As Três Lágrimas do Youkai. escrita por Larizg


Capítulo 40
Capítulo 40 – Lágrima de Felicidade. (Atualizado)


Notas iniciais do capítulo

Olá, mina! Tenho que me desculpa MUITO pelo atraso, mas estou cada vez mais atolada em estudo! Peço desculpas aquelas que já comentaram no último cap e que estão esperando por este que postarei hoje. Uma abraço especial a: susu swan; Dani Higurashi; Laura; Serenity. Muito obrigada, gente!
(Eu sei que estou atrasada, mas cadê o resto marcando presença?! Me abandonaram? T.T )
Esse capítulo eu fiz baseado na história de Rei Pttr Pendragon, do livro Dragões de Eter vol.3 (minha inspiração para escrever) Espero que gostem =) Bem, sem mais delongas, eu colocarei o cap. Espero conseguir emocionar algumas leitoras =)
POR FAVOR, se puderem, coloquem essa músicas de fundo, porque foi nelas que me inspirei:
Tsukiyo: https://www.youtube.com/watch?v=4mahdF3ZcWc
Sesshoumaru: https://www.youtube.com/watch?v=gov13WuHV2g



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A jovem olhava maravilhada para a beleza da mulher. Era algo estranho, pois ao mesmo tempo em que era atraente, sua áurea era soturna. Os olhos bicolores a vigiavam intensamente e Tsukiyo se perdia em seus tons. De um lado, o verde vivo como a grama dos campos do paraíso, do outro, um azul celeste tão sombrio e nebuloso quanto o céu do inferno.

Após finalizar sua análise, a mulher deu as costas à jovem e com um sinal, indicou para que a seguisse. Tsukiyo olhou com desejo para o cristal que tanto procurava, mas sentia o peso do poder da mulher e decidiu não arriscar. Já sabia onde estava, se tudo desse errado, saberia encontrá-lo para fugir com ele.

Mas fugir para onde?

— Não se preocupe, não lhe farei mal. A Tamashi no Kakera continuará no mesmo lugar e apenas eu posso tirá-la de lá. – falou Mira como se lesse seus pensamentos.

            Sem escolha, Tsukiyo pôs-se a andar. Os espíritos pairavam sobre sua cabeça e iluminavam o caminho por entre as árvores, sempre rodeando a figura imponente da guardiã.

Ao perceber o comportamento das luzes, a jovem perguntou:

— Mira... – exclamou Tsukiyo com certo receio. – V-você é a rainha deste mundo?

            – Títulos de nobreza não existem aqui. – falou com seu arrepiante tom: o eco de diversas vozes femininas. – Nesse mundo, tudo é medido pela pureza de uma alma.

            À medida que falava, os espíritos brancos rodavam ao seu redor. A mulher apontou para um deles e continuou.

            – Espíritos puros são leves e por isso podem voar, as luzes que emitem são a representação disso. Espíritos manchados pelos pecados... – uma grande depressão surgiu à frente. – tendem a cair no desespero.

            A mulher chegou na beirada da depressão e Tsukiyo a seguiu, ao contemplar o buraco, levou à mão na boca, horrorizada.

            Criaturas deformadas, tentavam em vão escalar a parede sem sucesso. Eram como sombras amontoadas umas em cima das outras, que tombavam e caíam no vazio que dava para um buraco negro e vermelho. Seus gritos, sons guturais e animalescos, doíam o tímpano pelo desespero que traziam.

Tsukiyo tremeu diante do espetáculo macabro.

            – Isso... Isso é horrível! – falou quase num sussurro.

            Mira olhou para aquelas miseráveis almas, seu tom ambíguo, soava indiferente ao mesmo tempo em que parecia compartilhar a dor daqueles seres.

            – As almas malditas não conseguem flutuar ou se manifestar em forma de luz. Eles nada mais são do que desesperados. Seu destino final é o limbo do inferno, onde passaram a completa eternidade com os tormentos que fizeram em sua vida.

            Um grito agudo se sobrepôs aos demais. Tsukiyo olhou para um dos corpos escuros que tentava desesperadamente se salvar escalando a parede da depressão. Era menor que os outros e com certeza mais baixo. Quando se deu conta, Tsukiyo sentiu a respiração acelerar de terror.

            – Uma criança?! – ele se voltou aflita para a guardiã. – E-existem... crianças aí?!

            A guardiã olhou em na direção da pequena sombra, mas seus olhos eram isentos de qualquer emoção.

            – Entenda, a infância é a época mais pura na vida de uma pessoa, então é normal esperar que todos as crianças que faleçam por uma infelicidade sejam diretamente transmutadas em espíritos de luz quando chegam aqui.

Ela permitiu uma pausa para a que a menina assimilasse tudo.

— Mas há exceções: aquelas dominadas pelos pecados da vida adulta tem o mesmo julgamento do deles. Apenas crianças muito deturpadas pela mente adulta caem no inferno.

            – Julgamento? – sua respiração já começava a normalizar.

            – Esse lugar é chamado de Saigo no Kotoba por um motivo. Aqui os mortos trazem do seu mundo seu último pensamento, e é ele que define quem são. – Mira começou a se afastar do local e Tsukiyo logo foi atrás. Não desejava passar mais tempo naquele inferno de corpos suplicantes – O tipo de pensamento é o que demonstra verdadeiramente como é a alma dos vivos.

            – Então, tudo se resume ao momento da morte?

            – Não necessariamente. Durante a morte, todos os sentimentos e memórias daquela pessoa são canalizados em apenas um último pensamento. Se o pensamento for considerado puro ele se torna um espírito de luz. Seja uma pessoa que viveu uma boa vida, seja alguém que não carrega arrependimentos, ou mesmo aquele que se arrepende verdadeiramente do que fez, todos são considerados seres dignos do paraíso.

            – Quer dizer que os atos da pessoa durante a vida de nada valem? – perguntou inconformada. – Quer dizer que se um assassino em massa se arrepender ele se livra do inferno?

            – Não seja tola... Se ele é um assassino porque assim o deseja e gosta, seu último pensamento nunca conseguirá ser puro, pois sua mente está completamente manchada. Além disso, – ela se virou e encarou intensamente a jovem. – você mais do que ninguém deveria saber que alguns atos não definem uma pessoa.

            As imagens rodaram sua cabeça. Os pais; Wendy; as pessoas correndo desesperadas e o prazer que sentiu enquanto Fera de tirar-lhes a vida. A jovem desviou o olhar e cerrou as mãos em frustração. Tsc!

            Mira voltou ao seu caminhar e sem opções, Tsukiyo a seguiu.

            – É você quem faz esse julgamento?

            – Não. – respondeu a guardiã sem se virar. – O próprio mundo se encarrega disso. O pensamento segue a energia da pessoa. A energia segue a ordem. Logo, a ordem baseia-se no pensamento e então o julgamento é feito. Aqui não há títulos como você imagina, não há diferença entre os que chegam. Aqui nada “é”, eles simplesmente “estão”.

            Tsukiyo sentiu o cérebro doer. Ao que parecia, aquele mundo era muito diferente do seu e completamente movida à energia vital das pessoas e seu último pensamento. A jovem desistiu de compreender por completo, pois sabia que sua mente ainda era limitada para os conceitos do lugar. Mira pareceu rir de sua condição, mas nada disse sobre, foi então que Tsukiyo se deu conta de algo não deu atenção até agora.

            A jovem parou abruptamente, fazendo com que a guardiã depositasse sua atenção nela. Tsukiyo levantou os olhos e pela primeira vez desde que a vira, encarou a mulher com confiança.

— Onde está o youkai que veio comigo? Onde está, Sesshoumaru? – exigiu.

A mulher pareceu olhá-la divertida antes de recomeçar a caminhar.

— Ele está bem. Assim como você, ele foi abordado por um espírito e encontra-se agora falando com ela.

A jovem arregalou os olhos quando sentiu a compreensão atingi-la. Rin! Então era por isso que ele parecia hesitar em vir. Por causa do último pensamento dela! Naquele momento sentiu uma imensa necessidade de ir até ele. Precisa estar lá, ele precisava saber que independente de o que acontecer, ela o ajudaria.

Quando fez menção de ir atrás dele, foi parada por Mira, que com seu tom ecoado falou:

— Não adianta tentar chegar até ele. Quando toca um espírito, sua consciência é transportada para poder vê-lo. Não pode acordá-lo agora.

— Por que me trouxe aqui?

Mira sorriu.

— Eu nada fiz. Você foi guiada até aqui pela alma da jovem com quem conversou. – elas retornaram à clareira em que se viram a primeira vez. – Ao que parece, ela queria que ficasse com a Tamashi no Kakera.

O cristal verde brilhava sobre elas, quente e aconchegante. Diversos espíritos passavam ao seu redor como que ansiando por seu calor. Tsukiyo sentiu a luz do cristal sobre si e sentiu-se bem. Estou quase lá.

Virou-se para Mira e com a mesma confiança que apresentou segundos atrás perguntou:

— O que preciso fazer?

A guardiã estendeu a mão e o cristal veio flutuando até sua palma, onde ficou suspenso.

— Deve provar-se digna de possuí-lo. – falou sucinta.

— E como posso fazê-lo?

— Precisa provar a mim, a este mundo e ao próprio cristal que sua alma é merecedora.

— Certo. – concordou Tsukiyo. – Como posso provar a você?

Pela primeira vez, Mira sorriu genuinamente.

— A mim você já provou, criança. – falou arrancando uma exclamação surpresa da jovem. – Alguém que é capaz de chorar pelos espíritos como você fez assim que chegou, tem meu consentimento.

— Obrigada. – respondeu Tsukiyo se inclinando em uma mesura agradecida. – E quanto aos outros?

— Hm, acredito que a este mundo você já provou seu valor. De outra forma, sua consciência não seria capaz de chegar até mim. – esclareceu. – Mas, quanto ao cristal não é bem uma prova, é mais uma condição.

— Condição?

Os olhos bicolores de Mira se tornaram piedosos e curiosos.

— Para purificar uma alma, o cristal exige que outra tome seu lugar. Se usar seu poder para salvar alguém, sua alma será condenada.

Tsukiyo sentiu como se as palavras lhe atingissem com força. A respiração foi jogada para fora dos pulmões. Seu pensamento voltou à depressão onde viu as almas desesperadas. Apenas pensar que pudesse sofrer tamanho destino, sentia as pernas tremerem.

— Condenada? – falou num sussurro.

— No seu caso, criança, seria abrir mão da única coisa que a mantém lúcida. – Mira apontou para sua cintura. – O cristal se fundirá a sua espada e se você a transpassar em alguém, o cristal fará seu trabalho de purificação, sem que a pessoa sofra danos físicos. Entretanto, ele poderá ser usado somente uma vez. Ao fazê-lo, sua arma se partirá junto com sua humanidade.

A jovem sentiu o chão desaparecer e caiu de joelhos sem ar.

Se perdesse a espada, não conseguiria controlar a Fera. Não precisaria morrer para viver o inferno. Ela o viveria na Terra. Presa no próprio corpo, restringida a olhar a si própria ferindo inocentes e pessoas queridas até que alguém tivesse a capacidade de matá-la.

Tsukiyo sabia que se isso ocorresse, sua alma carregaria tamanha culpa que duvidava poder se transformar num espírito luminoso.

— Droga! – Tsukiyo socou o chão, tentando impedir que as lágrimas de raiva e frustração descessem. – Por quê?! Por que tudo conspira para que eu me perca naquele monstro? Eu não quero ferir pessoas, eu... Droga!

Ela rangeu os dentes e tentou parar de tremer. Sob o olhar de Mira, a jovem esfregou as lágrimas e se levantou calmamente. Quando finalmente se acalmou, ela acenou em concordância para a guardiã.

— Você aceita esse fardo para fazer uso do poder da Tamashi no Kakera? – perguntou a guardiã.

Tsukiyo pensou em seus pais; pensou em Wendy e seu pedido; pensou em Sesshoumaru; pensou em Akarin; pensou na fera e em seu destino. Devia muito a muitas pessoas e machucara muitos inocentes. Talvez nunca pudesse pagar o suficiente, mas já seria um começo.

Salvarei todos que eu puder..., jurou para si mesma.

Ela respirou fundo e desembainhou a espada.

Ela se aproximou da mulher e com a ponta da espada tocou o cristal. Lágrimas escorriam silenciosas pelo rosto e ela não fraquejou quando falou:

— Eu aceito..

—_________________________XXXXX____________________________

Era mesmo ela. Tinha os mesmos cabelos longos negros. Os mesmos olhos castanhos amendoados. Vestia o último quimono que ele lhe dera, branco de detalhes roxos na base. Tinha o mesmo cheiro de lírios. O mesmo sorriso. Era ela. Era sua amada.

Era a sua Rin.

Boquiaberto, Sesshoumaru sentiu as pernas cederem e caiu de joelhas diante dela. Rin, por sua vez, aproximou-se e ajoelhou-se na frente dele. Seu rosto era carregado de compreensão.

O youkai saiu de seu transe e envolveu-a nos braços. Afundou a cabeça no ombro da jovem e apertou-a contra si, como se aquele ato pudesse segurá-la ali para sempre. Rin retribuiu prontamente seu abraço e encostou a cabeça no peito do amado. Era como ver o reencontro de almas gêmeas, a cena de inspiração para artistas românticos.

Era como se os deuses parassem o tempo, apenas para os dois.

Ficaram assim alguns instantes, apreciando a presença do outro. O abraço era quente e ainda sim frio perto do calor dos dois corações. Sesshoumaru se afastou um pouco, apenas para conseguir olhá-la nos olhos mais uma vez. Em seguida, foi de encontros aos seus lábios para um beijo que esperou décadas para acontecer.

Se houvesse ali uma orquestra invisível, ela estaria tocando no ritmo dos batimentos em comunhão do casal. Somente os sentimentos puros e verdadeiros, cravados na alma dos dois, fizeram esse reencontro possível.

Só havia um motivo para todo esse sentimento e desespero de se reencontrarem...

... era amor.

Naquele momento, Sesshoumaru não se importou que esse seria seu último beijo com ela. Não, ele estava feliz apenas por realizar algo que imaginou ser impossível. Ele conseguiu revê-la. Conseguiu abraçá-la. Conseguiu beijá-la.

E isso era muito mais do que esperou conseguir.

A jovem se afastou levemente e o encarou, colocou uma de suas mãos no rosto do amado. Seus olhos transmitiam o que faria. Sua boca se abriu e Sesshoumaru tremeu no segundo que antecedia ao ato. Tremeu diante do que viria a seguir. Tremeu diante do último pensamento.

“Tem medo de saber a resposta? Medo de saber o último pensamento?”

O coração do youkai retumbou e uma bolha pareceu se formar na garganta. Ele cerrou as mãos tentando esconder o tremor.

“Sim, eu tenho...”

A jovem percebeu o medo de Sesshoumaru, mas nada poderia fazer. Se pudesse lhe faria milhares de juras de amor e ficaria com ele para sempre. Mas só tinha direito a transmitir seu último pensamento e esperava ao menos salvar o youkai de seu próprio tormento.

Ela se aproximou e beijou com ternura a testa de Sesshoumaru, dizendo:

— Não foi sua culpa.

Sesshoumaru perdeu a respiração.

O peito doeu.

Institivamente, ele a abraçou novamente.

“Não foi sua culpa.”

 E realmente não o era, ao menos até que aquelas palavras enfim o libertassem. Ramificações de remorso e dor começaram a se rasgar dentro do peito de um youkai forte na casca, mas castigado no âmago. Respirações começaram a se tornar mais intensas e mais profundas quando o ar pareceu mais abundante, e o mundo nunca pareceu tão tenaz.*

O youkai começou a percebeu que o toque de Rin foi desaparecendo.

Ela estava desaparecendo.

A angústia bateu a porta. Ele queria mantê-la ali, mas ao enxergar sua expressão, sabia não ser possível.

Sabia que não era necessário.

Ela estava em paz.

Rin lhe lançou um último sorriso, que não precisava de palavras para compreender o que aquele gesto formado por sentimentos maiores que a vida e a morte queria dizer. Eu te amo, Sesshoumaru.

— Eu te amo. – proferiu Sesshoumaru antes que ela desaparecesse como pétalas de luz levadas pelo vento. – Adeus... Rin.

Sesshoumaru sentiu o coração quente.

O som de um coração libertado era uma música de tons diferentes, que repetia eternamente a mesma estrofe:

Não foi sua culpa.

O youkai sentiu algo quente escorrer pela face. Uma lágrima transparente desceu pelo rosto e caiu no chão, e tudo aquilo que comprimia o peito de Sesshoumaru se foi com ela.

Ali, sentado em meio ao vazio branco, Sesshoumaru chorou como uma criança ou como um homem livre de sua sina. Bastou apenas uma lágrima para selar o final daquela história. Uma lágrima para libertar sua alma da tormenta. Uma lágrima para abrir as portas para o futuro. Uma lágrima para dizer adeus.

Uma lágrima de felicidade...


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Notas finais do capítulo

* esse parágrafo foi tirado do livro Dragões de Eter. (não é plágio, eu reconheço que não foi de minha autoria...)
Por favor! Esse é um dos capítulo mais lindos da fic. Não deixem de comentar, por favor!