No Rugido Do Leão escrita por Céu Costa


Capítulo 34
Kuller, me explique...


Notas iniciais do capítulo

Bom, lordes e ladys, avisei e aviso novamente que os capítulos iriam demorar. Eu sou paranaense, e agora que a greve dos professores acabou, tenho muitos trabalhos a fazer.... Mas não se preocupem pois não me esquecerei de vocês! Eu só não postarei com rapidez! Dito isso, vamos pro capítulo!



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– Samantha? - uma voz bem próxima a chamava - Senhora Samantha?

Samantha abriu os olhos. Encontrava-se na cama de carvalho, no quarto que Kuller designara para ela. E um lindo par de olhinhos lhe observava.

– Oi Medalyne... - ela sorriu, e a garotinha também - O que aconteceu? Como vim parar na cama?

– A senhora desmaiou, aí o senhor Caspian te trouxe para cá. - a menininha respondeu - Eu trouxe chá e biscoitos, a senhora quer?

– Não, querida, obrigada. - Samantha se sentou - Que horas são?

– Já deve ser a hora do café da manhã... - a menina falou - ou seria a hora do segundo café da manhã?

– São dois? - Samantha riu.

–Sim, um quando o sol nasce e outro três horas depois. Eu geralmente não consigo acordar para tomar o primeiro.... - ela disse, com ar triste.

– Onde estão os outros? - Sam cortou-a.

– Devem estar indo tomar o café lá fora. - Medalyne segurou-lhe a mão, puxando-a - Vem, vamos também! Sabia que aqui a gente faz todas as refeições juntos? Senhora Milifrey diz que é pra manter a união, e assim, todo mundo fica feliz!

– Jeito bom de se pensar... - Samantha comentou, enquanto caminhavam.

Do lado de fora, a vila parecia estranhamente arrumada e calma, e todos tomavam o café da manhã, como se nada tivesse acontecido. Samantha quase não conseguia acreditar. Como conseguiam agir normalmente, depois daquela noite terrível? Com todos aqueles tremores, desespero, o medo, os gritos...

– Medalyne, querida...

– Sim, minha senhora? - a pequena a olhou.

– Por que não encontra minha irmã e o Caspian? - Samantha pediu - Eu volto logo, sim?

– Sim senhora. - a menina disse.

Samantha ficou ali apenas o tempo de ver a pequena Medalyne correr por entre cogumelos e alcançar as outras pessoas, e depois girou sobre os calcanhares e voltou para a casa de Kuller. Ela não queria ver Belle ou Caspian, e com certeza não queria encontrar Passo Largo. Ou seria Gildarion II, da linhagem de Aragorn? Ela não queria nem pensar. Quando notou, já estava sentada no sofá da sala, lutando contra o nó que começava a se formar em sua garganta. Outra vez.

– Mornië utúlie... - Samantha ouviu uma voz sussurrar - Mornië alantie...

Samantha se levantou do sofá, sentindo a curiosidade acordar dentro de si. Ela sabia o que aquelas palavras significavam. A escuridão veio e a escuridão caiu. Ela caminhou, escutando aquela voz sussurrar novamente e novamente, repetindo sempre as mesmas palavras. Mornië utúlie, mornië alantie... Ela parou na frente de uma porta. Uma porta na sala, entre duas raízes de livros. Samantha se lembrava daquela porta. Era a mesma porta que Kuller havia trancado com uma chave dourada e muitas cadeiras na noite anterior.

Mas a porta não estava com cadeiras, e estava aberta, mesmo que por uma frestinha apenas. A curiosidade a impulsionou, e ela abriu a porta, e entrou. Era mesmo uma cena assustadora de se assistir: era um quarto relativamente grande, mas as janelas estavam pregadas com tábuas, e as cortinas estavam rasgadas. Nas raízes que formavam as paredes, haviam muitos arranhões, feitos durante noites e noites de desespero. Havia uma penteadeira toda arranhada e com o espelho quebrado, e seu banco estava jogado em um canto qualquer.

Mas havia algo muito mais interessante para se olhar. Ela viu Kuller, sentado em uma cama. Havia um pote cheio de vaga-lumes, pendurado em uma das raízes na cabeceira da cama. Por falar na cama, ela não era diferente das outras camas de carvalho e raízes, com a única diferença que estava encostada de comprido na parede à esquerda, de costas para a porta. Kuller repetia tais palavras, concentrado, como se dissesse um mantra.

– Mornië utúlie... mornië alantie...

De repente, Samantha levou um susto, reparando apenas naquele momento que havia alguém na cama. Era uma mulher, de cabelos negros como a noite. Kuller segurava a mão dela enquanto recitava seu mantra. Ela deu um suspiro longo, e acordou, assustada.

– Kuller!.... - ela disse - Kuller... meu irmão!....

– Oi Medaly... - ele sorriu, emocionado.

Ela tentou se levantar, mas Kuller a segurou gentilmente, e ela voltou a deitar.

– Minha garganta dói, Kuller!.... - ela reclamou.

– Eu te trouxe um pouco de chá de canela... - ele comentou.

Kuller agaixou-se, pegando algo no chão que Samantha não conseguiu ver pela iluminação ruim. Depois, ele entregou um copo para a mulher, que sentou-se e bebeu tudo em um único gole.

– Como se sente? - Kuller perguntou.

– Ainda muito tonta e cansada... - ela olhou para ele - Mas não precisa esperar, eu sei o que você quer saber.

Kuller sorriu, algo que intrigou um pouco Samantha.

– Eu consegui ver algumas coisas com mais clareza esta noite. - a moça continuou - Eu vi orcs... sim, os orcs estão sob o comando dela... eles sabem dos peregrinos... estão caçando eles, e perderam seus rastros em Fangorn...

Samantha sentiu o coração gelar. Ela sabia o trajeto deles... ela sabia, mas então, o que mais teria visto? Aliás, quem era ela?

– E o que mais? - Kuller pressionou.

– Eu vi os prados de Rohan, sim... Edoras... - a moça continuou - Mas... eles sumiram... desapareceram de minha vista... não consigo mais enxergá-los...

– Por que quer achá-los? - Kuller tornou a perguntar.

– Porque eles querem me destruir! Querem sim! Eles e suas malditas estrelas brilhantes! Eles querem destruir o meu reinado! - a moça começou a gritar de ódio. - Malditos sejam! Malditos sejam dentre todos os seres! Malditos sejam os portadores da estrela!

Kuller rapidamente saiu do quarto, e puxando Samantha para fora, trancou a porta com a chave dourada.

– Você tá bem, minha senhora? - Kuller se virou para Samantha, segurando as mãos dela entre as suas - Se machucou?

– Não, eu estou bem. Apenas assustada. - Samantha respondeu. - O que foi aquilo?

– Creio que a senhora talvez vá preferir um chá agora... - Kuller riu.

– Serve, por hora. - Samantha respondeu.

Kuller sorriu timidamente. Depois que a ajudou a sentar no sofá, ele se dirigiu para mais adentro da casa, e retornou com uma bandeja, com chá e biscoitos. Com uma elegância quase inglesa, ele a serviu, primeiro o açúcar, depois o chá de canela. Era quente e suave, e ela sentiu sua garganta esquentar, acalmando seu corpo, mas não a curiosidade.

– Primeiramente, - ela disse - obrigada pelo chá. Foi muito gentil de sua parte.

Kuller sorriu, corando levemente.

– Segundamente, - ela continuou - me deve explicações.

– Deixe-me ver por onde começo... - Kuller pensou - Aquela é a minha irmã mais velha, Medaly. Medalyne é filha dela com seu marido, Foster, meu melhor amigo.

– E o que houve com ele? - ela perguntou.

– Foster foi um dos primeiros a sair da aldeia para procurar pelo Gildarion II quando ele desapareceu, mas ele acabou adoecendo com a peste. Mesmo com os zelosos cuidados da Medaly, ele acabou falecendo. E agora, ela também sofre com a peste. - Kuller suspirou pesadamente.

– Que peste é esta que você tanto fala? - Samantha falou.

– Chamamos de Trelós, a doença da loucura. É muito violenta. Os pacientes tem fortes acessos de raiva e violência, e também de dor e desespero. A vítima morre aos poucos com a insanidade. - Kuller explicou - Tem piorado nesses últimos meses. Sempre no anoitecer, Siyah faz sei lá o quê em seu castelo, e um estrondo forte é sentido. Aí, começam os gritos.

– Essa doença me parece mais uma espécie de maldição. Jamais vi doença alguma que definhasse a mente. - Samantha comentou.

– Concordo. Recentemente descobri que tal maldição podia ser parcialmente domada através de um livro com alguns mantras em Quenya, uma linguagem élfica mais arcaica, e desde então tenho tentado e testado na Medaly. - Kuller confessou - De alguma forma, parece que a mente dela e da Siyah estão conectadas durante o acesso de loucura, e então através dos mantras, eu consigo descobrir o que ela sabe.

– Siyah? O que é isso? - Samantha tornou a indagar.

– Sinto muito, minha senhora, mas não sou a pessoa mais indicada para responder tal pergunta. - Kuller se levantou, pegando a bandeja de chá.

Samantha notou que tal assunto era muito indelicado para Kuller, mas ela sabia também que precisava de informações. E isso era mais importante no momento.

– Meu senhor Kuller, - ela chamou, e ele se virou, olhando-a - perdão por tocar em assunto tão constrangedor.

– Tudo bem. - ele apenas disse, se retirando.

Samantha olhou para suas mãos, pensativa. E então, sentiu levemente uma ideia começar a se formar em sua mente.


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