The Forest City escrita por Senjougaha


Capítulo 56
Capítulo 56 - Relembrada


Notas iniciais do capítulo

Alguém reparou na capa nova uhu! ♥
Narrado por Daniel.



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– Quando foi que nos vimos pela primeira vez? - Selene perguntou e piscou, parecendo confusa com a própria pergunta.

O copo em minha mão se fez em estilhaços e e engoli em seco.

Fechei os olhos com força e respirei fundo.

– Do que está falando? - Yukina apareceu subitamente, tentando ajudar.

Selene pareceu desconfiada. O surgimento da minha prima só tornara tudo ainda mais desconfiável e o olhar fuzilador que lancei à Yuki fez com que ela desse de ombros, simplesmente.

Seth revirou os olhos e saiu da sala. Não é preciso dizer que, como um cachorrinho, Solara o seguiu casa afora.

Yukina se jogou no sofá e ficou ali, encolhida. Provavelmente pensava em uma maneira de desviar o assunto.

Mas não dava pra esconder por tanto tempo que acompanhei a vida toda de Selene.

Eu a vi crescer. A vi se transformar em uma garota que não se importava com nada na vida. Soube desde que a vi - e principalmente, depois que vi seu pai - que ela não era humana. Não era certa a sua raça, mas definitivamente Selene nunca fora humana. Mas devia viver como uma, pois tinha a chance.

Mas não vivia. Era como um diamante bruto que diante de nada se abalava.

E só depois de ter descoberto sua imortalidade que Selene se viu humanizada.

Totalmente o inverso de nós.

Selene era um enigma.

Flashback

Ouvi uma voz infantil cantar.

Não era uma canção infantil. Criança alguma devia cantar aquilo.

Aquele era o mundo humano? Fora naquele mundo que fui concebido? Crianças cantavam aquele tipo de música?

Agucei minha audição.

Estava cansado, com fome e decadente, mas a voz me era hipnotizante e era incrível a indignação que me causava ouvir alguém tão pequena cantar desgraças.

– [...] uns morreram outros vivos estão, outros navegam no mar com as chaves da prisão e o diabo de prontidão.

Os passos que supus serem femininos pararam.

Segui de onde vinha a cantoria e me agachei, escondido entre as folhagens enegrecidas e cobertas de neve. Eu provavelmente não teria conseguido me manter oculto ali se não tivesse usado um feitiço que Yuki me ensinara, um feitiço de camuflagem. Às vezes ela podia ser útil.

Era uma garotinha pálida. Sua franja rente à testa cobria metade de seus olhos e a sombra projetada por ela não me permitir sequer deduzir qual a cor deles.

A garotinha se abaixou na neve e estendeu a mão para algo.

Resolvi tirar os olhos da pequena e ver a quem se dirigia. Uma fada se empoleirou no indicador da garota, que sorria satisfeita.

Franzi o cenho e semicerrei os olhos. À primeira vista, se parecia humana. Mas seus dentes levemente pontiagudos assim como os lóbulos de suas orelhas indicavam que não era. Alguém a criava como uma.

Saí do esconderijo e fiquei frente à ela.

Seu pequeno rosto pálido se ergueu com esforço para que conseguisse me enxergar.

A franja se distribuiu para os lados e para cima. Finalmente pude ver a cor dos olhos da garota.

Não foi possível conter minha surpresa ao constatar que eram diferentes. Um era tão negro quanto o fundo de um poço cheio de segredos. O outro era de um azul cristalino como o mar, e temia me afogar se encarasse por tempo demais.

– O que é você? - ela perguntou e sua cabecinha se inclinou para o lado.

Olhei à minha volta. Ela estava falando comigo?

Eu ainda estava camuflado. Invisível, melhor dizendo. E em minha forma transitória de humano para dragão.

– Estou falando com você - ela se irritou e cruzou os bracinhos, fazendo uma carranca brava.

Hesitei antes de mexer com a garota. Se alguém a criava como humana, a queria longe do mundo imortal. Sendo assim, se eu me relacionasse com ela apenas uma vez sequer, arruinaria as boas intenções que eram direcionadas à pequena.

– Qual é o seu nome? - perguntei.

Só isso. Eu disse a mim mesmo que saber seu nome bastaria.

Aquele pequeno rosto não me sairia da memória tão cedo assim, tampouco seu nome.

– Meu nome é Selene - ela respondeu de prontidão, sem desconfiar ou questionar, o que fez com que eu me sentisse mal.

Qualquer um que passasse por ali com más intenções poderia enganá-la.

– Está sozinha? - perguntei, tentando não parecer suspeito para não assustá-la.

Ela assentiu.

– Vou te levar até a sua casa, vem - eu a chamei, estendendo a mão.

A pequena Selene pegou minha mão e um choque passou pelo meu corpo.

Não, não foi do tipo de choque elétrico que surge quando duas pessoas são atraídas.

Foi um choque mesmo.

Imediatamente, me afastei dela assustado.

– Por que fez isso? - perguntei já enraivecido.

– Eu não fiz nada - ela piscou confusa e afastou a franja dos olhinhos bicolores.

– Selene - uma voz retumbante a chamou.

A garotinha olhou para tras e exibiu o sorriso mais lindo do mundo humano. Provavelmente, o mais lindo de todos os mundos.

Mas não fora direcionado à mim.

Um homem com aparência de aproximadamente 30 anos surgiu. Seus olhos eram verdes e tentavam transmitir amor e carinho.

Na verdade, transmitia. Mas apenas quando estavam direcionados à pequena Selene.

Para qualquer lugar onde olhasse, seu olhar se transformava em ódio e pura escuridão.

Semicerrei os olhos. Se Yukina estivesse ali, com certeza leria a aura daquele indivíduo e a definiria como maligna.

– Já disse para não falar com estranhos - ele disse num tom carinhoso e repreendedor.

– Sim, papai - ela concordou e olhou para mim, mostrando a língua.

O homem pegou a garotinha no colo e me encarou.

Seus olhos verdes transitaram para um vermelho sangue, mas tão rápido quanto veio, sumiu.

De repente, me pareceu familiar.

Não era comum ver uma criatura de olhos vermelhos.

Ou eram vampiros, ou eram....

Um arrepio passou pela minha coluna só com o pensamento.

– Obrigada por cuidar dela - ele disse, fazendo com que eu me sentisse confuso.

Ele deu as costas e começou a caminhar.

A garotinha jogou algo aos meus pés, na areia.

Me agachei e peguei.

Era uma caixa achatada que se abria. Provavelmente, nova tecnologia humana, eu não sabia, considerando que faziam alguns séculos desde minha ultima visita.

Fiz algum esforço para ler os caracteres humanos e consegui algo perto de “Piratas do Caribe”.

Procurei a garota, ainda mais confuso.

Ela ainda me encarava conforme se distanciava. Abriu um sorriso irônico, e sua heterocromia potencializava o efeito hipnotizador.

– Ladrões e mendigos jamais irão morrer… - ela cantou como se adorasse a canção.

Flashback off


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