The Forest City escrita por Senjougaha


Capítulo 73
Capítulo 73 - Infernizada


Notas iniciais do capítulo

Olarrrr!
Como vai você?



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Já haviam se passado cinco dias desde meu encontro com Liam.

E quatro desde que Daniel começara a tentar interagir comigo de alguma forma.

Isso me deixava nervosa.

Ao mesmo tempo em que no fundo eu criava expectativas, eu odiava a ele e a mim por isso.

Eu estava com Liam e isso era tudo.

— Qual é o problema nisso? - Iria perguntou - você o queria, agora ele está visivelmente incomodado por você estar saindo com outro e você o ignora?

Cruzei os braços e encarei a janela.

Eu podia imaginar Daniel ali embaixo me encarando, tamanha estava sendo sua perseguição.

— Não estou usando Liam - respondi - eu não sou tão podre assim.

Ela bufou e se jogou na minha cama.

Minha mente tinha se cansado de perguntar sem parar “o que Iria faz na minha casa?” e “por que ela quer tanto que eu volte com ele?”.

— E Daniel não está incomodado - completei - só quer os holofotes para si.

— E? - ela retrucou - é sua chance.

— De correr pra ele e quando ele me ter, me rejeitar? - usei sarcasmo - não, obrigada!

— Selene, você está cega?! - ela se indignou.

— Não - me virei para ela, séria - pelo contrário, eu vejo tudo.

Era verdade.

Eu estava vendo coisas demais.

Como por exemplo a sombra de um lobo aos pés de Iria, ao invés de uma humanoide.

Mas já estava me acostumando.

Tapei meu olho negro com a franja e sorri para disfarçar.

— Cadê Yukina? - perguntei.

Iria deu de ombros.

— Não sou babá de gato - resmungou.

—  Você veio aqui só pra me dizer com quem eu devo ficar? - perguntei, desconfiada.

Iria se levantou, sentindo-se ofendida.

— Sim, Selene - respondeu - é isso que amigas fazem: elas dão conselhos.

E saiu pela porta dando passos pesados.

Amigas?

Desde quando?

Franzi o cenho e cocei a cabeça, sem saber o que fazer.

Corri escada abaixo e a chamei.

— Iria!.

Mas ela não estava mais lá.

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Mais dois dias tinham se passado e agora Iria me ignorava.

Era, literalmente, como se eu não estivesse à sua frente tentando chamar sua atenção.

Bufei e me joguei na cadeira.

Daniel ainda não tinha chegado, então seu lugar estava vazio.

O que era incomum, o dragão nunca se atrasava.

Assim que finalizei o pensamento ele chegou e rapidamente se jogou ao meu lado.

Comecei a tentar resolver os exercícios, assinalando qualquer alternativa quando perdia a paciência.

Daniel pegou o lápis e o papel da minha mão, apagou algumas respostas e assinalou outras.

— Iria está preocupada com você - sua voz rouca deu a graça de sua presença.

Arrepiei.

— Por que? - perguntei e até ousei encará-lo.

Seus olhos avelãs encontraram os meus.

Minhas botas de vinil pareciam muito interessantes, atraindo minha visão.

Resisti ao impulso de desviar o olhar.

— Ela disse que você está sendo imprudente - respondeu.

Revirei os olhos.

— E você acha que estou? - perguntei.

Ele deu de ombros.

— Acho que não tem que se forçar a sair com alguém - ele disse.

— Não estou me forçando - eu disse entredentes - qual é o seu problema? Por que está me dando atenção do nada?

— Não sei - ele deu de ombros.

Revirei os olhos mais uma vez.

Tomei meu lápis e minha folha de volta e entreguei à Coraline, que passava recolhendo.

Peguei minhas coisas e saí da sala.

Eu pretendia dar uma volta sozinha e foi isso que eu fiz.

Senti vontade de comer sushi.

Rodei alguns quilômetros com a laranja berrante e parei no estacionamento do supermercado.

Eu checava se a porta estava de fato trancada quando ouvi uma voz familiar me chamar.

— Olá Selene - disse ela.

Me virei para trás.

Pedrita exibia um sorriso pontiagudo e dessa vez, não gostei dele.

— Ah, não tenha medo - ela abanou a mão - só viemos conversar.

— Viemos? - repeti.

De trás de outros carros surgiram homens.

Deixe-me colocar de uma forma melhor:

Homens de dois metros de altura, morenos e com a pele desenhada assim como a de Pedrita.

Desconfiada, fechei meu olho azul e os encarei apenas com o negro.

Me assustei, dei um passo para trás.

Alguns tinham os olhos totalmente negros, outros vermelhos e alguns, branco.

Seus dentes eram pontiagudos, ainda mais que os de Pedrita e seus pés eram de animais.

“São demônios”, a voz disse, soando preocupada.

“Ah, que reconfortante!”, respondi, sarcástica.

“Não corra, não tenha medo. Eles sentirão o cheiro”, alertou.

— Seu pai respondeu minha mensagem de uma forma não muito gentil - ela disse, tirando a poeira de um carro preto - achei bem ousado da parte dele.

Soltei um sorriso nervoso.

Eu me lembrava de quando deixei no espelho o recado de Pedrita escrito com batom.

“As hordas clamam pela princesa. O sacrifício deve ser feito”.

Não fazia sentido para mim na época, mas naquele momento tudo se encaixava.

Estava na hora de se conformar: meu pai era Delaryon, o rei dos demônios.

E eu era sua filha, sua princesa.

— Então - continuou Pedrita - eu pensei em dar uma resposta igualmente gentil, ou até mais.

Ela sorriu.

Senti algo no meu estômago querendo ser botado pra fora.

“Retiro o que eu disse, corra Sardene”, a voz se alarmou.

“O quê?”, me desesperei.

Encarei os olhos de Pedrita, que antes eu me simpatizava tanto.

Não mais.

“Corra!”, a voz repetiu.

Senti que eu não era eu mesma mais.

A voz.

Ela tinha tomado controle do meu corpo.

“Me devolve!”, mandei.

— Fique quieta, estou salvando nossa pele - ela respondeu em voz alta, usando o MEU corpo.

— Não pode correr de mim, Selene - Pedrita cantarolou e me seguiu caminhando.

Por onde ela passava os carros disparavam seus alarmes.

A barulheira era ensurdecedora.

Eu estava mais rápida.

Quero dizer, A Outra Selene estava.

Pelo reflexo de um carro pude ver meus olhos completamente negros com um anel prateado no meio.

“O que você é?”, perguntei mesmo já sabendo a resposta.

— Ora, Selene - senti o rosto sorrir - NÓS somos demônios. Eu sou você, você sou eu.

Corremos mais rápido.

Resolvi fazer mais perguntas depois, por ora apenas corríamos por nossas vidas.

O fato de que A Outra dependia de fugir disso tanto quanto eu me reconfortava.

Sentimos desespero, juntas, quando Pedrita estava a apenas alguns metros de distância.

Até que ela perdeu se cansou e nos alcançou.

Senti o abdômen ser atravessado.

Olhei para baixo.

Pedrita erguia nosso corpo no ar com as mãos atravessadas.

Tossi sangue.

Meu sangue. Ou seria nosso? Vermelho, quase negro.

— Eu disse que não podia fugir de mim - Pedrita sorriu.

Num ato de desespero fiz algo que talvez não devesse ser feito.

Eu o chamei.

Mental e desesperadamente.

“Daniel…”


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Notas finais do capítulo

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