[Percy]

Jason olhava com certa determinação para a fúria que sobrevoava a nossa frente, o Argo II continuava a segui-la e o resto da tripulação estava se preparando para a luta e repassando o plano e suas variáveis. Nem preciso dizer que eu boiei metade da conversa e que Annie me mandou sair dali antes que ela me batesse. Jason não aguentou o clima e saiu junto comigo. Me inclinei na amurada ao se lado, ele me olhou pelo canto do olho e voltou a olhar o monstro, suspirei pesadamente, era coisa de mais que aconteceu nos últimos dias para que eu consiga raciocinar e agir do jeito que eu queria, coisa de mais me confundindo...

– Ele ainda espera que você faça algo. – Disse Jason me tirando do devaneio, olhei para ele e ele continuava com a mesma expressão de antes.

– Esta falando de Nico? – Vi alguma coisa passar por seus olhos e ele soltou o ar pelo nariz, dei de ombros e senti meu rosto corar. Não entendo o motivo de Jason saber disso, por que Nico contou aquilo para ele?

– Sim, é de Nico que estou falando. Antes de enfrentarmos Gaia, você ao menos podia falar com ele...

– O que eu diria? – Olhei para ele novamente, ele tinha os olhos fechados e seus lábios eram uma linha fina. – Quer que eu diga a ale que eu não gosto de caras? Que não sinto o mesmo? – Balancei a cabeça e olhei as ruínas abaixo de nós. – Ele já deve saber disso, falar agora só complicará as coisas.

– Mesmo assim. – Pude sentir ele me olhando, mas não virei o rosto para ele. – Diga. Diga o que vier a sua mente, somente não seja duro ou grosso com ele. Dispense-o de uma forma que não doa muito. – Comprimi os lábios.

– Prefiro manter as coisas como estão... – Senti o ar ficar pesado e olhei para Jason, seus olhos faiscavam.

– Não pode... Você tem... - Ele apertou a madeira da amurada com força e abaixou a cabeça, se inclinou para frente e suspirou. – Você tem que fazer alguma coisa... Qualquer coisa...

– Se eu for falar com ele, provavelmente ficaremos nos encarando sem graça por todo o tempo, eu não teria coragem nem mesmo de dizer seu nome... Não sou bom com essas coisas...- Jason passou a mão pelo cabelo e olhou para a fúria.

– E ele não é la muito diferente, duvido que ao menos ele levantasse o olhar para você. – Ele estalou a língua. - Por que tem que ser tão complicado? – Me endireitei e olhei para ele.

– Estou curioso...- Ele me olhou. – Por que você se envolve? E quando foi que você e ele se tornaram tão íntimos? – Não pude disfarçar meu incomodo ao fazer a segunda pergunta, e ele pareceu perceber isso. Jason sorriu minimamente.

– Me pergunto... O que é isso...- Disse ele estudando meu rosto, seu tom de voz tinha algo por traz... Desprezo? Raiva? Alguma coisa assim, nem sei como percebi, mas eu sei que tinha algo assim ali, do mesmo jeito que sei que não era diretamente a mim que era dirigido. – Por que se incomoda por eu ser tão próximo dele? – Senti meu rosto corar levemente, seu tom de voz pareceu me acusar de algo, e seus olhos reforçavam isso.

– Não responda minha pergunta com outra. – Mantive meu tom de voz normal, sem demonstrar como aquilo estava me deixando desconfortável. Jason me olhou nos olhos.

– Respondo do jeito que me convier. Minha relação com Nico não é da sua conta, Percy. – Seus olhos eram duros e continuavam me acusando de algo que eu não entendia.

– Depois de ontem...- Falei devagar, não quero brigar com Jason, nem mesmo sei como chegamos a esse clima tenso. – Eu acho que eu tenho direito sim de saber de algumas coisas...

– Você não tem direito algum. Não mais. Eu não vou permitir que tenha. – Ele fechou os olhos com força e suspirou. – Olha, não me pergunte sobre Nico, nem sobre minha relação com ele. As coisas são complicadas e eu não quero perder a cabeça. – Ele abriu os olhos e me olhou novamente, seus olhos estavam escuros. – Preciso trabalhar com você, precisamos manter um companheirismo para podermos vencer essa guerra. E no momento, falar de Nico não vai ajudar.

– Vamos encerrar o assunto agora então. – Eu disse encarando seus olhos. - Mas assim que tudo isso acabar, você vai me contar tudo que quero saber. – Jason sorriu de lado, parecia levar aquilo com se eu o estivesse desafiando, e de certa forma, eu me senti fazer isso. Essa conversa desde o inicio parece ter coisas nas entrelinhas, como se eu estivesse roçando na casca da ferida ainda nova e que estivesse próximo de arrancá-la e fazê-la voltar a sangrar. Jason e eu continuamos a nos encarar, olho no olho, ele rangeu os dentes e eu fechei minhas mãos em punho.

– O que estão fazendo? – Jason mudou totalmente a postura ao ouvir a voz, seus olhos se iluminaram e ele relaxou instantaneamente, senti meus músculos relaxarem também e só então percebi que estava tenso e pronto para lutar. Olhei para o lado e Nico nos encarava sem expressão e com os braços cruzados na frente do peito, em seu cinto o cetro de Diocleciano e a espada estavam pendurados e ele substituiu a jaqueta de aviador por uma de couro negro, ela pareceu combinar mais com ele.

– Nada. – Disse Jason olhando para ele. – Já terminaram?

– Já, os detalhes são os mesmos, sua parte é só me proteger no primeiro momento, depois, ajudar Piper e Leo. – Jason assentiu e sorriu tombando um pouco a cabeça para o lado.

– E você já comeu? – Nico estalou a língua e deu de ombros, Jason negou com a cabeça sorrindo.

– Não me trate como criança... - Jason me lançou um olhar curioso e foi ate Nico, tocou seu braço devagar, Nico revirou os olhos e o encarou. – Sim eu comi, um pedaço enorme de bolo, feliz? – Jason riu, deu um tapinha no ombro de Nico e caminhou para dentro do navio. Quando ele desapareceu olhei para Nico e ele me encarava com uma sobrancelha levantada, senti o rosto corar com ao lembrar do beijo e ele imitou meu ato abaixando a cabeça.

– Temos que conver... - Não terminei a frase, senti algo me acertar com força nas costas, cai estatelado no chão gemendo de dor, olhei para frente e Nico rebatia as coisas com a espada como se estivesse jogando beisebol. Senti que alguém me fazia ficar de pé me levantando pelas axilas.

– É, acho que chegamos. – Disse Frank olhando para traz enquanto me mantinha de pé como um boneco, firmei os pés e respirei fundo, minhas costas doíam, mas nada grave. – O que é isso que eles estão jogando? – Nico riu, parecia estar se divertindo.

– Estrume, bolas enormes de estrume. – Ele rebateu mais uma. – Provavelmente de uma vaca bem grande e gorda. – Mais uma bola foi rebatida.

– Esta me dizendo que eu fui nocauteado com cocô? – Eu disse indignado, pensar nisso foi nojento.

– É isso ai Percy. Você caiu para um cocô gigante. – Disse Jason voando acima de mim e rebatendo as bolas de cocô voadoras.

– Semideuses, sejam bem vindos e a nossa festa! – Disse uma voz grossa e pesada, senti os pelos da nuca arrepiarem ao reconhecer.

– Droga. – Disse Jason e eu ao mesmo tempo, olhei para Nico e ele tinha um rosto cheio de raiva.

– Ótimo, encontramos os gêmeos idiotas. Eu realmente queria me vingar pelo que eles fizeram comigo. – Disse Nico, Jason olhou para ele.

– Você vai seguir o plano, esqueça a vingança. – Disse Jason e depois olhou no rosto de todos nós. – Isso vale para todo mundo.

– Eles vão tentar usar as lutas anteriores como meio de nos dispersar e distrair, não caiam nessa. Sigam o plano, so assim teremos chance. – Disse Frank com tom de comando, como um verdadeiro líder. Todos concordaram.

– Semideuses, poderiam descer daí? Precisamos de vocês aqui em terra...- Disse outra voz.

–Polibotes...- Disse Frank. – Droga...

– Bem... Não é como se não esperássemos encontrar esses caras...- Disse Leo mexendo as mãos freneticamente. – Querem de eu desça o navio? Por que se quiserem, e eu torço que sim, eu posso subir com ele e nós fugimos...

– Não podemos fugir...- Disse Annie ao meu lado. – É nossa missão salvar o Olímpio Leo...

– Eu sei, eu não ia realmente fazer isso... Só... Estava pensando na possibilidade. – Ele correu para a cabine e sentimos o navio perder a altitude.

– Que os deuses olhem por nós. – Disse Piper ajeitando a cornucópia no ombro. Olhei para o céu e destampei contracorrente, a fúria sobrevoava a entrada de uma caverna em uma montanha a nossa frente. Descemos do navio, eu e Annie na frente, seguidos de Piper e Leo, Frank e Hazel, Jason e Nico.

– Onde estão os gigantes? – Perguntou Hazel com as mãos empunhando com força a espata. – Eles não estavam falando com a gente agora?

– E jogando estrume. – Completou Leo. Annie revirou os olhos.

– Hazel... – Disse Nico olhando com atenção para frente. – Tente sentir o que há dentro daquela montanha. – Ele apontou para o lugar onde a fúria estava voando e que agora havia entrado. Hazel pisou com mais força no chão e respirou fundo, paramos e a observamos.

– É oco...- Disse ele e franziu o cenho. – Não... Tem algo...

– Mágico? – Disse Nico franzindo o cenho também, a irmã concordou. – Isso pode ser um problema, eu sinto que há monstros ali, muitos, assim como gigantes...

– Tem pedras preciosas também...- Disse Hazel agora encarando a entrada da caverna. – Muitas, e todas juntas e um mesmo lugar. – Ela engoliu em seco, Frank colocou a mão em seu ombro.

– Vai ficar tudo bem...- Disse seu namorado.

– E se já estamos aqui. – Eu disse. – Vamos de uma vez, tentar adivinhar algo que descobriremos em alguns minutos não vai nos levar a nada. – Comecei a andar na frente e eles me acompanhavam. Entramos na caverna e uma lufada de ar jogou meu cabelo para traz, seguimos por um corredor sombrio contando somente com a luz das armas, um novo vento nos açoitou quando atravessamos uma espécie de portal feito de pedras preciosas, coloquei a mãos na frente dos olhos para protegê-lo da poeira e da luz.

– Luz? – Questionou Annie ao meu lado com a mão protegendo os olhos também. Abri os olhos aos poucos para que eles se acostumassem com a nova luminosidade e me surpreendi. A caverna não era uma caverna, por dentro parecia uma gigantesca clareira com uma única arvore na extremidade norte, a arvore era de um verde intenso e parecia ter certo brilho. Estávamos em cima de uma ladeira alta, parecia que nós estávamos saindo de uma caverna e de lá, dava para ver todo o lugar. Olhei para cima e vi de onde vinha a luz, eram pedras preciosas incrustadas no teto, mas as elas não eram normais, todas elas eram brancas contra o teto negro de pedra, e cada uma era incandescente e emitiam luz branca que iluminava o local, parecia um céu estrelado, porem, no centro havia uma grande pedra amarela, ela iluminava mais que ao outras e sua luz era tamanha que fazia ali dentro parecer dia.

– É lindo...- Comentou Piper.

– Se não fosse o exercito de monstros ali em baixo nos encarando e rosnando... Eu concordaria com você Piper. – Disse Nico seco e pegando o cetro. Olhei para baixo e finalmente vi os monstros, de todos os tipos e espalhados em grupos por todo o lugar, os gigantes estavam reunidos olhando para nós, três deles estavam sentados em tronos de pedra, e os reconheci como Polibotes, Alcioneu e Porfírion, os opostos dos três grandes, eles nos olhavam com divisão e desdém.

– Quem vai se arriscar em descer primeiro? – Perguntou Leo. Frank respirou fundo e deu um passo a frente.

– Vou me transformar... Percy, Annabeth e Hazel, me dêem cobertura. Vamos atacar os monstros primeiro. Nico e Jason...- Ele olhou para o lado as os dois já estavam sobrevoando os monstros, Nico estava segurando o pescoço de Jason e ele a sua cintura com um dos braços o outro empunhava a espada. Os monstros foram para onde eles estavam, somente esperando que eles descessem para atacar, alguns começaram a alçar vôo e Frank os abateu com o arco mais rápido do que eu consegui raciocinar. – Eles tomaram a iniciativa então... – Disse balançando a cabeça. – Mas tudo bem. Vamos descer.

– Me dê o arco. – Disse Annie e ele obedeceu ela passou a abater os monstros que espreitavam Jason e Nico, Frank se virou para Hazel e deu um beijo na testa, disse algo e olhou para mim.

– Vamos? – Disse e eu acenei que sim, beijei Annie uma ultima vez e corremos para baixo da ladeira, Frank se transformou em um rinoceronte no meio do caminho e saiu dizimando os monstros, os pisoteando e jogando no ar com a cabeça pesada, eu ia atrás o dando cobertura e Annie abatendo tudo que subia a mais de um metro e meio do chão, abrimos caminho ate abaixo de Jason e Nico, eles desceram e Nico enfiou o cajado na grama fechando os olhos, Jason empunhou a espada. Os gigantes gêmeos Oto e Efialtes vieram atravessando os monstros, pareciam felizes em nos ver, pisoteavam quem não saia da frente e os mais espertos abriam caminho, eles balançavam suas espada.

– Filho de Hades, veio nós visitar! Vamos fazer uma peça! Um drama com os filhos dos três grandes! Onde no fim os cães infernais comem seus corpos dilacerado por nós! – Disse Efialtes feliz. Nico franziu o cenho.

– Concentre-se . – Disse Jason e Nico suspirou, senti o chão começar a tremer a aura escura de Nico se espalhar. – Façam aqueles dois ficarem longe, eu dou conta de manter os monstros distantes de Nico por alguns minutos.

– Quanto tempo Nico?- Perguntei.

– Dois minutos, eles estão enterrados superficialmente aqui. – Ele franziu o cenho. – Na verdade, tem camadas e camadas de mortos aqui, como se exércitos inteiros houvesse vindo e morrido aqui, por eons...

– Isso é bom? – Perguntei e ele sorriu abrindo os olhos e se endireitando, as primeiras mãos de ossos e carne decomposta estavam saído do chão e agarrando a grama para se segurarem, Nico respirava rápido e suas mãos tremiam enquanto seguravam o cajado.

– Depende do ponto de vista. Para mim é ótimo, teremos um exercito equiparão ao dos monstros... Mas também mostra que aqui não é um lugar com um bom histórico para heróis...

– Prefiro não pensar nisso. – Olhei para Frank que tinha se transformado em um dragão e voltei os olhos para ele. – Tome cuidado, e não force seu corpo. – Ele me olhou surpreso assim como Jason, porem Jason me olhou com algo mais que surpresa e aquele algo mais não era algo bom. Frank saiu correndo em direção aos gigantes, apertei o braço de Nico e eu fui atrás. Matarei aqueles dois novamente, farei com que encontrem tártaro novamente, e dessa vez, eles não sairão de la pelos próximos eons!