[Percy]

–Nico!- Me agachei ao seu lado e o segurei pelos ombros ele arfava e tremia. – Você não pode continuar!

– Já estou quase lá Percy! –Ralhou me lançando um olhar de raiva. – Não vou desistir agora!

–Se você se matar tentando...

– Não fará diferença!- Rebateu ele me interrompendo, rangi os dentes e apertei seus ombros com força e ele mordeu o lábio apertando os olhos.

–Pare! – Gritei e ele me olhou suplicante.

– Por favor... Me deixe fazer isso Percy... Me deixe salvar vocês...- Engoli em seco e me senti sem forças, me deixei cair sentado ao seu lado e ele encarou a cratera enorme a nossa frente. – Vou conseguir...

– Mas... – Disse Annabeth mais afastada de nós, ela está se mantendo distante desde a hora que aquele gigante idiota me forçou a falar sobre os sentimentos de Nico, ela olhava para frente, em direção aos três gigantes que tentavam chegar até nós, sendo um deles Polibotes. – Precisamos de um meio para fazê-los entrar nesse buraco. – Ela olhou para nós e depois abaixou os olhos segurando o braço quebrado junto ao corpo. – Como iremos fazer isso?

– Primeiro, devo chegar ao tártaro, depois, veremos o que poderá ser feito. – Disse Nico ainda encarando o buraco, ele sorriu de lado. – Só tente não pular nele. – Ela levantou uma sobrancelha sem entender e ele deu um risinho, ela franziu o cenho e o encarou chocada.

– Não acredito que você fez essa piada idiota! – Disse espantada e com certa raiva.

– Desculpe, não resisti. – Ele riu mais um pouco e então entendi a piada, o olhei espantado e já ia censurá-lo, mas vê-lo sorrir... Me aqueceu o peito e somente balancei a cabeça negativamente sorrindo.

– Você ficou bem engraçadinho depois que começou a andar com Jason...- Comentei, ele respirou fundo e limpou o suor da testa. Olhei para Annabeth e ela olhava para frente novamente, seus olhos não tinham brilho e sua mão estava fechada com força, sua boca era uma linha fina.

– Jason...- Disse Nico e sorriu balançando a cabeça. – Ele é um idiota.

– A benção esta ajudando em alguma coisa? – Perguntei mudando de assunto, ele acenou que sim com a cabeça.

– Se não fosse por ela eu estaria desmaiado há muito tempo, não teria feito nem um décimo dessa cratera ou o caminho para o abismo... – Acenei com a cabeça e tateei o bolso em busca de contracorrente, a tirei de lá e a destampei, me coloquei de pé ao seu lado, olhei de relance para Annabeth e ela desviou o olhar de mim, sua boca tremeu por um segundo e ela fechou os olhos com força. Senti o peito doer, mas me mantive parado no mesmo lugar.

– Ela está se culpando? – Nico perguntou. – Ela acha que vou morrer e que a culpa será dela por ter me dito que seria a única maneira? – Ele me olhou e eu o encarei também.

– Mais ou menos, acho que é mais que isso... – Ele levantou uma sobrancelha e eu respirei fundo. – Te explico depois...

– E se não houver um depois? – Ele sorria e voltou a olhar para o buraco.

– Vai haver. – Retruquei com confiança, ele abriu mais o sorriso.

– Não pode ter tanta certeza assim Percy... Do jeito que as coisas estão... Eu vou cair dentro desse buraco quando acabar de abrir o caminho, e vocês estarão ocupados de mais salvando suas próprias peles dos gigantes e jogando eles ali para irem me salvar. – Rangi os dentes e o encarei, ele encolheu os ombros com o peso do meu olhar. – Desculpe, mas é a verdade...- Me agachei ao seu lado e virei seu rosto para me olhar, prendi meu olhar no seu e falei firme.

– Se você cair ali...- Apontei para o buraco. – Eu vou te segurar pela mão como você fez comigo. Se mesmo assim você cair e eu estiver lutando na hora, voltarei a entrar no tártaro, te procurarei pela eternidade se for preciso, mas não vou te deixar ou abandonar novamente. – Ele mordeu o lábio e eu soltei seu rosto voltando a ficar de pé. – Que você fique sabendo disso e não se esqueça. – Senti um arrepio e olhei em direção de Annabeth, ela tinha lagrimas nos olhos e mordia a boca, seus ombros tremiam pelo choro contido. Sussurrei um desculpe e ela desviou o olhar com a mão sobre a boca.

–Nico!- Ouvimos a voz de Hazel vir do alto e olhamos para cima, ela e Jason vinham voando ate nós com os olhos arregalados, Jason parecia ainda mais espantado que Hazel e olhava do buraco no chão para Nico admirado. Eles pousaram atrás de nós, Jason caminhou lentamente para mais perto e depositou a morena ao lado do irmão e se ajoelhou do outro, Nico o olhou e sorriu.

– Como foi a luta? – Jason o olhou sem reação e depois para o buraco.

– O-o que...- Gaguejou ele e Nico suspirou.

– Atena, disse que era o único jeito de vencer, abrindo um caminho para o tártaro. O único que pode fazer isso sou eu. – Jason olhou para Hazel e ela colocou a mão sobre a do irmão.

– Não é só você...Posso te dar uma forcinha? – Nico pareceu não saber como dizer não a irmã, Hazel sorriu e beijou seu rosto. – Você não precisa fazer isso sozinho, eu também sou filha do deus do mundo inferior, e sou uma dos sete. Devo participar disso. – Ele a olhou quase implorando para que ela se afastasse, ela devolveu o olhar determinada. – Vou te ajudar, você querendo ou não Nico. Você precisa de mim! – “ A garota tem razão.” A voz de Atena voltou a falar em minha mente e eu olhei na hora para Annabeth, que vinha andando a passos rápidos segurando o braço, seus olhos estavam vermelhos, mas tinham determinação.

– Como assim mãe? – Perguntou ela chegando mais perto. “ O caminho, seria melhor se a menina também participasse. Eu não havia a incluído por achar que ela seria necessária para derrubar a arvore, mas ao que parece, não é a função dela fazer aquilo.” – O que quer dizer? Hazel deve ajudar Nico? – Os olhos de Annabeth brilharam. – Não será necessário um...- “ Vai ser necessário sim.” A voz de Atena foi cortante em nossas mentes, Annie engoliu em seco e eu rangi os dentes.

– O que há com vocês? – Perguntou Jason nos olhando com curiosidade com a mão no obro de Nico o ajudando a equilibrar e não cair.

– Conferencia com Atena. – Respondi ríspido, ele crispou os lábios e voltou a falar algo com Nico que assentia. “Ainda precisarão de um sacrifício. O tártaro só irá se abrir se um semideus der a vida para isso.” Fiz uma careta. – Mas não precisa ser Nico certo? – Annie me olhou na hora e eu desviei o olhar do seu.

– Não precisa ser Nico, o que? – Perguntou Jason me olhando, o olhei de cima e senti uma pontada de raiva.

– Ser o sacrifício. – Esclareceu Nico e se virou para mim. – Mas mesmo não precisando ser eu, eu irei me sacrificar. – Jason abriu a boca e Nico deu uma batida de leve em seu peito com os nós do dedos. – Vai ter de ser assim, Jason. Vocês tem de destruir Gaia e derrotar os gigantes, eu não faço parte dos sete, eu posso me sacrificar sem afetar o equilíbrio disto. Abrirei o caminho para o tártaro com a ajuda de Hazel, cairei para a morte e ele me acolherá, vocês darão um jeito de jogar esses filhotes de Gaia la dentro junto comigo e derrotarem a branca de neve. – Ele sorriu para Jason, um sorriso que nunca havia visto em seu rosto, seus olhos se encontraram e Jason parecia ter levado um soco.

– Não vou permitir que faça isso. – Afirmou Jason se pondo de pé. Nico balançou a cabeça.

– Lembra da nossa conversa? – Jason o encarou com dor nos olhos. – Não te perdoarei se se intrometer nas minhas decisões. Eu decidi, eu o farei. Você vai assistir e vai me vingar matando Gaia. Fim. – “ Chaga de conversa.” Atena disse e Hazel passou a brilhar com uma luz pateada. “ diga a ela para se concentrar nas jóias, na terra. As pedras darão mais firmeza ao caminho e ao retira-las da frente o garoto terá menos problemas.”

– Hazel...- Disse Annabeth. - Tire as pedras e ajude Nico a abrir o comainho. - Ela assentiu e se apoiou também na espada de Nico. O chão tremeu debaixo dos nossos pés, um barulho alto de desmoronamento foi ouvido de dentro do túnel e ele passou a reluzir com pequenas pedras preciosas saindo de dentro da terra, todas com as pontas viradas para fora. A terra foi deslizando com mais intensidade e o buraco dobrou de tamanho, agora o maior dos gigantes poderia ser jogado deitado que passaria com folga.

– Como vamos fazer os gigantes caírem ali? – Perguntou Jason e eu já ia responder, mas ouvimos a voz de Piper ao longe. Sua voz parecia invadir toda a clareira como musica, era suave e a macia como veludo, agradava aos ouvidos, apurei a audição para ouvi-la melhor.

– Venham comigo! – Ela disse docemente e os gigantes olharam na direção da voz assim como nós. – Vamos visitar o pai de vocês, ele deve estar com saudades de seus filhos... – Os gigantes gêmeos bateram o punho concordando com ela. – Vamos, me sigam, eu irei com vocês ate lá...

– Piper...- Sussurrou Annabeth, e então uma onda de compreensão atravessou seus olhos novamente. – Ela não... Ela não pode fazer isso!

– Por que não? – Perguntei a olhando, ela em encarou seria.

– Ela vai pular no tártaro! Vai se sacrificar! – A encarei e depois acenei para Nico com a cabeça. Ela ficou vermelha e me encarou com raiva. – Você prefere ele a ela? – Perguntou ríspida.

– Prefiro todos os meus amigos vivos. Não tenho preferência com nenhum deles.

– Venham! – A voz de Piper estava mais perto, e pude ver um brilho rosa a nossa frente se aproximando devagar.

– O que essa louca está fazendo? – Perguntou Nico arfando. Hazel olhava para a direção de Piper com os olhos marejados.

– Alguém tem de impedi-la...- Disse ela.

– Eu vou. – Disse Jason se levantando e então ele estacou no mesmo lugar e olhou para Nico. Ele parecia entrar em conflito com si mesmo e apertou as mãos em punho ao lado do corpo, olhando para o chão e franzindo o cenho. – É injusto ter de me fazer escolher...

– Não há escolha Jason!- Gritou Nico. – Vá segurar aquela imbecil antes que ela se jogue!

– E deixar você cair?- Jason gritou de volta exasperado. – Tem noção do que está me pedindo? Faz alguma idéia?

– Eu tenho a noção de que ela tem mais o que fazer aqui, tem um lugar aqui, tem uma função! Eu não! Seria o melhor para todos se eu morresse! Agora...- Jason se agachou ao lado de Nico e deu um tapa estalado em seu rosto. Nico o olhou assustado e Jason deixou as lagrimas trasbordarem.

– Nunca mais diga isso. – Ele segurou o rosto de Nico entre as mãos. – Nunca mais diga isso... Você não tem noção de como me dói te ouvir dizer isso. – Nico desviou o olhar e se desvenciou do toque de Jason, voltou a olhar para o buraco.

– Não quero que nenhum de vocês morra se eu puder impedir...- Sussurrou com os ombros tremendo.

– Não queremos que você morra por nós. – Eu disse colocando a mão em suas costas, ele levantou a cabeça e encolheu os ombros. – Sua vida tem tanto valor quanto a nossa Nico, e você é um dos mais novos, não conhece nada da vida ainda, não podemos permitir que você faça isso...

– Mas... Vocês precisam de um sacrifício...

– Não precisa ser você. – Eu disse firme e me afastei dele. – Piper também não vai pular...

–Infelizmente Percy... Eu vou sim. – Piper estava parada na outra borda do abismo e os gigantes estavam atrás dela, pareciam felizes e excitados. Piper tinha o tênue brilho rosa da benção de sua mãe, estava vestida com uma toga branca perolada e seus olhos pareciam reluzir, estava linda, mais que o normal. Ela olhou para cada um de nós com doçura, se demorou no rosto de todos nós, mas fitou principalmente o de Jason.

– Você não pode...- Ele sussurrou.

– Posso e vou...- Ela sorriu. – Irei dar orgulho a minha mãe, me sacrificarei por amor... Pelo amor que sinto por todos vocês...- Ela encarou Jason. – Pelo homem que eu amo. – O rosto de Jason se contorceu em uma expressão de dor.

– Se você pular... Eu vou te pegar...- Disse ele convicto, mas ela balançou a cabeça.

– Você não vai Jason... Todos vocês ficaram aqui e não tentarão me impedir. – Senti meus músculos retesarem. – Vocês vão vencer Gaia...- Ela sorriu. – E nós nos encontraremos nos campos Elíseos no fim de tudo...

– Você não precisa morrer! Sua mãe...- Começou Annabeth, Piper a calou com um levantar da mão.

– Para abrir a passagem, meu sangue deve ser derramado sobre as pedras... Eu tenho que morrer, a energia da minha alma ira forçar a abertura e os gigantes cairão por ela... Minha mãe não pode fazer nada... Ela já me explicou todo o plano de Atena.- Piper abraçou o próprio corpo e olhou para Annabeth, seus olhos demonstravam medo e ao mesmo tempo convicção. - Eu não quero morrer Annie, não pense isso, mas... Se for por vocês... Eu vou feliz...- Annabeth já soluçava e Piper voltou a sorrir.

– Podemos fazer outro plano... Ninguém precisa...

– Eu preciso. Minha missão nesse mundo era essa, salvar vocês. Vencer os gigantes. Aceitar minha mãe, ver que o amor move montanhas e, acima de tudo, encontrar o amor verdadeiro pelo qual minha alma ansiou por todas as minha vidas... – Ela riu. – Mas no fim... Não era o amor que eu vivi. Agora eu enxergo isso...

– Vamos encontrar papai! – Disse Oto atrás de Piper, ela sorriu para ele e se virou para nós novamente.

– Obrigada pelos maravilhosos momentos. Obrigada por terem me mostrado que a vida e mais que simples caprichos e beleza física... O brigada por terem sido meus amigos e me permitido conhecer vocês. Eu sou grata... – Ela deu um passo a frente e senti meu coração parar no peito, eu soava frio, mas não conseguia me mexer. – Mas agora não temos tempo para despedidas... Adeus meus amigos... – Ela se deixou cair para frente, Annabeth gritou desesperada ao meu lado, o som pareceu um urro de dor e lagrimas escorriam sem controle de seus olhos suas mãos tremiam, estendi minha mão para ela e a puxei para mim, ela agarrou a frente de minha camisa e começou a gritar em meu peito o nome de Piper. Eu observei Piper afundar controlando a respiração, a vi fechar os olhos e abrir os braços, como se estivesse pulando sobre uma cama macia, ela gritou para os gigantes que a seguiram animados. Hazel gritava o nome da amiga da borda da cratera e Nico a mantinha a salvo a segurando pela cintura, ele lutava para segura-la ali e parecia estar sendo um esforço sem fim. Jason tinha o rosto uma expressão de dor descomunal, sua mão tremia e mais lagrimas saíram de seus olhos.

– Temos de fechar! – Gritou Nico. – Hazel!

– Piper!- Ela gritava para a amiga que já havia desaparecido, ouvimos um barulho de algo rachar de dentro do buraco e Nico puxou a irmã com força para traz, os dois caíram deitados de costas no chão, uma fumaça espessa saiu do buraco, tinha o cheiro ocre do tártaro, fechei os olhos para os proteger do veneno e minha mente foi inundada por aquelas imagens que me assombravam os pesadelos. Ouvi Jason gritar e abri os olhos na hora, ele havia sido jogado para longe com as explosões que aconteciam dentro da fumaça.

“ O sacrifício foi aceito, lamento semideuses, mas na guerra, nem todos saem vivos. Tenham isso em mente.” Atena disse em minha cabeça e eu rangi os dentes com ódio. Por que tínhamos que ser usados assim? Por que tínhamos que ser sacrificados como se nossas vidas não valessem nada! Amaldiçoei os deuses por todos os amigos perdidos em batalhas que não eram nossas, batalhas que os próprios deuses deveriam travar, já que eram os principais afetados.

– Eu... Eu...- Jason se levantava e secou as lagrimas do rosto com o punho cerrado, sua expressão agora era de ódio puro, o ar começou a ficar pesado e com estática. Caminhei ate ele e coloquei a mão em seu ombro.

– Vamos derrotar Gaia. – Ele me olhou e assentiu. – Nico...- Olhei para o chão e ele estava sentado arfando com Hazel ao seu lado igualmente caçada e desamparada.

– Eu dispenso. – Disse ele olhando preocupado para a irmã

– Percy! – Gritou Annabeth alarmada com a voz ainda rouca e olhei para frente, vi o ultimo dos gigantes se aproximar.

– Olá semideuses... Bom plano o de vocês... Seduzirem meus irmãos para que eles se jogassem no abismo. – O gigante riu. – Deixe-me me apresentar aos que não me conhecem, sou Porfírion, me oponho a Zeus, e vou matar vocês antes que minha mãe desperte. – Seu sorriso era maligno.