[Percy]

Piper se trancou no quarto pelo resto do dia e noite com Annie e Hazel. Leo e Jason estão brigando desde a hora que Leo acordou, Frank esta tentando não se meter e Nico só observa a tudo com olhar entediado fazendo caretas quando elevam a voz, a ressaca o estava atingindo e tenho quase certeza que Leo continua meio alterado. A coisa saiu do controle quando o ar começou a ficar rarefeito e quente, Leo e Jason partiram pra cima um do outro com socos. Corri ate eles e Nico me acompanhou, Frank que só olhava interveio também, ele puxou Leo, eu e Nico puxamos Jason.

– Ficou louco cara? - gritei para Jason enquanto ele se debatia.

– Você não tem o direito de falar nada Leo!!- ele gritou para o latino.

– Claro que tenho! Piper é minha melhor amiga, e você a magoou! – gritou ele de volta.

– Parem vocês dois!- gritou Frank.

– Parem de gritar seus bastardos!!! – gritou Nico mais alto e todos nos calamos. Ele olhou para Leo que, literalmente, cuspia fogo. – Nunca mais me chame pra beber, ressaca é muito ruim.

– Você que é fraco para bebida. – disse ele entre dentes olhando para Jason. – Francamente cara, como você pode fazer isso com ela? – perguntou para Jason agora parecendo cansado. - A garota te ama.

– É essa a questão! Eu não a amo, Leo. Queria que eu a enganasse? Eu não poderia fazer isso! – disse Jason relaxando, soltei seus braços assim como Nico, Frank soltou Leo.

– Eu creio que a resposta seja não...- ele deu de ombros. – Mas eu não gosto de vê-la assim...

– Eu também não, mas o que posso fazer? Não tinha outro jeito. – Jason olhou para Leo suplicante. – Por favor Leo, não deixe de ser meu amigo por isso. Eu já sei que perdia amizade de Piper, a sua seria o fim pra mim. – Leo suspirou e caminhou ate Jason. Frank, Nico e eu ficamos prontos para apartar a briga caso acontecesse novamente. Leo esticou a mão em punho, Jason o encarou e depois a mão, sorriu batendo o punho com ele.

–Você é meu melhor amigo, Jason. Não vou me afastar assim. Mas eu tenho que te dar uns socos de vez em quando. – Jason puxou Leo pelo braço e o abraçou.

– Obrigado! – Leo deu tapas em Jason rindo.

– Ok, ok, eu sei que sou gostoso e quente, mas não precisa me apertar tanto. – Jason riu e o soltou. Nico suspirou pesadamente e massageou a cabeça.

– Você esta bem? – perguntei me virando para ele.

– Ressaca. Lembre-me de nunca mais beber. Me sinto péssimo. – eu ri e ele me fuzilou com o olhar.

– Vem comigo, tenho um bom remédio pra te dar. – passei o braço sobre seus ombros e meio que o arrastei comigo, ele tentou me afastar, mas não permiti.

– Me solta, eu sei andar sozinho...- disse ele ríspido.

– Não. Eu disse que vamos tentar ser amigos e assim faremos. Não vou te machucar Nico, deixe eu encostar em você. – ele bufou mas parou de resistir. Fomos para meu quarto e ele ficou parado na porta enquanto eu entrei e peguei a caixinha de remédios. Olhei para ele enquanto me sentava na cama, ele parecia desconfortável ali, parecia prestes a sair correndo ou entrar em uma sombra. – É tão ruim assim ficar sozinho comigo? – perguntei ressentido. – Eu vejo a distancia que você coloca entre nós em tudo, e de certa forma, isso me magoa. – ele me olhou um pouco surpreso e desviou os olhos para a janela.

– Não faço por querer... – ele respondeu dando dois passos para dentro do quarto e retesou no mesmo lugar. – Temos mesmo que ficar aqui? – disse mexendo no anel de caveira da mão.

– Algum problema com meu quarto? – perguntei confuso, meu quarto é absolutamente igual o de todos, não entendo o porquê dele estar assim.

– Não, não com o quarto... - ele olhou para o chão e ficou levemente vermelho. Suspirei e peguei a caixinha de comprimidos, tirei dois e voltei a guardar o resto, estiquei a mão para Nico. Ele me olhou e depois para a mão, andou pesadamente ate mim e pegou os comprimidos. Quando ele recolheu a mão o puxei pelo pulso, fazendo-o cair sentado na cama ao meu lado.

– Agora que já entrou, que tal conversarmos? – estendi um copo com água, ele aceitou com as mão tremulas, colocou os comprimidos na boca e depois os engoliu com a água. Me encostei na parede, ele bebeu tudo e continuou onde estava, segurando o copo entre as mãos e olhando para ele. – Por que me evita tanto?

– Não te evito. – disse seco.

– Ok, então eu imagino que você praticamente foge quando eu chego. - ele sorriu. – Ai esta, estamos evoluindo... Ganhei um sorriso. – ele balançou a cabeça e levantou o rosto para mim.

– Olha, eu não quero me aproximar de você Percy. É essa a verdade. – ele disse serio, e aquilo doeu, me sentei direito e o encarei.

– Por quê? Eu já pedi desculpas... O que mais quer que eu faça?

– Que não tente se aproximar de mim também... Isso... É ruim... – ele voltou a mexer no anel ainda olhando para mim.

– Mas... Você disse que não me odeia... Pensei que poderíamos ser amigos...

– Eu queria poder ser seu amigo Percy. Mas... Isso não vai acontecer... Não agora. – ele suspirou e colocou o cabelo atrás da orelha olhando para o copo novamente. – Acho que vou seguir o conselho de Jason quando tudo isso terminar...

– Conselhode Jason? – Me inclinei em sua direção interessado, mas ele encolheu os ombros e se afastou ainda mais na cama. Rangi os dentes e me afastei, ele pareceu respirar de novo.

– Sim... Mas isso não te interessa realmente. Não é algo relevante... – ele me estendeu o copo encarando o chão. Peguei o copo e o coloquei na escrivaninha sem tirar os olhos dele. – Obrigado pelo remédio. – ficamos em silencio. Eu queria quebrá-lo, mas não sei o que dizer, tenho a impressão que e eu disser ou fizer qualquer coisa ele vai desaparecer. Nico se apoiou nas mãos e jogou o corpo para frente se levantando cambaleante. – Então eu já vou... – ele deu dois passos para frente e segurei seu pulso com força o parando. Ele olhou para mim e eu encarei seus olhos, tinha que ter uma resposta ali, tinha que haver algum jeito de eu me aproximar... Nico foi corando aos poucos enquanto eu sustentava seu olhar, me levantei e fiquei de frente para ele ainda segurando seu pulso, ele deu um passo para traz e eu o segui.

– Pa-para... Por favor. – disse ele tentando desviar o olhar, mas ele sempre voltava a me encarar, como se fosse mais forte que sua vontade. Seus olhos estavam brilhando de um jeito estranho, eram castanhos, não negros como eu pensava, parecia com medo, receio e algo mais misturado, toquei seu rosto e ele parou de andar e começou a controlar a respiração.

– Não vou te machucar. – passei o dedão pela sua bochecha devagar, sua pele era macia e fria.

– Não é esse o problema... – ele virou o rosto e eu afastei minha mão só para segurar seu queixo e fazê-lo me olhar de novo.

– Então qual é o problema? Eu não posso te tocar, não posso falar com você por muito tempo, não posso nem mesmo chegar perto... Qual é o verdadeiro problema comigo Nico?

– Com você nada. – ele fechou os olhos com força, seu rosto estava vermelho e eu soltei seu queixo, ele desviou o rosto para o lado e puxou a mão, não o soltei. Ele respirou rápido algumas vezes.- O problema sou eu.

– Me expliquei isso. – ele mordeu o lábio inferior e fechou os olhos com força. – Me diga qual o problema Nico!!! Eu to cansado disso, de você fugir de mim! – ele encolheu os ombros, perdia paciência e o joguei contra a parede colocando uma mão ao lado de sua cabeça e a outra ainda em seu pulso.

– O que esta fazendo? – perguntou ele assustado e fazendo uma careta de dor, me senti culpado por um instante, mas isso passou tão rápido quanto veio, olhei no fundo dos seus olhos e ele corou.

– Não vai sair daqui ate me dizer o verdadeiro motivo! – eu disse determinado, se eu vou morrer amanhã, quero não ter nada me inquietando como espírito.

– Mesmo se eu disse você não vai entender!- ele disse quase em desespero remexendo o corpo, mas o prensei na parede com o meu, seu rosto ficou ainda mais vermelho e ele começou a ofegar. – Me solta! Por favor, me deixe ir!

– Não! Eu cansei! Você vai me dizer o que eu quero saber ou vamos ficar assim a noite toda! – ele corou mais, se é que isso é possível, a vermelhidão já ia de suas orelhas ao pescoço, seus olhos estavam grandes e assustados.

– Você quer que eu diga? – eu senti seu coração se acelerar de encontro com meu peito e uma gota de suor correr de sua testa para o rosto, ele estava nervoso, mas sua voz estava firme.

– Sim!

– Você não vai entender nem que eu desenhe! – ele quase chegou a gritar ao agarrar minha camisa verde com a mão livre com força e me encarou com raiva tentando soltar a outra. – Você nunca entende! Mas isso não me surpreende! Você é tão inteligente quanto uma alga, não é atoa que tem esse apelido!

– Agora vai ficar me xingando? Isso vai melhorar alguma coisa? Vai se sentir melhor assim? – respondi com raiva também. – Pois isso não funciona comigo! Pelo menos eu não fujo como um covarde! – seus olhos escureceram.

– Você não sabe de nada! Não me chame de covarde Perseu, sem mim você já estaria morto! – respondeu ríspido e cuspindo essas palavras na minha cara. – Você praticamente me deve a vida e algo a mais que isso. – soltei sua mão e ele agarrou minha camisa com ela também. Dei um passo para traz e ele me seguiu ainda agarrando minha roupa. – Você quer que eu te diga o problema? Eu digo então. Não suporto ficar nesse cômodo por que esta infestado com seu cheiro, é irritante!

– Meu cheiro te irrita? É isso? – perguntei sentindo a sensação de cair mesmo estando firmemente de pé, era estranho. Nico parecia ser maior que eu agora, me sinto acuado por seu olhar de raiva, mesmo sabendo que tenho força física maior eu não consigo levantar o braço e fazê-lo me soltar.

– Não só seu cheiro, tudo em você é extremamente irritante para mim. Seu cheiro, sua voz, seu jeito, seu corpo, tudo é...- ele mordeu o lábio e algo pareceu atravessar seus olhos o fazendo me soltar e dar um passo para traz abaixando a cabeça. – Por que me tocou daquele jeito? – precisei de dois minutos para me adaptar a mudança brusca de assunto e clima.

– O que?- foi a resposta brilhante que dei para ele deixando as mãos caírem ao lado do corpo e inclinando a cabeça de lado sem entender.

– Você tocou meu rosto, me... Tentou me abraçar... Por que? – ele perguntou calmamente e voltou a mexer no anel de caveira, respirei fundo e coloquei as duas mãos na cabeça puxando os cabelos para traz. Esse garoto me confunde.

– Eu não sei, por que a pergunta agora?

– Você não faz isso com os outros. Eu nunca vi pelo menos...- ele olhou para mim novamente e dessa vez ele parecia ansioso pela minha resposta. – Nunca vi você tocar neles assim...

– Não sei o porquê de eu ter feito isso, pareceu... Natural fazer isso, como... Não sei como. Só deu vontade de fazer e fiz. – um brilho estranho voltou aos seus olhos.

– Ainda quer saber o porquê de eu te afastar? O porquê de eu fugir? – suspirei e coloquei a mão em seu ombro, ele respirou fundo com isso.

– É a única coisa que eu quero entender no momento... – ele rangeu os dentes e trocou o peso do corpo nas pernas.

– Não posso te dizer... Não tenho palavras para isso. – ele deu um passo para traz se afastando de novo de cabeça baixa. Fechei minha mãos em punho.

– O que pode ser tão complicado assim que você não pode achar palavras? Pare de me enrolar e diga logo o que... - fui interrompido por Nico, que agarrou minha camisa de novo e me puxou para perto selando nossos lábios. Fiquei estático sem saber o que fazer, se o empurrava, o correspondia ou o que fosse, então só fiquei parado ali sentindo seus lábios frios contra os meus. Olhei para seu rosto, agora perto de mais, e vi que ele tinha os olhos bem fechados e estava novamente corado, suas mãos tremiam em minha camisa. Fiquei parado em estado de choque, ele me empurrou e eu estava despreparado, cambaleei ate a cama e ele saiu correndo do quarto com a mão da boca e batendo a porta.

No fim, só fiquei sentado na cama do mesmo jeito que cai pelos próximos minutos olhando o caminho que ele fez sem saber o que fazer, como reagir ou o que dizer.