[Jason]

Passei o resto da tarde sentado no alto do mastro do navio, eu ficaria de vigia para que Leo consertasse os circuitos de Festus e estabelecesse a rota para casa novamente depois do ultimo ataque que sofremos. Durante nosso sono, todos do navio descansaram e se recompuseram, Frank também dormiu mais que o comum, um dia e meio de acordo com Leo, Hazel e Annie fizeram as vigias enquanto o próprio Leo recuperava suas forças no primeiro dia. Argo II partiu no mesmo dia que despertamos pela manhã, decidimos fazer revezamento quanto às vigias e eu fui o primeiro. Olhei par abaixo e vi Nico cuidar da perna de Hazel, trocando suas ataduras, ele tinha o semblante preocupado.

Eu queria poder falar com ele, esclarecer as coisas, isso esta me incomodando. Olhei para ao céu negro repleto de estrelas acima de minha cabeça, agora que eu estou vivo... O que farei quando regressarmos aos acampamentos? Em qual deles ficarei? Terminarei a escola? Balancei a cabeça e suspirei. Tenho de pensar nisso, mas a lembrança de meu beijo com Nico invade minha mente toda vez. Enquanto não nos resolvermos, não poderei fazer plano algum. O que eu farei a partir daqui depende do que nossa conversa resultará.

–Jason.- Chamou Nico no deck, olhei para ele por sobre a grade de proteção da cesta do mastro e ele sorriu para mim. – É o turno de Percy agora. – Olhei para a porta e Percy vinha com os braços cruzados atrás da cabeça, ele se colocou ao lado de Nico e bagunçou seus cabelos, Nico pareceu não saber como reagir, olhou de mim para Percy, e desviou o olhar.

– Já vou. – Pulei a cerca e me deixei cair, amortecendo minha queda no fim com o ar. – Deu tudo certo com a Annabeth?- Perguntei a Percy e Nico também o encarou, Percy sorriu e acenou que sim com a cabeça.

– Já resolvemos tudo. – Ele olhou ao nosso redor. – Qual o problema de vocês em ir por mar? – Perguntou franzindo o cenho.

– Monstros, piratas, meio irmãos malucos...- Disse Nico contando nos dedos e depois encarou Percy . – Quer que eu cite outros? – Ele deu uma chave de braço em Nico o prendendo pelo pescoço rindo.

– Mas vocês tem a mim para protegê-los desses perigos agora. – Disse Percy esfregando o punho contra a cabeça de Nico.

– Tudo bem! Me solte!- Pediu Nico segurando o braço de Percy que estava em seu pescoço. Percy o soltou e Nico deu dois passos em minha direção e estacou, mordeu o lábio e deu mais dois passos para o lado nos encarando. Levantei uma sobrancelha.

– Algo errado Nico? – Perguntei colocando a mão em seu ombro, ele soltou o lábio e deu de ombros.

– Não, ta tudo bem...- Disse evasivo. Olhei para Percy e ele parecia tão perdido quanto eu.

– Tudo bem, vamos comer? Sei que não jantou ainda. – Nico assentiu e caminhou para dentro do navio ao meu lado. – Tudo bem mesmo?- Perguntei agora que nos afastamos de Percy, Nico assentiu com a cabeça.

– Sim. – Ele me olhou.- Por que a pergunta?

– É que você... - Eu ia dizer que ele esta deixando Percy o tocar de mais quando disse que somente eu podia fazê-lo, mas preferi balançar a cabeça e mudar de assunto. – O que vai fazer depois? – Ele levantou uma sobrancelha.

– Como assim?

– Depois de tudo, quando chegarmos ao acampamento... – O encarei. – Não me diga que ainda quer desaparecer pra sempre, por que se disser, eu vou agora buscar uma algema e te amarrar em mim para que não faça isso. – Ele me encarou e desatou a rir. – Eu to falando serio! Diga isso e se verá preso a mim pelo resto da vida! – Eu disse sorrindo e gostando da idéia. Nico parou de rir olhou pra mim tentando conter o rio, não deu certo, e ele voltou a rir. – Você vai ter um colapso! Para de rir, o assunto é serio! – Paramos na cozinha, estava vazia, Nico parou de rir e secou as lagrimas.

– Ate aprece que eu te daria esse tempo todo de ir buscar as algemas se realmente quisesse ir embora. – Disse ele com um sorriso divertido, ele balançou a cabeça. – Eu não sei o que farei, Jason. Talvez fique algum tempo em algum dos acampamentos, ou volte para o mundo inferior... Sei lá... Não tenho exatamente um lugar para voltar, ou alguém me esperando. – Nos sentamos à mesa e nossa comida apareceu nos pratos. – Eu nunca fui exatamente bem vindo naqueles lugares, e não será agora que isso vai mudar. E você?- Suspirei.

– To na mesma, não sei onde ficarei melhor, não faço parte de Roma, e os gregos são legais... mas...- Nico riu e comecei a comer.

– São desorganizados, baderneiros...

– Eu ia dizer que são difíceis de trabalhar. – Sorri balançando o garfo e ele levou uma garfada do que comia a boca.

– Você é romano, ia levar um tempo para que se acostumasse como jeito grego caso ficasse no acampamento meio sangue.

– Por isso ainda estou em duvida, foi maravilhoso estar la com Leo e Piper, mas agora...- Nico assentiu.

– Pena que não tem sua moeda mais, podia tirar no cara ou coroa...- Dei uma cotovelada de leve em suas costelas e ele riu. – Seria uma opção...

– Outro fato que me faz entrar em duvida é aquela estatua do meu pai. – Eu disse serio e Nico concordou.

– Aquela estatua me assusta, eu não ia conseguir dormir la...- Apontei o garfo para ele.

– Exatamente. Temos ai outro ponto interessante a ser explorado. – Ele riu e colocou o prato vazio de lado.

– Então... Vai decidir na hora? – Perguntou e eu assenti.

– Parece que é minha única opção. Júpiter não vai me levar para o Olímpio como mortal e me deixar viver la.

– É nessas horas que amo meu pai. – Disse se recostando na cadeira e fazendo uma careta. Ficamos em silencio por alguns minutos perdidos em pensamentos ate que Leo chegou com os outros, como eu e Nico já havíamos comido nos retiramos da cozinha. Caminhamos lentamente ate o mastro, não era preciso falar nada, era para la que sempre íamos antes, e assim continua. Nico desapareceu nas sombras de seus pés e eu alcei voo ate o alto do mastro, me sentei no chão da cesta e Nico logo apareceu sentado ao eu lado, o encarei e o vi observando as estrelas brilharem, desviei o olhar para elas também e ficamos assim por alguns minutos .

– Então... isso é a calmaria... – Comentou Nico abraçando os joelhos e olhando para as estrelas. – Eu sempre vivi uma tempestade, e agora que tudo esta calmo e seguro... É estranho...

– Está dizendo quer que prefere viver em turbulência? – Levantei uma sobrancelha olhando para ele.

– Não. Só que eu não estou acostumado a me sentir assim... Em paz... Quando se acostuma a viver com todos os instintos em alerta , é difícil se acostumar com momentos assim. – Acenei que sim e ele voltou a olhar as estrelas, observei seu rosto, seus contornos, seus olhos iluminados pela noite e que refletiam o brilho das estrelas, sua pele pálida contra a luz da lua. Estiquei a mão e toquei seu rosto, ele fechou os olhos e inclinou a cabeça em direção a minha mão, acariciei suas bochechas com o polegar e ele virou o rosto para mim, mordi o lábio e deixei a mão cair.

– Nico...- Chamei e ele me olhou nos olhos. – Tenho... Temos que conversar sobre o que aconteceu na clareira. – Ele levou um minuto para entender ao que me referia e voltou a o olhar para o horizonte, já não focava as estrelas.

– Não, esta tudo bem, Jason. – Disse sem expressão, arqueei uma sobrancelha para ele. – Eu sei que aquilo foi impulso, coisa do momento. Não... Não vou pensar nada diferente de você por ter feito aquilo. – Ele mexeu em seu anel de caveira e olhou para o lado. – Podemos fingir que nunca aconteceu. – O olhei por um segundo tentando ver se ele deixava algo escapar, mas ele não o fez. Era uma folha em branco. Soltei o ar.

– Nico... O quanto você gosta do Percy? – Ele olhou para a lua.

– Não sei mais. – Disse somente, me inclinei para frente curioso.

–Como assim?

– Eu não sei mais o que estou sentindo. É estranho... Eu ainda gosto dele, mas... – Ele desviou o olhar. Me recostei na madeira atrás de mim.

– Eu não quero esquecer. – Eu disse olhando para as estrelas, vi Nico me encarar. – Naquela hora foi impulso, é verdade, mas eu... Digamos que eu já estava pensando na hipótese de fazer algo assim... –Olhei para ele que me olhava com curiosidade e temor. – Eu... Eu não sei quando foi que começou isso, mas eu queria poder abraçar você, te proteger. Pensei que era somente coisa normal de amigos, mas toda vez que você fala de Percy algo se revira dentro de mim e tenho um gosto amargo na boca. – Desviei o olhar do seu. – Quando te beijei, eu não sabia o porquê de ter feito aquilo, pensei que iríamos morrer, e isso deve ter contribuído, mas... Não foi só por isso, eu queria fazer aquilo... Ainda quero, na verdade... – Cocei a bochecha sem graça. - Mas fiquei com medo do que você pensaria e como agiria se eu fizesse sem me explicar antes. – Olhei para ele e ele voltou a abraçar as pernas olhando para frente. – Eu não queria te afastar e nem que você pensasse que eu fiz aquilo por ter terminado com Piper, não tem nada a ver com isso. – Nico não respondeu e ficamos em um silencio constrangedor sobre nós, comecei a suar frio de nervosismo.

– Você esta falando serio? – Perguntou ele olhando para a grade de proteção. – Você realmente quis fazer aquilo, e não se arrepende? – Olhei para ele e, com receio, toquei seu rosto novamente, ele retesou o corpo e depois relaxou.

– Sim, eu falei muito serio sobre aquilo. – Nico se virou para mim. – Nico... O que você sente por mim? – Ele mexeu no anel de novo.

– Eu... Eu estou confuso... Desde que você ficou sabendo do que eu sou, você vem se aproximando mais de mim... E eu permito, nada me surpreende mais que isso. – Ele olhou em meus olhos. – Tem tão pouco tempo que te conheço, mas você consegue me fazer querer me abrir, mostrar quem eu sou realmente...

– Isso não responde propriamente minha pergunta. – comentei deixando a mão cair levantando uma sobrancelha e Nico riu.

–O que eu quero dizer, é que eu não sei...- disse ele mexendo no anel de caveira em seu dedo. - A amizade que temos hoje, o jeito que nos aproximamos... Tudo foi construído através das constantes mensagens de Iris que você me mandava... – Ele levantou os olhos para mim e umedeceu os lábios. - E as coisas foram tão rápidas desde que cheguei aqui, que eu não tive tempo, e nem sequer passou pela minha mente, pensar sobre isso... Achei que o jeito que me trata é o seu jeito natural com os amigos.

– Eu também achei, mas eu nunca me preocupei tanto com alguém como me preocupei com você Nico... O jeito que chegou aqui...- Fiz uma careta. – Eu fiquei tão preocupado quando te vi daquele jeito, foram dias que pareceram se arrastar ate que você abriu os olhos.

– Então... Tudo se baseia em preocupação? – Ele olhou para o espaço entre nós e ficou encarando a madeira.

– Não. Eu já me sentia próximo a você pelas mensagens, mas ver você interagindo comigo cara a cara como se realmente confiasse em mim, como você parece ser outra pessoa quando esta comigo, alguém mais aberto... Eu aos poucos fui me encantando por você e quer mais e mais disso... ate que comecei a me perguntar o que eu sentia, o que eu realmente queria...

– E o que você realmente quer? – Ele levantou os olhos para meu rosto.

– Eu não sei... Mas eu tenho uma ideia. – Ele franziu o cenho e eu mordi o lábio. – Nico, pode parecer estranho isso, mas... – Engoli em seco e cocei a nuca sentindo seu olhar em mim. - Você quer ter algo alem de amizade comigo? –Ele arregalou um pouco os olhos para logo desviá-los e se afastar um pouco. Mordi a bochecha e deixei o braço cair. – Como temos uma ideia do que sentimos, por que não tentamos ter algo? - Ele mordeu o lábio negando com a cabeça. Eu me sinto um idiota por propor isso, mas... Não tem por que não arriscar. Depois de alguns segundos angustiantes ele respirou fundo e voltou a olhar para mim.

– Quer dizer... Nos beijarmos? – Perguntou ele. Neguei com a cabeça.

– Não, algo alem disso. – estiquei a mão para seu rosto novamente, respirei fundo quando finalmente o toquei, ele não se afastou. – Eu quero cuidar de você Nico, não apenas te beijar, quero ser seu ponto seguro, quem te espera ate que volte...

– Quer ser meu lar, então? O lugar para onde poderei retornar? – Perguntou fechando os olhos para sentir melhor o toque no rosto, massageei suas bochechas com o polegar e senti sua respiração estava descompassada, me aproximei mais de seu rosto reunindo toda minha coragem.

– Quero ser o remédio que vai curar todas as suas feridas que teve ate esse momento... – Pude sentir meu nariz roçar no seu, sua respiração se misturar com a minha.

– Você já esta me curando há um tempo Jason...- Disse ele roçando seus lábios nos meus, e eu finalmente recebo a deixa e faço nossas bocas se encontrarem. Foi um beijo calmo, simples. Nos separamos e eu olhei em seus olhos. – Eu quero. – Ele disse por fim e me senti inundado por uma estranha felicidade. Nico acariciou meu rosto. – Eu quero tentar com você Jason... Não... Não tenho motivos para recusar. – Sorri para ele e beijei sua testa.

– Farei o possível para fazer você sorrir. – Eu disse e ele me olhou nos olhos e sorriu, aproximei nossos rostos novamente e o beijei, dessa vez com vontade e ele correspondeu a altura com as mãos em minha nuca, os dedos gelado me deram arrepios ao me tocar. Senti sua língua se enrolar com a minha em sua boca me dando sensações de prazer. Minha mão continuava em seu rosto e o levantei para aprofundar mais o beijo. Quando o ar se fez necessário nos separamos e o puxei para um abraço.

– Obrigado. – Disse ele em meu peito me abraçando pela cintura, beijei o topo de sua cabeça.

– Tendo uma relação amorosa ou não, sempre estarei com você Nico. Saiba disso. – Ele concordou com a cabeça.

– Você é quente Jason...- Observou ele. – É bom te abraçar... – Eu ri e o puxei mais para perto, ainda abraçados passamos a observar as estrelas.

Naquela noite, eu dormi na cama e ele no chão, mas mantemos nossas mãos unidas ate cairmos no sono.