The Forest City escrita por Senjougaha
Notas iniciais do capítulo
Olarrrr!
Como vai você?
Já haviam se passado cinco dias desde meu encontro com Liam.
E quatro desde que Daniel começara a tentar interagir comigo de alguma forma.
Isso me deixava nervosa.
Ao mesmo tempo em que no fundo eu criava expectativas, eu odiava a ele e a mim por isso.
Eu estava com Liam e isso era tudo.
— Qual é o problema nisso? - Iria perguntou - você o queria, agora ele está visivelmente incomodado por você estar saindo com outro e você o ignora?
Cruzei os braços e encarei a janela.
Eu podia imaginar Daniel ali embaixo me encarando, tamanha estava sendo sua perseguição.
— Não estou usando Liam - respondi - eu não sou tão podre assim.
Ela bufou e se jogou na minha cama.
Minha mente tinha se cansado de perguntar sem parar “o que Iria faz na minha casa?” e “por que ela quer tanto que eu volte com ele?”.
— E Daniel não está incomodado - completei - só quer os holofotes para si.
— E? - ela retrucou - é sua chance.
— De correr pra ele e quando ele me ter, me rejeitar? - usei sarcasmo - não, obrigada!
— Selene, você está cega?! - ela se indignou.
— Não - me virei para ela, séria - pelo contrário, eu vejo tudo.
Era verdade.
Eu estava vendo coisas demais.
Como por exemplo a sombra de um lobo aos pés de Iria, ao invés de uma humanoide.
Mas já estava me acostumando.
Tapei meu olho negro com a franja e sorri para disfarçar.
— Cadê Yukina? - perguntei.
Iria deu de ombros.
— Não sou babá de gato - resmungou.
— Você veio aqui só pra me dizer com quem eu devo ficar? - perguntei, desconfiada.
Iria se levantou, sentindo-se ofendida.
— Sim, Selene - respondeu - é isso que amigas fazem: elas dão conselhos.
E saiu pela porta dando passos pesados.
Amigas?
Desde quando?
Franzi o cenho e cocei a cabeça, sem saber o que fazer.
Corri escada abaixo e a chamei.
— Iria!.
Mas ela não estava mais lá.
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Mais dois dias tinham se passado e agora Iria me ignorava.
Era, literalmente, como se eu não estivesse à sua frente tentando chamar sua atenção.
Bufei e me joguei na cadeira.
Daniel ainda não tinha chegado, então seu lugar estava vazio.
O que era incomum, o dragão nunca se atrasava.
Assim que finalizei o pensamento ele chegou e rapidamente se jogou ao meu lado.
Comecei a tentar resolver os exercícios, assinalando qualquer alternativa quando perdia a paciência.
Daniel pegou o lápis e o papel da minha mão, apagou algumas respostas e assinalou outras.
— Iria está preocupada com você - sua voz rouca deu a graça de sua presença.
Arrepiei.
— Por que? - perguntei e até ousei encará-lo.
Seus olhos avelãs encontraram os meus.
Minhas botas de vinil pareciam muito interessantes, atraindo minha visão.
Resisti ao impulso de desviar o olhar.
— Ela disse que você está sendo imprudente - respondeu.
Revirei os olhos.
— E você acha que estou? - perguntei.
Ele deu de ombros.
— Acho que não tem que se forçar a sair com alguém - ele disse.
— Não estou me forçando - eu disse entredentes - qual é o seu problema? Por que está me dando atenção do nada?
— Não sei - ele deu de ombros.
Revirei os olhos mais uma vez.
Tomei meu lápis e minha folha de volta e entreguei à Coraline, que passava recolhendo.
Peguei minhas coisas e saí da sala.
Eu pretendia dar uma volta sozinha e foi isso que eu fiz.
Senti vontade de comer sushi.
Rodei alguns quilômetros com a laranja berrante e parei no estacionamento do supermercado.
Eu checava se a porta estava de fato trancada quando ouvi uma voz familiar me chamar.
— Olá Selene - disse ela.
Me virei para trás.
Pedrita exibia um sorriso pontiagudo e dessa vez, não gostei dele.
— Ah, não tenha medo - ela abanou a mão - só viemos conversar.
— Viemos? - repeti.
De trás de outros carros surgiram homens.
Deixe-me colocar de uma forma melhor:
Homens de dois metros de altura, morenos e com a pele desenhada assim como a de Pedrita.
Desconfiada, fechei meu olho azul e os encarei apenas com o negro.
Me assustei, dei um passo para trás.
Alguns tinham os olhos totalmente negros, outros vermelhos e alguns, branco.
Seus dentes eram pontiagudos, ainda mais que os de Pedrita e seus pés eram de animais.
“São demônios”, a voz disse, soando preocupada.
“Ah, que reconfortante!”, respondi, sarcástica.
“Não corra, não tenha medo. Eles sentirão o cheiro”, alertou.
— Seu pai respondeu minha mensagem de uma forma não muito gentil - ela disse, tirando a poeira de um carro preto - achei bem ousado da parte dele.
Soltei um sorriso nervoso.
Eu me lembrava de quando deixei no espelho o recado de Pedrita escrito com batom.
“As hordas clamam pela princesa. O sacrifício deve ser feito”.
Não fazia sentido para mim na época, mas naquele momento tudo se encaixava.
Estava na hora de se conformar: meu pai era Delaryon, o rei dos demônios.
E eu era sua filha, sua princesa.
— Então - continuou Pedrita - eu pensei em dar uma resposta igualmente gentil, ou até mais.
Ela sorriu.
Senti algo no meu estômago querendo ser botado pra fora.
“Retiro o que eu disse, corra Sardene”, a voz se alarmou.
“O quê?”, me desesperei.
Encarei os olhos de Pedrita, que antes eu me simpatizava tanto.
Não mais.
“Corra!”, a voz repetiu.
Senti que eu não era eu mesma mais.
A voz.
Ela tinha tomado controle do meu corpo.
“Me devolve!”, mandei.
— Fique quieta, estou salvando nossa pele - ela respondeu em voz alta, usando o MEU corpo.
— Não pode correr de mim, Selene - Pedrita cantarolou e me seguiu caminhando.
Por onde ela passava os carros disparavam seus alarmes.
A barulheira era ensurdecedora.
Eu estava mais rápida.
Quero dizer, A Outra Selene estava.
Pelo reflexo de um carro pude ver meus olhos completamente negros com um anel prateado no meio.
“O que você é?”, perguntei mesmo já sabendo a resposta.
— Ora, Selene - senti o rosto sorrir - NÓS somos demônios. Eu sou você, você sou eu.
Corremos mais rápido.
Resolvi fazer mais perguntas depois, por ora apenas corríamos por nossas vidas.
O fato de que A Outra dependia de fugir disso tanto quanto eu me reconfortava.
Sentimos desespero, juntas, quando Pedrita estava a apenas alguns metros de distância.
Até que ela perdeu se cansou e nos alcançou.
Senti o abdômen ser atravessado.
Olhei para baixo.
Pedrita erguia nosso corpo no ar com as mãos atravessadas.
Tossi sangue.
Meu sangue. Ou seria nosso? Vermelho, quase negro.
— Eu disse que não podia fugir de mim - Pedrita sorriu.
Num ato de desespero fiz algo que talvez não devesse ser feito.
Eu o chamei.
Mental e desesperadamente.
“Daniel…”
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