Eu sentia o vento em meu rosto e fazia uma linda noite estrelada quando eu vi Annie Cresta jogar Samantha Jenner do alto de um prédio, algo me dizia que eu estava em Chicago e eu olhava impotente aquela cena se passar bem na minha frente. Eu não conseguia me mexer, eu só sentia uma frieza dentro de mim, como se no fundo eu estivesse gostando de olhar aquela cena.

Eu olhei para a expressão de surpresa no rosto de Samantha e a vi se tornar numa expressão de desespero enquanto ela desaparecia noite afora. Eu vi a expressão de Annie se transformar de raiva para horror, como se ela estivesse percebendo só agora o que ela havia feito. Mas o que mais me chamou atenção foi uma figura que estava um pouco afastada da cena, a figura vestia uma jaqueta preta com um zíper que subia até o pescoço com um capuz anexado na parte de trás da jaqueta, não dava para dizer se era homem ou mulher por que a figura usava uma máscara completamente preta com um “A” escrito em letra de forma e tinta vermelha bem na testa.

Eu não sabia como, mas eu tinha certeza que a figura sorria enquanto assistia Annie jogar Sam do prédio, como se tudo aquilo fosse um show especialmente feito para ele ou ela. A figura se virou para mim e eu senti todos os pelos da minha pele se arrepiarem. E Então eu acordei.

Eu me levantei rapidamente e sentia na minha cama com a respiração meio ofegante. Aquilo foi só um sonho, falei para mim mesmo, isso só foi sonho. Mas havia algo naquele sonho que me fazia acordar tremendo, ele parecia muito real, tentei tirá-lo da minha cabeça e me levantei da minha cabeça.

Harry não estava mais na cama o que dizia que ele já havia acordado, Leo e Percy ainda estavam deitados. O dia de ontem havia sido muito cansativo, logo depois da tempestade, tivemos que limpar toda a bagunça deixada, incluindo as várias carcaças de dinossauros, o que exigiu muito fogo, gasolina e muitos feitiços de Harry.

Logo depois de terminamos a limpeza na casa e ajeitarmos quase tudo Leo havia chegado. Ele estava bem estranho, toda vez que nós perguntávamos sobre onde ele havia estado ele fazia alguma piadinha ou mudava de assunto e quando eu perguntei se ele havia encontrado com Samantha, ele quase engasgou com a água que ele estava tomando e depois respondeu com baixo não. Samantha nem deu sinal de vida, nem as coisas delas foram encontradas no quarto em que ela estava dormindo, ela parecia ter fugido. Mas por quê?

Suspirei, procurei uma roupa no armário e vesti uma bermuda marrom e uma camisa branca simples e desci até o café da manhã. Lá na cozinha estava Tris, Harry, Katniss e Clary, não se via sinal de nenhuma das residentes do Orfanato. Katniss foi a primeira a perceber a minha chegada, ela deu um rápido aceno.

– Dormiu bem? – Ela perguntou.

– E alguém dormiu bem? – Perguntei subindo uma sobrancelha.

Ela suspirou – Acho que não.

Tris, Clary e Harry perceberam minha chegada e deram um desanimado um bom dia.

– Sobre o que vocês estão conversando? – Perguntei a eles me sentando ao lado de Katniss e preparando meu café.

Clary girou o celular que tinha nas mãos – Sobre “A” e Pain – Então ela me deu um olhar cauteloso – E sobre o sumiço de Sam.

– Ok e o que tem haver essas três coisas? – Perguntei, mas eu já estava prevendo o futuro dessa conversa.

Tris suspirou – Nós só achamos estranho que Samantha tenha partido sem nem avisar, parece até que ela fugiu.

Tentei controlar um pouco da minha irritação – Vocês estão querendo dizer que Samantha é "A" ou que ela é aliada de Pain?

– Não – Harry falou rapidamente – Mas eu acho que ela não foi sequestrada, acho que ela fugiu, mas por que ela fugiria?

– E o que você sabe sobre ela Finnick, como você tem certeza que ela não é uma pessoa má? – Katniss perguntou.

Suspirei – Ela tem seus motivos e ela perdeu a mãe, deve estar querendo um tempo sozinha, provavelmente ela foi para Chicago.

Era o que eu havia me dito nas últimas horas, que Sam estava se sentindo confusa com a história da morte da mãe dela e com a gravidez, que ela queria seguir sozinha seu caminho para Chicago, mas toda vez que eu pensava nela sozinha e grávida indo para Chicago, meu coração apertava e uma vontade súbita de ir correndo atrás dela e procura-la aparecia em meu coração. Toda vez Samantha ficava longe de mim eu percebia o quanto ela estava sendo importante para mim e agora ela provavelmente carregava um filho meu.

Tris baixou a cabeça – Você passou mais tempo com ela do que nós, acho que você conhece melhor ela e se você diz isso, eu acredito – Ela olhou para mim por um tempo – E eu sei que você está preocupado com ela, mas pelo pouco que eu conheci de Samantha eu sei que ela sabe se cuidar.

Sorri sem jeito e me voltei para Clary – E como está Jace? Ele se lembrou de alguma coisa.

Clary assumiu uma expressão melancólica – Não, ele continua dizendo que não se lembra de nada.

Senti-me um pouco culpado, mas Jace havia dito que era melhor assim.

– O bom é que ele está bem melhor, já está até fazendo piadas, como o velho Jace fazia – Ela praticamente sussurrou essa última parte.

Deu um sorriso triste, ainda não havíamos contado sobre Jace ter sido hospedeiro da essência de Cronos e que logo depois ele ficou em coma por causa de nós.

Katniss juntou as sobrancelhas – Sabe o que eu acho estranho? É que “A” enviou a mensagem sobre Jace para Samantha.

– “A” obviamente queria desestabiliza-la – Harry falou.

– Pode ser impressão minha, mas parece que “A” sempre quer atingi-la – Katniss falou, parecia que ela sempre arranjava alguma coisa para reclamar de Samantha.

Clary pareceu pensar – Na verdade, “A” parece sempre focar em três pessoas, Samantha, Percy e você – Ela falou e apontou para mim.

De alguma forma eu sabia que isso era verdade, as piores armadilhas de “A” pareciam sempre estar reservadas para mim. É claro, “A” ainda não sabia sobre algumas coisas do qual eu não me orgulho de não ter feito como quando eu perdi o mapa, mas de alguma forma eu sabia que “A” estava guardando cartas na manga, mas por que eu? Por que Samantha e Percy?

Me levantei da mesa e depois de deixar a louça em cima da pia, fui até o quarto. Leo ainda estava dormindo, mas Percy parecia que já havia se levantado, então fui até o quarto de Jace que ficava há apenas duas portas de distância.

O quarto em que Jace estava era um gêmeo dos outros quartos, uma janela no fundo, dois beliches e um armário no canto. Jace estava deitado em um dos beliches na cama de baixo, Percy estava sentado no outro beliche, os dois pareciam discutir, o que era bem normal desde que os dois se conheceram.

– Você tem que contar para ela! – Percy praticamente gritou – Ela é sua namorada!

Jace revirou os olhos – Se você fosse possuído por um titã e fosse obrigado a machucar e matar pessoas, você provavelmente fingiria que esqueceu a memória.

– Olha, eu tenho que dizer que sua atuação foi muito boa – Falei com um pouco de sarcasmo na voz, eles me olharam e deram sorriso zombeteiros.

Não foi uma atuação, Jace realmente havia se esquecido de quem ele era, mas minutos depois ele se lembrou de quem era e sobre sua vida, ele parecia se sentir muito envergonhado com o que havia acontecido com Cronos, depois que ele havia se lembrado, ele puxou a mim e Percy e nos contou a verdade, que ele se lembrava de tudo, ou pelo menos quase tudo. Ele ainda não se lembrava de tudo sobre o tempo entre a batalha de Cronos e o tempo que acordou aqui em Nova York.

No entanto, Jace havia decidido esconder de Clary e dos outros que ele já se lembrava de tudo. Ele insistia em dizer que era o melhor a se fazer.

– Notícias da Sam? – Jace perguntou para mim, nós havíamos atualizados as informações para ele e contamos sobre o que havia acontecido no último mês que ele ficou fora.

Balancei a cabeça frustrado – Nada, mas eu tenho quase certeza que ela foi para Chicago, mas eu não consigo entender, por que ela fugiu?

Jace bufou – Não dá para entender a cabeça das meninas.

Percy ia falar alguma coisa, mas um som de explosão vindo do andar de baixo ecoou pelo quarto, ouvi gritos e então outra explosão ensurdecedora parecia ter vindo de mais perto, eu vou até a porta com Percy no meu encalço, mas a porta explode, eu sou jogado para longe e ouço outro barulho de explosão.

Sinto algo bater no meu braço e uma dor horrível no local, ouço uma outra explosão e dessa vez eu sou jogado para mais longe, para a janela. Vejo um flash do céu azul sobre minha cabeça e depois me vejo indo de encontro ao chão. Sinto uma dor horrível em todo o meu corpo quando eu caio no chão.

A dor se espalha pelo meu corpo, eu ouço gritos vindos de algum lugar bem longe, consigo ver o Orfanato em chamas, sinto minha mente acelerada, tentando processar tudo o que aconteceu, e então vejo uma figura sobre mim, ela usava um capuz preto e tinha uma expressão séria no rosto. Era um garoto.

Ele dá um sorriso triste para mim e se aproxima do meu rosto, ele me dá um beijo na bochecha e fala no meu ouvido.

– Adeus, Finnick Odair.

Então ouço um som de pancada e tudo escurece.

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POV Katniss

“Eu quero ver vocês queimados. –A”

Foi essa a mensagem que Clary recebeu antes das explosões, depois disso foi uma confusão, houve explosões por todo o Orfanato e em questões de segundos, o lugar já estava pegando fogo, Harry e Clary conseguiram escapar ilesos, mas eu fiquei com queimaduras e Tris ficou inconsciente durante uma hora. Nem Percy, Jace ou Finnick foram encontrados.

As garotas do Orfanato haviam saído antes das explosões começaram e acabaram escapando, agora elas estavam ajudando nos machucados de Tris. Estávamos num pequeno mercado que ficava há algumas quadras de distâncias do Orfanato Radley, Harry e Clary haviam saído para procurar algum sinal de vida de Percy, Finnick ou Jace, apesar de ser quase impossível, eles terem escapado com vida.

Milhões de possibilidades passavam na minha cabeça, nenhuma delas era boa. Mas por que “A” havia escolhido aquele momento para destruir o Orfanato se ele já podia ter feito isso antes? Por que agora?

– Ei – Fala uma voz atrás de mim, era Tris, ela tinha alguns curativos no rosto e suas mãos estavam enfaixadas – Eles ainda não voltaram?

Balancei a cabeça – Eu estou preocupado, “A” parece estar bem disposto a nos matar hoje.

– Mas por que hoje? Oportunidades não faltaram para “A” nos matar – Tris franziu a testa.

– Era a mesma coisa que eu estava pensando – Falei.

Ela suspirou – Você acha que os garotos conseguiram sair? Eu não vi Leo, você viu?

– Na verdade vi sim, ele saiu da casa no meio dos destroços, mas não nos acompanhou – Falei, lembrando-me da estranha cena de ver Leo saindo do meio do fogo – Eu não sei para onde ele foi.

Tris se encostou em uma prateleira e lá ficou, Ela parecia psicologicamente e fisicamente acabada, eu sabia disso por que era assim que eu me sentia. Minha irmã estava provavelmente viva em algum lugar do mundo afora e eu me sentia tão impotente por saber disso, saber que ela podia ser morta de novo e ainda tinha Peeta, que provavelmente estava em Chicago.

Era tanta coisa para se preocupar, tanta coisa para temer. E depois de tudo, ainda havia “A”, um vilão tão imprevisível. Eu aprendi que para derrotar um inimigo é preciso conhecê-lo, mas isso era um problema quando se tratava de “A”, ninguém sabia sobre sua identidade não tinha como saber quem ele era, saber quais eram suas motivações, por que aparentemente “A” não tinha motivações, parece que tudo que ele fazia era infernizar pessoas e sentir prazer nisso.

– Você sabia que o gato brinca com a presa vários minutos antes de comê-la? – Tris falou, seu rosto estava sombrio – Por que ele sabe que quando ele comer a presa, a diversão acaba.

Subi uma sobrancelha – Você acha que “A” já brincou tempo o bastante com a gente e agora resolveu nos comer? No sentido bom da palavra é claro – Completei, logo notando o quanto soou estranho.

– Mais ou menos isso – Ela disse.

Um silêncio caiu sobre nós de alguma forma eu sentia que esse podia ser o meu último dia de vida. Eu conseguia sentir que “A” ainda não tinha terminado com o que havia começado.

Pensei sobre Sam e sobre as minhas suspeitas. Lembrei-me da mensagem que “A” havia mandado sobre Sam estar cercada de segredos e que quem estivesse perto dela. Eu havia pensado sobre cada palavra daquela mensagem e em como “A” parecia querer que eu desconfiasse de Sam. Uma das coisas que eu estive me perguntando era por que Sam sempre era a mais atingida? Parecia que “A” tinha motivos para odiá-la mais que os outros.

De repente, ouço a porta do mercado abrir com um som de um sininho. Harry e Clary entram os dois tinham rostos cansados e preocupados, não era preciso ser nenhum oráculo para perceber que eles não haviam encontrado nada. Demorou alguns segundos para perceber que havia uma terceira pessoa com eles, eu apenas havia visto ele algumas vezes, quando Tris ia falara com Eric para pedir informações, era Robert.

Tris franziu as sobrancelhas e depois deu um longo olhar ào garoto.

– Robert, o que você está fazendo aqui? – Os cabelos negros do garoto estavam mais longos do que da última vez, ele parecia assustado.

– Eric e todos da gangue foram mortos, eu só consegui sobreviver por que eu não estava com eles – Ele falou.

Tris suspirou – E você sabe quem fez isso?

Ele assentiu – Mais ou menos, eu recebi uma mensagem no celular que eu havia roubado há duas semanas.

Ele tirou um celular do bolso e nos entregou, a mensagem como era de se esperar vinha assinada com um “A”.

“Eu matei todos os seus amigos, agora eu matarei você. –A”

– “A” está nos retaliando – Tris falou.

Robert guardou o celular de novo – Vocês estão recebendo mensagens desse tal de “A” também?

Tris assentiu – Já faz um mês.

– Acho que eu sei onde Percy e os outros estão – Harry falou – Acho que eles estão no galpão onde Leo ficou preso da primeira vez.

– Por que você acha isso? – Perguntei.

– Por que é o lugar mais lógico e por que eu acho que “A” nos quer lá.

Mas é claro que era lá. E provavelmente era uma armadilha de “A”, mas talvez fosse a única maneira de salvar Finnick e os outros.

Tris pegou uma espada que estava em cima de um balcão – Nós iremos até lá.

Dei várias dicas de segurança para as meninas do Orfanato e que elas não saíssem do mercado até que nós tivéssemos de volta e se não voltássemos pedi para que ela partisse para o norte até o Canadá, aparentemente o lugar era bem mais seguro que aqui.

E então saímos do mercado e partimos em direção as docas que ficavam perto do Brooklyn. Por causa da tempestade, Nova York estava bem mais destruída e suja do que estava antes, há via várias árvores caídas pelas ruas e pedaços de telhas, lixo e outros objetos estavam espalhados pelas ruas.

Depois de quase duas horas andando, finalmente chegamos às docas. E lá estava os grandes galpões que no passado deveriam estocar as coisas que os navios cargueiros traziam, e lá estavam também, o galpão A, a letra já não estava pintada numa letra preta, agora estava vermelha.

Quando chegamos em frente aos grandes portões de correr, notei que no chão havia quatro celulares enfileirados, havia umpara cada um de nós com exceção de Robert. Os celulares soltaram um bip e vibraram, eu e os outros nos entreolhamos e então cautelosamente cada um pegou um celular. Havia uma nova mensagem.

“Peguei vocês, Otários. –A”

E então eu ouvi um som de clique vindo de trás de mim, eu me virei na mesma hora em que os outros. Robert segurava uma arma de fogo e apontava para nós, ele sorria diabolicamente, não aprecia ser o garoto de alguns momentos atrás.

– Você pode me chamar de Robert ou simplesmente só de “A” mesmo – Ele falou e balançou o celular que estava na mão – Eu peguei vocês e eu vou acabar com vocês de uma vez por todas.