[Percy]

– Eu sinto que estou sobrando aqui. – disparou Leo do nada no almoço. Todos o olhamos sem entender.

– O que quer dizer Leo? – perguntei levantando o garfo.

– Não sei... Eu sinto que estou sobrando de alguma maneira aqui. – disse franzindo o cenho e se virou para Jason. – Acho que isso é culpa sua! – Jason o olhou franzindo o cenho também.

– Como assim?

– Você tem me trocado por Nico!- ele apontou Nico com um garfo, este que comia tranquilamente engasgou e dei tapinhas em suas costas para ajudá-lo. Jason do outro lado da mesa riu.

– Do que você ta falando Leo?

– Você parece ter trocado de melhor amigo! É isso que eu to falando! Só anda com o Nico, ate dormem no mesmo quarto!- disse exasperado. Nico tomou um gole de suco e respirou fundo.

– Se quiser, podemos trocar. Você aguenta Jason roncando e eu fico em seu quarto. – Jason olhou para Nico chocado e Nico riu.

– Eu não ronco! Pare de inventar essas coisas sobre mim! – disse ele transtornado. Leo batia o dedo sobre a boca.

– Idéia interessante. – ele olhou para Nico que levava o garfo a boca e parou no meio do caminho. - Eu aceito. – Nico piscou algumas vezes e levou o garfo a boca.

– Tudo bem então. – disse ele assumindo sua expressão neutra. Jason olhou feio para Leo que perguntou o que tinha feito de errado. Continuei apenas observando a cena se desenrolar, Nico ficou na dele, comendo e sem expressar nada.

– Eu não vou dormir com você! É capaz de por fogo em minha cama durante a noite!- Leo ia protestar e Jason emendou.- Você já fez isso, seus argumentos são inválidos.

– Há, como se você dormisse tranquilamente! Da ultima vez que ficamos no mesmo quarto você começou a flutuar durante a noite e só acordou quando bateu a cabeça no teto e caiu! – Nico soltou uma gargalhada gostosa quando ouviu, olhei para ele e sorri. Eu gosto de vê-lo rir, era algo raro antigamente, mas há algum tempo ele vem fazendo muito isso. Olhei para Jason que me fuzilava com o olhar, não entendi direito o porquê, e olhei para o outro lado.

– Você não vai dormir comigo! – sibilou Jason apontando um garfo para Leo. Leo começou a protestar e Annabeth bateu a mão na mesa.

– Tudo bem! Chega! – ela olhou para eles. – Qual o problema principal? É o Nico dormir no mesmo quarto de Jason? – perguntou ela levantando uma sobrancelha.

– Se for só isso, ele pode dormir no meu... - comentei, Jason e Annie responderam um “não” autoritário antes mesmo de eu fechar a boca. Olhei para Nico e balancei os ombros, ele riu.

– Bem...- começou Frank. – Nico pode ficar no do treinador...

– Mas ele está uma bagunça!- disse Hazel olhando para o namorado.

– Eu o arrumei ontem, tirei as coisas dele e levei para os estábulos dentro de uma caixa. Esta tudo limpo la. – olhamos para Nico que apenas deu de ombros.

– Tudo bem. – disse apenas e voltando a comer.

– Por que diabos você fez isso? – perguntou Jason, Frank deu de ombros.

– Eu fico ansioso às vezes, e a mania de limpeza de minha avó passa para mim nesses momentos. – Jason assentiu. Nico bebeu um ultimo gole e se levantou da mesa.

– Já que agora eu tenho um quarto, vou pegar minhas coisas do seu Jason...- disse ele já caminhando para o corredor.

– Eu vou com você. – disse ele indo com Nico. Os observei sumirem pelo corredor, me virei para Leo pousando meu garfo no prato.

– Qual é o verdadeiro problema? – perguntei a ele e todos me olharam, Leo bufou.

– Jason era meu amigo antes. Mas ele parece só ver o Nico agora! Não se desgrudam! – ele abaixou a cabeça. – Quando começou a namorar Piper foi a mesma coisa... - ele pareceu repensar sobre isso. – Ou era da minha cabeça isso também? – ele bufou. - O importante é que ele ta fazendo igual à antes, esta me deixando de lado e... eu sinto falta de meu amigo...

– Leo, não precisa ter ciúmes do Jason com o Nico, você ainda é o melhor amigo de Jason...- eu disse sorrindo para ele, Leo concordou com a cabeça. – Mesmo que eles realmente tenham se aproximado bastante nos últimos tempos...- ponderei sussurrando para mim mesmo olhando para o corredor novamente. Eu já tinha percebido isso, mas parece que o laço entre eles está mais estreito que antes, e isso não me agrada muito também.

– Eu espero que você tenha razão... Já perdi Piper, não ia gostar de perder Jason... – assenti com a cabeça. – Mas... Como você sabe que ele não vai trocar de melhor amigo?- voltei a encará-lo e ele tinha o cenho franzido.

– Não da para trocar de melhor amigo assim tão rápido. Jason só esta tentando ajudar Nico a...- “ lidar com o fato que gosta de mim”, mordi o lábio e desviei o olhar antes de completar a frase. O desconforto se abateu sobre mim ao pensar nisso, eu não tenho o direito de não gostar da maneira como Jason e Nico se tornaram amigos tão próximos em tão pouco tempo, eu poderia estar no lugar de Jason, talvez ate alem, mas eu deixei esse momento passar e agora ele tomou à dianteira. Sacudi a cabeça e pingarei completando. – A se socializar... – respondi forçando um sorriso e eles me encararam.

– Bem... ele esta fazendo um bom trabalho...– disse Annabeth esfaqueando o bife ao meu lado, a encarei e tenho quase certeza que ela ainda está pensando no beijo que eu disse que Nico me deu. – Nico está MUITO sociável agora...- cocei a bochecha com um pouco de medo e sem graça. Suspirei e olhei para meu prato vazio, se continuarmos nesse assunto vou acabar falando alguma coisa que pode por tudo a perder, tanto com Annie quanto com Jason e Nico. Me levantei da mesa.

– Eu vou tomar uma ducha. Já estamos quase chegando à Nova York, certo Leo? – ele afirmou com a cabeça e eu sai apressado de la.

[Jason]

– Tem horas... que eu quero matar o Leo! – eu disse sentado na cama olhando Nico recolher suas coisas.

– Por quê? – perguntou jogando a bolsa negra sobre a cama e se sentando logo em seguida ao meu lado encostando-se à parede. – Ele só sente falta de você. É seu melhor amigo Jason, ele deve achar estranho você ficar o tempo todo ao meu lado. – o olhei questionando.

– Você quer que eu me afaste e fique mais com ele? É isso? – Nico negou com a cabeça.

– Eu disse que ele acha estranho, não que eu queira que mude. – ele olhou para o lado se dando conta de que acaba de dizer que quer que eu fique ao seu lado. Me aproximei dele e virei seu rosto para mim.

– Leo que me perdoe então, mas não vou trocar o tempo garantido com você aqui no navio para ficar com ele. – Nico tombou a cabeça confuso.

– Como assim, “tempo garantido”? – me afastei e apoiei as costas na parede também, segurei sua mão na minha.

– Eu sei que você não vai ficar o tempo todo em qualquer um dos acampamentos... Você não consegue se ficar em um lugar só, criar raízes...

– Bem... é mais ou menos assim mesmo... - ele apertou minha mão e olhou para mim.

–Por isso, eu só posso ter certeza que poderei ficar com você enquanto estamos no navio, quando chegarmos, você ira embora cedo ou tarde, e levará um tempo ate que eu te veja novamente... – Nico se inclinou para mim.

– Você pode ir comigo...- fiz uma careta e ele deu de ombros.

– Eu gosto de criar raízes, sou acostumado a isso, a rotina... nunca tentei fazer o contrário... a ideia também me assusta.

– Viajar e conhecer o mundo é maravilhoso Jason... - disse ele voltando a olhar para mim. – Você ia se surpreender com o que pode ver e descobrir...

– Eu sei. – suspirei e acariciei seu rosto. – Mas eu gosto de pensar que pertenço a um lugar. Pensar que tenho um ponto de partida e poder voltar para ele...

– Eu sempre volto para os acampamentos... – observou ele.

– Mas não vê nenhum deles como lar, como o começo e fim da viagem... para você, são apenas mais um ponto pelo qual passa, porem, esse são mais conhecidos. – ele soltou minha mão e mexeu no anel de caveira.

– Não vai ser mais assim... - ele disse olhando para o anel prateado de sua mão. – onde você estiver, esse será meu ponto de partida e chegada, esse será meu lar...- ele olhou para mim. – Onde você estiver... é lá que eu me sentirei em casa. – senti o coração palpitar em meu peito ao ouvir isso, o segurei pelo queixo e selei sua boca com a minha com carinho, uma de suas mãos foi para minha nuca e a outra ele se apoiava para se inclinar para frente aprofundando o beijo. Senti meu corpo despertar, percebo que sempre será assim com Nico, trocamos apenas quatro beijos desde ontem à noite quando resolvemos tudo, e parece que cada vez fica melhor. Nossas línguas se encontraram em minha boca, o puxei pela cintura o aproximando mais de mim e sua outra mão foi para meu braço o apertando, seu toque gelado arrepia minha pele sempre que me toca e isso era muito gostoso. Quanto o ar faltou ele se separou de mim me dando selinhos. Fico surpreso por ver ele agir assim, correspondendo aos meus toques, e me beijando por conta própria, pensei que ele ficaria retraído e que só eu tomaria iniciativa.

– Sabe... pensei que você tivesse medo disso... - eu comentei quando ele se deitou na cama com a cabeça em meu colo, mexi em seus cabelos.

– Disso o que?... isso é bom... continua... - disse se virando de lado, dei um beijo em seu rosto e continuei com o cafuné.

– Se relacionar com alguém... principalmente com outro cara. – ele balançou a cabeça. – Pra falar a verdade, achei que você ia fugir de mim por propor que ficássemos juntos...

– Já me martirizei tanto com isso Jason... tanto... – disse soltando o ar lentamente, como se fosse doloroso lembrar, o que eu não duvido que seja. - Todo o tempo que eu gostei de Percy eu me xinguei e me chamei de aberração por ter esse sentimento... – ele se virou para poder olhar para mim.

– E quando isso mudou? – perguntei ainda acariciando seus cabelos macios.

– Começou quando você me disse que me aceitaria... Me senti melhor ao ouvir você dizer aquilo, minimamente, mas melhor. Eu teria alguém que não me julgaria por isso. – assenti com a cabeça e ele fechou os olhos. – Depois foi quando você me beijou... Foi a coisa mais estranha do mundo. Eu nunca imaginaria que você fosse fazer algo assim. – ele riu. – Mas admito que foi uma das melhores coisas que já experimentei. Graças à curiosidade e o estado de confusão que eu fiquei por aquilo, eu me recusei e tive medo de morrer pela primeira vez. – ele abriu os olhos novamente e esticou a mão para meu rosto, ele acariciou minhas bochechas e depois ao lado de meus olhos com o dedão. – Por fim, quando você disse que não se arrependia e que queria tentar ter algo comigo, quando me disse aquilo eu senti que você poderia me entender, e principalmente, que eu não era uma aberração por sentir algo assim... mas eu também fiquei com medo.

– Medo de que? – perguntei segurando sua mão que estava em meu rosto.

– Medo de te perder caso desse errado. De como as coisas iam ser complicadas para você se alguém descobrisse. Medo de como me tratariam nos acampamentos... mas depois eu pensei que se eu dissesse "não" ia ser pior, eu ficaria me perguntando como as coisas poderiam ter sido a vida toda, e provavelmente íamos acabar nos afastando. Então eu decidi arriscar pela primeira vez. – ele sorriu e olhou em meus olhos. – Devo dizer que não estou me arrependendo da decisão. – sorri para ele.

– É bom saber que você se importa comigo e que tem medo de me perder. Mas isso não vai acontecer...

– Como você disse... eu viajo muito... as coisas mudam com o tempo... eu, pelo menos, estou preparado para caso não me queira mais desse jeito daqui algum tempo. - disse ele com a voz arrastada.

– Por isso você esta agindo assim? Se permitindo me tocar e ser tocado tão rápido? – Nico riu.

– Você me dá liberdade para isso e eu a dou a você. De que adianta eu aceitar ficar com você se eu não te tocasse como você faz comigo? - disse levantando uma sobrancelha. - Você pensou que eu ficaria apenas deixando que você me beijasse e ficaria envergonhado, passivo como um boneco? – Ele se sentou na minha frente. – Minha mãe me ensinou que quando se relaciona com as pessoas, tudo deve ser mutuo, na amizade e no amor, se somente um dos lados agir, acaba se cansando e as coisas acabam morrendo aos poucos. – ele suspirou. – Minha relação com Bianca não foi mutua, só ela me protegia e cuidava, eu era inconsequente...

– Você era uma criança. – rebati e ele dispensou o meu comentário com um dar de ombros.

– O ponto, é que nossa relação estava desgastada, ela estava cansada. Na primeira oportunidade de poder ter uma vida e que eu ficaria seguro ela se foi. Eu a culpei, mas vi com o tempo que eu teria feito o mesmo levando em conta como as coisas eram entre nós. – ele se inclinou para frente e tocou meus lábios com os seus rapidamente e se afastou. – Eu não vou cometer esse erro novamente. Não quero perder você. – o puxei para meu peito e ele se deixou ir, o abracei e ele correspondeu enlaçando os braços em minha cintura.

– Eu também não quero te perder Nico. E por isso, não se preocupe com o tempo, ele não vai mudar o que eu sinto por você, nossa amizade, ou o que quer que esse sentimento novo vire daqui para frente. Eu sempre irei te esperar, serei o seu lar. – o afastei um pouco para poder olhá-lo. – Você sempre vai poder voltar para mim que eu estarei esperando de braços abertos. – ele sorriu e me apertou mais.

– Obrigado Jason... Você não tem noção do quanto você me faz bem. Do quanto está me ajudando. – passei meu nariz em seus cabelos sentindo seu cheiro, era doce e viciante.

– Não precisa agradecer por nada Nico. – beijei o topo de sua cabeça. – Faço isso porque gosto de você e te quero bem. Mas também por eu querer isso, por eu querer ficar com você. – ele assentiu e levantou a cabeça novamente, seus olhos castanhos tinham luz e brilho, me senti feliz e preenchido por saber que é por estar comigo que ele havia dado uma nova chance a si mesmo e a vida.