The Forest City escrita por Senjougaha


Capítulo 57
Capítulo 57 - Oferecida


Notas iniciais do capítulo

Mil desculpas pela demora! Tá tudo bem corrido pra mim.
Mas eis um capítulo maiorzinho heheh.
Já peço desculpas se tiverem erros de digitação.



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Me joguei na cama, exausta.

“Revelações demais por hoje”, pensei comigo mesma, quase com desgosto.

Me virei e achatei o travesseiro contra o rosto. Mordi o lábio inferior que tremia involuntariamente.

~Flashback

– Eu te conheci quando criança - Daniel confessou - devia ter o quê? Quatro, cinco anos?

– Eu não me lembro de você - ergui a cabeça e protestei, franzindo o cenho.

– É claro que não lembra - ele revirou os olhos - Ele jamais te deixaria com uma lembrança dessas.

Me recusei a perguntar quem seria “Ele”.

Talvez eu não quisesse saber das coisas tanto assim. Já sabia o suficiente.

Daniel deu de ombros como se não soubesse mais o que dizer depois daquilo, deu as costas e foi à cozinha.

Pude ouví-lo mexer nas louças freneticamente e agradeci aos céus por conhecer o dragão o suficiente para saber que se tratava de uma forma de se distrair. De conter o nervosismo e não perder o controle.

Respirei fundo, me levantei e fui atrás dele.

Umedeci os lábios enquanto pensava no que dizer. Quando abri a boca, fui interrompida.

– Está tudo bem, na verdade - ele disse ainda de costas, mexendo nas louças da pia - nem todo segredo deve ser guardado pra sempre.

Assenti e o abracei de costas. Ele ficou ali, parado. Até que me abraçou de volta.

~Flashback off

Passei as mãos no rosto e me sentei.

– Selene! - ouvi meu pai chamar, provavelmente do primeiro degrau da escada - o jantar está pronto.

– Já estou indo - respondi sem fazer esforço algum para falar alto.

Me levantei num pulo, calcei minhas pantufas sem graça alguma e desci.

O cheiro de queijo derretido invadiu meu olfato e me senti uma escrava da lasanha quando segui o aroma até chegar ao forno do fogão e me agachar para encarar a massa recheada dourando ali dentro.

Atrás de mim meu pai riu e não deixei de sorrir junto ao vê-lo pelo reflexo do vidro.

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– Saia na janela - ouvi uma voz sussurrar do lado de fora da casa.

Já estava acostumada a ouvir com detalhes todos os sons que a casa fazia, os galhos da árvore velha que insistiam em bater na minha janela noite e dia, o vento sussurrante que carregava folhas consigo e os sons da floresta que pareciam me chamar.

Mas vozes e sussurros não.

Me levantei sobressaltada e fiquei com um pé para fora da cama, encostando levemente no chão gelado. Indecisa, se devia ir ou não.

Não tinha reconhecido aquela voz.

– Selene, pelo amor aos céus - a voz se irritou - sou eu, Liam.

Abandonei qualquer hesitação e abri a janela, sentindo uma lufada de vento frio me atingir.

– Oi - cumprimentei surpresa e animada.

– Oi - ele respondeu e sorriu.

Liam colocou a mão no bolso, sem jeito. Se fosse humano, provavelmente estaria corado.

– E então…? - incentivei.

– E então o quê? - ele perguntou.

– Não vai me dizer o que quer na minha janela às… - olhei para trás e avistei o relógio - cinco e quarenta e três da madrugada?

Uma risada sem graça saiu de seus lábios e pude avistar os caninos brancos no escuro.

– Sei lá - ele respondeu e deu de ombros.

Franzi o cenho.

– Vou pular - avisei.

Liam abriu espaço para que eu pousasse.

Na verdade, eu deveria pousar, mas acabei quase capotando. Minha forma mais humana não tinha a mesma graciosidade que a elfa.

Ou melhor, eu estava acostumada a fazer algo mais atlético em minha forma élfica.

Sendo assim, Selene era a mesma sedentária de sempre em sua forma humana.

– Está tudo bem aí? - Liam perguntou rindo pelo nariz.

– Está tudo ótimo - respondi cruzando os braços par ame proteger do frio.

– Certo, vamos dar uma volta - ele propôs enfiando as mãos nos bolsos traseiros da calça.

Assenti e me xinguei mentalmente por não ter pegado algum cachecol. Serviria para me proteger do frio e evitaria o olhar sedento que Liam direcionava à minha clavícula.

– Está com sede? - perguntei.

– Eu sempre estou - ele riu com amargura.

– Como funciona o lance da transformação? - perguntei, curiosa.

– O que quer dizer? - ele franze o cenho, ficando tenso.

– Só precisa morder? Ou tem algum ritual de magia negra envolvido? - Liam revirou os olhos e riu.

– Eu meio que estava desacordado quando aconteceu, então não sei - ele respondeu, ainda com humor.

– Oh - me senti mal - desculpe.

– Sem problemas - ele deu de ombros - Daniel faz piadinhas o tempo todo, isso é o de menos.

Torci o nariz. Daniel era uma pessoa anti-social se tratando de seres externos, um namorado misterioso e um parente atencioso.

Mas com Liam ele se tornava sarcástico, zombeteiro e cruel. Eu não precisava estar sempre lá para saber que era assim.

Suspirei.

– Eu não sei por qual motivo ele age assim com você - confessei - mas não se importe, ele deve ter alguma razão plausível.

– É. - Liam respondeu somente.

– Bom, eu espero que seja plausível - arqueei a sobrancelha para mim mesma.

– Não se incomode com isso - ele faz um gesto com as mãos, irritado.

Andamos em silêncio por algumas quadras até eu parar no caminho, com uma pergunta brotando na minha mente.

– O que está rolando entre você e a Yukina? - perguntei.

Liam piscou. Piscou ainda mais até que compreendeu o sentido da pergunta e desviou o olhar.

– Nada - ele respondeu seco.

– Como nada? - repeti franzindo o cenho - vocês andam bem próximos…

Liam suspirou.

– Olha, Selene - ele começou com seriedade nos olhos que ficaram vermelhos no escuro - não quero te desencorajar a se relacionar com essa gente nem nada, mas eles não são o que você pensa. Ninguém que você conhece é.

– O que quer dizer? - perguntei e coloquei a franja atrás da orelha, rebelde e esvoaçante devido ao vento.

– Eles estão pouco se fodendo pra mim - Liam perde a paciência - e eu não me importo com isso de verdade, mas não suporto ver você acreditando que ligam pra qualquer pessoa que não sejam eles mesmos e por algum motivo, você.

Olhei para baixo, para os meus pés descalços e cintilantes à luz fraca da lua.

– Eu sei - soltei num sussurro - não preciso que me lembre disso o tempo todo.

– Por que ainda está aqui? - ele pergunta subitamente.

O encaro confusa.

– Seu lugar é com sua mãe - ele completa.

– Quem decide isso sou eu - respondo rispidamente.

– Selene você ainda é ingênua - ele se aproxima e sussurra no meu ouvido.

Eu pude sentir seu hálito metálico de sangue. Mas não me enojei ou me afastei.

– Tão ingênua quanto fui quando humano - ele continuou, enrolando meu cabelo no dedo - queria que continuasse assim, mas precisa abrir os olhos e repensar algumas decisões pela sua vida. Você está cercada de monstros e ainda insiste em levar uma vida mortal com os piores.

Senti que aquilo não era apenas sobre minha família. Liam pedia para que eu reconsiderasse toda a minha vida, incluindo minhas decisões sobre Daniel. Aliás, principalmente sobre ele.

Me afastei com algum esforço. Liam tinha toda aquela aura vampiresca e apesar de não ser tão bonito quanto livros e filmes diriam que vampiros devem ser, Liam era atraente. Sempre fora, mesmo humano.

E ali, com suas presas pontiagudas sorrindo de forma triste para mim, estava muito mais. Como um campo magnético que atraía suas vítimas.

– Eu… - tentei dizer algo mas minha mente era um completo quadro branco.

O vento ficou mais forte e meus cabelos voaram para frente, acertando o rosto dele. Liam colocou a mão sobre a boca e se afastou mais ainda, como se estivesse aflito de dor.

– Devo ir embora agora - ele se apressou.

Como se fosse uma zombaria do destino, um grupo de adolescentes humanos e bêbados parou na esquina. Riam, se agarravam e bebiam ainda mais. Pude ver as mãos de Liam se fecharem em punhos nos bolsos da calça. Suas veias negras e roxas ficaram saltadas e seus caninos pareceram crescer ainda mais. Os olhos vermelhos brilharam de excitação e a boca se retorceu em repreensão a si mesmo pelo desejo insano.

– Liam - chamei, preocupada.

– Vá embora agora Selene - ele respondeu frio.

– Se eu for, você vai matá-los? - perguntei me sentindo muito idiota.

Liam me encarou com fúria.

– E se não for, esse seu pescocinho prateado é que vai ser rasgado - ele rosnou e me empurrou para longe.

Me irritei. Pude sentir minha transformação, mas não liguei nem um pouco. Adolescentes humanos e bêbados me verem daquele jeito era minha ultima preocupação no momento, considerando que salvaria suas vidas.

Arrastei Liam até chegarmos atrás de uma lixeira, e digo que ele facilmente se livraria de mim, se não estivesse lutando contra seu demônio interior.

Coloquei o cabelo para o lado e o encarei de forma séria.

– Beba.

Liam me encarou boquiaberto e depois cobriu as presas com a mão.

– Ficou maluca? - ele exclamou.

– Daniel vai te matar se atacar algum humano - insisti.

– E vai me matar lentamente se eu morder você - ele revira os olhos.

Ao fazer isso, veias escuras surgiram no seu rosto e pude ver uma garra crescer no seu dedo mindinho.

– Liam - implorei - por favor.

Ele me encarou contrariado e antes que eu pudesse insistir mais, agarrou meu cabelo e mordeu meu pescoço.

– Nós dois vamos nos arrepender disso, Selene - ele murmurou enquanto sugava meu sangue.

Não senti dor. Nem prazer, como os livros e filmes dizem que a saliva de um vampiro transmitiria à sua vítima. Na verdade, naquele momento eu estava pensando em como aquilo era idiota. Quase revirei os olhos.

– Liam, já chega - consegui dizer com a voz em tom normal.

Ele gruniu, mas não parou.

– Eu disse que já chega - repeti com voz severa e me afastei dele.

Quando perdemos o contato físico, Liam despertou.

Seus olhos vermelhos se arregalaram e sua boca manchada de sangue se abriu num “o” horrorizado.

E ele sumiu.


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