá!

–Do que a senhora está falando?-Perguntei assustado.Ela estaria se referindo a mim e Rose?

–Ela fez algo muito errado, e seu que tu deves estar muito preocupado.Sei também que provavelmente o que eu irei dizer-lhes parecerá inútil, mas é a única resposta no momento.-Diz a professora agarrando minhas mãos e derrubando a xícara no chão, que se espatifa com um barulho alto.Professora Helock me olha no fundo dos olhos e diz:-O que quer que fores que esta menina há de te dizer, é importante.Ouça seu lado e entenda-a, para tomar suas decisões.Siga seu coração na hora em que determinar seres o momento certo.

Olhei para a professora um pouco desamparado.Era exatamente isso que eu tinha perguntado a ela.Quando eu ouvisse Rose, quando ela fosse conversar comigo, como eu reagiria?O que eu deveria fazer?

–M-mas professora, pelo que eu devo optar, meu bem-estar, ou o meu amor?-A professora sorri, e eu ouço o sinal bater antes de ouvi-la dizer:

–Pode parecer que sairás machucado desta escolha, meu querido, mas posso lhe dizer com toda certeza: aquele que ama, é estúpido o suficiente para sofrer o quanto aguentar, se isso significar ter o direito de amar o quanto puder.

E com essas palavras a professora me expulsou de sua sala dizendo que precisava dar aula.