As Três Lágrimas do Youkai. escrita por Larizg


Capítulo 39
Capítulo 39 – Palácio dos céus. (Atualizado)


Notas iniciais do capítulo

Olá, mina! Estou de volta (com muito custo) para deixar mais um capítulo para vocês. Para compensar esse intervalo maior entre um cap e outro, eu os farei um pouco maiores, pode ser? Quero agradecer a todas que comentam e favoritam a fic! Sem vocês, minhas lindas leitoras, eu não seria nada =) Um agradecimento especial a Dani Higurashi que começou a ler a fic desde o inicio, mesmo tendo essa extensão de capítulos, e sempre para para comentar. Obrigada, linda!!!!
Bem, sem mais delongas, vou deixar o cap dessa semana aqui com vocês. Deixo também o link de uma ost que acho que combina perfeitamente com o momento, principalmente a parte de Tsukiyo...https://www.youtube.com/watch?v=5HslkDVU1C4&index=28&list=LLB6v6ByCGDghZWvgVfZ_qbQ
Espeo que gostem, boa leitura....



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Tsukiyo estava completamente boquiaberta e ficou travada no lugar, apenas observando o youkai avançar. Sesshoumaru ignorou completamente sua expressão surpresa e continuou a avançar para o local onde deixaram Ah-Uh.

A jovem só conseguiu se mover quando o Lorde parou do lado do youkai de duas cabeças.

            – C-como assim visitar sua mãe?! – perguntou incrédulo enquanto corria para alcançá-lo.

            – Se existe alguém que sabia onde Tamashi no Kakera está era meu pai. E se há alguém para quem ele contou, foi para ela. – explicou indiferente.

            – M-mas...

            – Vamos.

            Sesshoumaru levantou voo e Tsukiyo só pôde se limitar a segui-lo. A jovem praticamente pulou em Ah-Uh, agarrando as rédeas e impeliu a criatura para cima. Não conseguiu mais perguntar nada ao Dai-youkai. Sempre que se aproximava o suficiente para sua voz sobrepor-se ao vento, ele parecia acelerar para se afastar.

Logo, ela desistiu de tentar qualquer coisa.

             Ela não conseguiu deixar de lado os diversos pensamentos que rondavam sua mente. Estava ansiosa, e não sabia se era por finalmente se encontrar diante de uma chance de alcançar o objeto que tanto procurava ou se era porque conheceria pessoalmente a mãe de Sesshoumaru. Já ouvira falar de Satori-hime, era uma famosa Dai-youkai por sua nobreza e seu clã, bem como por ter sido a mulher de Inu no Taishou e mãe do atual Senhor das Terras do Oeste.

            Como será que ela é?, questionava. Hm... Sesshoumaru não parece muito feliz por visitá-la. Serão completamente opostos?

            Sesshoumaru começou a desacelerar, o que chamou a atenção da jovem e tirou-a de seus pensamentos. Ela encarou o youkai até parar ao seu lado. Estavam flutuando a quilômetros de altura.

            – Por que parou no meio do nada? – nenhuma resposta. – Ei! Eu perguntei p...

            A jovem calou-se ao notar que acima deles estava uma espécie de palácio flutuante. Sustentado magicamente sobre as nuvens estava o imenso castelo. Uma gigante porta os separava do interior e Tsukiyo conseguia ver guardas trajando vermelho em todos os andares do local.

            Extasiada, a jovem, sem tirar os olhos da construção, perguntou à Sesshoumaru:

            – C-como isso é possível?!

            – Feiticeiras do clã renovam de tempos em tempos o encantamento que mantém o palácio acima das nuvens. – explicou indiferente.

            – Incrível! – exclamou.

            – Venha, vamos entrar. – falou sério. Tsukiyo podia perceber certa tensão na voz do youkai.

            Sesshoumaru escancarou os portões e eles entraram. Tsukiyo se viu diante de um corredor extenso que dava para uma porta vermelha. Vendo Sesshoumaru avançar pelo local, a jovem desmontou de Ah-Uh e ordenou que esperasse ali, em seguida, pôs-se a seguir o youkai.

O corredor parecia interminável. O chão era revestido de um longo tapete vermelho que criava a ilusão de ser infinito, as paredes possuíam pinturas de vários youkais. Ao perceber a semelhança, Tsukiyo acreditou que se tratavam de youkais pertencentes ao clã, youkais do alto escalão para ser mais específico. Todos trajavam quimonos finos e muitos dos homens seguravam uma arma que parecia emanar poder.

Chegando próximo à porta, Tsukiyo reconheceu um deles. Pintado com grandes detalhes, estava ninguém menos que o famoso Inu no Taishou. Ela percebeu que se tratava dele devido às espadas Tessaiga e Tenseiga cruzadas em suas costas e a pele no ombro que Sesshoumaru herdara. Seu olhar era feroz e a postura transmitia autoridade digna de um líder. Lembrava um pouco Inuyasha...

Pintada ao seu lado, estava uma bela youkai. Tinha longos cabelos prateados, os delicados traços do rosto a lembravam alguém, e na testa tinha a inconfundível lua minguante azul, marca desse clã. Os olhos, como a maioria dos youkais ali presentes, era iguais aos de Sesshoumaru. E essa youkai, em particular, parecia sustentar um sorriso presunçoso escondido atrás de um leque azul que lhe cobria a boca.

Tsukiyo se encantou com a beleza da dama e se perguntou quem seria, mas logo sua atenção foi trazida ao próximo quadro. No próximo quadro estava retratado um belo youkai cão. Com longos cabelos prateados, olhos âmbar profundos e a lua minguante que Tsukiyo tanto se acostumara a ver. O youkai apoiava a mão esquerda nas bainhas das espadas que trazia ao cinto, as inconfundíveis katanas: Bakusaiga e Tenseiga.

Sesshoumaru...

            O pintor conseguira captar com perfeição os traços delicados do rosto de Sesshoumaru ao mesmo tempo em que eternizava sua boa forma física e evidente poder. O Lorde parecia altivo como nunca, o que apenas confirmava a boa percepção do pintor. A jovem gostaria de se atentar mais aos detalhes da pintura, mas Sesshoumaru já estava prestes a abrir a porta vermelha no fim do corredor.

Ela respirou fundo.

            Está na hora,

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            Atravessar aquele corredor se tornou um transtorno para Sesshoumaru. Isso porque a cada passo ele desejava voltar. Não era apenas por não desejar um encontro com sua mãe, e sim porque se questionava se realmente queria encontrar Saigo no Kotoba. Um lugar onde os mortos podem dizer seu último pensamento... Tal ideia o atormentava desde que conversara com Myouga. Nem sabia se Rin estaria lá e, mesmo se estivesse, ele não sabia se queria conhecer esse último pensamento, pois não tinha ideia do que poderia ser.

            Com o canto do olho percebeu a jovem analisar os quadros, parando principalmente no de seus pais e no seu próprio. Noutro momento o youkai aproveitaria para provocar, mas não estava com humor no momento. Ele respirou fundo e abriu a porta vermelha. Um grande salão se estendeu aos seus olhos, o mesmo que visitou anos antes em busca de ajuda... e lá estava ele outra vez.

            Ao final das longas escadas revestidas por um tapete vermelho estava Satori em seu elegante trono. Usava as usuais roupas: um quimono longo roxo e, por cima, um robe azul, caído abaixo dos ombros, contendo a pele, símbolo dos líderes do clã, nas bordas. Tinha o cotovelo apoiado graciosamente no braço do trono e segurava levemente a cabeça.

Sua expressão era impassível, mas Sesshoumaru notou um brilho cruzar seu olhar quando ela notou sua acompanhante.

— Espere aqui. – falou para a jovem, que sem questionar, concordou com a cabeça e aguardou no início da escadaria.

            Sesshoumaru percebia que ela olhava tudo com uma grande admiração, mas a postura ligeiramente tensa evidenciava seu nervosismo; A jovem havia percebido o olhar da youkai nobre sobre ela. Por isso não discutiu em permanecer ali, deduziu.

            Ele terminou o restante das escadas sozinho até parar de frente para o trono. Ao chegar, Satori logo o cumprimentou com seu tom típico calmo e fingido.

            – Sesshoumaru, há quanto temp...

            – O que sabe sobre a Tamashi no Kakera? – cortou ríspido, com pouca paciência para os dramas da mãe.

            A youkai o encarou alguns instantes com surpresa no olhar antes de desviar o olhar para Tsukiyo, a quem estudou minuciosamente.

            – Entendo... – exclamou.

Quando se voltou para ele, uma troca de olhar, cheia de significado, ocorreu entre ambos. Satori deu um de seus suspiros teatrais e falou no típico tom meloso.

            – Só me procura quando precisa de algo. Ao que parece, meu filho não se importa comigo. – fingiu desfalecer no encosto do trono. – Nunca me visita para saber como estou.

            Sesshoumaru permaneceu em silêncio, mas seu olhar ganhou um brilho perigoso. Em resposta, ela se limitou a retrucar com um sorriso irônico e um olhar desafiante, que só possuía significado para eles. Depois de se divertir com a atitude do filho, Satori se recostou no trono calmamente e sua expressão voltou ao indiferente.

Seus olhos não escondiam o brilho divertido e intrigado.

            – Seu pai comentou algumas vezes sobre ela, mas nunca imaginou que seria você a procurá-la. – começou. – Ela fica num vale chamado Saigo no Kotoba, onde os mortos podem expressar seu último pensamento. – ela lançou mais um de seus olhares enigmáticos a Sesshoumaru.

            – Onde fica? – perguntou ele ignorando as ações dela.

            – Numa região isolada do inferno. – ela retirou o colar de pedra que sempre levava no pescoço. – Essa pedra, que seu pai me trouxe, veio daquele vale e apenas por isso foi capaz de trazer a menina Rin de volta à vida. Se utilizar a Tenseiga para quebrá-la, uma passagem se abrirá para o local. – seu olhar tornou-se sério. – Contudo, já aviso, que é uma passagem só de ida. Não poderão utilizá-la para voltar.

            O youkai se aproximou e pegou o colar que Satori estendia. Ele analisou brevemente com o olhar, era o mesmo que vira anos antes, mas já não continha o mesmo brilho. Sesshoumaru perdeu-se em lembranças do dia em que Rin foi trazida de volta por aquela pedra. Os momentos foram se somando a várias outras memórias de momentos que passou junto a amada, seja salvando-a de youkais ou de ser salvo de si mesmo por ela.

Agora, ali em sua mão estava a passagem para Saigo no Kotoba, o lugar que Tsukiyo buscava com tanto fervor para salvar o homem que amava. Sesshoumaru se enfureceu. Queria, precisava desesperadamente ajudá-la, mas não queria que tudo fosse por causa de outro youkai. Não, ele não iria a esse local e arriscar nunca voltar para salvar esse youkai...

Mas como poderia deixá-la ir sozinha?

Estaria ele se apegando a jovem a ponto de salvar outro youkai só para vê-la feliz? Não comece com pensamentos tolos, você apenas não pode deixá-la ir porque ela é a chave para vencer essa guerra. Por mais que tentasse se convencer que esse era o motivo, em nenhum momento pensou em enviá-la a essa dimensão para morrer para que nunca fosse capturada por Nisshoku.

Mas a quem ele estava enganando? O risco de não voltar; o fato do objetivo final dela ser salvar outro youkai; sua estratégia de guerra... Nenhum desses era o verdadeiro motivo de Sesshoumaru temer ir a esse lugar. Droga! Ele franziu a testa e cerrou os dentes.

            Percebendo sua hesitação, a nobre youkai perguntou:

            – O que foi, Sesshoumaru? – sua expressão era um misto de curiosidade e compaixão materna, algo que apenas em momentos extremos, Satori era capaz de demonstrar.

            Como não houve resposta, ela concluiu.

— Tem medo de saber a resposta? Medo de saber o último pensamento?

Sesshoumaru apertou o colar entre os dedos e se virou de costas, pelo simples fato de não suportar continuar olhando em seus olhos. Satori percebeu a arrogância do youkai se dissipar e os sentimentos retidos como câncer aflorarem.

Sesshoumaru cerrou os dentes tentando se controlar. Olhou para Tsukiyo e a chamou. A jovem titubeou, mas logo subiu as escadas para ficar ao seu lado. Imediatamente, o youkai colocou sua máscara para evitar que ela visse que estava perturbado.

Estava irritado, mas não propriamente com as afirmações da mãe. Estava enfurecido consigo mesmo. Porque sentia seu coração palpitar e uma dor sufocar seu peito. Porque sabia que o mundo não é um lugar simples. Porque seu interior tremia e estava dividido.

Porque sabia o verdadeiro motivo de não querer ir ao lugar.

Por mais que negasse para si mesmo, sabia a resposta para as perguntas da mãe:

Sim, eu tenho...

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            Tsukiyo se espantou quando viu o salão. Era imenso, de alguma forma parecia um lugar aberto, com uma ampla escada que levava à um piso plano. Havia guardas em cada etapa da escada, com os mesmos uniformes escarlate. Sentada ao trono estava a famosa Satori, mãe de Sesshoumaru. Foi então que Tsukiyo percebeu se tratar da mulher que vira no quadro minutos antes.

Era tão bela quanto na pintura.

Mesmo de longe, a jovem podia notar facilmente as semelhanças entre ela e o filho. Ambos tinham os traços faciais delicados e olhos profundos da mesma cor âmbar. Seus cabelos eram prateados, presos em dois lugares na parte posterior da cabeça. Logo acima das maçãs do rosto havia as marcas de uma Dai-youkai, iguais às de Sesshoumaru. Seus olhares se cruzaram por um instante e Tsukiyo assustou-se ao ver o mesmo brilho curioso e divertido que Sesshoumaru costumava portar, apesar da face indiferente.

Como são parecidos!, pensava enquanto Sesshoumaru conversava algo com a mãe. Daquela distância, ela não conseguia ouvir, mas percebia o youkai bem tenso durante o processo. A garota só podia imaginar sobre o que estavam falando, mas ela conhecia o único assunto que deixava Sesshoumaru daquele jeito e desejou poder ouvir a conversa.

Logo, Sesshoumaru chamou-a. Ela hesitou por nervosismo, mas pôs-se a subir as escadas até ficar ao lado do youkai. Ela sentia uma certa tensão no ar, e o olhar da imponente youkai sobre si. Nos delicados olhos âmbar, Tsukiyo notou curiosidade e... pena? A jovem ficou intrigada com isso, mas não conseguiu sustentar a troca de olhares por muito tempo devido ao nervosismo.

Sem saber o que fazer, ela virou-se para Satori e fez uma rápida reverência, mas antes que pudesse formular qualquer fala, Sesshoumaru estendeu o colar que trazia à mão em sua direção. Confusa, ela pegou o objeto e o analisou. Tratava-se de uma pedra azul marinho com vários pontos brancos. Era como se olhasse um pedaço do noturno céu estrelado bem na palma de sua mão.

— O que é isso? – perguntou curiosa e inocente.

— Uma passagem para Saigo no Kotoba. – respondeu convicto.

Tsukiyo imaginou ter percebido um leve receio em sua voz, mas acreditou estar imaginando coisas.

— Sério?! – A face da jovem se iluminou e ela sorriu para o youkai.

Estava um passo mais próximo de seu objetivo.

— Mas devo avisá-la minha jovem: – começou Satori. Sua voz era baixa e melosa. – É uma passagem só de ida. Terá que encontrar outra forma de sair de lá.

            Tsukiyo parou um instante. Era bom demais para ser verdade. A jovem analisou sua situação. De que adiantaria conseguir a pedra se não poderia voltar para salvar Akkarin? Mas... isso era o mais próximo que já chegou de completar seu objetivo.

Não, ela não daria para trás agora. Iria entrar nisso até o fim.

            – Tem certeza de que é isso que quer? – perguntou-lhe Sesshoumaru. O youkai parecia desejar por uma negação.

            – Tenho certeza. – respondeu com tamanha confiança que chegou a se surpreender.

            O youkai a olhou por alguns instantes sem nada dizer, depois, ele sacou Tenseiga e se preparou para acertar o colar que Tsukiyo segurava pela corrente. Quando ele estava prestes a mover a katana, Tsukiyo gritou:

            – Espere! – ele parou confuso. – Você não precisa ir, Sesshoumaru. Agradeço tudo que já fez por mim, mas não posso deixá-lo fazer isso. Pode não haver volta e não quero que você sofra as consequências por algo que nada tem a ver com você. Por favor, não posso permitir que sofra por minha causa.

            A jovem segurava as lágrimas. De certa forma, era uma despedida muito difícil. Ela sempre soube que seus caminhos se separariam, mas imaginou que teria mais tempo ao seu lado. Agora, precisava mostrar força. Queria que Sesshoumaru percebesse que poderia se virar sozinha e não queria arrastá-lo mais ainda para seus problemas. Então porque é tão difícil?!

A presença do youkai se tornou algo rotineiro, algo que Tsukiyo passou a desejar, e talvez por isso mesmo precisasse insistir para que ele ficasse. Não posso ver despontamento estampado na sua face novamente! Eu não posso atender às suas expectativas, então, por favor, Sesshoumaru! Não posso sentir que o traí de novo!, suplicou a jovem com o olhar. Por favor!

            Sesshoumaru travou a lâmina onde estava, e Tsukiyo percebeu a lâmina tremer de leve. Uma ponta de esperança surgiu dentro de si. Ele está hesitando.

            – Por favor... – sussurrou.

            Ele relaxou o braço, a espada pendeu ao lado do corpo. Tsukiyo sentiu um misto de alívio e profunda tristeza com o gesto. Dúvida assolava seu âmago. Sentia estar fazendo a coisa certa, mas por que doía tanto?

Ela fez menção de se aproximar, mas o youkai a interrompeu.

            – Você não vai sozinha! – falou carregado de uma emoção sufocada.

A lâmina cortou o ar.

            – Sessho...!

            Antes que terminasse a fala, a ponta de Tenseiga acertou o centro da pedra negra do colar, que balançava no ar preso à corrente segurada por Tsukiyo. O objeto trincou e uma luz esbranquiçada se expandiu e englobou os dois.

            Tudo se tornou branco.

...

            Tsukiyo abriu os olhos devagar. Quando deu por si, estava deitada de costas na grama. Parecia noite, pelo tom escuro das folhas. Ainda meio atordoada, ela se apoiou nos cotovelos e ergueu o tronco. Aos poucos seus olhos foram focalizando um borrado branco a sua frente.

Sesshoumaru estava de costas, em pé a sua frente.

            – Sesshoumaru? – ela se levantou com dificuldade. – Onde estamos?

            – Saigo no Kotoba. – falou meio sombrio.

            Ao olhar em volta, percebeu que estava em meio a um bosque, com árvores altas de troncos grossos. A luminosidade era pequena, o que fazia parecer noite. A jovem olhou para o céu e viu-o todo negro com diversos pontos luminosos. Poderia tratar-se de estrelas, mas elas se moviam. De repente, elas começaram a descer lentamente do céu e flutuarem ao redor de Tsukiyo. Uma delas roçou levemente sua pele e o toque era frio, mas quase não tinha consistência.

            – Espíritos... – exclamou para si, atenta às esferas brilhantes que flutuavam deixando para trás um rastro luminoso.

            O lugar tinha um ar místico, mas sua beleza vinha acompanhada de uma melancolia que afetava os presentes. Era como se eles ansiassem por aqueles sentimentos. As estranhas esferas exerciam uma atração quase impossível de ser negada. Eram almas incompletas, que não puderam dizer adeus, que foram arrancadas do mundo e deixaram assuntos pendentes.

Agora, elas queriam ser ouvidas.

            O desejo de Tsukiyo era poder ouvir o que tinham a dizer, mas ela sabia que não poderia. O que àquelas almas necessitavam era da pessoa certa para ouvi-los e Tsukiyo não era essa pessoa. As pessoas certas eram aqueles deixados para trás, no outro mundo.

            Outras esferas tocaram em sua pele e a jovem já não achou o toque frio. Tsukiyo chorava sem perceber, o toque das almas era quente e acolhedor. E eu não posso retribuir...

            Uma lágrima desceu pelo seu rosto e pingou no chão.

            De repente, tudo começou a clarear. Tsukiyo olhou para cima e percebeu um dos espíritos luminosos se aproximando em sua direção. A esfera parou a sua frente, emitindo uma luz extremamente forte. Instintivamente, a jovem levantou a mão e tocou de leve o espírito.

            Assim que seus dedos sentiram o toque, a esfera se expandiu e tudo tornou-se branco.

De repente, a sua frente, uma garota, mais baixa que Tsukiyo, de longos cabelos negros e olhos azuis, surgiu em meio à luz. O corpo feminino de uma adolescente apareceu e uma inconfundível energia aflorou ao seu redor. Seus traços eram levemente encobertos pela luz branca que reluzia a sua volta, mas era impossível não reconhecer.          A pequena sorriu e Tsukiyo pôs-se a chorar num misto de alegria e tristeza. Ela correu e pulou sobre a pequena para um abraço, apertando-a forte ao perceber que era palpável.

            – Wendy... – deixou escapar num sussurro desesperado.

            A pequena youkai retribuiu prontamente o abraço e recostou a cabeça no ombro de Tsukiyo como quando eram crianças.

Após alguns minutos das duas curtindo o reencontro, lentamente, Wendy se afastou e ficou de frente para Tsukiyo. Seu semblante era puramente terno e os lábios sustentavam um sorriso sincero. Tsukiyo sentia o corpo tremer.

Queria poder tirá-la dali e trazê-la de volta ao mundo dos vivos... Mas os mortos não podem voltar.

— Me desculpe, Wendy! – suplicou. Buscando desesperadamente se redimir, mesmo sabendo que nada poderia ser feito agora.

A morena negou com a cabeça e se aproximou. Ela estendeu a mão e levantou o mindinho na direção de Tsukiyo. Quando eram mais novas, sempre faziam seus juramentos assim, entrelaçando os mindinhos na mão. Com um sorriso saudoso, Tsukiyo estendeu o seu próprio e juntaram os dedos.

Um brilho melancólico assumiu o olhar de Wendy antes que ela pedisse.

— Salve meu irmão...

Então, a jovem youkai deixou de se tornar palpável. Lentamente ela ia desaparecendo num brilho tragado pelos céus. Uma bolha se formou na garganta de Tsukiyo, ela tentou tocar a menina, mas sua mão transpassou-a. Wendy lançou um último sorriso e desapareceu na imensidão branca.

— Wendy! – clamou Tsukiyo com a mão estendida.

De repente, a imensidão branca ao seu redor começou a desaparecer, dando lugar a uma clareira cercada de espíritos. No centro pairava um cristal verde. Não era o mesmo lugar onde a jovem acordara outrora. A Tamashi no Kakera!, concluiu Tsukiyo ao se atentar para o cristal verde flutuante. Ele emanava a mesma energia dos espíritos, chegava a ser sufocante. Mas diferia das almas flutuantes por não emanar melancolia, apenas calor.

Um farfalhar de folhas despertou a atenção de Tsukiyo.

— Sesshoumaru? – perguntou, secando frivolamente as lágrimas.

Não queria que o youkai a visse naquele estado.

Uma sombra surgiu detrás das árvores que rodeavam o local. Era uma mulher, vestida com uma longa túnica azul, com mangas abundantes, e que marcava bem as curvas do corpo. Na cintura, ia um cinto grosso de ouro, trabalhado em detalhes tribais. Os longos cabelos negros estavam presos em dois cabos de cavalo atrás da cabeça. Seu olho esquerdo era de um azul celeste e o direito um verde brilhante, contrate que apenas intensificava seu olhar.

— Quem é você? – perguntou Tsukiyo, levando a mão próxima à bainha da arma.

            Um vento, antes inexistente, soprou, bagunçando os cabelos de Tsukiyo. As esferas brilhantes começaram a orbitar ao redor daquela mulher. Quando falou, sua voz parecia vir do fundo de um longo poço e o mais incrível: parecia ter vários tons ao mesmo tempo, desde o fino tom de uma garota ao de uma mulher madura ao de uma velha sábia.

            – Eu sou Mira, guardiã da Tamashi no Kakera.

—_________________________XXXXX____________________________

            Assim que acertou o colar com sua espada, o mundo de tornou branco. Quando Sesshoumaru abriu os olhos estava deitado na grama num local desconhecido. Desacordada próxima a si, estava Tsukiyo, a respiração era lenta e profunda. Tenseiga estava caída ao lado do youkai, então ele pegou-a e embainhou.

Levantou-se e olhou ao redor, estava em um bosque, mas as diversas luzes que via denunciavam o lugar. Eram as mesmas que anos atrás viu quando treinava Tenseiga no Medou Zangetsuha.

            – Sesshoumaru? Onde estamos?

            Ele não precisou se virar para saber que a jovem havia despertado. Limitou-se a responder à pergunta da maneira mais imparcial que pôde, apesar de sentir o peito comprimir-se e a mente distrair-se.

            – Saigo no Kotoba.

            Algumas luzes desceram do céu e começaram a flutuar entre eles. O brilho era atraente, mas a energia que emanavam era carregada de sentimentos conflitantes. Quando tocavam sua pele pareciam frios, mas Sesshoumaru sentia algo mais. Eram como uma chama gelada: carregados de calor sem, no entanto, queimar a quem tocassem.

            – Espíritos... – escutou a jovem exclamar baixo. A voz tremia como se chorasse.

            Sesshoumaru virou-se para ela a tempo de vê-la tocando um dos espíritos. A esfera liberou uma rápida e intensa luz, e Tsukiyo desabou desacordada. Sesshoumaru correu e se agachou ao seu lado. A respiração era imperceptível. O youkai sentiu o desespero bater a sua porta, mas assim que tocou o punho da garota pôde perceber sua pulsação.

Ele relaxou um pouco.

            – Tsukiyo. – chamou enquanto balançava de leve seu ombro. – Acorde!

            Nada. Nenhuma reação.

            Antes que pudesse tentar algo mais para despertar a menina, uma das luzes se aproximou de Sesshoumaru. Seu brilho era intenso e extremamente atraente, como se estivesse chamando por ele. Sem perceber, Sesshoumaru tocou a esfera e um brilho intenso o fez cobrir os olhos.

            Quando os abriu, estava numa imensidão completamente branca, sem nada ao seu redor. Uma figura começou a surgir no vazio. À medida que foi tomando forma, Sesshoumaru sentiu o coração parar e doer. A figura sorriu, e aquilo o desmoronou.

            Não aguentando a intensidade de seus sentimentos, um nome... puro e sinônimo de seu amor, escapou de seus lábios:

            – Rin...

Mira, guardiã do vale e a Tamashi no Kakera.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que gostaram? Desculpe se a parte da Satori ficou a desejar, mas eu acabei me empolgando mais com a parte de Saigo no Kotoba. Mas eu prometo que ainda terá mais uma cena com Satori e dessa vez ela fará maior contato com Tsukiyo, e logicamente, implicar mais um pouco com o filho kkk
Para buscar inspiração, acabei lendo o livro que me fez querer escrever e percebi que estava me distanciando um pouco da escrita que queria. Faz tempo que não tem nenhuma reflexão mais profunda, que fico apenas nos fatos... então decidi fazer os próximos capítulos mais voltados para a ideia inicial e voltar com o estilo que tinha no início da fic. Espero que tenham percebido e gostado =)
Aceito sugestões! Vocês preferem uma escrita mais reflexiva igual ao início da fic, ou algo mais concreto como tem sido ultimamente? Por favor, não deixem de me ajudar, preciso de opiniões... =)