Saí da detenção cansada, confusa, com dor de cabeça, me sentido culpada e suja.Tudo ao mesmo tempo, e eu sentia que ia explodir.Talvez minha mãe estava certa quando dizia que eu tinha o emocional de uma colher de chá.Massageei a cabeça numa tentativa de fazer com que todos aqueles sentimentos saíssem de mim, mas nada aconteceu.

Quando eu estava prestes a virar o corredor e descer as escadas, fui puxada para dentro de um armário de vassouras, e assim que entrei no pequeno cubículo, alguém me beijou.Empurrei quem quer que fosse de perto de mim,e limpei a boca.

–Hey cara, qual é a sua?-Reclamei, e então vi quem era a pessoa.Para minha completa infelicidade, era Luke Zabini, parado ali com um sorriso branco, que se destacava em sua pele morena.

–Olá para você também.-Ironizou ele, e então se aproximou de mim, querendo me beijar de novo.Empurrei-o pelo peito, afastando-o de mim.

–Cara!-Exclamei.

–O que é, não gosta dos meus beijos?

–Porque eu gostaria?

Então Zabini sorriu malicioso e se inclinou na minha direção, sussurrando em meu ouvido:

–Porque você pareceu gostar ontem.

O nojo que me assolou quando ele disse aquilo.Empurrei-o para longe de mim novamente.

–Saí daqui, Zabini.-Digo com a voz fraca.-Aquilo...Aquilo não foi nada, tudo bem?Que tal esquecermos aquele erro?

–Porque eu iria esquecer algo tão bom?-Luke indagou divertido.Então ele se aproximou de mim, mais uma vez, e agarrou minha coxa.Então ele aproximou a boca de meu ouvido e sussurrou:-Nós poderíamos repetir aquilo, não?

A raiva tomou conta de mim.Então aquele desgraçado achava que poderia fazer o que quisesse comigo e quando quisesse?Sem nem o menos pensar uma segunda vez, meu joelho já estava se chocando com a região entre suas pernas.

Zabini se inclinou para frente, colocando as mãos em concha sobre a região.Então eu agarrei-lhe a blusa e o puxei para cima, sibilando em seu ouvido:

–Tente mais alguma coisa comigo de novo, e seu amiguinho não vai levar somente uma joelhada.

Então saí do armário de vassouras, bufando e batendo os pés, e dirigindo-me diretamente para o dromitório da sonserina.

...

Observei Rose sair da sala de troféus, e não posso dizer que fiquei feliz com aquela detenção.Eu queria mais beijos, mais carinhos, eu queria mais de Rose.Então a segui para fora, e andei atrás dela pelo corredor, até que de repente, ela foi puxada para uma sala.

Fiquei curioso, mas parei por ali.Não queria que Rose pensasse mal de mim, pensasse que eu fosse neurótico e ficava fuçando a vida dela.

Rose permaneceu mais algum tempo dentro do armário de vassouras, e logo saiu dali, parecendo bastante irritada.Franzi a testa, pronto para segui-la quando vi mais alguém sair do armário de vassouras.E esse alguém era Lucian Zabini, mais conhecido como Luke.

Luke era meu amigo, quero dizer, não do tipo que se conversava o tempo todo e em que se podia confiar de olhos fechados.Ele era só um cara com quem eu mantinha um relacionamento normal, mesmo nós sendo pessoas de casas diferentes, e com personalidades mais diferentes ainda.

Luke olhou para os dois lados do corredor, e me avistou.Ele me lançou um sorriso e caminhou/mancou até mim.

–Hey!-Cumprimentou-me.

–Hey!-Cumprimentei de volta.-O que você estava fazendo com Rose lá dentro?-A curiosidade me venceu e eu perguntei o que eu realmente queria perguntar.Algo me dizia que o que quer que ele fosse me dizer, explicaria o porque de ele estar mancando.

–Ah, isso?-Ele perguntou com descaso.-Eu só estava tentando ficar com ela, mas essa menina é difícil!Num dia ela se esfrega toda em mim, e no outro me dá chutes.Garota complicada!

Precisei de um tempo para organizar aquilo na minha mente, e absorver as informações daquela frase.Isso significava que Luke queria ficar com Rose, dentro daquele armário, mas ela o havia chutado.Essa era a parte que eu havia entendido nitidamente.A outra eu havia descoberto parte dela, mas me recusava a acreditar.

–Me desculpa, eu não entendi.-Digo confuso.Luke me olhou com certa preocupação, mas respondeu:

–A Rose, ficou comigo ontem.-Ele disse lentamente, para garantir que eu entenderia.-Nós dormimos juntos, e hoje, quando eu queria alguma coisa com ela, a ruiva deu a louca e me chutou!

Abri e fechei a boca algumas vezes, tentando formular uma resposta coerente, mas a única coisa em que eu conseguia pensar, era nas palavras de Luke."Nós dormimos juntos".

Eu não era burro a ponto de não entender, mas eu não conseguia imaginar Rose fazendo uma coisa dessas.É, claro, eu sabia que Rose podia ser um pouco manipuladora e maldosa quando se tratava de homens, mas ela nunca havia traído ninguém.Não que eu saiba.

Trair.

Ela nunca tinha traído ninguém mesmo, não?Afinal nós não tínhamos nada.

Então a verdade (Que eu não queria admitir), me atingiu.Era isso que eu significava para Rose.Nada.Eu era absolutamente nada para ela.Todos aqueles beijos, ou alguma palavra carinhosa que ela havia dirigido para mim, não haviam significado nada.Para ela eu era somente mais um daqueles caras que ela iludia de depois jogava fora, como se fossem um produto descartável.

Respirei fundo.

–Ah.-Finalmente pronuncio alguma palavra.-Sabe como os Weasley são, não é?Sangue ruivo, complicados.

–É, talvez seja isso.-Comentou Luke.-Mas acho melhor manter minhas pernas longe daquela assassina de futuros filhos.

E ele se foi, me deixando ali, como um babaca, plantado no meio do corredor.

No entanto, o fato de ele ter me deixado sozinho, não havia me incomodado, tampouco o fato de ele ter saído sem nenhuma palavra de despedida.O que me incomodava era Rose.Por algum motivo, eu achava que tudo acabaria bem, como naqueles livros idiotas em que tudo dá certo no final.Por algum motivo, quando admiti naquela detenção que eu sentia algo por Rose, eu pensei que eu seria a chave para ela mudar, ser uma garota melhor, mais certa.

Mas bastou uma curta conversa com Luke para destruir minhas expectativas, me fazer ficar com raiva de Rose, e me sentir um completo idiota.Suspirei bravo, e caminhei até a Torre da Grifinória batendo os pés.Não demorou muito e eu já estava na cama.Ri um pouco comigo mesmo.Como se eu fosse conseguir dormir...

...

Dormi rapidamente assim que cheguei ao dormitório, e meu sonho foi bem sinistro.Na maior parte dele, eu vi pessoas aleatórias morrendo, e eu mesma matando pessoas estranhas.Por algum motivo, no final do sonho eu arranquei o coração de Scorpius e o engoli.Como eu disse, bem sinistro.

Acordei com um mal pressentimento, mas mesmo assim segui minha rotina.Antes de tomar banho, joguei um jarro d'água em Blace para acordá-la, e então entrei no banheiro, tomei um bom banho quente, e depois fui para o quarto me trocar do mesmo modo de sempre.

Coloquei a blusa, deixando os três primeiros botões sem serem fechados, uma saia que coloquei-a um pouco mais para cima, para que ficasse mais curta, bonita e confortável, meias que iam até os joelhos, e sapatilhas negras.Por algum motivo não estava a fim de usar gravata hoje, portanto enrolei-a em meu pulso, transformando-a numa pulseira prata e verde.

Terminei de me trocar e Blace saiu de seu banho, terminamos de nos arrumar juntas, e finalmente saímos do quarto.Aquele pressentimento ruim ainda me perseguia.Mencionei isso para Blace, mas ela apenas fez careta e disse que isso era neura de gente maluca.

Entramos no Salão Principal, e meus olhos percorreram o cômodo, procurando os conhecidos cabelos loiros bem arrumados com gel de Scorpius.

Sacudi a cabeça, tentando afastar ele de minha mente.O que eu deveria fazer agora era esquecer dele, e tocar minha vida, focando no meu objetivo de nunca me apaixonar.

–Mas ultimamente isso está ficando difícil.-Murmurei, enquanto me sentava à mesa.Blace me olhou estranho.

–Weasley, acho que essas detenções estão te fazendo mal.Sem brincadeira.-Ela comentou.Revirei os olhos.

–Como se você nunca tivesse feito um lembrete a si mesma em voz alta.-Reclamei começando a me servir.Blace me olhou como se eu tivesse dito "Hey, quer fumar alguns chifres de unicórnio?".

–Rose, isso não é coisa de gente normal.-Ela disse como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.Rolei os olhos novamente.

–Volta para as suas panquecas, vai.-Murmuro.Blace suspirou e resmungou alguma coisa que não ouvi.

Não que eu não quisesse ouvir as lamúrias de minha amiga idiotizada, mas no momento em que ela começou a resmungar, Scorpius entrou no Salão, fazendo eu perder o foco de tudo.Perguntei-me se era assim que as pessoas apaixonadas se sentiam.

Percebi que ele não parecia bem.Seus cabelos estavam bagunçados, algo atípico dele;havia profundas olheiras debaixo de seus olhos, que eu conseguia ver daquela distância, e mesmo não sabendo muito bem como, algo me dizia que ele estava muito, muito zangado.

Um arrepio percorreu minha espinha quando me lembrei de meu sonho, no qual eu agarrava Scorpius pelos ombros e enfiava minha mão em seu peito, arrancando-lhe o coração.Abaixei os olhos, e de repente me lembrei de algo que eu ouvi em uma de minhas aulas desinteressantes de Adivinhação.

Ninguém sonha algo por acaso.Todo sonho possui um significado, por mais complicado que este seja.

Novamente um arrepio percorreu minha espinha, quando eu tentei ligar o sonho com a raiva de Scorpius.Engoli em seco e ignorei o fato de eu começar a me sentir horrível, como se tudo de ruim que eu já tivesse feito na vida, tivesse voltado à tona naquele momento.

Minha primeira aula do dia ser Adivinhação não ajudou em nada para que os arrepios parassem.

–Você tá bem?-Perguntou Blace olhando-me preocupada.Assenti nervosamente.Ela não pareceu acreditar em mim, mas não me interrogou.

Assim que terminei de comer subi as escadas para a torre leste, onde eram as aulas de Adivinhação.Ainda era muito cedo para a aula começar, mas eu precisava perguntar algo para a Prof. Helock*.Naquele momento fiquei muito feliz por ser aluna dela, afinal, Prof. Helock era a vidente mais importante do século, que ajudou a evitar a Terceira Guerra Bruxa, e tudo mais.

Ela nunca errava em suas previsões, e sempre teve o maior prazer em ajudar seus alunos aflitos.E no momento, eu fazia parte da categoria "Alunos Aflitos".

Cheguei até a sala de aula, deixei a bolsa em uma das mesinhas confortáveis do local, e caminhei até sua sala, dando duas leves batidinhas na porta.Ouvi a voz dócil de Prof. Helock dizendo "Entre".

Entrei em sua sala, e a vi senta numa escrivaninha escrevendo algo em um pergaminho.Prof. Helock era alguém que de primeira vista poderia ser considerada uma louca de rua, mas assim que ela abria a boca, ela poderia ser considerada uma filósofa contemporânea.

Limpei a garganta e abri a boca para falar, mas ela falou antes:

–Algo aflige-te, minha querida?

–Um sonho.-Digo sem rodeios.Então Prof. Helock se virou.

Ela parecia uma hippie estranha.Tinha longos cabelos cor de mel, que estavam presos por uma grande tira de tecido florido.Ela usava pulseiras das mais variadas, desde couro até metal, até o cotovelo, nos dois braços.Ela também usava uma blusa enorme e florida, que lhe batia abaixo dos joelhos.Por baixo da blusa ela usava uma calça jeans rasgada e ela estava descalça.Mas mesmo com aquela aparência estranha, seu sorriso transmitia segurança.

–Eu estava a esperá-la sabe?-Comentou Prof. Helock.Ela mexeu em alguns de seus instrumentos estranhos, e me olhou com seus incríveis olhos violetas.-Estive a sonhar contigo, desde sexta-feira.

E também tinha o modo de ela falar.Aquilo me assustava um pouco.

–Bem, eu quero falar sobre um sonho.E algo que anda acontecendo comigo.Quero saber se isso tem alguma relação, ou é coisa da minha cabeça.-Digo.Ela assente.

–Os sonhos nunca nos vêm sem algum motivo plausível.

–Pois bem, me ajude a entende-los então!-Exclamo frustrada.

–Diga-me o que tens e lhe ajudarei.-Diz a professora serenamente, me indicando uma poltrona confortável.

Sento-me e começo a falar.Menciono as detenções, o sonho, e o fato de Scorpius parecia zangado.A professora somente concordava, e me pedia para prosseguir com a história, até eu não ter mais nada para dizer.Ela me olhou por alguns minutos pensativa.

–Não acho que seja necessário ser uma visionária para entender o que está havendo.-Afirmou com convicção e serenidade Prof. Helock.

–Não?-Pergunto confusa.

–Não.-Ela indica.-Basta a senhorita parar para refletir.Fizeste algo errado?Algo tão imperdoável, que deixaria menos marcas no pobre moço, se tu tiveste arrancado-lhe o coração?

Pensei.O que eu teria feito de tão grave, que doeria menos se eu tivesse arrancado o coração de Scorpius?Aquilo exigiu um certo conhecimento sobre Scorpius.Eu sabia que ele era um cara sensível, quero dizer, não do tipo frescurento que ficava chateado com tudo que ouvia, mas um cara com sentimentos e que dava valor a eles.

Talvez ele ficasse bastante magoado com o fato de eu ter dormido com Zabini, mas não acho que doeria tanto, afinal, não tínhamos nada além de um rolo.Mas mesmo assim, quem, e porque contaria que eu tinha dormido com Zabini para Scorpius?Franzi a testa.

–Acho, que tem uma coisa que eu fiz que poderia fazer isso acontecer, mas não teria como ele saber.-Verbalizo meus pensamentos.A professora sacudiu a cabeça.

–A verdade sempre chegará aos ouvidos de quem merece ouvi-la.-Disse ela.Arregalo os olhos.Será mesmo que alguém tinha contado aquele pequeno detalho para Scorpius?

–Mas, ninguém sabia da verdade a não ser por três pessoas...-Murmuro inconformada.

–A verdade sempre chegará aos ouvidos de quem merece ouvi-la.-Repetiu a professora.E acrescentou.-Mas talvez, não seja só esta verdade que o aflige.Existe a pequena chance de este moço ter percebido que aquele relacionamento não poderia dar-lhe frutos.

–Será?-Pergunto mais para mim mesma do que para a professora.Então ela se levanta um pouco agitada.

–Pelas barbas de Merlin!-Ela sussurra.Então Prof. Helock passa a mão pelos longos cabelos.-Eu sabia que aquele plano maluco de Minerva, haveria de dar errado.Pobre coitado do garoto, deve estar roendo-se de fúria e tristeza!Deveria eu convidá-lo para tomar um chá?Oh, não, ele nunca aceitaria...

Então ela continuou a resmungar, de modo que eu já não conseguia mais ouvi-la.A professora começou a andar pela sala abrindo livros, e lendo trechos ininteligíveis, para logo depois fechá-los, e passear novamente pela sala, remexendo nas bolas de cristal.

Então ela parou, arregalando os olhos e me olhando assustada.

–Tu deves conquistá-lo logo, minha querida, ou irá perder o maior amor de tua vida!-Exclamou a professora.Franzi a testa.Eu não tinha entendido direito.

–Desculpa professora, não entendi.-Prof. Helock agarrou meus ombros com força, olhando-me dentro dos olhos.

–Tua felicidade repousa naquele moço!-Ela exclamou, me fazendo ficar assustada.-Basta deixá-lo escapar por entre teus dedos e nunca mais terás o privilégio de ser feliz!

Eu ainda estava assustada, mas não deixei transparecer.Respirei fundo, tentando absorver e conectar tudo o que ela tinha dito.Algo me veio em mente, mas resolvi perguntar para deixar tudo bem claro.

–A senhora quer dizer que eu não vou ser feliz sem Scorpius?-Não me preocupei em ocultar seu nome.Àquela altura era óbvio que Prof. Helock já sabia de quem se tratava.-Mas eu tenho quinze anos, uma vida inteira pela frente, muitas pessoas por quem eu posso me apaixonar.Porque minha felicidade, tem que "repousar" justamente nele?

–Não tente entender os caminhos do coração, querida.-Falou a professora um pouco desligada.-Mas posso dizer-te com convicção: tua vida, sem aquele moço, nunca será a mesma.

Aquela frase me assustou mais que todas as outras.Quer dizer que se eu não conseguisse reconsquistar Scorpius eu teria uma vida tão diferente assim?Engoli em seco.

–M-mas professora...-Gaguejei, então ela arregalou os olhos, mais do que todas as outras vezes.

–Querida, por favor entre aqui, ele está para chegar!-Prof. Helock me empurrou para um armário escuro, que cheirava a vinho e poeira, e então não vi mais nada.