The Forest City escrita por Senjougaha


Capítulo 74
Capítulo 74 - Socorrida


Notas iniciais do capítulo

Olá!
Tudo bem com vocês?
Espero que gostem do capítulo, eu caprichei na ação hihi ♥
Beijos



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Acordei sentindo minha garganta seca e tossi.

Tentei me levantar, mas meus reflexos me fizeram parar no ato.

Acima da minha cabeça havia um estalactite escuro e pontudo.

Me senti zonza e meu estômago ardia.

Passei a mão na barriga e me lembrei de que Pedrita me sequestrara no estacionamento do supermercado.

Franzi o cenho.

Quando eu achava que não podia mais me surpreender…

O ar que entrava nos meus pulmões era denso e quente.

Pensei que o chão fosse feito de pedras irregulares, mas ao tatear enquanto engatinhava notei que não era o caso.

Era como… Lava endurecida?

Consegui sair debaixo do estalactite do mal e me levantei.

Bati as mãos nas minhas roupas para tirar a sujeira, um costume que era totalmente inútil no momento, mas que me acalmava um pouco.

“Sabe onde estamos?”, perguntei.

A voz não respondeu.

Revirei os olhos e mentalmente a praguejei.

Andei por um túnel que parecia um labirinto de estalactites e estalagmites, desviando, pulando e me agachando.

“Você precisa me aceitar agora”, a voz disse.

Analisei seu tom e não detectei nenhum sarcasmo.

“O que quer dizer?”, perguntei.

“Não temos tempo pra explicações”, ela respondeu “querem nos oferecer como sacrifício para reviver o clã dos demônios que foi quase extinto”.

“Eu me conformo com você aqui, isso não basta?”, perguntei sem entender.

“Nós deveríamos ser uma só”, ela disse “você precisa reconhecer que é um demônio também, precisamos nos fundir! Nós somos separadas pela sua incredulidade, sequer eu devia ser uma voz na sua cabeça”.

Não fazia sentido algum, mas se aquilo salvaria minha pele não custaria tentar.

Só tinha uma pergunta que não se aquietava em minha mente.

“Você vai ser o que sempre foi, mas nossas personalidades vão se fundir”.

Não respondi.

Fundir?

Eu nem sabia como fazer aquilo.

Continuei andando com o cuidado para não torcer meu pé.

— Onde diabos eu estou? - perguntei pro nada.

O eco me assustou.

Como se o lugar tivesse reagido ao som da minha voz, o chão diante de mim se abriu e por pouco eu não consegui me equilibrar e cai.

No abismo de lava que surgiu do nada.

Pensei que fosse minha imaginação quando vi mãos magricelas e trêmulas saírem do rio laranjado e luminescente, mas não era.

Realmente tinham mãos ali, como se quisessem sair.

Como se precisassem ser libertas.

E apontavam seus dedos em minha direção.

Me lembrei do sonho, onde meu pai era requisitado e quase desafiado.

— Selene! - ouvi sua voz gritar.

Olhei para frente.

Do outro lado do abismo meu pai se encontrava quase nu, fortemente acorrentado e sendo segurado por dois demônios que foram atrás de mim com Pedrita.

— Que reencontro tocante - ela surgiu, fazendo beicinho e lixando as unhas.

Sua pele morena e cheia de arabescos estranhos brilhava a cada vez que uma lufada de ar quente subia.

Eu engasgava e ela parecia majestosa.

Irônico, como tudo na minha vida.

Ela foi até meu pai e passou as garras em seu peitoral definido, não se importando em deixar um rastro de sangue e cortes profundos.

Meu pai sequer fez careta.

Seus olhos estavam fixos em mim e totalmente preocupados.

Vermelhos.

Mas de um vermelho totalmente diferente do de Liam, não havia pupila.

Duas órbitas completamente sangrentas.

— Você vai pagar! - ele rugiu.

— Oh, meu senhor Delaryon - ela sorriu - o que eu faço é pelo bem do povo.

Pedrita estalou os dedos e a lava subiu.

Ia em minha direção com velocidade máxima e eu podia sentir cada vez mais alto as crepitações, gemidos, gritos e estalos que com ela vinham.

Meu corpo estava quente demais.

Eu morreria antes mesmo de a lava me tocar.

Era aquele meu fim?

Eu ainda tinha muito o que papear com Yukina e descobrir o que Iria queria comigo.

Tinha que sair mais vezes com Liam e esquecer Daniel.

Não queria morrer amando o dragão.

Levantei a mão.

Meu corpo fervilhou e pela primeira vez em toda minha vida eu senti como se eu fosse..

Eu mesma.

A lava não me tocou.

Se aproximou de mim por cinco centímetros e o calor era insuportável.

Eu podia sentir o cheiro de cabelo queimado, provavelmente o meu.

Fechei a mão que estava no ar e a lava voltou para seu devido lugar.

— Eu não dou a mínima pro que você quer comigo ou com meu pai - eu disse - mas não estou afim de participar, você vai me desculpar.

Lhe dei um sorriso falso e invoquei sombras.

Pedrita bateu palmas, fingindo surpresa.

— Tal pai, tal filha - ela disse.

Tomei uma sombra para mim e a fiz foice.

Criei coragem e pulei no abismo.

Me desesperei quando eu estava quase tocando a lava, mas as outras sombras me levantaram e eu pude atravessar até o outro lado.

— Onde aprendeu isso? - meu pai perguntou, parecendo esquecer que precisávamos sair dali.

— Com prática - respondi somente, resistindo ao impulso de contar toda a verdade.

Os demônios que seguravam as correntes do meu pai não sabiam o que fazer: se o soltavam para lutar ou se fugiam, largando Pedrita para trás.

Me distraí pensando no que fazer e senti as mãos fortes da guardiã da floresta agarrarem meus braços e me arrastarem para a beirada do precipício.

Sentia meu corpo me desobedecer, como se tivesse entrado em transe.

Onde estavam meus poderes demoníacos quando eu mais precisava deles?

— Hoje é o dia, meus irmãos! - ela gritou, convencida.

Pude ver algumas pessoas surgirem das sombras.

Olhos vermelhos, negros, amarelos…

Peles de todas as cores e chifres de todos os tamanhos.

Pareciam humanos, mas meu olho negro os via perfeitamente bem.

Era horrendos.

Pedrita amarrou minha mão com uma corda úmida e pegajosa.

Meu corpo continuava paralisado.

— O dia em que nós sairemos das sombras, sairemos das profundezas da escuridão e mostraremos aos mundos o que é poder e superioridade! - ela continuou.

Eu podia ouvir meu pai lutar contra as correntes.

As criaturas que saiam cada vez mais rápido das sombras gritaram, eufóricas.

— Tolos! Não a ouçam! - Delaryon gritou, fazendo as cavernas tremerem e os demônios se calarem - um destino pior ainda os aguardam se saírem de onde estão!

— Seu rei foi corrompido pela sociedade humana - Pedrita continuou, sorrindo - mas assim que o sacrifício de sangue real for feito, tudo será como deve ser. COMO SEMPRE DEVERIA TER SIDO!

Ela me curvou sobre o precipício e fez um corte profundo no meu ombro.

Pude ver o filete de sangue escorrer e cair na lava com um chiado.

Os gemidos e gritos aumentaram e as mãos se concentraram num só lugar, cavando a lava em busca do sangue perdido.

— Não vêem? - ela disse, triunfante - é sacrifício genuíno.

Meu pai chacoalhava as correntes e rugia, tentando se soltar.

— O sacrifício foi feito - Pedrita disse solenemente e me empurrou.

Eu queria ter podido gritar.

Você pode pensar que morrer gritando daria o gostinho da vitória ainda melhor para Pedrita, mas a verdade é que quando você está numa situação assustadora e ninguém pode te ouvir, a coisa fica mais assustadora ainda.

Meu corpo ainda estava imóvel e a corda pegajosa estava prendendo minha circulação.

Fechei os olhos.

Sabe aquele negócio de flashback? Onde quando você está prestes a morrer todas as suas memórias passam feito slides da aula de História, bem na sua mente?

Então.

É mentira.

Tudo o que eu pude ver nesses slides foram possibilidades.

Meus possíveis futuros.

É incrível como tudo passa rápido, tanta informação que seu cérebro processa como nunca processou na sua vida inteira.

Você poderia facilmente ter um curto no cérebro e morrer ali mesmo, disso.

Pude me ver vivendo normalmente sem descobrir que era uma elfa ou demônio.

Pude ver eu descobrindo o que era, mas tendo um final feliz com Daniel.

Uma filha (desejo oculto sendo revelado).

Solara e Seth sorrindo.

Yukina se reconciliando com sua irmã rabugenta.

Muitas coisas.

Como se fossem mundos paralelos onde minha história tinha versões diferentes, foi isso que eu vi.

Nada de passado.

Minha queda era eterna, uma câmera lenta forçada.

Consegui fechar os olhos, foi o único comando que meu corpo obedeceu.

Um som gutural fez com que eu os abrisse novamente. A lava abaixou alguns metros de altura e as mãos que tentavam me agarrar a todo custo se retraíram.

Pedaços de cavernas foram jogados ao ar e temi que fosse enviada à morte mais cedo caso um deles me acertasse.

Olhei para cima.

Olhos dourados.

Asas metálicas de cerca de 3 metros de altura (e não me pergunte quantos de largura, eu estava ocupada morrendo).

Um corpo coberto por escamas igualmente douradas que eu sentia falta de abraçar.

E chifres sobressaindo os cabelos negros e familiares.

Daniel.

Ele tinha… Um rabo? Longo e dourado, com esporos que iam até suas costas.

Presumi que Daniel estava limitado e o máximo que conseguiu se transformar fosse naquela versão humanóide de dragão dourado.

Parecia furioso.

Ele olhou para baixo e me encontrou rapidamente.

Bateu suas asas gigantes e entrou no vale, me pegando pelos braços com suas mãos cheias de garras.

Senti dor, mas não reclamei.

Embora parecesse que meus braços estivessem sendo arrancados lentamente.

Daniel me deixou no solo e me escondeu atrás de suas asas.

Eu estava bem próxima de uma das garras que as pontas de suas asas tinham, mas decidi confiar no que ele fazia.

— Pensei que com aquele brinquedinho você estaria fora de jogo para não me atrapalhar - Pedrita rosnou - me enganei.

Ela tinha me enganado, disso eu sabia.

Mas me dar conta de que nem mesmo na troca de favores ela fizera por bem…

Fiquei enfurecida.

— Fique onde está - a voz gutural e ao mesmo tempo rouca de Daniel ordenou.

Eu sequer havia me mexido…

— Vamos fazer um acordo - Pedrita propôs - eu te devolvo sua grandiosa forma original e você me dá a princesa.

Daniel cruzou os braços e pareceu pensar.

Não me surpreendi.

Realmente era uma troca boa para ele.

Totalmente favorável.

Fechei os olhos e esperei ele dizer o “sim”.

— Tenho uma proposta melhor - ele disse.

Abri um dos olhos e espiei por uma brecha em sua asa.

— Você morre e eu dou o fora daqui - ele sorriu e abriu a boca.

Daniel soprou.

O que saiu da boca dele…

Era fogo e ouro derretido?


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