Rebirth escrita por Miojo Maldito


Capítulo 5
Episódio 4: Livor Mortis


Notas iniciais do capítulo

O livor mortis representa os livores cadavéricos, que surgem 20 a 45min após a morte. Em 10 a 12h os livores já ocupam todo o plano inferior. Os livores ocorrem porque depois da morte o sangue fica sujeito apenas à gravidade, acumulando-se nas zonas mais baixas do corpo (variando consoante a posição do cadáver). O que acontece então é que o cadáver adquire uma tonalidade descolorada em algumas áreas (onde havia superfície de contato) e arroxeada onde se deu a acumulação do sangue.



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Todos olharam surpresos. Era Elliot Turner, em carne e osso, de braços abertos, sorridente como sempre fora. Seus cabelos ruivos estavam naquele momento esvoaçantes devido ao forte vento que fazia naquele jardim onde era celebrada a missa.

A missa em sua memória.

Sara Turner, emocionada e perplexa ao mesmo tempo, levantou-se da cadeira onde estava e, olhando fixamente para o filho, começou a aproximar-se dele lentamente. Os olhos marejavam, refletindo sua emoção.

— Meu... menino. — silvou, finalmente, quando abraçou Elliot e encostou a cabeça em seu peito.

Havia um burburinho infinito naquele local. Os parentes da família Turner estavam perplexos por achar que tudo aquilo não passava de uma brincadeira de Sara e Jessica.

Jessica, aliás não conseguia se mexer. Recordou-se das fotos mostradas pelo médico legista, nas quais o namorado aparecia morto e mutilado. Questionava-se naquele instante se aquilo não era uma montagem e se tudo realmente não era brincadeira do rapaz.

Bufou, furiosa. Queria explicações. Jessica então correu em direção a Elliot, arrancou Sara de seus braços e o empurrou. O jovem caiu de costas no chão.

— Que tipo e brincadeira é essa, hein, seu... seu... — tamanho era o ódio de Jessica que sua voz falhava — todos achavam que você tinha morrido! Nós estávamos sofrendo, seu imbecil! Sua mãe adoeceu!!! Por que você fez isso, hein? HEIN?!

Elliot Turner não sabia como explicar e nem como fazer com que a garota se acalmasse. Sem reação, apenas se levantou do chão e olhou em seus olhos.

— Jessica, meu amor... eu posso explicar. Vamos para um lugar mais calmo. — ele estava disposto a contar sobre sua imortalidade, mesmo sabendo que ela não iria acreditar.

— Por favor... não fala comigo. Nunca mais!

Após vociferar as últimas palavras, Jessica saiu apressada do local. Elliot tentou correr para alcança-la, mas os membros de sua família o impediram, sondando-o para saber o que realmente havia acontecido.

Ele não ouvia as perguntas e questionamentos de seus familiares, apenas mantinha o seu olhar fixo em Jessica, que se afastava a cada segundo e sumia em meio ao horizonte.

Estava perdendo o amor de sua vida.

Enquanto andava por aquela estrada deserta, sem ter certeza do seu destino, Jessica Hudson chorava.

“Por que ele fez isso, meu Deus?”, pensava, esfregando as costas dos braços no seu rosto, o mais vorazmente possível. Queria punir-se, punir-se por uma falha que nem ela mesma sabia qual era. Ela queria o velho Elliot de volta, não aquela criança que ele havia se tornado.

Jessica largou a bolsa no meio do asfalto e, quando suas pernas já não tinham mais forças, pôs se a ficar de joelhos, sentar-se em seguida e chorar. Fechou os olhos.

— Por que choras, moça? — ouviu. Era uma voz masculina, um pouco instigante. Olhou para cima. Um homem estendeu-lhe a mão. — permita-me.

Como se estivesse hipnotizada pelos olhos daquele homem, Jessica segurou sua mão e permitiu que ele a ajudasse a se levantar.

— O-obrigada.

— Permita-me apresentar. — beijou a mão da moça — meu nome é Peter. Peter Bernadone. Por que uma moça tão linda chora assim?

Elliot olhou ao seu redor, procurando por Peter, que há pouco tempo estava por perto. Não o achou.

Sara Turner, temendo que os parentes, ainda furiosos achando se tratar de uma brincadeira, colocou o filho no seu carro e saiu em disparada do local. Elliot, encolhido no banco do carona, observava a face da mãe, neutra, pelo espelho retrovisor. Quando ela percebia que ele a observava, Elliot desviava o olhar.

— Explique-se Elliot. — ordenou, com uma entonação nervosa.

O jovem rapaz queria falar a verdade, contudo a mãe não acreditaria nem em um milhão de anos. Nem sua mãe, nem qualquer pessoa da face da Terra.

— Estou cansado, mamãe — bocejou em seguida, tentando passar tranquilidade — e também estou preocupado com Jessica.

As mãos de Sara Turner fecharam-se sobre o volante do veículo e o seu pé afundou no acelerador. Estava furiosa. Pensou que seu filho estava se comportando como a criança rebelde que sempre fora. Lembrou-se de todas as traquinagens que ele fizera. De todas, fingir-se de morto sem dúvida foi a pior de todas.

— O tempo passa e você... Elliot ... vai .... ficando... cada vez mais... infantil! — a cada pausa, Sara Turner pisava no acelerador, não se importando com os obstáculos que vinham em sua direção.

— Mamãe, por favor, se acalme! Em casa eu prometo que irei explicar. — suplicou Elliot, contudo sua mãe parecia irredutível. Precisava descontar o ódio por não ter criado o filho de uma maneira mais rígida.

Sara finalmente parou o carro e abaixou a cabeça, olhando para o chão do automóvel.

— Quando você era criança, Elliot, e fazia estas suas artimanhas, eu me arrependia amargamente de ter tirado você de dentro DAQUELE ORFANATO! — vociferou, revelando aquele segredo ao filho. Esmurrou o volante, o que fez o caro buzinar, um barulho contínuo.

(Música: Lady Gaga – G.U.Y)

O sol já estava indo embora e o sua ida já deixava o alaranjado típico no céu. Jessica Hudson caminhava, seguindo aquele homem que ela desconhecia, mas que amparou quando estava desolada, chorando por Elliot tê-la enganado.

Peter Bernadone passava para Jessica uma sensação estranha, mas que a fazia estar hipnotizada por ele.

— Para onde vamos? — perguntou Jessica, curiosa.

— Vou levar você para a minha casa. Poderá tomar um copo d’água e descansar um pouco. Quem sabe desabafar?

— Eu não quero descansar. Nem desabafar. — Jessica parou de caminhar. Peter, que estava logo mais à sua frente, também parou. Olhou para trás e a encarou. Aproximou-se.

— Então... o que a moça quer fazer agora?

Eles já estavam quase chegando ao centro da cidade. Jessica gostava daquilo: os grandes prédios, o cheiro de fumaça que saía dos carros, a correria. San Petersbug parecia não parar nem ao chegar a noite.

Sem dizer nada, Jessica seguiu em frente, Peter sempre a acompanhando. Chegou em frente a uma boate e, sem pagar nada, entrou. Peter ficou do lado de fora, pois o segurança o barrou:

— Eu estava acompanhando a moça! — reclamou Peter Bernadone.

— Estava. Disse certo. — zombou o segurança, empurrando-o com a mão direita.

— Se eu fosse você, me deixaria entrar. Você não sabe quem eu sou e nem do que eu sou capaz! — encarou o segurança, que era bem mais forte e bem mais alto do que ele.

O segurança deixou outras pessoas, com ingresso, passar, ainda impedindo Peter de entrar. Quando o rapaz percebeu que já não havia mais ninguém por perto, agarrou o pescoço do homem e pressionou sua veia jugular. Encarava-o, olho a olho. Começou a sugar sua vida. Peter estava ficando mais forte.

Quando já não havia mais vida, Peter Bernadone soltou o segurança e arrastou seu corpo para dentro do banheiro da boate, que ficava bem ao lado da portaria. Felizmente, estava deserto.

Arrancou as roupas do cadáver: era um terno, barato, pois era de um simples segurança, porém, Peter achou que o deixaria mais charmoso e ganharia mais pontos com Jessica Hudson.

Ela está em minhas mãos...”, pensou, sorrindo enquanto vestia suas antigas roupas no corpo do homem. Peter não sabia o que pretendia com a namorada de Elliot. Talvez apenas brincar com o irmão.

E ele confessava a si mesmo que estava gostando da brincadeira.

Avistou Jessica. Ela estava sentada com os braços apoiados no balcão da boate. O garçom lhe trouxe uma dose de tequila e ela empurrou goela abaixo com apenas um gole.

— Outra! — exigiu.

— Vai com calma, moça — silvou Peter Bernadone, no seu ouvido. Jessica fechou os olhos e suspirou.

— Como mudou de roupa? Ah, não importa. — tomou mais uma dose de tequila, deixada pelo garçom — Hoje é o dia da minha libertação. Do meu renascimento. Eu sempre fui uma burra! — falou entredentes.

— Não se puna por um cara que não merece o seu amor. — Peter sentou no banco ao lado de Jessica e também pediu uma dose.

— E quem merece?

Jessica Hudson olhou Peter Bernadone nos olhos. Havia algo nele que ela gostava, pois ele, não sabia ela o porquê, lembrava Elliot. Alguns traços no seu rosto eram idênticos ao do seu agora ex-namorado.

Depois de alguns segundos trocando olhares, Peter atacou: roubou um beijo de Jessica e a garota acabou cedendo. Ela gostava do dançar de línguas que tinha com aquele cara estranho que lembrava Elliot. Ela não sabia como, mas estava gostando dele.

E estava caindo num jogo perigoso.

Elliot e Sara Turner não falaram mais nada durante todo o resto do caminho. O rapaz pensava que a revelação dita por sua mãe durante o seu ataque de ódio poderia ser mais uma pista sobre o seu passado, e o deixava ainda mais certo de que Peter era seu irmão.

O jovem, não querendo estressar ainda mais sua mãe, decidira não tocar mais no assunto naquele dia. Assim poderia pensar numa desculpa mais de acordo com a realidade e a deixaria descansar.

Faminto, foi até a cozinha. Retirou do armário alguns pães de forma e da geladeira um pote de patê de atum. Enquanto passava o creme no pão, com a faca, Elliot pensava em tudo o que estava acontecendo na sua vida. Tinha certeza naquele momento de que não se tratava de um sonho.

Observou a faca usada para cortar carnes, que estava perto de si, no balcão da cozinha. Ela, reluzente e polida, lhe dava algumas ideias. O rapaz então puxou-a pelo cabo e viu seu rosto refletido no inox. Observou seus olhos, profundos: precisava dormir.

Mas, naquele momento, ele precisava fazer outra coisa. Soltou o pão que segurava com sua mão esquerda e preparou a faca. Queria cortar seu próprio pescoço.

Regenerar-se era excitante o bastante para auto flagelar-se?

Sentiu a ardência aumentar a medida que traçava com a faca um caminho horizontal na pele de seu pescoço. O sangue começava a jorrar e suas roupas tomavam uma coloração avermelhada.

Sua respiração estava falha. Soltou a faca e apoiou-se no balcão.

Sara Turner apareceu na cozinha e se espantou. Elliot levantou a cabeça e olhou para sua mãe. Sorriu. Segundos depois, todo o caminho traçado com a faca no seu pescoço havia sumido.

— A senhora acredita em mim, agora, mãe?


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