Corações Convergentes escrita por Anníssima, Willie Mellark


Capítulo 6
Capítulo 5 - Tobias


Notas iniciais do capítulo

Oi gente, ^^

Queríamos nos desculpar pela certa demora na postagem do capítulo, mas acontece que realmente tem estado tumultuado ultimamente. Willy estuda em período integral e tem tido muitos trabalhos e provas neste período. Eu, trabalho meio período e estou absorvida com uns artigos para entregar...
Nos esmeraremos em postar um ou dois capítulos por semana! ;D

Suuuuuper obrigada para as duas flores lindas do nosso jardim, Mia WESM e Trinity, pelas maravilhosas recomendações! Adoramos e ficamos muitos felizes que estejam acompanhando e apreciando a fic! Capítulo dedicado à vcs sua lindas!!!

Obgda, obgda às pessoas que favoritaram e comentaram! Vcs são realmente especiais!!!

Obs.: Trechos em itálico são pensamentos.

Leiam as notas finais, please!!!



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Suspiros, abraços e agradecimentos murmurados são palavras que definiriam muito bem o clima de comoção que se instalou, no momento em que Uriáh acordou. A primeira reação geral foi o congelamento de expressões faciais aturdidas, típicas dos que não acreditam na cena que seus olhos fitam. Apenas quando Hana começou a verter copiosas lágrimas sobre o corpo desperto e confuso do filho é que cada um foi se libertando da própria bolha.

Até mesmo Tris que somente estava ali após muito discutir com Caleb e insistir com o Dr. James – sendo autorizada a sair acompanhada e mediante compromisso de que utilizaria, a todo tempo, uma cadeira de rodas -, se sentiu emocionada ao lado de Matthew, Christina e Tobias, ainda que só tivesse vislumbres da importância de Uriáh em sua vida.

O médico e a enfermeira ali presentes não conseguiram proferir palavras que pudessem servir como uma explicação plausível para o que acontecera. Há dias em que os aparelhos não demonstravam um recuo sequer do ponteiro, que representava nas telas, a atividade cerebral do jovem. Não havia indicativo de que ele ainda estava ali, em consciência; em vida.

_ É uma raridade, mas coisas impossíveis acontecem sem motivos ou explicações e nós chamamos de milagre porque precisamos dar um nome a tudo. – Foi a única coisa que o médico disse antes de sair, visivelmente abalado com o que presenciara. Afinal, devido a suas indicações, por pouco não ceifaram a vida de Uriáh. Mas esta era uma coisa que nem a família ou amigos que estavam ao redor de seu leito se preocupavam no momento. Seus clamores haviam sido atendidos e ele retornara.

Entretanto, havia uma pessoa que nada dissera ou expressara. Tobias sentia tantas coisas naquele momento que não ousou se aproximar. Ele se sentia indigno daquelas comemorações, pois se considerava o responsável das coisas terem chegado àquele ponto. Eram tantos “se” que permeavam seus pensamentos, que de repente era como se o ar que corresse livre naquele ambiente não bastasse para ser compartilhado entre todos que ali estavam.

Saiu andando pelos corredores pensando que se não tivesse feito acordos com os sem-facção a despeito dos conselhos de Tris, ela não teria sido acusada de traição, eles não precisariam fugir da cidade, ele não teria ficado obcecado por seus genes defeituosos e, portanto, não colaboraria com Nita naquilo que quase se tornou a sentença de morte do irmão de seu melhor amigo; do melhor amigo de Tris. Ele sentia raiva de si por não ter previsto que ela iria no lugar de Caleb e, assim, planejado outros meios de obter o tratado de paz sem ter que deixa-la sozinha para agir com a imprudência que lhe era uma marca característica.

Na saída, o ar gélido tocou seu rosto apenas para deixar sua pele tão fria quanto seu interior. Começou a correr o mais rápido que seus músculos permitiam, saltando buracos e imperfeições que se estendiam pelas calçadas. Queria se sentir livre novamente. Longe, era como se os problemas não existissem. Poderia esquecer-se de todos os danos causados nas pessoas que amava e nele próprio.

Estamos todos danificados. O que nos diferencia é grau de dano que carregamos desde crianças. Crescemos para causarmos danos tanto quanto recebemos porque isso é o que fomos ensinados a fazer. Ele refletia enquanto caminhava.

Pensou nas vezes em que Marcus lhe levantou a mão sob o argumento de que desejava forjar homem melhor; um filho melhor. Pensou em quando Evelyn lhe procurou porque sabia que ele ocupara um lugar de respeito junto à Audácia. Pensou que a única pessoa com quem contaria para recomeçar, não se lembrava que um dia o amou.

Agora era obrigado a se contentar com as duas únicas oportunidades diárias que lhe era permitido vê-la e em nenhuma delas conseguia um tempo sozinho para conversar e, quem sabe, tentar fazê-la se lembrar dos momentos especiais que tiveram. Pelo menos se nessas curtas visitas ela correspondesse o sentimento dele, mas não. Ela sempre estava distante e quando ele chegava, se calava, como hoje mais cedo.

Não a culpava pela amnésia, mas doía imaginar que talvez ele não tivesse sido importante o suficiente para deixar uma lembrança que perdurasse, apesar do trauma que ela sofrera. Se atormentava com o quão idiota e egoísta aquilo parecia, só não tinha controle sobre suas más conclusões. Vê-la desperta e sorrindo para Matthew tinha sido demais e agora ele cogitava que ela poderia partir do zero. Ter uma nova personalidade e construir uma vida com quem quer que fosse. Com alguém que não seria ele.

Fechou os olhos e a cena dos dois lhe retornou à mente.

Quem sabe o preço a se pagar pela vida dela e de Uriáh seja não ser mais o único destinatário de seus sorrisos e olhares afetuosos?

Tobias gostaria de ser generoso e ver os fatos pela perspectiva de que ela estava viva, afinal. Poderia ser feliz e ele deveria se alegrar pela sua felicidade. Tris mais do que qualquer um, merecia uma vida de paz e alegria.

Mas que coisas boas adviriam da separação deles?

Desde que tudo acontecera, ele não havia se dado um minuto para sentir o peso do que mudara. Não queria pensar sobre o atual estado de seu relacionamento, mas no fundo sabia que o namoro dele e de Tris repousava no limbo. E, mesmo assim, isso era preferível a encarar a realidade de que se ela não se recordasse, dificilmente ele poderia voltar a tocá-la, beijar seus lábios e, simplesmente esquecer toda a dor em seus braços.

Há poucos dias eles estavam mais unidos que nunca e não era pelo fato dela ter superado seu medo por intimidade, mas sim uma extensão das promessas partilhadas no Millenium Park, em que ambos manifestaram o desejo por uma relação pautada na verdade. Chegou a sonhar com o dia em que poderia deixar de ser Quatro, o instrutor e, depois, o traidor, para com ela formar uma família que não seria dividida por uma Cerimônia da Escolha.

Ele andou e correu por tanto tempo e, sem sentido, que quando percebeu estar longe o suficiente, parou para inspirar longamente, tentando usar o oxigênio para varrer todas as frustrações atidas em seu corpo.

_ Tobias! – A única voz que ele não gostaria de ouvir naquele momento fez seu corpo retesar automaticamente como sempre acontecia quando estava em companhia daquele por quem deveria nutrir amor paterno e não o repúdio como naturalmente sentia. Era impossível que justamente ele viesse ao seu encontro quando tudo estava desmoronando. Tobias virou-se para se deparar com Marcus postado a sua frente.

_ O que quer? – Raiva acendeu dentro de Tobias ao olhar para aquele homem e ver reflexos dele mesmo. Era uma maldição que carregaria até o fim de seus dias, o fato de ser parecido com Marcus. Conforme ele envelhecesse seria aquele o rosto que veria ao encarar o espelho.

Marcus não se deixou intimidar pelas palavras ou pelo olhar fulminante que o filho lhe lançava.

_ Soube que Beatrice não morreu. Eu fico feliz. – Disse e desviou a atenção para um prédio antigo em ruínas. - Ao menos Andrew e Natalie não se sacrificaram à toa. – Fosse o sarcasmo em sua voz ou a forma desdenhosa com que ele se referiu à Tris e seus pais, não importava a razão; Tobias não sentiu domínio o suficiente que pudesse para-lo antes de desferir um soco tão forte no rosto de Marcus a ponto das juntas dos próprios dedos estalarem em protesto.

Ele se sentia poderoso quando golpeava alguém. Era o tipo de liberdade que só usufruiria na Audácia. Fazer isso em uma pessoa aleatória poderia o deixar culpado, mas fazer contra Marcus, além de ser em certo ponto prazeroso pela retribuição que significava, limpava sua mente exatamente como fazia com os sacos de pancada que pendiam do teto da sala de treinamento. Tal como aqueles objetos inanimados, Marcus também não possuía sentimentos e ele não poderia se arrepender de socar ‘um nada’.

_ Eu sei porque você está descontrolado, Tobias. – Marcus sorriu enquanto limpava um filete de sangue que escorria por seu queixo. – Então é verdade que sua namorada não se lembra de você? – O sorriso debochado se transformou em uma gargalhada. – No fim, você ficará sozinho. Não contará com Beatrice para fazer o seu trabalho pesado e Evelyn irá embora, como bem sabe. A história da sua vida, meu filho. Ser abandonado pelas mulheres que ama.

Tobias não respondeu. Fechou as mãos em punho e o encarou.

_ O seu problema é que nunca admitiu que eu estava com a razão. – Marcus continuou. - Se você é um homem, não foi pelas porcarias que sua mãe e aquela garotinha enfiaram em sua cabeça, mas sim graças ao que eu fiz por você.

_ Se foram as suas pancadas que me fizeram o que eu sou hoje? Sim. Se eu agradeço por isso? Não. – Tobias retorquiu. – Já acabou?

_ Vou embora da cidade. Não há mais nada que me importa aqui. - Marcus cruzou os braços atrás das costas mirando o horizonte. Porém, Tobias notou que pelo canto do olho ele o observava.

_ Tudo bem. – Tobias disse, se virou e seguiu seu caminho, certo de que Marcus o procurara porque estava ciente do que ele passava e queria fazê-lo se sentir pior.

E conseguiu.

Tobias queria ficar sozinho e existia um lugar em que ele poderia colocar seus pensamentos em ordem e era para lá que ele iria.

✻✻✻✻✻

Sentado, no fundo do abismo, cercado pelo barulho das águas violentas, Tobias não conseguia pensar em outra coisa que não fosse a primeira vez em que ele e Tris se beijaram. A ansiedade dos segundos que anteciparam o beijo, a determinação em revelar-lhe seus medos e sentimentos e, por fim, a alegria e explosão de calor dos seus lábios em contato com os dela.

Foi a primeira vez na vida em que sentiu felicidade. Não que ele não tivesse tido momentos alegres quando pequeno, em companhia de Evelyn, mas a chegada repentina de Marcus era uma constante possibilidade que os perseguia naquela época.

Ali, no abismo, escondidos do mundo lá fora, eram somente Tris e Tobias descobrindo como o amor valia a pena e curava feridas. Cada vez que eles se tocaram depois disso, ele se sentia pleno; completo.

Sem ela, durante a última semana, percebeu que fora se tornando aéreo e não conseguia passar muito tempo perto dos amigos que possuíam em comum. Ele focou-se em ajudar Johanna com os projetos para a restruturação da cidade e passava o maior tempo possível envolvido em seu trabalho para esquecer o que a ausência dela causava.

_ Hey. – Zeke disse se aproximando, com passos silenciosos.

_ Como você me achou aqui? – Tobias lhe indagou com um vinco cortando a testa. Aquele lugar era afastado e encoberto o bastante para que ninguém soubesse de sua existência e ele só havia trazido Tris ali uma vez.

_ Às vezes você é meio arrogante, Quatro. – Zeke balança a cabeça e se senta. - Pensa que é o único que sabe das coisas; que Shauna e eu esquecemos que você veio transferido da Abnegação só porque não perguntávamos do seu passado. A verdade é que sempre soubemos que quando você sumia estava aqui e nunca o procuramos antes porque era o que você queria.

_ Então, por que agora está aqui?

_ Cansei de agir conforme você quer para fazer o que você precisa. E, meu amigo, você precisa conversar. – Ele olhou sorrindo para o amigo. – E também vim porque ninguém mais aguenta seu humor e sorteamos quem viria aqui te falar isso. – Nesta simples frase Tobias pôde reconhecer o Zeke que sempre conheceu. Ele não estava mais apático ou raivoso. O despertar de Uriáh foi a injeção de ânimo de que ele precisava.

_ Como está o Uriáh? – Tobias perguntou para protelar o assunto que sabia ser a razão da abordagem de Zeke.

_ Ele está bem. Na verdade, adorando a atenção que tem recebido. – Zeke riu. – A cabeça dele está embaralhada, mas não chega a estar idiota feito os que foram reinicializados.

Tobias apenas assentiu olhando à frente.

_ A questão aqui é como está você? – Zeke lhe perguntou avaliando-o com atenção.

_ Eu estou bem. – Era a resposta automática e fácil a se usar em situações como aquela.

_ Tris parecia bem melhor hoje. Inacreditável que ela se lembrou de Uriáh. - Zeke estava claramente tentando puxar o assunto que lhe interessava.

_ Fala logo o que você quer. – Tobias lhe disse acidamente.

_ Tudo bem. Eu te conheço, não tão bem quanto Tris e, sinceramente, nem quero este grau de intimidade contigo, mas conheço. Sei que sua cabeça deve estar criando ideias de que eu te culpava pelo que aconteceu com meu irmão. – Ele fez uma pausa antes de continuar. – Eu nunca culpei você embora esperasse que tivesse cuidado dele melhor. – Colocou a mão estendida a frente a fim de parar uma interrupção que Tobias já anunciava.

“Isso é o que penso porque sou um irmão mais velho e nunca ninguém ficará de olho nele tão bem quanto eu. Contudo, Uriáh não é criança e sabia onde estava se metendo. Você não sabia quais eram os planos deles. Já passou. O que eu nunca disse para você porque pensei que soubesse, é que você não pode fazer planos para cada situação da sua vida. Nem o plano mais bem elaborado impede tragédias de acontecerem e, quando elas acontecem, você não tem que se afastar das pessoas. Sabe a palavras amigos? Pois é. É para isso que os amigos servem.”

“Quer dizer, não pense que eu vá te dar flores ou deixar você chorar no meu ombro... Mas eu posso te ouvir. Você não tem que carregar tudo sozinho. Eu sei que você está mal por causa do que aconteceu com a Tris, mas eu estava lá quando você se apaixonou por ela. Vi cada coisa idiota que fez até conseguir convencê-la a ficar contigo.”

Tobias apenas ouvia sentindo seus ombros ficarem mais leves.

_ Então, se você conseguiu conquistar ela uma vez, o que te impede de fazer de novo? – Zeke se levantou sorrindo. – Como costuma dizer a minha mãe, ‘uma vida sem amor, leva a uma vida vazia.’ E, se você disser para alguém que essas palavras saíram da minha boca, eu negarei. – Completou antes de sumir na escuridão de onde viera.

Tobias refletiu sobre o que Zeke lhe dissera.

Quando é que seu amigo havia se habilitado a dar conselhos?

Não podia deixar de conferir sabedoria naquelas palavras. Seu amigo estava com a razão. Já ouvira antes que ‘por pior que a dor de um coração partido possa parecer, é melhor conhecer o amor e perdê-lo, do que nunca tê-lo sentido’. Entretanto, no caso dele, existia uma impropriedade nessa conclusão: ele não havia perdido ainda.

Já decidira o que faria. Se Tris não se lembrasse das memórias dos dois, ele trataria de construir outras tantas memórias com ela.

Determinado, levantou e se dirigiu para o único lugar perto do qual seu coração deveria estar. Junto dela.


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Notas finais do capítulo

Olha, provavelmente até terça outro capítulo estará disponível!!! ;D

Comentem, sim?! Levamos um tempão escrevendo, então, diga o que achou ali embaixo!!!

O próximo juramos juradinho que será focado em FourTris: o encontro/conversa!
Beijinhos!!!